Cristal de Gelo escrita por DreamingAboutLife


Capítulo 4
Capítulo 3 - Robb


Notas iniciais do capítulo

Peço desculpa por não ter cumprido com o prazo que tinha estipulado, mas espero que gostem do capítulo (:
Os capítulos podem demorar um pouco a sair - não tanto como este, espero - mas peço que tenham um pouco de paciência comigo.



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Abriu lentamente os olhos. O quarto estava escuro. O restante da cera das velas fora consumido algures durante as suas horas de sono. Os seus músculos continuavam tensos e doridos, mas as dores dos seus ferimentos começavam a dar tréguas. Passara-se uma semana desde que despertara do seu coma induzido por febre e delírio. Continuava confinado à sua cama. Apesar de as feridas terem começado a fechar, Lyaris insistira bastante para que continua-se deitado, com medo que qualquer esforço ou movimento mais brusco reabrisse os cortes. Mas, na sua opinião, três meses e uma semana era demasiado tempo para se ficar deitado.

Afastou as cobertas do corpo, contorcendo o rosto de dor quando os músculos do seu ombro se distenderam. Levantou o tronco usando o seu antebraço direito e balançou as pernas para fora da cama. Passou a mão pelo rosto, tento afastar a expressão cansada que certamente ali estaria. Pêlos picaram as pontas dos seus dedos. Deixara crescer de novo a barba. Grande parte das cicatrizes foram escondidas pela pelagem ruiva, mas a da sua bochecha continuava ali, lembrando-o daquela vermelha noite sempre que via o seu reflexo na bacia de água.

Vento Cinzento, que se encontrava deitado no chão, aos pés da sua cama, levantou a cabeça quando o sentiu mexer-se. Robb quase podia sentir um olhar acusatório vindo do lobo gigante. Era quase difícil acreditar no quão próximos Vento Cinzento e Lyaris se haviam tornado e o quão parecia ao Jovem Lobo que o seu lobo, de alguma forma, tomava partido da rapariga sempre que ela lhe dava algum conselho ou o repreendia por ter feito um movimento anteriormente desaconselhado.

– Eu estou bem Vento. – ele assegurou ao lobo que o olhava continuamente de forma penetrante. – Estou farto desta maldita cama. – deixou então escapar entre dentes.

Podia ouvir vozes do outro lado da porta, abafados pela espessa e pesada madeira de carvalho. Era-lhe fácil distinguir a voz de sinos de Lyaris e a voz profunda de Sor Clarck, que parecia acompanhar a jovem Umber onde quer que ela fosse. A terceira voz, masculina, era-lhe desconhecida.

Robb calçou as botas que se encontravam junto à sua cama e levantou-se lentamente, sentindo finas alfinetadas nas suas costas e abdómem. Colocou a custo o manto negro que se encontrava sobre uma tosca cadeira perto da cama sobre os ombros – estaria mais apresentável assim do que apenas com a fina camisa que lhe cobria o tronco. Quando se dirigiu com passos pesarosos até à porta Vento Cinzento levantou-se e seguiu-o.

A divisão para a qual a porta se abriu parecia uma pequena e simples cozinha. No centro havia uma mesa e ao redor dessa mesa sentavam-se os donos das vozes que podia ouvir precariamente nos seus aposentos. O dono da voz desconhecida encontrava-se sentado diretamente à sua frente. Era um homem alto e entroncado com a típica aparência de um homem do norte – espessa barba escura cobria a sua face, o seu cabelo era um emaranhado de pequenos caracóis negros, a sua expressão grave e fria.

– O que faremos em relação a isto, Senhora? – o homem perguntava a Lyaris.

A cabeça da jovem pendia baixa. Conseguia ver a sua figura de perfil, uma expressão de concentração e uma ruga de preocupação enfeitavam o seu rosto. Mas depressa a sua face suavizou, os seus olhos fecharam-se e um suspirou passou pelos lábios rosados. Algo que ela fazia demasiado.

– Não há nada que possamos fazer por enquanto. – ela acabou por responder suavemente, como sempre parecia fazer. – Resta-nos apenas esperar. Por favor caso mais algum patrulheiro retorne hoje, trazei-me de imediato notícias sobre o mesmo Sor Oliver.

O cavaleiro assentiu, erguendo então os olhos na direção de Robb. Quando viu o jovem rei pareceu ficar petrificando, olhando para Robb com uma expressão que ele não conseguia decifrar completamente.

A expressão do homem chamou a atenção de Lyaris e de Sor Clarck que moveram a sua atenção para a direção em que este olhava. Os olhos de Lyaris arregalaram-se assim que o viram e Robb sentiu-se como um rapazinho prestes a ser repreendido pela mãe pois fora apanhado a roubar doces da cozinha.

– Vossa Graça. – ela disse. A suavidade da sua voz permanecia, mas Robb podia detetar uma ponta de irritação. O som de madeira a raspar no solo ecoou na pequena divisão quando Lyaris se levantou do banco, caminhando na sua direção. – Não deveríeis estar de pé. Precisais de repouso.

Robb conteve a súbita vontade de rolar os seus olhos azuis. Definitivamente como um rapazinho a ser repreendido pela mãe.

– Penso que já estive demasiado tempo deitado Senhora. – disse-lhe o mais suavemente que conseguiu. – Patrulheiros retornaram da superfície? Que notícias trazem?

Lyaris explicara-lhe, no terceiro dia após o fim do seu coma, o geral funcionamento da vida na aldeia subterrânea. Pequenos grupos compostos no máximo por quatro homens dirigiam-se em pequenas incursões regulares, na sua maioria, à superfície tentando discretamente inteirar-se dos acontecimentos no exterior. Todas as notícias eram reportadas a Lyaris assim que os patrulheiros regressavam.

Percebeu que a rapariga ponderava antes de lhe responder, esticando a mão e acariciando a cabeça de Vento Cinzento que se colocara a seu lado.

– Nada de importante Vossa Graça. As coisas parecem fluir lentamente à superfície.

O pequeno puxão que sentiu no seu estômago dizia-lhe que algo estava tremendamente errado naquela resposta. Puxou o pensamento e a sensação para o fundo da sua mente e assentiu. Não havia motivo para que Lyaris lhe mentisse.

– Vossa Graça, Senhora. – o cavaleiro que Robb não conhecia interrompeu-os, virando para si a atenção de ambos. – Com a vossa licença, vou retirar-me e voltar aos meus deveres.

Lyaris sorriu-lhe, fazendo uma pequena vénia com a cabeça.

– Claro. E obrigada Sor.

Entendimento passou pelos olhos escuros do cavaleiro e este assentiu. Fez uma vénia antes de abrir a porta e sair. Madeira voltou a raspar no chão quando Sor Clarck fez também intensão de se levantar. Voltou-se na direção de Robb e ofereceu-lhe uma profunda vénia, como fazia sempre que o cumprimentava.

– Vossa Graça. – saudou-o respeitosamente, virando-se depois para a sua Senhora. – Se me perdoais, está na hora de fazer uma ronda pelos meus homens.

Lyaris acenou-lhe graciosamente.

– É claro. Lamento ter-vos mantido afastado dos vossos deveres Sor.

O cavaleiro abriu um sorriso. Primeiro sorriso que Robb via no rosto do homem, apercebeu-se subitamente.

– O meu dever está onde estiver a minha Senhora. – o cavaleiro respondeu de forma cortês antes de fazer uma nova vénia, dirigida a ambos os jovens, e de se retirar.

Robb desviou então de novo a sua atenção para Lyaris que olhava de forma algo amorosa para Vento Cinzento que, ao contrário daquilo que o jovem se havia acostumado, escolhera sentar-se ao lado da rapariga. Os finos e longos dedos dela passavam calmamente pelo topo da cabeça do lobo que se mantinha de olhos fechados, apreciando a caricia. Quando os olhos do lobo se abriram, revelando o seu dourado liquido, um pequeno som saiu da garganta do animal.

– O que foi Vento? – Lyaris observava o lobo com curiosidade.

E então Vento Cinzento olhou na direção do seu mestre e Robb podia sentir o mesmo olhar acusatório de apenas minutos antes. Traidor.

Podia sentir o olhar de Lyaris colocado em si intensamente. Endireitou mais os ombros e elevou um pouco mais a cabeça. Não, decidiu, era um rei não uma criança que todos podiam repreender. Viu um pequeno sorriso aparecer nos lábios da jovem perante as suas ações. Ela sabia o que ele estava a tentar fazer.

Sem uma palavra, Lyaris passou pelo rei, dirigindo-se a um dos cantos da divisão. Seguiu os seus movimentos com o olhar. Um pesado tecido de um verde musgo pendia do teto naquele local, escondendo parcialmente uma precária cama feita para dar conforto a apenas um corpo. Quando Lyaris saiu de trás da cortina improvisada trazia nas suas mãos um tecido branco. Dobrou-o cuidadosamente até que se tronou fino e depois atou as duas pontas. Quando estava apenas a meio braço de distância de Robb ergueu a cabeça para poder olhá-lo nos olhos. O pequeno sorriso ainda nos seus lábios.

– Permite-me, Vossa Graça? – ela perguntou erguendo um pouco o tecido.

Robb olhou-a questionavelmente, mas deu por si a assentir. A rapariga esticou os braços na direção da sua cabeça, tendo mesmo assim de se colocar nas pontas dos pés para anular a diferença de alturas entre eles. Passou o tecido pela cabeça do Jovem Lobo até que este se encontra-se em redor do seu pescoço. Depois, com delicadeza, pegou-lhe no braço esquerdo e passou-o para o interior do arco, deixando que este ali repousa-se.

– Pronto. – disse ela alegremente – O osso curará de forma mais rápida e correta desta forma. – Lyaris informou-o – Por favor, sempre que vos encontreis de pé tentai usar o braço desta forma. Não queremos que ele vos atormente para o resto da Vossa vida.

Robb sorriu-lhe, ajustando melhor o braço na ligadura improvisada.

– Obrigada, Senhora.

O sorriso no rosto da rapariga cresceu um pouco. Viu-a abrir a boca para dizer algo mas foi interrompida por Vento Cinzento que choramingava baixinho. Foi quando se apercebeu que o lobo gigante não se encontrava ao lado de nenhum deles. Robb rodou sobre si próprio procurando o animal. Os seus olhos encontraram-no perto da porta. Estava sentado e quando sentiu a atenção em si passou suavemente uma das grandes patas pela porta, as suas garras deixando marcas na madeira.

– O que se passa Vento?

– Ele provavelmente quer ir caçar. – respondeu-lhe Lyaris, lançando-lhe depois um olhar inquiridor. Robb acenou, percebendo a pergunta silenciosa.

Viu a rapariga dirigir-se à porta e abri-la. Antes que Vento tivesse a oportunidade de sair fez-lhe uma festa na cabeça e baixou um pouco o olhar, para que este estivesse ao mesmo nível que o do lobo.

– Não te afastes muito e não deixes que ninguém te veja. – ouviu-a dizer afetuosamente, como uma mãe diria a uma pequena criança. Por alguma razão o gesto aqueceu-lhe o coração.

O lobo lambeu a mão da jovem Umber antes de sair pela porta. Lyaris voltou a fechá-la suavemente, voltando a sua atenção para o rei.

– Ele deverá estar de volta dentro de uma hora, no máximo duas. O Vento nunca demora mais do que isso a retornar à aldeia. – a rapariga disse quando se voltou a virar para si. – Tendes fome, Vossa Graça?

Aquele pareceu ser o momento certo para que o seu estômago soltasse um pequeno grunhido, o que levou Robb a sorrir ligeiramente embaraçado. Lyaris manteve o seu sorriso.

– Por favor, sentai-vos. – indicou-lhe um dos bancos – Eu vou preparar-vos o desjejum.

Sentou no banco que ela lhe indicara e observou-a mover-se fluidamente pela pequena divisão, retirando ingredientes e recipientes dos precários móveis. A ruga de preocupação parecia ter voltado à testa da jovem, o que levou Robb a observá-la com mais cuidado.

O ligeiro puxão no seu estômago e a sensação de que algo se encontrava deslocado voltaram a incomodá-los, ao que ele voltou a fazer o seu melhor esforço para os afastar. Se algo importante tivesse acontecido Lyaris ter-lhe-ia dito, não havia qualquer razão para que não confiasse nela.

Saiu dos seus devaneios quando o cheiro a bacon frito começou a ondular pela cozinha. Não demorou muito a que um copo de vinho aquecido e temperado com ervas, duas fatias de pão escuro com queijo e o bacon fossem colocados à sua frente. Olhou para Lyaris com um sorriso agradecido e mergulhou na pequena refeição. Estava a terminar o bacon, enquanto Lyaris limpava os utensílios que havia utilizado para preparar os alimentos, quando uma pequena batida se ouviu.

A morena pousou na mesa o pano que estava a usar e dirigiu-se à porta. Do outro lado estava uma pequena menina de cabelos loiros. Usava um vestido maltratado e tinha a bochecha direita suja, mas usava um sorriso radiante no rosto.

– Lyaris! – Robb ouviu a menina exclamar.

Lyaris baixou-se até se encontrar à altura da criança e passou-lhe a mão na bochecha tentando limpá-la.

– Olá. – a voz suave da jovem fez-se ouvir. – Aconteceu alguma coisa, Tyanna?

A menina abanou a cabeça, fazendo balançar o fino cabelo.

– A minha mãe pediu para te chamar. Alguns dos soldados estão melhor. Ela acha que eles já podem deixar a enfermaria.

– Eu estarei lá num momento. – Lyaris respondeu-lhe, ai que Tyanna acenou efusivamente com a sua pequena cabeça, saindo a correr em disparada enquanto a Umber se voltava a erguer. – Vai com cuidado Tyanna. Vais acabar por cair. – ela gritou na direção da criança, abanando a cabeça num gesto desaprovador segundos depois.

A porta foi cuidadosamente fechada e Lyaris voltou a pegar no pano que abandonara, resumindo às suas tarefas.

– Posso acompanhá-la? – Robb ouviu-se dizer antes que tivesse tempo de pensar nas próprias palavras. A pergunta atraiu a atenção de Lyaris para si, que o olhou de forma surpresa. – Eu gostaria de visitar os homens resgatados das Gémeas, afinal, são os mesmos homens que me acompanharam para o campo de batalha e que arriscaram a sua vida por mim.

Lyaris sorriu-lhe.

– Não vejo razão para declinar a Vossa companhia, Vossa Graça. Iremos assim que terminardes a vossa refeição.

Robb assentiu, contente com o arranjo. Uma sensação nervosa acolheu-se no seu estômago.

O que iriam os homens dizer quando o vissem? Culpá-lo-iam pelo que se havia sucedidos? Pelos Deuses, Robb sabia que se culparia se os lugares se invertessem. Ele culpava-se a si próprio pelas decisões que tomara e a culpa consumia-o por dentro dia e noite, aterrorizando os seus sonhos.

Quando terminou a sua refeição levantou-se do desconfortável banco de madeira e dirigiu-a a Lyaris, que já o aguardava junto à porta. Percorreram lado a lado o caminho que levava à enfermaria. Robb prestava a atenção a tudo o que rodeava, bebendo da aparência do local, sendo aquela a primeira vez que abandonava a pequena casa que partilhava com a Umber. O seu caminhou cruzou-se com o de idosos, mulheres e homens doentes demais para combaterem na guerra. Todos baixavam respeitosamente a cabeça quando viam os jovens passar. Robb tentou lançar um olhar agradecido a todos ao passo que, a seu lado, Lyaris mostrava a todos um sorriso e desejava-lhe um suave bom dia.

Criança brincavam na praça em frente ao local que fora transformado em enfermaria. Todas cumprimentando alegremente Lyaris assim que a viram. Pode ver a criança que chamara por Lyaris minutos antes a brincar com uma boneca de pano juntamente com outras raparigas de idades aproximadas.

A enfermaria estava mais cheia do que aquilo que esperara, apesar de se encontrar relativamente calma. Muitos homens se encontravam inconscientes. A dormir ou em coma, Robb não sabia precisar.

– Se me dais licença Vossa Graça, tenho de ver alguns soldados que já poderão estar suficientemente bem para deixar a enfermaria.

Robb voltou a sua atenção para a rapariga.

– De forma alguma, Senhora. – respondeu-lhe com um pequeno sorriso. – Não haverá inconivente em que eu fale com alguns dos homens?

Ele era o responsável pela sua condição e pela sua estadia na improvisada e pouco adequada enfermaria. Ele fora o seu Rei. Mas que espécie de Rei seria se se limita-se a observar, sem coragem ou dignidade o suficiente para tentar dar uma palavra de conforto aos homens que haviam marchado para batalha com ele?

– De forma alguma, Vossa Graça. Tenho a certeza que ver-vos e ouvir as vossas palavras lhes dará renovadas forças.

E foi com as palavras de Lyaris e o seu característico sorriso gentil que se separaram. Lyaris dirigiu-se ao fundo da enfermaria, reunindo-se com algumas mulheres e depois acompanhando-as até algumas camas, onde inspecionava os feridos.

Robb deambulou desorientadamente pela enfermaria inicialmente até conseguir que as suas mãos parassem de tremer e o seu coração de bater como o de um veado em fuga. Começou então a aproximar-se de alguns soldados. A forma como o receberam surpreendeu-o. Não havia mágoa, desgosto ou fúria. Apenas sorrisos e esperança renovada. Demorou-se mais tempo com alguns homens de Winterfell. Homens que julgara mortos e cuja visão fizera com que o seu coração se enche-se de alegria.

A visita à enfermaria não renovara apenas as esperanças dos soldados, percebeu mais tarde, mas também as suas próprias.

Voltou à entrada da enfermaria uma hora mais tarde, atraído pelos gritos de excitação de crianças. Continuavam na praça, brincando umas com as outras sem que nenhuma das preocupações da superfície as perturbasse. Ali, estavam protegidas do cenário de morte e horrores da guerra. A novidade, era a enorme massa de pelos cinzentos que as crianças perseguiam e acarinhavam. A visão de Vento Cinzento a brincar com as crianças surpreendeu-o. Nunca tal ocorrera em Winterfell, as crianças tinham demasiado medo do lobo gigante.

– As crianças gostam dele. – ouviu a inconfundível voz de sinos de Lyaris ao seu lado – Nestes três meses ele tem-se tornado uma fonte de entretenimento para elas.

– Não têm medo?

– Tiveram, no inicio. Mas ele sempre foi cuidadoso com elas. Estava curioso com as pequenas crianças a principio, penso eu. Mas têm se tornado bastante próximos e acho que o Vento gosta tanto dos pequenos momentos em que brinca com as crianças quanto elas.

Acabaram por almoçar na enfermaria com os feridos e doentes. Após a refeição, Vento Cinzento voltou a colocar-se no seu costumeiro lugar ao lado de Robb, que passou a tarde a falar com mais alguns soldados enquanto observava Lyaris e algumas mulheres trabalharem nos homens que requeriam a sua atenção.

A ceia foi tomada de volta à pequena casa.

Quando a noite caiu à superfície e as dores e o cansaço se tornaram demasiado pesados para serem carregados pelos ombros doloridos de Robb ele retornou aos seus aposentos. O manto voltou a ser colocado na cadeira tosca onde o encontrara naquela manhã e as botas voltaram ao seu lugar junto à cama. O seu corpo acolheu agradecidamente a maciez do colchão, fazendo com que sentisse de imediato o sono a reclamá-lo.

Não demorou muito para ouvir uma pequena batida na porta, seguida pela visão do caraterístico vestido azul de Lady Lyaris. Habituado ao que já se tornara rotina retirou a camisa que vestia, permitindo que a morena lhe trocasse as ligaduras que necessitavam de ser trocadas. Caíram num confortável silêncio enquanto ela trabalhava. A ausência de conversação não sendo pesada e fria como fora outrora.

Quando todas as novas ligaduras estavam no seu devido lugar, a jovem recolheu os habituais utensílios e dirigiu-se à porta, mas não saindo antes de voltar a sua atenção para o rei e dizer:

– Boa noite, Vossa Graça. – na voz de sinos que Robb se habituara a acolher com gratidão e conforto.

–Penso que não há necessidade para essas formalidades. – disse, recebendo um olhar questionador de Lyaris. – Vossa Graça. Não há necessidade de me tratardes dessa forma. Não tenho uma coroa, nem sequer um reino e não me sinto muito como um rei. – mostrou-lhe um pequeno sorriso entristecido. – Apenas Robb é suficiente.

–Podeis não ter uma coroa, mas também não é a coroa que faz um rei. É o coração. Para se ser um verdadeiro rei é preciso ter-se o coração de um. Eu acredito que vós tendes, Vossa Graça.

Robb não conseguiu evitar um sorriso, mesmo que o mais pequeno dos sorrisos, adornasse a sua face. As palavras aquecendo-lhe o peito de uma maneira inexplicável, a fé que ela parecia depositar nele renovando-lhe as forças. Foi quando as duas últimas palavras que ela dissera lhe entoaram apropriadamente no crânio que uma das suas sobrancelhas se ergueu, arrancando um pequeno riso de Lyaris. Era a primeira vez que a ouvia rir.

– Robb.


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Notas finais do capítulo

É um capítulo um pouco mais descritivo e não tem tanto diálogo como os anteriores. Mas o que eu queria transmitir eram as emoções e pensamentos de Robb, a forma como ele olhava para o que o rodeava, quer fisica quer emocionalmente e a forma como a sua relação com Lyaris vai desabrochando, fazendo com que eles se tornem mais próximos.
Peço desculpa pela falta de acontecimentos mais intensos, mas encaremos este capitulo como um alicerce da história.
Espero que vos tenha agradado e mais uma vez peço desculpa pelo tempo que demorei (:



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