Céu & Mar escrita por Luh Castellan


Capítulo 6
War & a Kiss


Notas iniciais do capítulo

Agradeço a Anna pelo comentário e pelo carinho :3 Eu resolvi fazer um POV de Annabeth para mostrar um ponto de vista diferente e deixar mais interessante. Boa leitura o/



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Percy

Arrumar toda a bagunça. Foi isso que ganhamos pela guerra de comida no refeitório. Isso e ter que lavar a louça por uma semana. Ninguém sabia quem começou, portanto todos foram punidos e os chalés tiveram que se revezar na cozinha.

Passei toda a semana implicando com Thalia e vice versa. Havíamos chegado ao mais próximo do que se pode chegar de "amigos".

Finalmente chegou a sexta feira e, consequentemente, o jogo de Captura da Bandeira. Me disseram que era uma espécie de paintball, em que o acampamento se dividia em duas equipes, cada uma com uma bandeira para defender. O objetivo era capturar a bandeira do time inimigo e voltar para o nosso território sem ser atingido por nenhuma bolinha de tinta, manchando a maior quantidade de adversários. Difícil, mas não impossível.

Os campistas levavam MUITO a sério essa competição. A derrota significava humilhação eterna. Boatos diziam que a equipe liderada por Clarisse La Rue sempre saía vencedora e todos a queriam no seu time.

Nos reunimos no pavilhão do refeitório, depois do almoço, para o sorteio dos times. Naquele dia, os companheiros de chalés sentaram juntos. Um clima de ansiedade pairava no ar.

Quíron disse que seriam sorteados chalés masculinos e femininos intercaladamente. Ele se dirigiu a dois recipientes redondos com papeizinhos dobrados dentro.

– As duas equipes serão azul e vermelha. Como de costume, a equipe azul é sempre liderada pelos chalés azuis. E a vermelha, liderada pelo chalé vermelho e rosa. Os demais integrantes serão sorteados - Ele enfiou a mão no primeiro recipiente e leu - Para o time azul: chalé amarelo.

Ele seguiu tirando papeizinhos e sorteando os chalés. Os campistas vibravam quando alguns eram sorteados. No final, cada equipe era composta por 10 chalés: 5 femininos e 5 masculinos. Thalia ficou no nosso time. A idéia me deixava apreensivo e entusiasmado. Eu me sentia feliz, mas ao mesmo tempo, receoso em tê-la por perto. Era um sentimento confuso e contraditório.

Luke e Annabeth foram escolhidos como líderes da nossa equipe, pela experiência que eles possuíam de outros jogos.

Fomos até um lugar chamado Sala de Armas. Quando entrei lá soltei um arquejo de surpresa.

– Uoou - Arregalei os olhos, admirando o que vi.

A sala estava repleta de marcadores, granadas de tinta, pistolas de paintball de todos os tipos, capacetes táticos, camuflagem, lanterna, binóculos, escudos de paintball, minas terrestres de paintball, carregadores extras, bipés e tripés, arco e flecha (de paintball), fardas e afins. Eram tantos apetrechos que parecia que iríamos para uma guerra.

Os campistas escolheram seus acessórios preferidos. Era obrigatório o uso da máscara de proteção. Alguns se enchiam de equipamentos de segurança, como coletes, joelheiras e macacões, já outros não usavam nada além da máscara, mas estavam armados até os dentes.

Escolhi um marcador simples e peguei um punhado de munição azul. Eu usava somente jeans, camiseta e botas de combate. Uma grossa fita azul amarrada no meu braço identificava meu time. Depois de equipados, nos dirigimos para a floresta.

Annabeth discutia estratégias com Luke e ambos gesticulavam enquanto falavam. O riacho era o limite do nosso território. Os líderes decidiram colocar nossa bandeira no topo de uma formação rochosa em formato de punho. Pelas regras, o objeto deveria ficar em um lugar visível. Annabeth olhava para um mapa rabiscado numa folha de papel e designava grupos de nós para tarefas diferentes. Eu fiquei no grupo de defesa, o que protegeria a bandeira e marcaria todos os inimigos que se aproximassem.

A máscara permitia uma boa visão, mas era meio sufocante e eu não me dava bem com locais fechados. Em breve eu estaria arfando como um louco e tentando arrancar aquela coisa da cara.

Um apito estridente soou, marcando o início do jogo. Me coloquei em posição


Annabeth

Estava tudo perfeito. A estratégia fora meticulosamente articulada. O nosso plano era quase impossível de falhar. Nosso. Era tão bom falar essa palavra! A idéia de Luke trabalhando junto comigo fazia meu coração das saltos mortais no meu peito. Mas eu me esforçava ao máximo para não deixar transparecer o mini ataque cardíaco que eu tinha toda vez que ele se aproximava, ou dirigia alguma palavra a mim, com aqueles lindos olhos azuis penetrando nos meus e derretendo minha alma.

O loiro estava debruçado sobre o mapa que eu desenhei, marcando pontinhos com uma caneta azul, que deveriam ser as posições dos nossos jogadores.

– Esse mapa ficou incrível, Annabeth - Ele elogiou, dando um meio sorriso.

Senti minhas bochechas esquentarem.

– Hã... Obrigada - Respondi, sem jeito.

Nós tínhamos jogadores armados espalhados por todo o território, prontos para atirar no primeiro adversário que visse pela frente. Foram divididos grupos para executar tarefas diferentes: um grupo para a defesa, um grupo na divisa dos campos e outro grupo maior para se infiltrar no território inimigo à procura da bandeira. Se todos eles se sujassem de tinta, entraria em cena um outro jogador, que manteríamos em segurança para garantir.

Travis e Connor prepararam armadilhas, minas e granadas de tinta espalhadas na área da defesa.

Quíron apitou, iniciando o jogo. Luke liderou o grupo de ataque e eu fiquei do nosso lado da floresta, mais ou menos no centro do nosso campo, comandando as operações. Thalia era bem ágil e uma ótima corredora, por isso eu disse a ela que ficasse por perto e tentasse não se sujar, pois ela poderia ser a jogadora que pegaria a bandeira. Depois de um bom tempo de jogo, marcamos com facilidade vários adversários, com poucos jogadores nossos atingidos.

Um competidor do time vermelho, Ethan Nakamura, conseguiu ultrapassar nossas defesas ileso, mas quando estava próximo do monte de pedras, disparou uma mina e foi envolto por uma névoa azul. Pelas regras, só um jogador que não se sujou de tinta poderia pegar a bandeira, então ele recuou, bufando igual a um Smurf raivoso.

Luke surgiu correndo do lado oposto, ofegante. Tinha manchas de tinta vermelha por toda a camisa. Ele tirou a máscara.

– Annie - Meu coração falhou uma batida ao ouvir meu apelido. - Encontramos uma brecha, deixamos eles sem munição, mas todos os nossos jogadores foram atingidos. É a nossa chance, quem vai pegar a bandeira?

– É Thalia - Olhei em volta procurando minha prima, porém não tinha nenhum sinal dela. - Onde diabos ela se meteu?

– Não temos tempo... Eles logo vão se reabastecer - Ele disse, apoiando as mãos nos joelhos, em meio a grandes inspiradas de ar para estabilizar a respiração. - Você tem que ir, é a única que ainda tá limpa por aqui.

– Mas... Eu não sei correr direito - Me desculpei, encarando o chão. Eu sempre fora um desastre no quesito velocidade.

– Annabeth - O loiro levantou meu queixo, me fazendo olhar para ele. A minha pele arrepiou-se no local que ele tocou. Seus olhos azuis que antes eram brincalhões e divertidos, agora me encaravam, sérios e encorajadores. - É a nossa única chance, não podemos perdê-la. Você consegue!

Impossível dizer não para aquele par de safiras azuis suplicantes.

– Tudo bem - Finalmente cedi, com um suspiro. - Eu vou.

Peguei minha pequena pistola de paintball. Achei melhor só colocar a máscara quando eu estivesse mais próxima do território adversário, assim não atrapalharia na corrida até lá.

– Uhuuu! É assim que se fala - Ele comemorou, batendo palmas. Uma onda de confiança me atingiu. Era incrível como esse cara era capaz de influenciar no meu humor. - Tem dois jogadores esperando você com escudos, no limite do nosso campo. Vai lá e arrebenta!

Ele sorriu para mim e eu retribuí. Comecei a acreditar que esse plano maluco poderia dar certo.

Disparei pela floresta. Corri como se minha vida dependesse disso. Eu já sabia o caminho decorado, depois de horas analisando aquele mapa. Minhas pernas desviavam para esquerda e direita, evitando as árvores, que passavam como borrões ao meu lado. Meu coração pulsava rapidamente e a adrenalina corria pelo meu sangue. Conseguir manter um ritmo constante em linha reta. Então uma coisa surgiu na minha frente. Minhas pernas não me obedeciam mais, me impossibilitando de desviar. E para piorar a situação, a forma não identificada também vinha correndo na minha direção.

Nas aulas de física, aprendi que um corpo em movimento tende a continuar em movimento e isso foi comprovado para mim da pior forma possível, quando me choquei contra aquilo e caímos rolando nas folhas secas. Depois que a tontura passou, finalmente consegui ver no que eu esbarrei. A "coisa" estava deitada por cima de mim, respirando com dificuldade. Ele também não usava máscara, seu rosto estava a centímetros do meu e seus olhos negros me encaravam, assustados.

– Ni-Nico? - Gaguejei, surpresa. Eu também estava respirando com dificuldade e meu coração batia a mil por minuto.

Ele pareceu despertar de um transe e notou a posição em que estávamos. Arregalou os olhos e ruborizou imediatamente, constrangido.

– Oh céus, me desculpe! - Levantou-se rapidamente, ainda envergonhado. Estendeu a mão para mim e me ajudou a levantar.

– Tudo bem - Respondi, batendo a poeira dos jeans.

Uma parte de mim não queria que ele se levantasse, queria continuar sentindo seu peito subir e descer com sua respiração. Queria que continuássemos alí e eu corei, me sentindo envergonhada por pensar em algo assim.

O moreno coçou a nuca, desconfortável.

– Você não tava indo à algum lugar? - Ele perguntou.

Dei uma tapa na testa. Eu tinha me esquecido completamente da bandeira, do jogo e de todo o resto. Por algum motivo, estar com Nico, mesmo que alguns segundos, me fez esquecer de tudo.

– Tenho que ir - Me virei e disparei de novo pela floresta, não esperando para ouvir a resposta dele. Fiquei pensando no que tinha acontecido. Eu tinha sentimentos fortes por Luke, mas aquele simples "esbarrão" com Nico mexeu comigo e eu ainda estava tentando entender o por quê. Sacudi a cabeça para afugentar os pensamentos. Não havia tempo para me preocupar com minha vida amorosa, eu tinha problemas bem maiores e urgentes para resolver. Torci para que ainda tivesse tempo. Implorei mentalmente para eles não terem conseguido mais munição, ou então eu estava ferrada. Também fiz uma nota mental para matar Thalia se a gente não conseguisse. Onde diabos aquela puta tinha se metido?


Thalia

Eu estava sufocando com aquela máscara maldita, mas não podia tirá-la alí, no meio do combate. Me afastei do burburinho correndo até um lugar fora do alcance das bolinhas de tinta.

Sem perceber, cheguei a margem do lago. Olhei em volta, depois de comprovar que eu estava sozinha, me sentei num banquinho velho de madeira. Tirei aquela coisa da minha cara e inspirei pesadamente. A água refletia o céu como um espelho gigante. Fiquei um instante admirando a paisagem, até ouvir um barulho de passos se aproximando. Agarrei meu arco. Foi o instrumento que eu mais me identifiquem na sala de armamentos. Era semelhante a um arco normal, mas ao invés de flechas, ele atirava esferas gelatinosas de tinta. Mirei na direção do som. Alguém saiu do meio das folhagens e eu não pensei duas vezes antes de atirar. Não sabia se foi sorte (ou azar para ele), mas a bolinha acertou justo naquele lugar onde todos os homens temem ser atingidos.

– Ai! - Ele gemeu, com a voz esganiçada, levando a mão ao meio das pernas. - Sou da sua equipe, idiota! - Indicou a faixa azul amarrada no braço.

– Foi mal - Dei de ombros, tentando parecer indiferente, mas por dentro eu estava me segurando para não rir.

Então ele tirou a máscara e eu vi que não era qualquer idiota, era "o" idiota. Vulgo Percy Jackson. Ele se aproximou e sentou do meu lado.

– Você tem um fetiche por mim e por bancos, Jackson? - Perguntei, irônica.

Ele riu.

– Não. Você que sempre dá um jeito de esbarrar comigo - Retrucou, sorrindo de lado.

– Não posso evitar, você é atraído pelo meu brilho como moscas são atraídas pela luz.

– Ha ha, convencida - Ele provocou e eu mostrei a língua. - O que você ta fazendo aqui? Não deveria estar ajudando os outros, ou algo do tipo?

– Annabeth disse que era pra eu cobrir essa área - Menti. - Mas o que você ta fazendo aqui?

– Eu precisava respirar um pouco - Ele respondeu, apontando para a máscara em sua mão.

– Sei... Tava com medo da competição, Jackson? - Provoquei cutucando a barriga dele.

– Claro que não - Rebateu, ofendido. - Só precisava tirar esse troço da cara. Meu sobrenome é doce, Thalia?

– Aham... Aposto que fugiu chorando como um bebezinho - Continuei a provocação.

– Ora, cale a boca Thalia - Agora ele parecia realmente irritado.

– Calo não! Venha calar! - Fiz birra igual criança malcriada. Em seguida, de maneira super madura, comecei a tagarelar sílabas aleatórias, só para irritar Percy e não ficar em silêncio. - La la la la...

Ele estreitou os olhos e deu um sorriso malicioso.

– Foi você... - Suas palavras eram interrompidas pela minha enxurrada de "la's".

– La la la la...

– ... Que...

– La la la la...

– ... Pediu.

– La la...

Achei que ele fosse me bater, ou tapar minha boca com a mão, ou até me fazer cócegas. Mas o que ele fez foi pior que tudo isso: Ele me beijou.

Passou a mão por trás da minha cabeça e rompeu a curta distância existente entre nós. Os lábios dele apertaram os meus, parando o meu protesto.

Fiquei em choque por um instante, não sabia se o empurrava ou se retribuía o beijo. Coloquei minhas mãos no seu peito para afastá-lo, mas acabei me deixando levar. Até que o idiota beijava bem...

Ao invés de empurrá-lo, minhas mãos acabaram subindo para o seu pescoço. Entrelacei meus dedos nos seus cabelos, o puxando para mim. O beijo ganhou mais força, mais ferocidade e desejo. Seus lábios eram macios e quentes. Nada no mundo importava naquele momento, além da dança sincronizada das nossas línguas.

Num momento, tivemos que nos soltar. Eu ofegava e sentia minhas bochechas queimando como a fogueira do acampamento. Sem dizer nada, peguei meu arco e minha máscara caídos no chão e fugi. Corri para longe, para dentro da floresta, sem direção, deixando Percy plantado nem entender merda nenhuma. Nem eu entendia.

Sabe-se lá como, cheguei aos chalés. Estavam todos vazios. Só então me lembrei da Captura da Bandeira e de como Annabeth deveria estar me procurando feito louca, se não estivesse ocupada demais flertando com o babaca do Luke.

Empurrei a porta do chalé 5 e entrei no quarto silencioso. Tranquei ela atrás de mim, apoiando as costas na superfície de madeira polida. Aos poucos me deixei deslizar até estar sentada no chão. Abracei os joelhos em posição fetal, enquanto tentava processar o que acabara de acontecer. Eu beijei o idiota do Percy Jackson. Na verdade, ele que me beijou, tanto faz. E o pior de tudo: EU GOSTEI.

Encostei a minha nuca na porta fria e fechei os olhos com força, tentando apagar as lembranças. Porém, a única coisa que vinha na minha mente era aquele moreno de olhos verde-mar, levemente ruborizado, exibindo seu sorriso perfeito e divertido, depois que nos beijamos.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem :3
O que vocês acham que vai acontecer? Será que Annabeth vai conseguir? Qual o seu casal preferido?
Comentem, favoritem, recomendem etc.
Até sexta o/