Após sermos convocados ao palácio celestial, Deus nos concedeu sua graça, e banhou nossas almas com o seu espírito, e nossos corpos transcenderam a capacidade humana, éramos como os deuses nórdicos das velhas lendas de nosso mundo, a humanidade se viu repleta de poder, e então cada humano foi transportado para seu novo lar, um planeta para cada, de acordo com a vontade de Deus.

Quando cheguei em Sirius, me vi perplexo pelas maravilhas deste planeta, nada comparado às glórias celestes, mas nunca imaginei que uma rocha flutuando no espaço pudesse ser tão linda, este novo planeta fazia a terra, que em minhas memórias eu guardava com nostalgia, parecer um depósito de lixo. O planeta escolhido para mim era como as florestas místicas dos contos que ouvira quando criança, criaturas que colocariam medo no próprio rei Arthur, vi também montes que flutuavam, florestas que se moviam conforme a estação, fendas tão profundas que era possível enxergar toda a eternidade nelas, dois sóis iluminam o planeta, um grande sol amarelo e um segundo sol, mais distante, de cor azulada.

O povo de Sirius era composto por diversas criaturas, mas dentre elas se destacava uma raça, uma raça que não possuía garras nem veneno, não eram muito velozes nem tinham asas, era admirável que ainda estivessem vivos, mas um bom observador logo se daria conta, aquela raça era dotada de emoções que outras raças eram incapazes de sentir, todas as raças tinham emoções em diferentes intensidades, mas os Sirians possuíam uma espécie de camaradagem que não era vista em outras raças. Talvez o fato de serem perseguidos e caçados por inúmeros predadores, talvez fosse algo inato, quem sabe essa camaradagem fosse apenas algo da minha cabeça, afinal, os Sirians eram muito semelhantes à meus irmãos humanos, seus braços e pernas eram mais longos que os meus e mediam em média mais de dois metros, mas através do medo eu vi a coragem, através da tristeza eu vi a felicidade apesar da maldade ao seu redor eu via compaixão, foi nesse momento que eu me decidi, eles seriam o meu povo e eu os livraria das garras daqueles que os perseguem.

Antes de partirmos do palácio celestial, Nosso pai nos disse: "Eu fui, Eu sou e Eu serei, Toda a criação, Toda a matéria, Tudo que há é minha obra, fruto da minha mente, criado ao meu comando. Da minha voz flui energia espiritual, a matéria primordial de toda criação, tudo que há é composto dessa energia, ela se modifica ao meu comando e deste momento em diante meu filhos, todos vocês poderão comandar a criação, eu lhes garanto este presente para que governem de forma justa, também lhes ofereço outras habilidades, mas não lhes direi quais são, cabe a vocês despertá-las e ganhar controle sobre elas, mas não pensem ser uma tarefa simples, seus corpos e suas mentes foram glorificados, mas sua origem é humana, sua capacidade será maior através do tempo e da prática, mas não se desesperem, suas almas são imortais, todo o tempo está a sua disposição". Decidi então exercitar minhas novas habilidades, olhei para a montanha à minha frente e disse.

-Terra, rochas, toda a criação, eu lhe ordeno formem um castelo, pois esta será minha morada.

Ergui minhas mão em direção à montanha e aguardei, penso eu que devem ter se passado alguns minutos. Desde quando Deus glorificou o meu corpo a percepção de tempo dentro de mim têm se confundido, séculos passam como um segundo e segundos demoram uma eternidade, mas ao cansar de esperar abri meus olhos e para a minha surpresa na minha frente se encontrava um lindo... aglomerado de pedras.

-Devo ter feito algo errado, meu pai disse que ao meu comando a criação se modificaria, mas na minha frente ainda vejo uma montanha, nem mesmo uma pedra se deslocou do lugar.

Após várias tentativas, estava prestes à desistir, quando uma voz ecoou em minha cabeça "ordena a pedra que suba e ela subirá, ordena que desça e descerá, mas a pedra não ouve, e sua voz não é capaz de alcança-la, deixe que sua mente execute os comandos, sua voz apenas guiará a energia". Foquei a minha mente na montanha, pensei em cada pedra que existia lá, e uma por uma eu imaginei se movendo, se reorganizando, cada molécula deveria se mover em sua vez, mantendo sua forma, suas ligações, e então com uma voz tão forte quanto um trovão eu proferi o comando.

-Rochas, terra, toda a criação, obedeça ao meu comando, ouça à minha voz e se mova, este lugar será meu castelo, um palácio no qual eu reinarei, servindo ao meu pai, Rei dos Reis e Senhor dos Senhores, com a justiça divina me guiando. Forme-se castelo, seja imponente e magnânimo, digno de um rei e mostre o poder que me foi garantido à todas as criaturas deste mundo.

Então eu pude ouvir, pedra após pedra um castelo se formava, não deve ter se passado dez minutos e jazia em minha frente um castelo, exatamente da maneira que eu imaginei, e para minha surpresa eu senti uma gota de suor escorrer na minha testa.

-Agora eu entendo por que Deus descansou no sétimo dia, se a construção de um castelo em uma montanha consumiu tanto de minha energia, eu imagino quanta energia a criação do universo teria consumido.

Dito isso eu entrei em meu castelo, minha visão era turva, tão turva que nem pude admirar o castelo, somente segui reto em direção aos quartos e me deitei. A cama, assim como tudo neste castelo era feita de pedra, mas eu posso lhe dizer algo, nunca em minha vida terrena, ou em minha vida espiritual me senti tão confortável em uma cama.