Evil Ways escrita por Moonlight


Capítulo 27
Você não sabe que não é o único que está sofrendo?


Notas iniciais do capítulo

Olá!!! nem vou perguntar se demorei.
Eu estou de volta, com novos rumos para essa fanfic, e nem sei se está no fim ou não. Acho que não. Esse é o capítulo 26?27? Se bobear vai até o 50.
Atenção, esse cap pode parecer bem inutil, mas é importante. Ele ia se chamar, inicialmente, "Cansei de Nova York" (No sentido de I'm DONE with New York). É porque a tradução as vezes tira a importancia da frase. Mas então, o final sugeriu MUITO a canção do Ages and Ages, Divisionary (Do the Right Thing) e o título é uma das frases da música, e também é citada no capítulo.
Pela primeira vez...
Haymitch fará a coisa certa.
Ansiosos?!



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Katniss revirava sua bolsa. Abrir os bolsos e o tecido interno de sua falsa Louis Vuitton era semelhante a sensação de estar no mar e alguma coisa estranha tocar no seu pé: Suas mãos reconhecerem o absorvente, o batom, os restos de bolacha, lenços umedecidos e algo tão irreconhecível quanto as algas marinhas. Finalmente seus dedos agarraram seu chaveiro de pelúcia – um sapinho tocando banjo – que era grande demais para estar numa chave. O sapinho instrumentista não estava sozinho: Uma pequena balança de aço (símbolo de sua profissão), uma concha marinha de verdade, uma flecha, um circulo com o número 12 escrito em dourado (o número da sorte de Katniss), um pen drive vermelho e um broche circular de ouro, com um pássaro preso pelo bico e pela asa, voando. Um mockingjay, Katniss se lembrava. Prim lhe deu de presente antes de partir.

Todas as coisas soltas eram chaveiros em potencial para Katniss, a especialista em perder chaves. Ao lado do sapo, a chave de seu apartamento pairava. Inutilmente, já que, ao tentar destrancar a porta, viu que ela já estava aberta.

Não sou eu quem deixa todas as portas abertas, pensou.

Katniss abriu a porta devagar e seus palpites só se mostraram corretos quando ela viu Haymitch calmamente deitado em seu sofá com os olhos fechados. Aquela situação em seu geral, direcionada a mais de uma opção: Haymitch bebeu até apagar. Ou fora roubado e não tinha mais móveis em casa. Ou estava morto.

— Haymitch? — Katniss o chamou. Ela apostava na primeira opção.

Os olhos cansados de Haymitch se abriram, mas logo foram fechados novamente com o bocejo que viria a seguir.

— Docinho. — Ele disse, embriagado de sono. — Porque você só chegou a essa hora?

— Porque eu trabalho. — Katniss respondeu, ainda cautelosa. Aproximou-se dele lentamente, espantada por não sentir o cheiro de álcool que Haymitch deixava pelo caminho em situações assim. — Você também trabalha. Mas parece que não foi dar aulas a tarde, não é mesmo?

— Hãn? Não, minha querida. Acho que precisamos conversar sobre... — Haymitch mordeu os lábios, tomando uma decisão. — Você sabia que Peeta é rico?

— Ele é? — Katniss respondeu com outra pergunta.

A verdade é que ela sabia sim. Ela sempre desconfiou de Peeta, porque em seu meio de trabalho, reconhecia um engomadinho quando via um. E mesmo que seu primeiro encontro com Peeta tenha sido meio desastroso – ele estava sangrando junto com Haymitch todo fudido em seus braços – Katniss não tinha deixado de lado a desconfiança sobre ele. Infelizmente, também não tinha deixado de lado a atração de primeira que sentiu. Foi um como um tiro. Na cara.

Katniss sentou-se, devagar, ao lado de Haymitch. Ele estava a acusando de algo? Pensou.

— Não, eu não sabia nada sobre Peeta. — Ela falou. — Mas... Eu gostei dele mesmo assim. Não se preocupe, Haymitch, eu não sou esse tipo de garota que só quer dinheiro ou...

— Não, Katniss! — Haymitch interrompeu, rindo fracamente. Depois pegou suas mãos. — Não é isso que eu quis dizer. Escute: Peeta é rico. Podre de rico. Muito rico. — Ele enfatizava. — Ele é filho da chefa de Johanna.

Effie Trinket? — Katniss arregalou os olhos.

Rico era pouco para Peeta.

Milionário era só um elogio.

— Eu sempre achei que ele fosse rico, mas isso é de cair o queixo. — Katniss riu consigo mesmo, mas ao ver a cara ainda desolada de Haymitch, desmanchou. — Haymitch... Você está pensando em pegar dinheiro com ele?

Haymitch não sabia nem o que responder. Quer dizer, ele sabia mesmo o que estava fazendo? Primeiro, ele rumou até um cassino clandestino e apostou todo o dinheiro do seu fundo de garantia. Na época eram 15 mil dólares, e quando viu que tinha ganhado o dobro da grana, não parou. Ele era um homem miserável, e homens miseráveis geralmente acham que estão sob controle de suas vidas, também miseráveis. 30 mil dólares era só uma ponte para 60 mil dólares. E para 89 mil dólares. E por dois copos a mais de álcool e mais notas de dinheiro caindo em seu bolso, Haymitch esqueceu-se de quem era aquele jogo. Não era seu. Snow sabe como fazer um homem chegar a miséria, e o Seneca Crane era só um maldito que estava armando tudo aquilo com as próprias mãos.

— Você perdeu, Haymitch. — Seneca noticiou. — Vamos, vaza.

— Vinte mil dólares, Seneca. — Haymitch parte gritou, parte berrou, totalmente inelegível. — Eu aposto, vinte... MIL... puta...dólares.... que eu ganho o seu jogo com suas trapaças.

Haymitch não ganhou, como podem perceber.

Desde então ele vem metendo os pés pelas mãos, e escrevendo o certo em linhas tortas. Johanna e Katniss usualmente serviam para colocar juízo na cabeça de Haymitch, como sempre fizeram, mas o desespero da situação as fez perder um pouco o controle. Planos errados atrás de planos errados, os três sabiam que acabariam por rumar em algo que com toda certeza daria certo. Correto?

— Katniss... Não fui eu quem descobriu sobre a fortuna de Peeta. — Haymitch falou, calmamente. Estava próximo de surtá-la, ele sabia. — Foi Snow.

A pele humana é um bom isolante térmico e apresenta, quando seca, uma resistência à passagem de corrente elétrica de 100.000 Ohms à 600.000Ohms. Um choque de 120 volts – um dedo na tomada, por exemplo – lhe causa apenas um leve susto, já que a corrente despejada é de aproximadamente 0,0012 – ou 1,2 mA. 30mA por um período relativamente curto sob a pessoa é suficiente para afetar a respiração e causar morte por asfixia.

Como o choque de Katniss não se tratava de um choque elétrico, sua única reação foi arregalar os olhos e a boca, puxando o ar e prendendo a respiração, como se estivesse prestes a mergulhar.

— Ele ameaçou Peeta?

— Sim, não... Subliminarmente? Não sei. — Haymitch suspirou. — Mas ele sabe da existência do meu filho. — Foi a primeira vez que Katniss ouviu Haymitch falar sobre Peeta daquela forma. — E, graças a fortuna da dona dos ovários, Snow aumentou a dívida em 36 mil dólares.

— O quê? Ele não pode!

— Ora, a quem estamos enganando? Claro que ele pode! Ele pode tudo, Katniss! — Haymitch lamentou, embora furioso. — Ele quer que eu pague os 16 que faltam e os 20 mil iniciais, que, convenhamos, não faria cócegas ao sair do bolso de Peeta.

— Você vai pedir pra ele? — Katniss perguntou.

Haymitch analisou. Seu peito apertou, seu rosto doía como se tivesse levado um soco, sua abstinência estava se agravando a cada dia e seu emocional lhe xingou de merdinha quando ele falou, em voz alta:

— Eu vou.

Johanna Mason chegou naquele exato momento, coincidentemente. Ela cansou de táxis e pegou o metrô, embora odiasse metrô. Para ela, particulamente, foi uma viagem de bosta, principalmente por pensar em como falar para Haymitch que Peeta era mais rico que os investidores da Apple. No final de seu dilema, Johanna tomou uma sábia decisão: Simplesmente não contar. Em que a verdade mudaria?

— Olá! — Ela falou, estranhando a discussão e os olhares. — Haymitch, tá tudo bem? Ele bebeu Kat? — Johanna sussurrou.

— Peeta é rico pra caralho, Snow apareceu aqui e quer botar pra fuder em tudo! — Katniss gritou, sem paciência.

Essa foi a maneira que a moça resumiu para Johanna a situação e, antes mesmo de analisar a suposta cara surpresa que Johanna deveria apresentar e explicar detalhadamente o ocorrido do dia, Johanna se pôs a frente ao gritar os mais variados palavrões que a humanidade já escutou.

Porqueeeee!?!? Tudo bem, somos um bando de bostas, mas a vida não é bacana pra achar que pode fuder a gente! — Johanna deu seu grito final, sentando-se no chão mesmo. Era onde seu emocional estava, de qualquer forma. — O que Snow fez?

— Aumentou a dívida. — Haymitch falou.

— Porque Peeta é futuro dono da Trinket&Flickermann, correto?

Você sabia?! — Katniss gritou.

— Não! — Johanna respondeu no mesmo tom. — descobri hoje. Pegamos o elevador juntos depois da reunião e... Eu só não quero nem pensar em... Droga. Ele é tão rico. Você vai finalmente pegar algum dinheiro com ele, não vai, Haymitch?

— Eu vou. — Haymitch falou, firmemente. — E eu vou contar a verdade pra ele. Toda. Eu não posso mais passar um dia sabendo que o Snow pode fazer isso por mim, e não quero ser um homem como aquele velho imbecil. A próxima oportunidade que surgir, eu vou contar tudo para Peeta e, se ele me der o dinheiro, bem. Se não der, me odiar, cuspir que eu sou um merda e nunca mais olhar na minha cara... Eu sinto muito, Katniss.

Sinto muito Katniss pode ser traduzido, naquela situação, como a segunda vez que Haymitch oficialmente desiste e abraça a morte. Dessa vez era ainda pior, porque depois de todo o discurso de Katniss em como ela não desistiu nenhum momento dele, Haymitch estava próximo de voltar a teclar no mesmo erro e fazer a mesma bosta com Katniss.

Algo que Johanna não deixaria acontecer.

— Olha... — Ela se manifestou. — Se Peeta te largar, eu falo com meu pai. Eu sei que ele tem dinheiro, eu posso conseguir com ele. Você pode tentar pegar sua parte do açougue de seus pais em Dallas, não pode Haymitch?

Haymitch confirmou, embora tenha certeza que já estava deserdado aquela altura do campeonato. Na verdade, ao citar sua família, ele viu que não era tão sozinho no mundo, além de ter as meninas. Seu irmão, Ceasar, tinha uma loja de ferramentas, não?

Bem, ele até tinha, mas faliu naquele mesmo mês. O que restou a Ceasar foi sua esposa de voz nasalada e três lindas crianças melequentas em New Jersey.

— Katniss? Você tem o dinheiro do seu pai, não tem? — Johanna perguntou.

— Aquele dinheiro é pra Prim. Ela quer ser médica, e sabemos o quanto é difícil as despesas da faculdade, preço dos livros...

— E Gale? — Johanna interrompeu.

Não, Gale não. Katniss enfiou na sua cabeça um código de conduta em sua amizade com Gale. Ela jamais pediria uma quantidade de dinheiro emprestado dessa forma, principalmente agora que seus filhos estavam começando a estudar em creches particulares e caras e sua esposa, Madge, estava de olho na nova amiguinha do marido. O velho testamento dizia “não pedirás dinheiro para Gale”, e Katniss o cumpria a risca.

— Quer saber? — Everdeen falou, tomando controle da situação “vamos fazer uma vaquinha”. — Se Peeta for um filho horrível, vai se uma porcaria. De verdade. Mas não vamos chorar por isso. — Katniss colocou a mão no ombro de Haymitch, consolando-o. — Nós ainda teremos os 50 mil de indenização.

— não, nós não teremos. — Haymitch falou, baixo demais para ecoar a casa toda. Segundos angustiantes de silêncio se instalaram quando ele tratou de explicar. — Retire o processo, Katniss.

— O quê? — Katniss gritou. — E já perdi Gale, eu corro o sério risco de perder você, e agora eu perco outro processo?! Eu vou perder outra vez?

— Katniss, nós podemos encontrar dinheiro de outra forma. — Johanna sugeriu, calmamente, ignorando o quase ataque histérico de Katniss. — E Gale? — Tornou a perguntar.

— Eu vou me sentir horrível se eu pedir isso a ele. Ele tem uma esposa, uma família, deixe ele de lado! — Katniss gritou, ainda abalada. — Gale é... É algo que eu não posso fazer. Vocês não entendem?

Assim que pisou em seu quarto, Katniss se arrependeu de grande parte das palavras que ela proferiu naquele momento.

Não entendem? Como você acha que eu vou me sentir falando com meu pai? E ainda por cima, pedindo dinheiro pra ele? Acha que vai ser bacana, Katniss? — Johanna devolveu no mesmo tom. Depois, ela aumentou ainda mais a voz. — Vai. Ser. Uma. Bosta! Mas eu não to fazendo isso por mim. Então para de agir feito uma criança e veja a situação a nossa volta! Haymitch vai morrer!

— Cala a boca! As duas! — Haymitch gritou, parando a discussão.

Katniss olhou para Johanna de uma maneira tão magoada que Johanna pensou como nunca tinha visto aquela expressão de Katniss para ela, e se ponderava particularmente em como elas chegaram aquele ponto. Ela se arrependeu de suas palavras assim que Katniss pisou no quarto. Aquela noite, especialmente, foi a noite que Katniss teve tantos pesadelos horríveis que acordou três vezes na madrugada. Johanna dormiu na mesma cama que Katniss no quarto que as duas dividiam. Ela sabia que suas palavras de consolo não ajudariam em nada, mas seus abraços ajudaram Katniss a se acalmar sempre que acordava. Ela sabia o porquê: Era assim que Prim costumava a acalmar logo após a morte de seu pai.

Os sonhos de Katniss com um Haymitch explodindo igual a seu pai não foram nem um pouco piedosos.

— Eu vou falar com Gale, se tudo der errado. — Katniss se rendeu. Os olhos de Johanna lamentaram, no entanto. Desculpa, ela queria dizer. Me perdoa... — Johanna fala com seu pai e Haymitch paga a dívida. Se nós chegarmos nessas circunstâncias, logo após disso, eu volto para Nebraska. Cansei de Nova York.

Essa foi a única coisa que Katniss não se arrependera de falar naquela noite. Assim, ela foi para seu quarto, deixando Johanna em lágrimas na sala de estar. Haymitch levantou-se do sofá que estava e sentou-se ao lado de Johanna no chão, fazendo-a colocar a cabeça em seu ombro.

— Eu não acredito que eu causei tudo isso. — Ele lamentou de verdade. Destruiu parte dos sonhos de Katniss, colocou o emprego de Johanna em risco (imagina se Effie Trinket descobrisse que Johanna ajudou a processar seu filho) e estava acabando com a impecável entrosagem de Katniss e Johanna.

— Se for fazer o certo... Faça de maneira certa também. — Johanna falou, tentando controlar o nariz com as costas de uma mão e enxugando as lágrimas com a outra. — Se for ser honesto com Peeta, fale toda a verdade. Faça a coisa certa, o tempo todo. Você não sabe que não é o único que está sofrendo?

Johanna plantou um beijinho na bochecha de Haymitch, se levantou e foi em direção ao banheiro, onde tomou um banho antes de ir para o quarto, onde Katniss e sua cara redonda e vermelha de chorar já estavam inconscientes pelo sono. O que poderia ter sido invejado por Haymitch, que não pregou os olhos a noite toda e estava tão dopado pelo cansaço que achou ter escutado Katniss gritar, no mínimo, três vezes naquela mesma noite.

Ele nunca soube se era real.


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