More torn than autumn leaves escrita por Aeikin


Capítulo 2
Capítulo 2: Embrace your own vestiges


Notas iniciais do capítulo

Esse saiu maior que o outro :~ Mas é porque eu tive que dividir de uma jeito para dar um "tcham" na fic. Acho que foram ao todo quase quatorze mil palavras, estou feliz com isso. Aproveitem o capítulo.



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More torn than autumn leaves

Aquele cômodo era peculiar. Talon havia percebido no momento que seus pés tocaram aquele chão. A luz não era igual ao do corredor, era azul. Na verdade, aquela parte da escola era estranhamente azul claro. As cortinas eram daquela cor. O piso era branco e a refletia. As paredes eram em uma tonalidade mais clara, mas não deixando de ser azul.

Azul...

Foi no momento que pensou naquela cor que seu destino novamente foi trilhado. Talon não percebera a movimentação. Na verdade, ele poderia jurar que aquele cômodo estava vazio. Não ouviu nenhuma respiração, nenhum passo, não sentiu nenhuma presença. A única coisa que fazia barulho ali dentro era o tic tac do grande relógio.

As pupilas castanhas se contraíram ao ver o ponteiro voltar.

Um segundo a menos.

Um a menos.

O grande ponteiro retornava.

Mais um a menos...

Katarina correu até ele antes que seu corpo caísse totalmente no chão. Ela acompanhou seu movimento e segurou sua cabeça para impedir a colisão. Ela abaixou o capuz preto, e em seguida as pupilas verdes demonstraram claramente o desespero. "Como...? Como--" Ela não conseguia sequer pensar. Seus olhos tremiam enquanto via as pupilas castanhas de Talon contraídas, paralisadas.

Nenhuma palavra conseguia sair de sua garganta, e por mais que ela tentasse raciocinar sobre o que acontecera, ela simplesmente não processava as informações. Ela tirou os olhos dele por segundos e quando viu, ele estava quase caindo no chão como uma marionete.

"N-Não pode ser." Ela levou uma das mãos tremulas até a boca, tentando controlar a vontade de chorar. "T-Talon morreu?" O corpo inteiro de Katarina começou a tremer só de pensar nessa possibilidade. Ela o sacudiu, porém não houve respostas. Colou a cabeça no peito dele, não ouvindo os batimentos. Voltou a sacudi-lo, tentando desesperadamente fazê-lo ter qualquer sinal de vida.

"Não... Não... não..." Aquilo não poderia estar acontecendo. Talon não seria tão fraco de morrer assim. Ele era o melhor assassino que conhecera, sendo igualmente comparado a ela. Ele não morreria de uma coisa tão boba. Não morreria nessa forma. "Não morreria nos meus braços..." Ela havia lentamente parado de sacudi-lo. Quando percebeu que parara, começou a esmurrar o peito dele com força, não vendo nenhum vestígio de sangue. Esmurrou várias vezes com toda a ira que sentia.

Ao olhar aqueles olhos que pareciam congelados, Katarina não aguentou. Ela puxou o corpo para seu colo e abraçou a cabeleira castanha, sentindo o cheiro que ela jamais queria que acabasse. Deixou escorrer uma lágrima pelo olho esquerdo, dando um estopim à uma cascata que se formava e escorria.

– Você também não pode desaparecer... - Ela sussurrou para si mesma enquanto o abraçava com tudo o que tinha.

– Na verdade, quem irá desaparecer é você... Katarina. - Uma voz feminina ecoou pelo cômodo inteiro.

Katarina ergueu a cabeça com dificuldade, encarando a mulher em sua frente enquanto não escondia os soluços. A mulher era loira e branca, estranhamente branca. Sua roupa era uma capa também branca que se estendia até o piso. Mesmo sem nunca a ver, Katarina sabia quem era.

– Você é Karem... Noshtoi. - Ela falou entre os soluços. Apertou os cabelos de Talon com mais força enquanto estendia a wakizashi em direção à mulher. - Por que diabos você o matou?! - Sua voz ecoou no cômodo. A mulher riu com isso.

– Ora... Mas ele não morreu... ainda. - Sua voz soara venenosa. - Katarina Du Couteau... A famosa assassina de uma casa totalmente prestigiada. - A mulher começou a andar em círculos em torno dos dois. - Fez sua fama em uma guerra... É conhecida pelas brigas frequentes com Demacia... Seu pai foi um famoso general e ele também desapareceu... Nos últimos anos, tem sido um tanto rebelde com o Alto Comando... Hum, estou esquecendo de algo? - Ela colocou o dedo no queixo. - Ah, ela nutre uma paixão pelo subordinado de seu falecido pai! Mas esse o homem a deixou...

– Cale a boca, sua puta! - Katarina atirou a wakizashi na direção do rosto da mulher, porém, ela desviara.

– Que palavreado feio, Katarina. Isso é por causa do desaparecimento do seu papai? - A risada de Karem ecoou. - Não me entenda mal... Você matou todos os meus companheiros. Não é justo que eu mate o seu amado?

– Desgraçada, eu vou fazer você se arrepender de ter tocado nele! - Ela soltou Talon no chão e rapidamente correu em direção à mulher. Entretanto, ela desapareceu e reapareceu ao lado do corpo estirado de Talon. - NÃO TOQUE UM DEDO NELE!

Os lábios de Karem se mexeram próximos ao ouvido de Talon, sussurrando coisas que Katarina não entendeu. Ela novamente correu até onde ela estava, mas Karem voltara para o lugar inicial.

– Katarina... - Ela voltou a rir, uma risada infantil. - Essa sua mente é tão conturbada. - Karem estava andando até ela. - Para esclarecer essa mente tão perdida, eu vou te contar. Mas é só porque você vai fazer grandes feitos no futuro... Eu sou uma maga do tempo. O seu amado está ali, perdido em qualquer espaço-tempo que eu o coloquei. - Ela continuava a rir. - Sabe, você deveria ser mais sincera em relação aos seus sentimentos... Eu consigo ver o seu passado... É mais feliz do que eu imaginava. Mas felicidade não é uma coisa que te importa, né?

Todas as células do corpo de Katarina pararam ao ouvir aquela frase pronunciada de novo. A última frase que ouvira de Marcus Du Couteau.

Naquele dia, ela tinha voltado de uma missão sozinha. Talon havia dito para ir junto, mas ela recusara, dizendo que ele iria acabar matando as presas dela e que no fim toda a diversão ficaria com ele. Quando voltara para entregar o relatório à seu pai, ela estava determinada a contar sobre o relacionamento dos dois. Não era como se Marcus não soubesse há tempos, mas de qualquer forma, ela mesma queria contar.

Mas ele a surpreendera quando lhe disse que sabia de tudo que havia acontecido. Apesar de até ter sido uma conversa curta, Marcus não entendia o porquê de ambos tentarem esconder por tanto tempo. Os dois haviam passado por várias coisas que o general compreendera completamente bem, mas a última coisa que ele havia falado ficou em sua mente.

"Mas felicidade não é uma coisa que te importa." Ficou em sua cabeça durante todo esse tempo. Aquela frase que soara como uma despedida apenas queria dizer que o seu pai conhecia a sua filha.

Queria dizer que Marcus sabia o quão complexo ambos eram, e que apesar de tudo que eles tinham passado juntos, a palavra felicidade nunca saíra da boca de nenhum dos dois. Nunca houve uma declaração direita, nunca houve sentimentalismo barato, nunca houve promessas juradas e até mesmo planos feitos. Eles apenas ficavam juntos porque se gostavam profundamente e não suportavam ficar longe um do outro por muito tempo. Sem importar com os status diferentes, sem se importar com o campo de batalha que era o relacionamento deles, sem se importar se ambos eram destinados à corrupção.

Katarina mesmo sabia que era por isso que não recusara a missão. A primeira missão que fariam juntos depois do desaparecimento de Marcus e depois da volta de Talon. Ela não admitia, mas precisava dele. E precisava muito.

Mas agora, o seu corpo estava estirado naquele chão...

– Por que não admite que o perdoa? - Katarina ouviu a voz de Karem. - Apesar de ter passado um ano e meio fora, sem notícias e sem nada... Você não consegue ficar longe dele.

– Você não--

– Xiiiiiu. - Karem apareceu ao lado de Katarina e tapou a boca dela com a sua mão. - Você não consegue me esconder nada. É apenas olhar o seu passado que eu sei o seu futuro, Katarina... - Ela desaparecera antes que Katarina atirasse a outra espada nela. - Ele também gosta de você... Mas será que ele vai ao menos se lembrar de você? - A mulher riu com tudo o que tinha. Sua risada parecia ser falsa, mas ela saía do fundo de sua garganta.

Katarina a olhou com ira extrema. Os olhos verdes cintilavam de ódio. Ódio por ter machucado Talon, ódio por ter confundido sua mente, ódio por ver o seu passado...

Tão rápido como um piscar de olhos, Katarina se moveu até as costas de Karem e cravou a sua espada restante na barriga dela. Os olhos dela demonstraram a dor, mas ela não se deixou gritar.

– Ele não vai lembrar de você quando acordar. - Karem a avisou antes de fechar os olhos. Katarina enfiou mais a espada, pressionando-a para cima. - Esse é um presente meu para você que deixou os mortos em Ionia caírem no esquecimento...

Ao dizer isso, Katarina deixou o corpo cair e correu até Talon, na esperança de ter algum sinal de vida. Ele estava ainda estirado de corpo para cima, olhando o teto que tinha lustres. Ela se ajoelhou ao seu lado, perdendo suas forças.

Karem a enganara. Ele ainda continuava do mesmo jeito que ela o deixara. Um corpo estendido no chão quase sem vida. Abaixou a cabeça e permitiu que as lágrimas escorressem de novo. Seus ombros acompanhavam novamente seus soluços. O cabelo vermelho tampava a face, escondendo toda a dor que ela sentia.

Katarina não percebeu o momento que Talon fechou os olhos. Não percebeu quando sua mão tocara o chão. Não percebeu que ele fez força contra o piso para se levantar. Não o percebeu encarando-a chorar que nem uma criança.

Ela só percebeu quando ele dissera as palavras mais dolorosas que já ouvira.

– Quem é você?

:

A primeira coisa que viu quando abriu seus olhos foram os cristais de um grande lustre. Eles refletiam o pouco de sol que entrava por uma pequena janela e se mexiam conforme o vento batia. Sua mente estava nublada. Tentou se lembrar porque estava caído olhando um lustre, mas sua cabeça doeu. Fechou os olhos novamente e se levantou. Porém, ao ficar de pé, algo lhe chamou atenção. Ou melhor, alguém.

Uma mulher chorava ao seu lado. Sua roupa estava rasgada, ele conseguia ver os ferimentos superficiais. Não deveria doer tanto para que ela chorasse daquele jeito. Seus cabelos vermelhos escondiam a sua face, mas mesmo assim, ele não sabia quem era. A única coisa que lembrava era de ter dado um fim à vida de Kavyn.

– Quem é você? - Ele perguntou, estranhando a sua própria voz. Olhou para suas mãos que pareciam maiores. Seu corpo todo doía e examinou suas roupas. Também estavam rasgadas iguais as da mulher em sua frente.

Ela levantou a cabeça e ele pode ver seus olhos verdes semi-abertos. Eram olhos que refletiam a dor. Mas ele não se abalou. Era comum ver mulheres chorando. “Mas... parece que já vi seu rosto."

– Talon... - Ela sussurrara seu nome, e um segundo depois, o abraçava com força. "Acho que já ouvi sua voz antes..."

– Como sabe meu nome? - "Eu já disse essas palavras." Ela levantou a cabeça e o olhara com suas pupilas verdes. Seus olhos eram tristes, sua boca era tentadora demais, sua cicatriz lhe deu dor de cabeça novamente, e seu cheiro... Ele não conseguia explicar. Era aprazível demais, era quente demais, era familiar demais...

Katarina fechou os olhos, esperando que aquilo fosse uma mentira. Mas ela ouvira perfeitamente as palavras de Karem. Ele não se lembraria dela. Ele não se lembraria do passado dos dois.

.

.

.

– Então, será isso. - Katarina concluiu por fim ao ver as malas ao pé da escada de madeira.

Era algo que ela já esperava, uma dor na qual ela já se acostumava. Três meses se passaram depois de tudo, e ela confessava que apesar de Talon estar ao seu lado, verdade ele não estava.

A sua mente vagava longe, apenas seu corpo estava ali.

Não era para menos. Katarina percebeu isso no primeiro momento. Ele não descansaria até saber o motivo. E quando o soubesse, não descansaria até matar todos e ter a sua vingança.

Era algo que ela também desejava.

– Sim. - Ele desceu as escadas com toda a calma do mundo e parou em sua frente.

Os dois se olharam com raiva, travando uma guerra naquele olhar. Os olhos de Katarina, um dia já olharam para aquele homem com ansiedade. E os de Talon já a olharam com ternura. Mas por hora, aquele maldito campo mimado seria pausado.

Katarina estava com os braços cruzados sobre o peito. Talon pegou as malas e arrumou o capuz.

– Não espere por mim. - Ele sussurrou enquanto passava por ela e ia em direção a porta.

"E eu não vou, seu idiota." Katarina pensara com raiva, controlando seu punho.

:

Estavam de frente ao mar, olhando o quebrar das ondas daquele inverno. Os frios flocos de neve caíam sobre seus cabelos e suas roupas. Tinham uma distância razoável, onde cada um poderia se confortar com o que acabara de acontecer.

O silêncio era sufocante e Talon acendia seus cigarros. Ele a ofereceu um, que recusou sem muitos prantos.

– Por que me trouxe aqui? - Katarina o olhou nos olhos.

Verde com castanho. Castanho com verde.

– Esse foi o último lugar que visitei antes de ser domado por ele. - Talon sorriu. - Essa praia me cheira a liberdade.

Katarina engoliu seco.

– Por que você ainda está aqui comigo? - Sua voz soara dolorosa. - Meu pai desapareceu. Por que você não vê isso como a sua liberdade? Ou você me trouxe aqui só pra dizer isso de uma vez por todas?

– Eu cogitei isso.

– Ah. - As pupilas verdes demonstraram raiva.

– Cogitei sair da mansão, cogitei parar de ser um cão do Alto Comando, cogitei voltar para a minha antiga vida, cogitei voltar a ser o que eu era há treze anos. Mas por que será que eu ainda estou aqui?

Talon andou até ela e a abraçou com força. Os olhos de Katarina tremeram com aquilo. Pela primeira vez em quase quatorze anos, ela sentia que era algo para ele. Não precisou de mais palavras jogadas ao vento daquela pequena praia coberta de neve. Katarina entendeu perfeitamente que ele estava ali porque não podia a deixar sozinha.

– Eu também não quero que você vá...

:

Foram duas semanas de buscas por Noxus inteira antes do resultado final.

Em um belo dia, o General Marcus Du Couteau simplesmente desaparecera.

As pistas que ele deixou para trás não foram de muito ajuda. Não falara nada com as filhas, e muito menos com o seu fiel subordinado.

Katarina fora uma das pessoas que o vira pela última vez. Chegou ao anoitecer de uma missão que fazia. Falou com seu pai sobre ela e Talon, e ele lhe disse uma frase peculiar. Ela não imaginava que aquela fosse ser a última vez que ouviria a voz de seu pai. No entanto, no dia seguinte quando suas empregadas foram até o quarto do general porque ele ainda não tinha levantado, o quarto estava vazio.

Não havia nenhum vestígio de que ele passara a noite ali.

Todas as pessoas da mansão procuraram em cada cômodo daquela grande casa. Mas nada.

No entanto, Cassiopeia apareceu no quarto de Katarina e lhe contou que havia sido a última pessoa que havia o visto.

O general havia sido convocado.

Para o quê, ela não falara. Mas Cassiopeia entregou à sua irmã o que ele deixara.

Mesmo desconfiados com tudo, Katarina e Talon foram até a sede do Alto Comando, e quando chegaram lá, ambos perceberam que aquele era um dia importante. Todos os generais estavam presentes. Desde o Grão-General Swain, até os generais que Katarina sequer sabia o nome. Até mesmo Darius estava lá.

E todos ficaram ofendidos com o atraso de Marcus Du Couteau.

Mas ao saberem que ele não tinha sido visto desde a noite anterior, a reunião seria adiada e uma busca começaria.

Depois de duas semanas, nada foi encontrado. E por ser um general, Marcus Du Couteau nunca fugiria.

Em todo caso, foi dado como morto.

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– Se o punhal cair em pé, eu vou. Se o punhal cair deitado, você vai. - Katarina disse isso e rodou o punhal para cima, jogando-o no ar.

Caiu de pé.

– Por que diabos você sempre usa as leis da física pra decidir os trabalhos? - Talon suspirou. E logo depois pegou o punhal na grama.

– Eu escolho. - Ela retirou o punhal de sua mão e lhe deu um sorriso confiante. Olhou para os papéis que Talon segurava e rasgou um.- Esse não vai ser.

– Eu queria ele.

– Queria. - Ela riu e leu atenciosamente o outro papel. - É, esse era melhor que aquele mesmo.

– Nessa missão nós temos que ir até Piltover. - Talon falou enquanto colocava a sua cabeça na frente da dela, tampando-lhe a visão. - Sério, Kat?

– Pense nisso como férias na Cidade do Progresso! - Ela lhe respondeu enquanto jogava a cabeça dele pro lado.

:

– Puta merda, Katarina. - Ele falou ainda com a expressão atordoada em sua face. O que Katarina particularmente achava adorável. - Você não deveria, definitivamente, se lembrar desse dia.

– Por que não? - Ela lhe deu um sorriso amigável. - É seu aniversário.

– Não deveria se vestir assim... - Talon falou enquanto olhava as partes do corpo de Katarina que estavam à vista. Ela apenas riu e passou as mãos pelos ombros dele, sentindo os músculos que eram escondidos pela regata preta. - ... E não deveria agir assim.

Ele não conseguia a olhar nos olhos, era tão patético.

– O quão tolo você pode ser? - Katarina pegou o punho dele e o trouxe para si, mostrando-lhe o próprio pulso com uma fita vermelha. - Vamos, abra seu presente.

:

Katarina cerrou os olhos e apertou-lhe a mão com força, esperando o pior.

– Você enfrenta um exército de Ionianos sem medo, mas na hora de fazer uma tatuagem aperta a minha mão? - Talon a olhou com uma cara de interrogação que Katarina só pode ver ao abrir o olho esquerdo, o olhando com uma angústia desnecessária.

– Vai que dói. - Depois disso, ela soltou um "hehe". Talon não conseguiu segurar a risada.

:

A brisa de Ionia era calma. Junto com ela vinham vários cheiros, entretanto, de baixo daqueles pés de cerejeiras, Katarina não sabia qual deles gostar mais.

– Não te conforta? - Ela olhou para o homem que estava deitado ao lado de um tronco, quase fechando os olhos.

– Me sinto com vontade de dormir, na verdade. - Talon retrucou para ela enquanto ajeitava suas costas contra a grama. - Por que você não experimenta ver de baixo?

Katarina deitou ao seu lado, observando o modo que as pétalas rosa se desprendiam dos galhos quando o vento sobrava.

– É muito... - Ela se aconchegou sobre o peito dele, encostando a cabeça em seu ombro. - ... confortante.

:

– Eu já disse hoje, que eu odeeio, navegar? - Katarina falou enquanto soltava a garrafa de rum no colo de Talon.

– Ei, toma cuidado com essa garrafa! Você acha que foi fácil conseguir ela? - Talon segurou a garrafa contra o peito.

– Ué, mas todo rum não é igual? - Ela falou enquanto também se jogou no colo dele, sorrindo ao olhá-lo com a face vermelha.

– Se você acha. Vou ali roubar um daqueles caras. - Talon apontou para um grupo de marinheiros que bebiam de várias garrafas sem rótulos.

– Não...! O nosso pelo menos tem nome! - Katarina riu e soluçou. Olhou para Talon com seus olhos assustados, tentando ver de onde vinha o barulho. Soluçou outra vez. - Caralho, vem de mim!

– O quê? - Talon franziu a testa e a olhou com dúvida.

– Eu estou com soluço. - Ela fez um bico.

Ficava tão divertida quando bêbada.

– Ah... - Foi o que ele apenas sussurrou antes de levantá-la de seu colo e ameaçá-la a jogar no mar. Katarina começou a berrar palavrões, mas Talon não parou. Depois de alguns segundos, ele a colocou na madeira do navio e aproximou seus rostos. - Agora parou?

Ela não lhe respondeu. Apenas enfiou seus dedos nos longos cabelos castanhos e o beijou.

:

Katarina estava amarrada em uma árvore ao sol do meio dia. Já fazia três horas que estava ali, sendo castigada por seu pai por ter desobedecido. Certamente, não conseguira matar o general demaciano. Mas o que de mal tinha em querer matar todos aqueles vermes no acampamento?

Aquilo lhe causou uma cicatriz no olho esquerdo.

Estava com o tapa olho ainda, o corte tinha sido até que profundo. Claro que ficar pendurada no sol foi a última parte daquela tortura que Marcus lhe deu, mas ela confessava que foi a mais fácil.

Havia errado. Sua presa fugira e ela entendia perfeitamente isso. Amadureceria com aquilo.

Ouviu passos na grama. "Até que enfim!" Ela já estava quase sorrindo, esperando seu pai, pronta para se defender. Mas apenas Talon apareceu ali.

Nos três anos e meio que passaram juntos, Katarina nunca tinha o visto com aquele brilho no olhar. Nem mesmo quando brigavam, e nem mesmo quando ela o via matar.

Ele se aproximou dela como quem não queria nada, mas Katarina se surpreendeu quando ele passou a língua gelada no pescoço quente dela.

– Salgada. - Ele riu ao perceber que ela se contraiu. A risada foi abafada em sua pele, o que fez Katarina se contrair de novo.

– E-ei... - Ela tentou falar alguma coisa, mas sua cabeça ficou nublada quando ele passou a mão em sua cintura nua, enlaçando os corpos.

Há meses ambos estavam nesse mesmo jogo. Tanto Talon quanto Katarina se provocavam quando dava. Durante as missões, durantes o assassinatos, e até mesmo na presença de outras pessoas. E por mais que ambos se desejassem profundamente, sempre acontecia alguma coisa pra impedir o sexo.

Mas talvez hoje não.

Ele juntou seus lábios, cedendo a todo aquele desejo que rapidamente acendera em seu corpo. A beijava com intensidade, estava sempre sedento por ela. Katarina tentou passar a mão pelo pescoço dele, mas lembrou que estava algemada ali. Abraçou a cintura de Talon com as pernas, colando seu corpo ao dele.

Talon parou para recuperar o ar e a olhou. Ambos tinham a face corada e os lábios vermelhos. As respirações eram ofegantes. Mas ele queria mais. Sempre mais. Katarina ia recomeçar o beijo quando ele parou.

– Aqui não. - Ele retirou a chave da algema com dificuldade do bolso e a soltou em seu próprio colo. - Vamos para o quarto.

:

– O que foi? Por que tá com essa cara? - Katarina perguntou à Talon que não parava de bater o punhal na mesa de madeira.

– Hm? - Ele lhe respondeu sem entusiasmo, a olhando com tédio.

– Para com esse barulho irritante.

– A única coisa irritante aqui é você. (1) - Foi a única coisa que ele lhe respondera.

Katarina riu, nunca esperando aquilo.

– Tá irritado porque vai ter que me escoltar na missão? - Ela pegou o punhal da mesa e o atirou no chão de madeira. - Antes era eu que te escoltava, agora você vai ver o quanto isso é inútil.

– Vai à merda, Katarina.

:

Depois que a mansão Du Couteau acaba, há um jardim onde os assassinos geralmente treinam. E logo após esse jardim, há uma pequena floresta.

Katarina estava lá. Apesar de não ser uma mata fechada, ela era ótima para treinamentos. Passava dias e dias, escalando aquelas árvores grandes só para criar resistência. No entanto, seu pai lhe aconselhara a treinar um pouco com Talon.

Não que ele precisasse de treinamento, mas quando ambos lutavam para valer, nenhum saía vitorioso. Sempre estavam cansados, e Katarina cada vez mais se irritava com ele.

Até um dia que Talon jogou suas shurikens enquanto Katarina estava em um galho. Ela pulou, mas mesmo assim Talon havia acertado seus pés. Ela teria caído em pé caso a superfície da terra estivesse normal, mas havia chovido no dia anterior e a terra estava úmida.

Resultado: ela escorregou.

E com isso, vieram as provocações frequentes.

– A filha do general caiu que nem bosta. - Ele sorriu ao se aproximar dela. Olhou para uma árvore e se encostou nela. - Que tal darmos uma pausa?

– Tá. - Ela lhe respondeu fria, enquanto sentava em seus próprios pés.

– O que foi? - Talon riu. Não que ele se importasse, mas aquela era uma pessoa que ele não deveria machucar. - Torceu alguma coisa?

– Não aconteceu nada. - Seus cabelos cobriram os olhos.

Se não estivessem treinando, o adversário dela teria o matado naquele momento. Nunca nenhum dos dois tinham se superado, e aquele momento foi decisivo: Katarina perdera.

Ficou com raiva. Sentiu tanto ódio que ela poderia matá-lo.

Riu. Não conseguia matá-lo.

Mesmo que lutasse com tudo o que tinha, ele nunca deixava uma brecha.

– Você tem certeza que não se machucou? - Talon foi até ela e pegou sua perna, colocando-a sobre seu colo.

Retirou a bota que ela usava e suas meias. Tocou com suas mãos frias o seu pé e fez uma pequena massagem. Logo depois ele o apertou em um ponto.

– Ai! - Katarina gritou. - Eu não achei que ele estivesse machucado...

– E não tá. Isso aqui é apenas o seu nervo. – Talon riu para ela.

Katarina prendeu sua respiração ao ver aquilo. Seus olhos verdes o olharam com ansiedade, mas ela não percebia isso.

– P-Por que está sendo gentil? - Ela sussurrou com nervosismo. Percebeu o quão estavam próximos. Aquelas mãos estavam ainda em seu pé.

– Você é alguém que eu não devo machucar. - Ele colocou o pé dela de lado e ameaçou a se levantar. Katarina não entendeu o que ela mesma fazia, mas simplesmente puxou sua blusa e selou seus lábios aos dele. - ... Não fisicamente. - Ele sussurrara após ela desgrudar os lábios, tentando esconder a sua vergonha.

Ela riu cínica.

– Isso é apenas uma forma de agradecer, idiota.

:

Uma jovem Katarina desceu aos pés da escada. Se ela se magoou com o que viu, ela não deixou transparecer. Apenas olhou para seu pai com uma cara de tédio.

– Então o tal do Talon já chegou? - Ela o olhou dos pés a cabeça.

Um menino de dezesseis anos, não muito forte e com cabelos curtos. Ele cheirava mal e suas roupas estavam todas sujas. As botas também estavam cheias de lama. Ele fedia a submundo. E Katarina nem precisou falar nada para que ele percebesse que ela pensava isso.

Estava tudo escrito em seus olhos quando ambos se olharam.

– Como você sabe meu nome? - Ele lhe falou em um tom agressivo.

– Meu pai parece gostar de você. - Ela sorriu irônica, porém Talon só viria a conhecer aquele sorriso depois. - Não pense que irei te tratar bem. - Katarina disse enquanto passava por ele e ia até a porta.

.

.

.

“Quem é você?” Voltou a ecoar em sua cabeça.

"Quer dizer que ele não vai lembrar de nada?" Suas pupilas verdes voltaram a ficar contraídas. Aquela missão saíra com mais dor que ela imaginava, e não eram só aqueles ferimentos superficiais.


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Notas finais do capítulo

1: Essa é uma cena que meio que tem na Dominação de Lâminas. Copiei a minha mesma, flw.



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