Travelling in times escrita por Vick Grason


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Segredinho: chorei enquanto escrevia esse capítulo! Bom, é a vez de vocês. Divirtam-se amorzinhos, boa leitura!



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1 de Novembro, 2014. ( Narrativa de Sam)

8H00 a.m

Os raios do sol eram bloqueados pelo filme dos vidros da Hilux, para a minha sorte, pois uma simples claridade solar já fazia queimar literalmente meus olhos. Segundo seguintes aos que acordei, ouvi batidas na janela do motorista. Abri a porte. Era Nick, vestindo uma camiseta regata que marcava seus músculos e uma bermuda e segurava uma muda de roupas e um par de tênis baixos nos braços.

–Se você quiser sair por aí, terá que usar uma roupa mais moderna...ou vão achar que está voltando de uma festa dos anos 80- explicou ele.

–Aonde me troco então?- perguntei.

–Aqui no carro. Não quero que meus pais se deparem com uma vampira atravessando a cozinha em pleno café da manhã de sábado.

–Então fica aí fora!

–Beleza- disse ele, que continuou encostado na porta aberta.

–Vai logo!-exclamei empurrando e fazendo-o desencostar da porta, que fechei com força.

Peguei a muda de roupas que estava no banco do motorista deixada por Nick. Era um shorts branco, uma camiseta com a bandeira da Inglaterra (não pergunte o porquê) e um par de tênis baixos. O shorts ficou muito apertado, mas a camiseta e o par de tênis serviram.

–Pode entrar!-falei.

Nick abriu a porta do carro e subiu pelo degrau do veículo para entrar, sentando no banco. Por uns segundos ele ficou olhando para as minhas pernas.

–Tire os olhos daí!-exclamei dando um tapa em suas costas e ele, ria de mim com seu jeito bobo.

– Que foi?- perguntou ele me pegando no flagra navegando no mar de seus olhos azuis.

Pigarreei e olhei para o painel do carro.

–Nada- respondi.

https://www.youtube.com/watch?v=65jAVCRO_I0 (ouvir enquanto lê)

Nick girou a chave na entrada na lateral do volante e ligou o carro, automaticamente uma música começou a tocar, o nome apareceu em neon no moderno aparelho : “Wait” do “ M83”. Saímos da garagem e fomos até o cartório. O lugar continuava a ser o antigo prédio perto da prefeitura.

– À propósito, de quem é essa roupa?- perguntei.

–Da minha irmã, Alice, mas ela está em Harvard então...-respondeu ele.

–Você tem um par de óculos de sol para me emprestar? Esse sol está me incomodando.- falei.

–Claro.- falou tirando os óculos de dentro do porta-luvas e me entregando, que coloquei no rosto.

Depois de descermos da Hilux e entrarmos no local, o odor dos papéis velhos subiu ao meu nariz. Haviam mesas e muitas estantes com arquivos do outro lado de um comprido balcão. Uma senhor de meia-idade era a única no balcão e digitava algo atrás da tela de um computador. De vez em quando ela ajeitava os óculos sob o fino nariz e colocava para trás da orelha os cabelos que soltavam do rígido coque.

Dirigi-me ao balcão.

–Senhora. -chamei.

A velha levantou seus olhos lentamente na minha direção irritada.

–O que foi senhorita?- perguntou ela com uma voz rouca.

–Gostaria de ver o endereço de meus avós.- pedi falando que eram meus avós ao invés de meus pais para não deixar suspeitas.

–Qual é o sobrenome e nome? –perguntou ela com desdém.

–Vanderwood. George e Erica Vanderwood. –respondi.

Após alguns minutos digitando, ela finalmente disse:

–Seu avô saiu do país. Aqui não consta qual.

–E minha avó?- perguntei com o ‘”coração na boca”.

–Sinto lhe dizer, mas aqui diz: falecida no dia 28 de Maio de 1985. Causa da morte: suicídio.”

–Como assim?-perguntei não acreditando.

Apoiei-me no balcão de vidro. Apenas senti as lágrimas embaçarem a lente dos óculos escuros. Meus olhos ardiam. A culpa tomava conta de meu coração. Ela havia se matado uma semana depois de meu desaparecimento. Minhas pernas formigavam tanto que simplesmente desabei de joelhos no chão. A mulher que me acordava todas as manhãs com seu sorriso doce, dançava pela casa descalça ao som de Beatles, cuidava de mim quando a asma atacava, ensinou-me a andar de patins, minha mãe, ela estava morta. Ela morreu acreditando que eu havia morrido.

Nick se ajoelhou e me abraçou. Desabei em seus braços, as minhas lágrimas molhavam sua camisa e ele me aninhava enquanto eu encostava a face em seu pescoço, Nick acariciava meus cabelos.

–Vem, vamos embora daqui.- ele finalmente disse.

Ele me guiava até o carro, pois as lágrimas e os raios do sol impediam-me de seguir sozinha. Eu sabia que teria chances de um dos dois não estar mais vivo, mortos pela velhice, não por mim. Eu a matei indiretamente, a matei de tristeza e aquilo me tirava o fôlego, era para eu estar morta. Eu devia algo á ela. Devia meu perdão.

–Quero vê-la...-falei em meios aos soluços ao sentar no banco de passageiro- ...preciso vê-la- completei.

–Está bem.- afirmou Nick.

Só havia um cemitério na cidade, eu acreditava que talvez ela estivesse lá, na verdade eu tinha esperanças de encontra-la na varanda de nossa velha casa com seus longos e cacheados cabelos e viesse correndo me abraçar, que os dados no cartório fossem de outra pessoa, mas sabia que não podia fugir da realidade.

O cemitério ficava numa parte afastada da cidade. Era um campo de grama úmida com lápides simples. O portão e a grade eram baixos. Finalmente havíamos chego ao momento em que a verdade se materializaria.

Desci do carro. Sem Nick, acredito que não teria conseguido. Passamos pela entrada e verificamos cada uma das lápides, cada pedaço de pedra que continha resumidamente a história de cada uma daquelas pessoas. As mais tristes eram a de crianças, aonde, em cima do túmulo, haviam ursinhos de pelúcia ou bonecas. Estava quase acreditando na hipótese de encontrar minha mãe em um desses asilos alternativos aonde os idosos tem aula de artes e dança, quando encontrei uma lápide branca escrito:” Erica Vanderwood. Nascimento: 20 de Julho de 1935. Falecimento: 28 de Maio. Amada mãe, fiel esposa e eterna sonhadora.“

– Não. Não. Não pode ser. – sussurrei para mim mesma, pensando que se eu repetisse várias vezes talvez não fosse verdade, mas nem tudo que pensamos que seja real, a torna real.

As lágrimas novamente arderam em meus olhos. Afoguei meu rosto no peito de Nick que me abraçou.

–Você consegue. – disse ele.

Limpei as gotas que escorriam pelas maças do rosto e olhei para lápide como se fosse minha mãe e disse em meio aos soluços:

–Mamãe, eu queria que você soubesse que estou bem, ao contrário do que você talvez tenha pensado, estou bem, estava até saber que...- parei e suspirei engolindo seco tentando achar alguma coragem dentro de mim para continuar- até saber que você não vai estar em minha formatura ou meu casamento, caso ele aconteça algum dia, não vai me ver ir para a faculdade. Não vai mais me acordar com suas músicas da Celine Dion em plena manhã de domingo ou preparar seu sorvete com macarrão – sorrio em meio as lágrimas recordando-me de quando ela preparou essa mistura que só ela mesma podia ter inventado. –Perdoe-me. Perdoe-me por tê-la feito se preocupar demais, por não ter dito mais vezes “eu te amo”, perdoe-me por não ter seguido seus conselhos, perdoe-me por não ter acariciado mais seus cabelo, perdoe-me por não ter lhe beijado mais. Você sempre estará comigo em meu coração.- termino e viro enxugando as lágrimas para Nick- Vamos?

–Você colocou essa rosa aí?- perguntou ele apontando para uma rosa em cima do túmulo.

–Não.- respondo.

–Alguém a visitou antes de nós.- quando Nick diz isso logo penso em meu pai. Eu precisa dele naquele momento. Seria ele então?

–Quem poderia ser?- sussurrei.

Nick apenas levantou os ombros, aquela era uma resposta que ele não poderia me dar.

1 de Novembro, 2014. ( Narrativa de Nick)

10H00 a.m

No caminho de volta, Sam estava de cabeça baixa apenas observando as paisagens pela janela. Não queria vê-la daquele jeito, mas eu não podia fazer nada, apenas o tempo a ajudaria. Samantha começou um choro sentido, como uma criança que se machuca. Quando virei o rosto em sua direção, ela estava abraçada aos joelhos. Não teve jeito, parei o carro no acostamento e o desliguei.

E disse para a frágil garota que chorava desesperadamente.

–Olha, eu nunca perdi ninguém, mas sei que deve ser muito difícil. Pode parecer impossível, mas melhora. Depois que cicatriza, a dor se torna apenas uma saudade.

Soltei meu cinto e a abracei, fazendo-a quase sumir em meus braços. Encostei meu queixo sob sua cabeça e acariciei seus macios cabelos. Levantei sua cabeça e sequei sua lágrimas.

–Você é forte, você vai passar por tudo isso e ainda vai sorrir e me dizer:” você me avisou!” – falei a ela.

–Mas eu perdi tudo o que tinha, minha família. O que tenho agora?- questionou-me ela.

–A mim, você tem a mim. Eu vou cuidar de você.

Sam piscou seus olhos castanhos e continuou a olhar para mim, talvez surpreendida por eu ter dito que cuidaria dela. Dei um beijo em sua testa e voltei minha atenção ao volante, liguei a Hilux e fomos para minha casa.

Abri o portão da garagem e entrei com o carro. Só depois de alguns segundos que o mecanismo do portão o havia fechado percebi que meu pai estava na garagem. Ele não podia ver Sam, ou eu estava muito ferrado.

–Filho! –exclamou meu pai sorridente ao me ver, batendo os nós dos dedos na janela do carro.

Abri-a e respondi:

–Oi pai...

–Quem é essa? Uma nova amiga? – perguntou meu pai justamente o que eu não queria que ele perguntasse.

–Sim, esta é Samantha.- respondi indicando a cabeça na direção de Sam.

–Ela vai ficar pra almoçar?- perguntou ele.

–É... não...ela- falei meio gaguejando.

–Ah! Por que não? Sua mãe fez lasanha! – suplicou ele.

Depois de muito suplicar, concordamos com meu pai, descemos do carro e entramos na casa. O cheiro do queijo derretido e do molho da família estava por toda a casa, impulsionando meu estômago a fazer roncos. Ao sentarmos na sala de jantar, Sam tirou os óculos.

–Vou ajudar sua mãe a trazer a travessa, está bem filho? –avisou meu pai.

Logo em seguida que ele saiu da sala, virei para Samantha e disse preocupado:

–Você consegue comer comida normal?

–Claro, sua anta!- respondeu ela.

– Nossa! Sua grossa!

– Cala a boca cabeção. –disse ela pouco antes de meus pais entrarem com a travessa e a colocarem na mesa de mármore.

–Isso aqui deve estar uma beleza!- exclamou meu pai esfregando as palmas das mãos pronto para atacar a lasanha.

Estávamos todos sentados nas cadeiras cinzas de um revestimento macio sob dois lustres redondos brancos, aos sons de “mastiga-mastiga” e dos talheres de prata, quando minha mãe perguntou:

– Essa é sua nova namorada?

Logo após a direta pergunta consegui ouvir o engasgo de Samantha que estava sentada ao meu lado e antes estava distraída com seu olhar no papel de parede cor creme.

–Sim. Estamos juntos.- respondi – Ai!- gemi baixo de dor pelo chute dado por Sam debaixo da mesa em minha canela.

–Ela é muito mais bonita que as anteriores!- elogiou minha mãe.

–Mãe!- exclamei.

–O que foi? Você sabe que sou sincera...-comentou ela.

Decidi ficar calado, apenas saboreando as camadas da lasanha. Então meu pai começou a fazer um “interrogatório” à Samantha

–Aonde seu pai trabalha?

–Éh... ele está no Uruguai em uma grande empresa de... papéis –respondeu ela mentindo.

– E sua mãe?

Um silêncio tomou conta da sala e respondi por ela:

– Faleceu há um ano.

–Ah! Desculpe-me! – disse meu pai.

Quanto mais meus pais falavam mais eu percebia o motivo de não apresenta-los ás minhas namorados. Eles eram indelicados e sem noção em sua perguntas . Logo que terminamos de comer, subimos para o meu quarto, afim de que meus pais não fizessem mais perguntas .

Sam ficou surpreendida pela quantidade de bandeiras, pôsteres e bolas de beisebol por todo o meu quarto, todos esses apetrechos, dos Matt’s, é claro. A minha cama de casal ficava perto da janela. Fechei as cortinas para que a luminosidade não incomodasse Samantha.

Joguei-me no emaranhado de edredons em cima da cama. Sam ficou de pé, envergonhada. Indiquei o espaço vazio ao meu lado na cama e ela se deitou meio sem-jeito. Ficamos os dois observando os adesivos de estrela fluorescentes no teto, calados até Sam comentar algo, com sua calma voz:

–Lembro da vez em que meu pai me levou no observatório da NASA. Vimos a constelação das Cinco Marias e outras que até então eu só havia visto em páginas de livros...elas são bem diferentes das de cinco pontas que imaginamos ser.

Após mais alguns minutos em silêncio falei:

–Quero te levar num lugar, mas é surpresa.

–Aonde?

–É surpresa.

Ela ficou olhando para mim ponderando se queria ou não ir.

–Vamos. –disse ela.

Entramos no carro e seguimos para o tal lugar.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Comentem com suas ideias e opiniões sobre a história, é com críticas que se escreve um bom texto.



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