Capitulo 2 — Nikolaj Rasputin

Depois de uma manhã na sala de perigo, lutando contra sentinelas, acho que poderia me dar ao luxo de relaxar um pouco.

E com relaxar um pouco, eu quero dizer, passar minha tarde livre na garagem, restaurando meu carro. Quando ele chegou em minhas mãos, era apenas uma lata velha, mas nada que algum trabalho em cima não possa transformar em novo. Então, sempre que tenho um tempinho livre, o gasto assim, entre ferragens e motores.

Fazer o que? É meu hobbie.

— Finalmente te achei! — O silêncio aconchegante é brutalmente assassinado por TJ, que surge do nada, como sempre. — Você se escondeu bem, te procurei pela mansão toda, grandão.

— Eu não estava me escondendo. — Retruco, dando uma rápida olhada pra minha amiga. — Você sabe que sempre venho pra cá, TJ.

Tália deixa escapar uma risada

— Eu sei, eu sei. Mas, o que está fazendo agora? — Ela pergunta com a voz realmente curiosa. — Você nunca para de mexer nessa lata velha, impossível que ainda tenha algo pra se fazer nela!

— No momento, estou tentando consertar esse eixo aqui. — Não presto muita atenção em minha resposta, já que ela está toda voltada para meu trabalho atual.

— Nem sei porque ainda pergunto, eu não entendo absolutamente nada sobre carros. — Ela comenta.

Rio do modo como ela diz isso, e então paro que estou fazendo.

— Mas e você? — Saio de debaixo do carro, olhando para Tália. — O que faz aqui?

Ela me devolve um olhar penetrante

— Ah, sabe que eu gosto de passar um tempo com você. Além do mais, os outros estão todos ocupados, eu já estava começando a ficar entediada.

Abro um sorriso, limpando minhas mãos com um pano.

— Por isso decidiu vir aqui, me atrapalhar? — Digo de brincadeira, jogando o pano sujo nela, que consegue se teleportar, aparecendo atrás de mim antes que o objeto a toque.

— Você é meu melhor amigo, é meu dever vir te atrapalhar, querido.

— Ok, ok, o que sugere que a gente faça, então? — Questiono, olhando diretamente para ela. — Temos lição de casa pra terminar e...

— Nikolaj Pavel Rasputin. — Ela diz meu nome completo como se estivesse chamando minha atenção para algo horrível que eu tenha feito. — Você não está falando em fazer lição de casa, está? Por favor...me diga que eu não ouvi isso! O que se passa nessa sua cabeça doentia?

Rio da careta que ela faz

— Okay, me desculpe. — Levanto as mãos para ela, pedindo desculpas. — Não sei o que eu estava pensando. Mas o que você tem em mente para fazermos agora?

Ela pensa um pouco sobre o assunto.

— Vamos andar por aí, até eu achar algum útil pra fazermos, porque, obviamente, sou eu quem tem as ideias aqui. As boas, pelo menos.

— Com algo útil pra fazer, você quer dizer, achar uma vítima para alguma brincadeira que, provavelmente pode nos render algum tipo de castigo?

TJ passa a mão em torno do meu braço, com um sorriso brincalhão no rosto.

— Interprete como quiser, Niko.

Sem dizer mais nada, ela me puxa e saímos andando.

Enquanto damos uma volta pelo jardim do instituto, não deixo de admirar a mansão Xavier, que sempre foi meu lar.

Já fazem mais de quarenta anos desde que a escola foi fundada. É engraçado pensar que, a primeira turma de alunos, a primeira equipe dos X-Men tinha apenas cinco alunos. Desde aquela época, as turmas só aumentaram.

É uma pena que seu fundador, Charles Xavier, não tenha vivido para ver no que o lugar se tornaria.

Hoje em dia, além de vários alunos mutantes vindos de vários lugares, não só dos Estados Unidos, como do mundo todo, a escola também é o lar dos filhos dos primeiros X-Men.

Apesar de não sermos bem vistos, ou bem acolhidos pelo resto dos americanos, ou da sociedade de pessoas não mutantes, ouso dizer que temos sorte. Sobrevivemos e ficamos mais fortes com o passar dos anos.

E é por isso que eu tenho orgulho de ser quem eu sou. Tenho orgulho de ser mutante e me sinto sortudo por ter uma família como esta.

Estou tão imerso em meus próprios pensamentos, que nem reparo que deixei TJ falando sozinha. Tudo que eu consigo ouvir de sua fala quando volto a prestar atenção é:

— ...E ai depois, que você fizer isso, eu teleporto ele pro telhado, e... Nossa, isso vai ser demais, imagina só, o Gregg vai ficar tão confuso...e aí, depois, podemos colocar a culpa na Doreen, tipo, quem iria desconfiar? Eu não iria...E então? Sacou tudo?

Pisco várias vezes, e Tália me encara por alguns momentos, antes de revirar os olhos, jogando a cabeça para trás.

— Você não prestou atenção em nada, não é?

Dou um sorriso sem graça para ela, quando a garota cruza os braços, me olhando com falsa seriedade.

— Não sei quem é mais distraído, você ou o Connor!

— Foi mal.

Tália ainda está com os braços cruzados quando minha prima, Alex, aparece na porta que ligava o jardim e a sala, chamando nossa atenção.

— Niko, TJ, o diretor Scott quer falar com vocês!

— O que ele quer? — TJ passa por mim, indo em direção a amiga.

Minha prima revira os olhos, dando as costas para nós.

— Entra e pergunte a ele você mesma. Ele tá na biblioteca.

Sem dizer mais nada, Alex some, deixando a mim e a TJ sem respostas.

Trocamos olhares e logo TJ fala:

— Eu amo esse temperamento da sua prima. Sério, com um gênio desses, não sei porque ela e a Romanoff ainda não são melhore amigas pra sempre, as duas juntas fariam todos chorar. — Ela debocha, colocando a mão no queixo logo em seguida, com uma expressão mais séria. — Se bem que acho que é por isso que o universo não as fez amigas....

Começo a rir, puxando-a pelo braço.

— Vamos, filosofa, vamos ver o que o Diretor quer.

Começamos a andar pelos corredores da mansão rapidamente, passando por vários alunos de diversas idades, até chegarmos na biblioteca, onde esbarramos com Bobby e Vampira -que sorriem para nós-, saindo de lá. Assim que entramos, encontramos o professor McCoy, Ciclope, e Emma Frost, na companhia de Jason, Madison e Alex, que estavam espalhados pelo lugar, conversando com os mais velhos.

Estranho ao não encontrar Rachel, Zendaya e Jimmy pelo lugar, e TJ se mostra tão confusa quanto eu.

— Cadê o Jimmy, a Rach e a Zen ? — Minha amiga inquire, atraindo os olhares para nós.

— Elas estão na torre Stark. — Emma nos informa, sem realmente olhar para nós, concentrada em alguns papeis em suas mãos. — Jimmy foi buscá-las, não se preocupem.

Faço meu caminho até o sofá, aonde me sento ao lado de minha prima, que está com os braços cruzados e sua habitual postura irritada e sem paciência.

Ela me lança um olhar de canto, mas não diz nada, nem mesmo um oi, mas já estou acostumado, afinal, ela sempre faz isso. Apesar de sermos parentes, Alex e eu não somos tão grudados como Luna e seus primos, Billy e Tommy, mas posso dizer que nós damos bem.

Tá bom, nos damos bem na medida do possível, já que Alex sempre foi uma garota difícil, e um pouco problemática.

Desde que éramos mais novos, Alex nunca teve facilidade em lidar com outras pessoas. Ela sempre teve um pavio mais curto até mesmo do que Jimmy, e bom, ela não é do tipo que se esforça pra ser amigável com ninguém. Ou ela gosta, ou ela não gosta de você e ponto final, pra ela não existe um meio termo. Alguns podem até considerá-la perigosa, por causa de seus poderes (que realmente, chegam a ser meio assustadores de vez em quando), mas quem a conhece de verdade como eu, Maddie e TJ, sabe que ela não é uma má pessoa.

Então, você for persistente, e conseguir quebrar essas barreiras de sua personalidade, vai enxergar como Alex é uma garota incrível.

— E porque nos chamaram aqui? — A voz de Tália me traz novamente para a realidade, aonde os adultos nos olham analiticamente. — Juro que não fui em quem mexeu no X-jato. Na verdade, se quiserem, posso até dar nomes se precisar...

— Não foi por isso que os chamamos aqui. — Scott Summers, o atual diretor do lugar diz, cortando TJ enquanto nos olha através de seus óculos vermelhos, que sempre tornam complicado ler suas expressões.

— Ah, ainda bem. — TJ diz aliviada, se jogando no sofá comigo e com Alex.

— Então, qual o motivo disso tudo? — Maddie pergunta, olhando para sua mãe e Scott.

— Temos uma missão pra vocês. — Ele diz com um pequeno sorriso nos lábios. — Achamos que podem dar conta disso sozinhos.

Jason se mostra animado com a notícia.

— Seja o que for, podem ter certeza que damos conta do recado. — Meu amigo se levanta todo confiante, indo até a mesa de seu tio. — Qual a missão?

Scott sorri com o comportamento do sobrinho, e logo nos mostra a ficha de um rapaz, aparentemente da minha idade, com cabelos negros e olhos azuis.

— Vocês cinco vão até o Maine, em busca deste rapaz. — Emma Frost diz.

— Quem é ele? — TJ questiona, sem tirar os olhos da ficha, assim como eu. — É bem bonitinho.

— Este é Chandler Turner. — Scott começa, ignorando o ultimo comentário de TJ. — Ele tem dezoito anos. Cresceu com os pais adotivos em Phoenix, e atualmente mora Portland, onde estuda na Universidade Southern Maine.

— Fascinante. — Alex murmura sem interesse algum.

— Hã, e que ele tem de especial? — Pergunto, curioso, olhando para os mais velhos.

Quem responde, é a mãe de Maddie.

— Seu parentesco. Chandler é filho de Calvin Montgomery e Clarisse Ferguson.

Acho que a minha cara de espanto foi como a de meus amigos.

Quer dizer, de todos nós, exceto por minha prima.

— E quem são esses aí? — Ela pergunta dando de ombros, como se o assunto não fosse importante ou fascinante.

— Clarisse foi a Blink, Alex. — Maddie explica. — Já Calvin, era conhecido como..

— Mimico. — Jason completa o raciocínio da namorada. — Ele era da Irmandade, caso alguém não saiba.

Vejo que Alex luta contra a vontade de soltar um “ok. Mas e daí?”.

Ainda bem que Jason não lhe dá essa oportunidade, logo retomando a fala.

— Quem diria....Um filho da Blink? — O rapaz olha surpreso para o tio, que concorda com a cabeça.

— Com o Mimico! — TJ completa, olhando pra nós. — Gente, eu sou a única aqui que não sabia que ela tinha tido um filho? — A garota se aproxima, também surpresa, assim como todos nós.

— Eu também não sabia. — Resmungo

— Os dois tem razão, porque nunca ouvimos falar dele, mãe? — Madison questiona a mãe com o olhar, e a rainha branca apenas suspira pesadamente.

— Porque achávamos que ele estava desaparecido, até mesmo morto, até pouco tempo atrás. — A mulher explica calmamente. — Sabíamos que Clarisse e Clavin haviam tido um filho, mas depois de sua morte e do desaparecimento dele, não conseguimos localizar o garoto. Nosso melhor palpite atualmente é o de que Calvin deve ter deixado-o em algum orfanato, para que a irmandade não fosse atrás dele.

— Porque ele não o trouxe até aqui, é um mistérios para nós. — Henry McCoy completa, arrumando seus óculos.

— Bom, ele nunca confiou muito em nós... — Scott comenta baixo.

Fico em silencio, tentando colocar minhas memórias em ordem.

Eu não conheci a Blink. Nenhum de nós conheceu.

Pelo que sei, ela se afastou dos X-Men por um tempo, antes de eu nascer, seguindo seu caminho sozinha. Também sei que ela morreu, se eu não me engano, em uma missão, mas não sei se alguém aqui conhece mais detalhes sobre isso. Também não sei dizer muita coisa sobre o mimico. Já ouvi muito sobre os dons dele e sei que ele já foi da irmandade Mutante. Acho que ainda está vivo, mas faz anos que ninguém tem notícias suas.

— Temos motivos para acreditar que a não somos os únicos atrás desse jovem. — Fera explicava, quando volto a prestar atenção.

— Sendo filho de quem é, acredito que não somos mesmo. — Maddie comenta, levantando os olhos verdes para a mãe. — Acham que a Irmandade vai atrás dele, não é?

— Com certeza. — Hank responde.

— E então? — Olho para meus amigos.

— Se arrumem. — Jason ordena. — Nos encontramos no hangar em dez minutos. — Então ele olha pra nós. — Temos que trazer alguém de volta pra casa.