Quero ir com você escrita por Lari B Haven


Capítulo 1
Capítulo Único: "Quero ir com você para Berlim"


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, história originalmente publicada no wattpad.



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Estávamos em frente ao monumento que foi o muro de Berlim. Não era o passeio perfeito, estava tão frio que eu tremia de forma descontrolada.

— Não fique assim. Daqui a pouco nos vamos ao pub topetinho... -ele ri passando o braço sobre mim que ainda tremendo debaixo de alguns quilos de roupa de frio.

—Não me chame assim barba negra! -dou a língua.

—Não faça isso novamente ou vou ser obrigado a te beijar... -seu sotaque britânico delicioso dançava nos meus ouvidos todos os dias...

Eu olho mais uma vez o monumento e tiro uma foto de sua importância histórica.

—Seus dedos estão azuis topetinho... -ele olha para as pontas dos meus dedos sem o calor das luvas e os pega com ambas as mãos dando um beijo curto que terminou em um sorriso.

—Deixa eu bater a foto senhor Jones...

—Quer que eu te esquente Johanna? -ele puxa a câmera no momento que bato a foto.

—Estragou minha foto... -eu revirei os olhos.

—Ah! Não fica assim senhorita Topetinho. -ele coloca ambas as mãos em meu ombro.

—Eu não vou ser mais zoada por você! -dou um soco em seu peito.

—Não tem escolha! -ele ri e me abraça- Seu cabelo era muito estranho. E esse tipo de coisa não passa despercebido por um homem de contas como eu...

—Claro que sim empresário bem sucedido... -o imito- Uma barba de mendigo dessa também não passaria despercebida por mim.

—A estrela do Rock. Qual era o nome da sua banda mesmo? Gata linda de topetinho?

—Era a Dark Glow. -eu lhe dou outro soco- Seu filho da mãe! Você viu o meu show!

—E dai? Era uma banda horrível! -ele me mostra a língua- Vamos?

—Não me mostre essa língua de novo! Se não... -eu ameaço.

—Se não o quê? Vai me sufocar com suas botas de couro? -ele brinca.

Saímos para o pub onde pedimos o tradicional em dias de jogo: Salsicha e cerveja. Apesar de ser um mês quente eu sentia frio. Não estava acostumada aquele tempo.

—Nem parece... -ele beberica a cerveja- Mas já faz um ano... E eu nem... Tenho que esperar...

—Nem o quê? -fico curiosa- O que preparou para mim?

—Não posso te dizer.... -ele tosse todo desconcertado.

—Engoliu a barba, Barba Negra? -rio- Mas realmente, um ano... Parece que foi ontem que te vi naquele hotel em Nova York.

—Foi mesmo em Nova York? Não foi em Praga?

—Não! Praga foi onde nos fomos dois meses depois... -eu sorrio- Cabeça de vento, consegue lembrar de contas de setenta empresas, mas não lembra do hotel em que ficamos...

—Claro que lembro... Só queria te irritar topetinho. -ele me da um beijo discreto.

Nesse mesmo momento minha mente viaja como as nuvens do avião que eu peguei naquela mesma manhã no ano anterior.

Eu tinha uma banda. Tínhamos um contrato com um festival, duas apresentações por noite e depois podíamos tirar uma folga. Aquele festival era o festival principal de Austin: o SSXW. Conseguir me apresentar lá foi um milagre, nossa banda era foco constante de brigas e eu como baixista queria me abster de tudo aquilo. Eu consegui uma semana. Tínhamos conseguido nossos primeiros shows fora do país. Mas tudo que eu queria naquele momento era a cidade que me criou. Nem parece mas quatro anos antes fugi de casa por causa deste sonho bobo.

Vivi em alguns buracos antes de conseguir pagar um bom hotel, sorte que sempre há descontos na Internet. Um hotel completo e por aquele preço parecia piada.

Lembro-me de estar saindo da piscina. Era uma ideia ótima ficar até meia noite. Mas me expulsaram de lá, devo ter ficado na beirada até essa hora por pura teimosia por que eu sentia frio, mas era bom pensar nas melodias. Eu tinha composto três ou quatro músicas na minha cabeça que passei para os guardanapos. Mas me tiraram de lá antes de terminar a quinta. Foi nesse momento que eu o vi saindo da água. Alto de cabelos enormes e molhado. Parecia estranho a principio, mas seu olhar se fixou no meu de tal modo que só consegui desviar quando cheguei aos elevadores.
—Segure para mim por favor! -ele grita quando eu ajeito o roupão.
—Claro! -digo desajeitada pondo a mão na porta.
—Eu gostaria de nadar mais um pouco... -ele enrola a toalha no cabelo- Estou bonito assim? -ele faz uma careta- Sei que não...
—Esta tarde... A água esta gelada pra caramba! -digo estática- E depois meia noite é um lugar perfeito para se andar. -as palavras se embaralham na minha boca.
—Está falando do horário, do hotel ou da cidade? A menos que exista uma cidade chamada meia noite...
—Eu disse mesmo isso? -eu murmurei lutando com meus pensamentos, eu não conseguia me focar em nada- Idiota!
—Todos somos um pouco... -ele me escuta e pisca- Mas realmente, meia noite em Nova York, é um horário em lugar perfeito para se andar por ai...
O elevador de abre e ando o mais rápido que eu posso.
—Meu andar! -digo em um tom meio esganiçado e saio correndo, procurando meu quarto.
Chego ao meu quarto e fico chocalhando a maçaneta atrapalhada com a chave. Ele sai do corredor andando devagar um pouco, confuso com minha reação. Eu destranquei a bendita porta e entrei com calma quando ele passou por mim. Não sei por que eu tive aquela reação no momento. Na verdade sei. Ele parecia um mendigo de luxo, sem falar no seu humor estranho no elevador. Ele tinha me zoado no elevador, fui perceber quando adentrei o quarto. Eu tinha enrolado a toalha na cabeça.
Era horrível pensar que eu estava rindo daquilo sozinha no quarto.
"Estou bonito? Sei que não..."

Eu volto a momento em que estou. Ele se levanta no momento do gol.

—Marcus você nem sabe quem esta jogando...

—Claro que sei Johanna! -ele se senta pegando novamente a cerveja- Tem a de nome difícil número um e a de nome difícil com o carinha do Manchester United...

—Meu deuses! Ingleses e essa fixação pela Champions League... -eu revirei os olhos- Quando isso vai acabar?

—Quando o Barcelona perder para o meu Manchester na final! -ele me da um selinho- Se o nome difícil do carinha do Manchester ganhar sei que o campeonato vai ser bom!

—Qual era o intuito da viagem senhor Marcus Ghöran Jones? -eu falo sozinha nos imitando- Eu não sei Johanna Kiera Laffaiet... Era para estarmos em um passeio romântico senhor Jones...

—Goooool! -ele grita novamente.

—Desisto. -ele agarra meu rosto e me beija fortemente isso só me irrita mais.

—Me sinto como aquele seu show em Londres! -ele diz sorrindo. Tão feliz quanto podia estar em um jogo. Mas era diferente ele se lembrava do show, o terrível show que mudou tudo.

Como diversas vezes eu falei, larguei minha vida de "topetinho" para trás. A banda não decolou, mas uma coisa disso tudo ficou, ele ficou.

Nesse momento eu volto aquele elevador.
Foi estranho estar com ele no elevador, ainda em Nova York. Ele de terno e eu de casaco de couro.
—Parece que o turbante desapareceu. -ele me olha sorrindo.
—Assim como o seu cabelo de mendigo... -eu respondo ainda um pouquinho áspera dissipando a tensão mascando o meu chiclete.
—Não tenho cabelo de mendigo, topetinho! -ele aponta o meu cabelo.
—Tem sotaque britânico... É de lá barba negra? -rio do apelido que dei.
—Sim... Venho de Manchester, mas hoje em dia vivo em Londres.
—Sou da Luisiana. Fugi para cá quando tinha 19. Tenho 23 agora... -lembro do dia em que cheguei com a banda.
—Sou dois anos mais velho que você... - o elevador chega- É uma pena termos de ir... Sou Marcus. -ele estende a mão saindo.
—Sou Johanna... -eu aperto rapidamente.
—E aproposito esqueceu isso na piscina ontem. -ele tira do bolso uma dezena de guardanapos com as minhas letras de música- Queria poder te conhecer melhor Johanna... Talvez mais tarde...
Tinha algo mais nos guardanapos, tinha seu número de telefone. Eu hesitei em ligar sim. Tínhamos que ir viajar para nosso primeiro Show na Europa. Londres. O destino conspirava a nosso favor.
Eu liguei pra ele. Disse que iria para Londres de qualquer jeito. Ele disse que poderíamos sair. Então marcamos.
E então dois dias depois eu enfio a banda toda em um hotel que achei na Internet. Vejo muitos empresários no hotel. E lá esta ele na praça no centro da cidade vendo o dia passar, com o mesmo terno. Eu estou com o mesmo casaco de couro, meu cabelo ainda está alto e masco chiclete como no dia de nosso último encontro.
Eu ando até ele e me sento no seu banco e digo séria:
—Mãos ao alto barba negra! Isso é um assalto almofadinha Manchester City.
—Topetinho? -ele diz surpreso- O que faz aqui?
—Fazendo minha corrida matutina... -eu aponto para o hotel- Estou naquele.
—Eu também... - ele ri- Que coincidência.... -eu o olho feio- Ok, não estou, mas gostaria.
—Me chame de manica de por descontos. A gravadora paga e a gente viaja...
—É musicista? Que interessante... -ele me olha impressionado.
—Sim... - eu rio- Faz o que da vida barba?
—Eu sou um almofadinha de Manchester City como você bem disse... Cuido de contas de clientes do banco em que trabalho. Eles cuidam das empresas. Eu cuido de negociar com essas empresas...
Eu finjo estar dormindo no banco.
—Sério isso topetinho?
—Não me chama de topetinho! -eu levanto de repente.
—Então não me chame de Barba Negra... -os olhos se encontram novamente. O silêncio se instaura.
—Claro... Bom... -eu me levanto e vou saindo- Foi bom te ver de novo... Marcus...
—Você é de uma banda não é? Em que bar se apresentam?
—Como sabe que vamos? -eu digo já no meio da praça.
—Já tive uma banda na faculdade... -ele diz rindo- Eramos o Suicide Dolls, achávamos que íamos ser como os Rolling Stones...
—Somos a Dark Glow! E eu penso baixo ok? Se chegarmos aos Ramones eu vou adorar... Se quiser me ache...
—Qual é Brooklyn baby... Essa cidade é minha! Eu já fui a todos os bares daqui!
Eu lembro até hoje. Eu gritava no palco cantando um tributo aos Beatles. Não lembrava direito qual música. Ele chegou atrasado, vestia outro terno, não era como os outros pivetes do bar. Ele simplesmente não se encaixava no aperto do local. Nadou por um mar de corpos jovens se contorcendo apenas para chegar na frente.
Ele chegou quase no final. Quando ele disse, não levei a sério, a surpresa me fez travar. O que me fez errar o acorde da música. Nas minhas costas sinto o empurrão que me faz cair na plateia. Mas era Jane a guitarrista, me punindo por errar. Os ânimos se exaltaram. Quando o show acabou nós gritávamos um com outro. Foi a gota d'água.
—Eu gostaria de continuar, mas está impossível! Eu faço as letras e a melodia, vocês mudam tudo! -eu disse antes de sair- E vocês já não se respeitam!
—Então rala Jo! Você está fora da banda!
Eu bato a porta saindo atrás do bar.
Eu me encosto na parede ainda ressentida, uma chuva de cerveja vem do nada.
—Desculpe! Mas só é show da sua banda se você leva banho de cerveja. -ele toma o resto que esta na garrafa.
—Eu não tenho mais banda... Decidi seguir carreira solo... -eu digo limpando o rosto já dissipando o choro.
—Sua banda teve uma carreira mais curta que a minha, e olha que a gente só fez dois shows... -saímos do beco.
—Claro que sim... -rio- Um show de diferença...
—Vamos para algum lugar? Temos que comemorar sua recente carreira solo, topetinho. -ele para no meio da rua vazia.
—Para de me chamar assim barba negra! -eu lhe dou um soco no seu ombo.
—Você tem uma mão pesada para uma mulher! -ele massageia o ombro- Vamos ou não?
—Como me achou? -eu fiz uma pergunta óbvia.
—Liguei para o hotel e eles me disseram que a banda com a baixista mais quente da Luisiana estaria aqui.
Fico vermelha.
—Aonde iriamos a essa hora? -pergunto.
Ele apenas me olha e sorri. Saímos a noite inteira. Andamos Londres inteira e nunca mais voltei para o meu Hotel...

Suspirei com a lembrança de mim o beijando sobre a ponte.

Ele me tira do meu devaneio pegando-me nos braços e comemorando o fim do jogo.

—Me solta Marcus! -grito enraivecida.

—Não! Não vou fazer isso! -ele ri me abraçando- Me deixou fazer o que eu queria, agora vamos fazer o que você quiser...

Eu sorrio. Finalmente visitaríamos os pontos turísticos que eu queria. Ele foi doce e atencioso até o final do dia.

Ele me levou de volta para o hotel depois de eu adormecer ao seu lado. Tínhamos saído do restaurante, e estávamos olhando a lua linda no céu na praça.

—Já que dormiu, sua surpresa vem amanhã... -ele sussurra no meu ouvido quando chegamos ao quarto.

Quando eu acordo no dia seguinte. Ele estava no banheiro escovando os dentes. Eu me levanto e o abraço por trás.

—Me deve um presente senhor Jones... -eu sorrio- Eu já entreguei o meu... -eu estendo a caixa preta.

—Um relógio caro... Como consegue comprar algo com salário de baixista de Turnê?

—Eu roubei... -rio- Mentira, fechei o contrato com a gravadora. Queria que fosse surpresa.

—Com que produtor você dormiu para isso acontecer?

Eu mostro a língua e ele me beija. Acontece ali mesmo. Terminamos na banheira.

Depois de tomar café, fomos para o SPA do hotel.

Fiquei uma hora ao seu lado, elétrica, esperando minha surpresa.

—Onde está meu presente? -mordo o lábio- Quero saber...

—Só mais um pouquinho... Depois do almoço. Estou com as barbas de molho... -ele diz rindo e se afundando mais na hidromassagem.

Estávamos lá desde o café da manhã. E ele se recusava a me contar o que me comprou.

—Eu não vou esperar tanto homem das contas! -saio da água da piscina de hidromassagem.

—Tudo bem Johanna Kiera Laffaiet... -ele pega algo na minha bolsa de praia e se ajoelha- Queria seu presente topetinho, vai ter seu presente!

—Então? O que é? -eu cruzo os braços franzindo os lábios.

—Johanna... Quer viver comigo, viajando por ai? -ele abre a caixinha e tem um anel. Uma aliança- Casa comigo topetinho?

—Quero ir com você para onde eu puder! -eu o levanto e o beijo- Caso sim barba negra!

—Agora que vai ser uma rockstar vai voltar com o topetinho? -ele beija meu pescoço.

—Vai cortar o cabelo de mendigo, barba negra? -eu rio.

—Discutimos isso depois! -ele me beija de forma apaixonada.

Admito, amei ainda mais o homem que encontrei naquela piscina de hotel.


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