POV. Josh

Batuquei com a caneta na mesa. Eu precisava fazer um trabalho final para a faculdade. Estava quase no final. Faltava apenas a conclusão. A tarefa era para ser entregue daqui à seis dias. Eu até estava adiantado. Tenho necessitado ocupar minha cabeça nesses dias.

O triste é que não tenho mais Brian para sair comigo e fazer programas de solteiro. Ser solteiro enquanto todos seus amigos estão namorando é uma merda. Esfrego minhas mãos no rosto e suspiro. Levanto da cadeira e vou até a cozinha pegar um pouco d’água.

Enquanto coloco o líquido no copo, Phil entra no apartamento, estressado. Ele senta-se na sala e tenta se acalmar.

– O que houve, cara?

– Briguei com a Cynthia. Surgiu um cara no trabalho dela, aí ela não para de falar nele. Me enchi. Eu sei que acabei falando algumas merdas.

– Cara, se acalma. Respira. – digo e ele obedece. – Relaxa. Dá um tempo, depois você conversa com ela, porque assim nervoso não vai adiantar de nada. Vocês não vão conseguir chegar à lugar nenhum.

–Você está certo. – diz Phil, suspirando. – Você quer ir no jogo do Giants comigo? Eu comprei dois ingressos. Um pra mim e outro para Cynthia, mas aí ela jogou eles em mim e disse que não queria ir.

– Até parece que eu vou recusar o jogo dos Giants. – digo. – Vou tomar um banho e nós vamos.

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Já estávamos no metrô, que por sinal estava lotado. Fazia um tempo desde que eu fui à um jogo dos Giants. Eu gostava de dias como esse. Vestir minha velha camisa do Eli Manning. Domingo à tarde, todos animados. Tomar cerveja com os amigos. Isso me faz sentir um pouco renovado, mas não deixo de estar abalado. Sou ser humano, não um robô. Tento ao máximo não falar de Daphne para não ligar mais para isso. Não quero ter notícias dela.

Não vou conseguir me abrir de novo para uma mulher, tão cedo. Acho que vou precisar dar mais um tempo até assumir um relacionamento sério. Foi um erro, não? Como Daphne disse. Penso nisto enquanto a cidade passa por meus olhos.

– Isso é bom para você, né? – pergunta Phil. – Se distrair um pouco.

Não digo nada. Não quero falar sobre isso. Continuo olhando para fora. Acho que já estamos no Queens.

– Qual é, Josh? Você sabe que pode falar comigo. Não sou o Brian, mas sou seu amigo também. Moramos na mesma casa. Eu vejo que você não está bem. Você não é mais aquele cara que apesar estar de ressaca fica nos 220 volts. – insiste Phil.

– Cara, eu não quero falar sobre isso.

– Está bem, mas me responde uma coisa. Você acha que vai se mudar mesmo para Miami?

– Vou. Daqui à umas três semanas. Depois do ano novo.

Ele assente com a cabeça e posso ver que está um pouco triste. Eu moro com Phil há quatro anos. Tirando Brian, ele é meu melhor amigo. Apesar de não me conhecer desde o colégio, ele já me viu passar por muitas coisas, como eu o vi também.

– Você vai continuar sendo meu irmão de coração, valeu? – digo, colocando a mão em seu ombro.

– Você tem que fazer o que você gosta, sair das asas dos seus pais.

– Vou ter a possibilidade de fazer isso indo para Miami. O emprego é perfeito. – digo e realmente é.

– Bom, vamos parar de falar disso. Vamos pro jogo! – diz Phil, quando chegamos na estação e descemos.

Passamos um tempo com a torcida organizada. Tomamos algumas cervejas e comemos alguns salgadinhos. Eu tinha me esquecido como é a emoção de se estar um jogo de futebol. Respirar animação, talvez isso me alegre um pouco.

Vou sentir saudade de tudo nessa cidade. Saudade de estar à apenas duas horas de trem da minha família. Saudades de meus amigos. Saudades de ser apenas um universitário. Saudades de ir de metrô para todos os lugares. Vou sentir saudades de Daphne, mas isto tem que ser algo que eu irei aprender a superar. Quem sabe o tempo não seja generoso?

Agora eu tenho que levar a vida a sério. Tenho que me virar e não posso mais depender de ninguém.