Honestly? I love you! escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 24
Escute o pastor


Notas iniciais do capítulo

Esse ia ser o último, mas acabei dividindo em dois pra deixar o que eu acho que é o melhor pro final. Ah, e eu pretendo escrever um epílogo :3



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Cada passada que ela ouvia ao seu redor, cada respiração, cada tique-taque do relógio redondo colado àquela parede parecia levar uma eternidade para se concluir. Faziam exatos sessenta e dois minutos e Hanna francamente sentia que não aguentaria mais duas horas e cinquenta e oito minutos daquilo. Sua pele estava gélida e seu coração batia num ritmo acelerado e desconfortável.

— Faz uma hora que você está sentada aí, Han. – Spencer agachou-se à frente dela, com os olhos recheados de preocupação – Quer alguma coisa?

— Quero – Hanna respondeu vagamente.

— O quê?

— Minha mãe.

Spencer sorriu minimamente, com pesar.

— Quando foi a última vez que você falou com ela?

— Há uma hora.

Para ser honesta, Hanna sentia-se agora incrivelmente desamparada e a única pessoa capaz de confortá-la era Ashley. Ela não conseguia tirar da cabeça a resposta doce da mãe quando ela contara-a sobre Mona depois de as duas terem voltado de Newark, ainda que sem dizer muita coisa. Se ela te faz feliz, acredite, meu bem, é só o que interessa. A verdade era que Hanna não precisara dizer muita coisa. Ashley apenas olhara fundo em seus olhos e provara que realmente a conhecia. Deus, Hanna precisava tanto daquele tipo de conforto agora!

— Pode ligar para ela para mim? – a loira pediu, num tom infantilizado, achando que seus dedos tremeriam demais para fazer a ligação.

Spencer acariciou o rosto da amiga e levantou-se.

— Eu poderia, mas acho que não vai ser necessário.

A morena olhava para sua direita, e Hanna seguiu o olhar dela, virando o rosto para sua esquerda. Uma mulher de cabelos castanho-avermelhados sorria para as duas, especialmente para Hanna, e esta levantou-se imediatamente, jogando os braços ao redor da mãe. Ashley ainda não havia alcançado as cadeiras e viu-se obrigada a soltar a seus pés a bolsa que trazia no ombro direito.

Hanna manteve-se enganchada a ela com força por um longo tempo. Ashley não tentou afastá-la em nenhum momento, ainda que estivessem no meio da sala de espera de um hospital. Hanna fechou os olhos, ainda sentindo-se um tanto frágil ou mesmo infantil, e deixou que a sensação de proteção que a mãe trazia a ela tomasse conta de si. Ashley permanecia calada e Hanna apreciava aquilo, de certa forma, pois ela estava um tanto cansada de ouvir as pessoas tentando abrandar a situação com eufemismos.

— Eu a amo tanto... – a garota deixou escapar, não tendo muita certeza do porquê justo naquele momento.

— Sei que ama. – Ashley murmurou de volta, relaxando a filha com carícias desapressadas em suas costas – E sei também que você é o mundo dela.

Hanna estremeceu, ainda nos braços da mãe. Às vezes ela não se dava conta do quanto era amada de volta por Mona, desde muito tempo. Basicamente, a garota a havia confessado que amara-a desde o primeiro dia em que a vira, quando o sétimo ano começara. Era um amor que Hanna por vezes pensava que não merecia. Afinal, antes que as duas pudessem se falar apropriadamente, no primeiro ano do ensino médio, muita coisa acontecera com Mona e Hanna não estivera ao lado dela. Coisas ruins. Bullying. E no entanto lá estava a morena agora, crescida e salvando a vida da pessoa que, também quando era mais nova, fizera de sua vida um inferno. Mas se havia algo que Hanna aprendera com Mona no decorrer de todos aqueles anos – os mais longos de sua vida –, era que as pessoas mudam. Evoluem.

Ashley acomodou-se ao lado da filha em uma das cadeiras e Hanna recostou-se ao ombro dela. Sentia-se subitamente capaz de adormecer ali. Não era tarde demais para seguir o conselho de Mona, era? Talvez ela pudesse dormir pelas próximas três horas e assim estaria acordada quando Mona também estivesse. Ou ao menos era o que Hanna esperava que acontecesse.

Ela, então, fechou os olhos e deixou-se sentir aconchegada por aquele colo parcial de Ashley. Inspirou o perfume levemente forte que a mãe usava sempre que ia trabalhar – a mulher achava que era “apropriado” – e sentiu parte de seu consciente desligar-se daquele hospital. Spencer estava ali também, o que dava a Hanna uma ainda maior sensação de proteção. Jessica DiLaurentis provavelmente estava agora na pequena capelinha que havia no segundo andar, junto de Leona Vanderwaal. Mas, ah, era inútil! Por mais tranquilas que as coisas estivessem no momento, Hanna não conseguiria pegar no sono. E se acontecesse alguma coisa com Mona ou Alison enquanto ela estivesse dormindo? Ela jamais se perdoaria.

Porém o x da questão era que ela estava cansada – embora não passasse muito das dez da manhã. Pior do que isso. Estava estressada. Respirou fundo, dizendo a si mesma que se houvesse alguma mudança no quadro das meninas, sua mãe a acordaria.

Sentindo seus olhos cada vez menos propensos a abrirem-se novamente, Hanna percebeu que sua mente enchia-se de imagens de Mona. E de Alison. Sonhou com as duas juntas, rindo, abraçando-se, brincando, e abraçando-se de novo, como se elas estivessem em um vídeo caseiro daqueles que aparecem em partes melancólicas de certos filmes. Eram pensamentos tão agridoces! Isso porque, mesmo que Hanna tenha tentado negar algumas vezes, ela sempre amara a loira como uma grande amiga e Mona, bem, Mona era simplesmente a criaturinha mais importante de sua vida. Teria significado o mundo para Hanna se Mona e Ali tivessem sido amigas desde o início. E isso também teria evitado que muita coisa ruim acontecesse nos anos seguintes.

Foi acordada por uma sutil movimentação ao seu lado direito. Ashley, cuidadosamente, tentava se afastar enquanto Emily tomava o lugar dela como o travesseiro de Hanna.

— Mamãe? – Hanna balbuciou, confusa, esfregando levemente o olho esquerdo.

— Está tudo bem, querida – Ashley sussurrou, conseguindo finalmente ficar em pé enquanto Emily se acomodava ao lado de Hanna –, eu só vou pegar um café.

— É, dê uma folga para a sua mãe. – disse Emily, num tom um tanto descontraído – Aposto que ela está com todo o lado esquerdo dormente.

Ashley deu uma leve risada e em seguida murmurou um “já volto”, afastando-se em direção à maquina de expressos.

Hanna rejeitou o colo da amiga num primeiro momento. Uma inquietação no estômago incomodava-a enquanto ela analisava as feições tranquilas de Emily.

— Que horas são?

— Onze e dois – a morena respondeu calmamente, sem olhar para relógio algum. Era como se Emily já entendesse o funcionamento dos relógios, devido a tanto tempo que devia ter passado olhando para eles.

Hanna franziu as sobrancelhas. Ela dormira por uma hora inteira? Mas... parecia que ela havia acabado de fechar os olhos! E então certo alívio tomou conta dela.

— Quer dizer que faltam só mais duas horas?

Emily sorriu; um sorriso doce que com certeza indicava que até o momento tudo estava bem.

— Tecnicamente sim.

Hanna expirou, ainda mais aliviada, por meio de um sorriso também e aconchegou-se em Emily. A morena vestia uma regata folgada preta com detalhes em vermelho do Bulls de Chicago que aparentava ser masculina e que combinava incontestavelmente com ela. Seus longos cabelos estavam soltos e ainda bem penteados. Foi impossível um pouco daquela tranquilidade não atingir Hanna também.

— Acho que tem alguém aqui que quer ver você – Ashley apontou discretamente com o copinho de isopor para quem quer que fosse, assim que voltou a se aproximar das meninas.

Hanna virou o pescoço na direção oposta imediatamente. Um garoto também se aproximava a passos lentos, tendo um meio sorriso esperto no rosto. Hanna animou-se.

— Caleb!

O sorriso fino do rapaz alongou-se e ele tomou o lugar à esquerda de Hanna.

— Oi.

A surpresa ainda era visível no rosto de Hanna.

— Como você soube que eu estaria aqui?

— As notícias correm rápido numa cidadezinha como Rosewood, não é? – ele olhou de soslaio para Ashley, que apenas deu de ombros como se tivesse feito uma travessura e sentou-se ao lado de Emily, que sorriu para Caleb quando este a cumprimentou. Spencer não estava mais à vista.

Hanna sentiu-se surpreendentemente animada ao vê-lo. Quis abraçá-lo, mas então notou que ele tinha as mãos ocupadas e conteve-se.

— Estou feliz que tenha vindo, mas o que é tudo isso aí?

Caleb direcionou o olhar para os dois copos térmicos em cada uma de suas mãos.

Lattes. – disse ele – Achei que estivesse precisando.

Hanna sorriu. Ele também sempre havia sido bom em perceber as necessidades dela.

— Achou certo.

O garoto apontou com os olhos para trás de si.

— Tem uma lojinha de conveniência aqui do lado. Tipo, com mesinhas, cadeiras e tudo o mais. Nós podíamos comer alguns donuts enquanto você me coloca a par de tudo. Que tal?

— É claro. – ela deu uma última olhada para Ashley, como se para pedir permissão.

— Vá, meu bem. Qualquer coisa eu te chamo pelo celular.

Hanna concordou e tocou o joelho de Emily dizendo que já voltava.

O curto percurso até a lojinha foi feito em silêncio. Caleb soltou os copos térmicos sobre uma das mesinhas e puxou uma cadeira para Hanna. Cavalheiro como sempre, ela pensou. Agora, uma rosquinha de massa fofa e coberta por caramelo a encarava, e Caleb também, calado, como se esperasse que ela começasse o assunto.

— Você cortou os cabelos! – Hanna observou finalmente.

Caleb olhou para cima, tentando fitar as pontas agora um tanto arrepiadas de seus cabelos castanhos.

— É, eu... é. O que você achou?

Hanna soltou uma risadinha.

— Você está parecendo um integrante de alguma boy band, tipo a One Direction.

Ele revirou os olhos.

— Já me disseram isso. E eu espero que não seja código para “você está com cara de gay”.

— Bem, eu preciso admitir que as suas antigas madeixas de Pocahontas te deixavam mais másculo.

Caleb jogou uma migalha de seu donut em Hanna, o que apenas a fez rir mais. E então as risadas cessaram e Caleb permaneceu de olhos presos nela com um sorriso distante nos lábios. Hanna sentiu as bochechas esquentarem e baixou o olhar. Não era preciso ler a mente dele. Caleb a olhava daquele jeito sempre que queria dizer que ela era linda sem precisar realmente dizer alguma coisa. Mas aquilo era muito diferente de um flerte. Era apenas... um elogio sincero, e as bochechas vermelhas de Hanna eram o melhor agradecimento que poderia existir.

Os olhos castanhos de Caleb brilhavam. Ele parecia feliz. Por um instante, Hanna quis perguntá-lo se ele havia conhecido alguém, mas desistiu em seguida. Não vinha ao caso.

— Como você está? – ele finalmente perguntou.

Hanna levantou o olhar e suspirou.

— Deixando de lado os acontecimentos de hoje, assim como os acontecimentos da semana inteira, digamos, eu... estou realmente bem.

Caleb riu baixinho para si por um segundo.

— Eu jamais imaginaria essas duas numa situação como essa. – ele empinou-se para trás na cadeira – É inspirador.

— Eu sei – Hanna murmurou, vagamente.

— E é um gesto muito nobre da parte de Mona.

Hanna olhou-o outra vez. Aquela mesma expressão doce se prolongava nele. Era um elogio sincero.

— Também sei disso.

A conversa seguiu por mais ou menos meia hora. Caleb contou-a sobre querer finalmente começar um curso superior, ainda no ramo da informática, mas disse também que se quisesse fazer isso, provavelmente teria que mudar-se para a Filadélfia. O pai se mudaria com ele também, assim Caleb continuaria ajudando-o com o negócio de consertar computadores.

Hanna estava imensamente feliz por ele, afinal, ele aparentava estar seguro de si, pleno, mas não pôde evitar sentir uma pontinha de decepção ao ouvi-lo relatar sobre a possibilidade de deixar Rosewood, ainda que não fosse nada certo.

— Se fosse for, vai fazer falta – ela murmurou outra vez, sorrindo tristemente.

— Ei – ele alcançou a mão direita dela que estava sobre a mesinha –, enquanto você estiver aqui, eu sempre terei uma razão para voltar.

Já novamente do lado de fora da pequena lojinha de conveniência, eles abraçaram-se longa e aconchegantemente.

— Mande meus desejos de melhoras à Ali – disse ele, ainda segurando Hanna suavemente pelas laterais da cintura –, e diga à Mona que eu a admiro muito pelo que ela está fazendo.

— Vou dizer – Hanna assentiu.

— Ah – ele prendeu-a ainda por dois dedos depois de dar um passo para longe dela –, e diga à morena também para continuar com o bom trabalho, porque parece que ela está cuidando muito bem de você.

Hanna corou outra vez e riu, deixando que ele a soltasse e por fim se afastasse.

À passos desapressados e silenciosos, Hanna adentrou o hospital novamente e planejava tomar o elevador para o segundo andar sem que ninguém na sala de espera a visse. Sua mãe ainda estava ali ao lado de Emily, mas um homem desconhecido para Hanna falava com ela. A imagem intrigou um pouco a loira, tanto que ela parou por um segundo para analisar o tal; aparentava estar na faixa dos quarenta, tinha cabelos grisalhos e vestia uma camisa branca por baixo de um paletó cinza, jeans de um azul notavelmente escuro e sapatos de couro pretos. É, Hanna reconhecia figurinos caros quando via-os, mesmo à tamanha distância, e aquele com certeza era um deles. Mas deu de ombros mesmo assim, entrando na cabine de interior cor-de-prata.

Ela não sabia direito o que queria estando dentro daquela capela. Torceu para que Leona estivesse ali, ou mesmo Jessica DiLaurentis – embora a figura séria da mãe de Ali ainda a intimidasse um pouco –, mas o pequeno local estava completamente vazio. Era assustador, de certa forma. Ela ouvia seus próprios passos abafados pelo carpete escuro. Era como uma mini igreja, e Hanna nunca fora amante de igrejas.

Sentou-se no centro de um dos estreitos e compridos bancos de madeira da fileira direita e, depois de um pouco de trabalho, conseguiu cruzar as pernas sobre ele, fazendo-o ranger levemente. Passou os olhos pelas estátuas que descansavam sobre o pequeno altar como se fosse uma criança curiosa. Eram lindos trabalhos manuais, mas para Hanna não passavam disso. Ela sabia que deveria estar rezando naquele momento, agradecendo por ter em sua vida pessoas tão maravilhosas – como Caleb – e pedindo pela saúde de Mona e de Ali, mas ela não sabia rezar, nunca soube e, francamente, não tinha vontade de aprender.

Entrelaçou as mãos frouxamente uma na outra sem razão especifica e deixou-as sobre as pernas cruzadas. Baixou a cabeça e deixou-se pensar em nada por um longo tempo. Apenas apreciava o silêncio até que ouviu o ranger de mais um banco.

Na fileira oposta a que ela estava, agora estava um homem; o mesmo homem que ela vira no andar de baixo conversando com sua mãe há momentos atrás. Ele também tinha a cabeça baixa e as mãos frouxamente entrelaçadas sobre os joelhos, mas, ao contrário de Hanna, ele aparentava saber rezar.

Depois de alguns segundos, Hanna desistiu de cuidar a vida alheia e voltou a concentrar-se em si. Fechou os olhos e lutou para mantê-los assim. Respirou fundo várias vezes e por fim concluiu não poderia fazer aquilo. Não poderia pedir mentalmente por favor, salve-as. Não era de sua natureza. Ela não acreditava naquilo.

Abriu novamente os olhos pensando, em contrapartida, que ela bom ficar ali e desligar-se um pouco de certas coisas, mas, ao olhar para sua esquerda, assustou-se. O homem havia se deslocado para o banco onde ela estava, sem mais nem menos. Hanna respirou fundo outra vez, dizendo-se que aquilo ali era território sagrado. Até mesmo psicopatas pensariam duas vezes antes de desrespeitá-lo.

— Oi – o homem pronunciou, num tom amigável.

Hanna olhou-o e franziu as sobrancelhas, numa expressão de profunda estranheza.

— Eu conheço você?

— Bem, não, mas eu conheço sua mãe, Ashley Marin. Você deve ser a Hanna, certo?

— Sim – ela respondeu, ainda incerta, embora mais aliviada –, e você é...?

— Ted Wilson. – replicou ele, como se quisesse apertar a mão de Hanna – Eu me formei em ciências contábeis junto com sua mãe.

— É mesmo? – Hanna nunca ouvira sua mãe falar de nenhum Ted Wilson. Se bem que Ashley quase nunca falava de suas experiências na faculdade.

— É, mas por incrível que pareça, hoje em dia eu sou pastor.

Hanna exclamou um uau em sua mente.

— Então você vai, tipo, dar um sermão aqui ou algo assim?

Ted riu de leve consigo mesmo.

— Não. Essa é uma capela católica e pastores pregam em igrejas protestantes.

— Ah. Bem, eu jamais iria saber a diferença. Não sou a pessoa mais espiritualista que existe.

O homem assentiu.

— É justo. Mas, então, o que faz aqui?

— Não sei bem. – ela deu de ombros fitando o altar novamente – Aqui é aconchegante.

— No hospital, digo.

Hanna estranhou outra vez.

— Minha mãe não disse nada a você? Eu vi vocês dois conversando no andar de baixo.

— Sabe como são velhos amigos que se reencontram depois de mais de vinte anos, não é? Só há espaço para “Ah, meu Deus, há quanto tempo?!” e “Você não mudou nada!”.

Hanna permitiu-se dar risada, porém demorou um pouco para responder.

— Minha namorada. – ela começou sem nem ao menos pensar – No momento ela é... uma das metades envolvidas em um transplante de rim.

— Ah. Sinto muito por isso.

Hanna olhou-o, complacente, e sorriu.

— Não sinta. Ela é a metade que está doando.

Ted murmurou um hum.

— Então acho que devo procurar a família da metade que está recebendo e dizer que sinto muito.

Hanna conseguiu rir outra vez. Havia suavidade, compaixão e até mesmo certa dose de humor na voz dele. Ela agradeceu mentalmente por isso. Normalmente, pastores tinham fama de homofóbicos, mas Ted não aparentava fazer jus ao estereótipo.

— Eu posso ser sua porta-voz. A metade que está recebendo é uma de minhas melhores amigas. Mas e você, o que faz aqui?

— Um colega meu foi internado às pressas com apendicite – disse ele, casualmente.

Somente naquele momento Hanna notava o adesivo branco com a palavra visitante colado ao lado esquerdo do paletó dele. Ela não havia pegado um.

— Pastor também?

— Não, professor. Eu dou aula de teologia e faz alguns meses que leciono em Hollis.

Hanna impressionou-se outra vez.

— E quando sobra tempo para você ser contador ou algo do ramo?

— Não sobra. Eu descobri que não queria atuar em minha área de graduação assim que terminei a faculdade.

Foi a vez de Hanna emitir um hum, em concordância.

— Me deixe adivinhar. Depois da faculdade, você e minha mãe seguiram caminhos diferentes e agora você está de volta, certo? O que me leva à minha próxima pergunta: você e minha mãe... namoraram?

Ted riu abertamente desta vez.

— Ashley me disse que você era bastante direta.

— Eu sou amada e odiada por isso. – ela vangloriou-se – Mas então quer dizer que ela te mandou aqui para falar comigo?

Aí tem coisa, pensou Hanna.

— Bem, sim, ela viu você subindo e achou que você fosse vir para cá. Disse que seria uma boa chance para nós nos conhecermos. E sim, eu e sua mãe tivemos os nossos encontros em nossa época de universitários.

Por ser filha única – Kate nunca contaria para ela como uma irmã – e por não ver a mãe namorar em anos, Hanna sempre achara que seria dominada por ciúme quando ela resolvesse sair com alguém de novo, mas não. Ao contrário, uma sensação de animação a invadiu e ela teve que morder a língua para não perguntar a Ted se ele ainda sentia algo por sua antiga namorada, afinal, já estava mais do que na hora de Ashley começar a ser feliz também.

Ainda que tivesse várias perguntas, Hanna manteve-se calada até que ouviu o som abafado de saltos ecoando pelo carpete da capela.

— Vejo que eu não preciso mais fazer as devidas apresentações – disse Ashley, repousando a mão direita sobre o ombro esquerdo de Ted. O homem levantou os olhos de um suave tom de verde para a mulher e sorriu.

— Acho que não. Somos quase que companheiros de longa data agora, não é, Hanna?

Em circunstâncias normais, Hanna acharia que o cara estava sendo apenas um pouquinho prepotente demais, mas havia uma gentileza comovente nas feições dele, algo que tornava impossível qualquer outra resposta àquele comentário a não ser um sorriso encabulado. E foi a vez dela de levantar os olhos e fitar os dois que estavam ali, também encarando-a.

Estando praticamente lado a lado, eles pareciam ter saído direto de um cartão de Natal, e Hanna foi tomada por uma sensação morna, de felicidade. Eles formavam um casal bonito.

— Eu acho que vou deixar vocês a sós – disse antes de levantar-se para sair lentamente dali, mesmo sabendo que uma capela de hospital provavelmente era um dos piores locais para encontros íntimos do mundo. Porém virou-se de novo ao ouvir Ted chamando-a por uma última vez.

— Tenho certeza de que as meninas vão sair dessa mais fortes do que nunca.

À julgar por sua confissão a respeito de seu provável ateísmo, Hanna soube que ele se esforçou para não adicionar algo como “e que Deus as abençoe”; mais um gesto doce. Ela quis responder com mais um “eu sei”, assim como fizera mais cedo com Caleb, mas de novo mordeu a língua e apenas agradeceu.

Seguia de volta para o elevador a passos ritmados quando viu que Leona emergia da pequena cabine. A mulher tinha uma sacolinha azul bebê da Tiffany’s na mão esquerda. Hanna sorriu. Mona de fato merecia todo e qualquer tipo de mimo, agora mais do que nunca.

— Hanna! – Leona correu até a garota, agarrando a mão esquerda dela em seguida – Graças a Deus achei você!

A expressão no rosto de Leona era de puro alívio, mas nem por isso o coração de Hanna deixou de errar algumas batidas.

— Por quê? O que foi?

E então a mulher abriu um grande sorriso.

— A cirurgia terminou. – ela apertou ainda mais a mão de Hanna – E foi um sucesso!


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