Honestly? I love you! escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 23
Quero te ver ser corajosa


Notas iniciais do capítulo

Oi :3

Então, o título do capítulo é referente à música Brave, da Sara Bareilles, que foi, digamos, um hino para esta segunda metade da história.

* Se as minhas contas estiverem certas, esse é o penúltimo capítulo.



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A manhã de sábado havia começado ensolarada e a casa havia despertado pontualmente às sete horas, o que daria tempo suficiente para o café da manhã de apenas três das quatro pessoas que estavam em volta daquela mesa. O clima estava estranho. Estranho de um jeito bom. Na verdade, todos ali pareciam ansiosos como se aquele fosse o primeiro dia das garotas na faculdade ou algo grandioso do gênero. Pareciam felizes, apenas.
Hanna riu estando prestes a dar a primeira mordida em uma torrada com geleia de framboesa.

— Você vai mesmo continuar nos olhando comer? Isso é, tipo, masoquismo, não acha?

Mona estava sentada à cabeceira da mesa, com os braços cruzados ao local onde, normalmente, haveria um prato para ela também.

— Vou – disse ela tranquilamente, dando de ombros – Talvez a minha memória visual ajude a enganar o meu estômago.

— Então não fique encarando – Hanna mordeu sua torrada – Está fazendo eu me sentir culpada. Aqui – ela entregou seu celular à morena – Distraia-se acalmando a Emily. Acho que só nos últimos trinta minutos foram duas mensagens.

Mona riu também e baixou a cabeça com o celular da loira em mãos para executar a difícil tarefa de acalmar os nervos de Emily Fields via mensagem de texto.

Desde a noite passada, após Hanna e Mona contarem a Emily por telefone que tudo havia corrido bem com os exames pré-operatórios, foram incontáveis os “tudo bem com você?” e os “tem certeza de que está tudo bem com ela?” que Emily mandara para os celulares das duas, obviamente estando preocupada com o bem-estar da garota que iria prover um rim à sua namorada. Não era nada trágico, longe disso, mas ainda assim também não era algo cômico. Hanna não fazia ideia se Emily havia mesmo conseguido dormir e, no momento, a garota não devia possuir mais unhas para roer, e era tudo muito agoniante. No momento, nem água devia parar no estômago de Emily, Hanna tinha quase certeza, pois se estivesse no lugar dela e Mona estivesse naquela cama hospitalar, as coisas seguiriam mais ou menos o mesmo esquema.

Os quatro estavam mais ou menos meia hora adiantados quando entraram no carro para seguir em direção à Filadélfia. Era de se esperar que o Rosewood Memorial não realizasse aquele tipo de cirurgia, então tal fora agendada em um hospital da cidade vizinha.

A manhã estava começando a nublar agora, assim como a expressão de Mona, que regredira de animação para preocupação evidente. A morena permanecia calada e por grande parte da viagem, o único som fora do rádio do veículo ligado em algum noticiário matinal. Os pais de Mona também não diziam muita coisa; Ned tinha os olhos fixos na estrada à sua frente e Leona parecia bastante interessada em olhar para seu colo, no banco do carona.

Hanna sentia a morena ao seu lado no banco de trás um tanto distante e não gostava nem um pouco disso. A coragem dela era o que motivava Hanna a esquecer o próprio medo. Ela não poderia deixar que Mona começasse a se sentir insegura, não à essa altura do campeonato.

— Você está com as mãos geladas – Hanna constatou com pesar na voz, apertando a mão direita da morena contra sua esquerda.

— Eu sei – Mona sussurrou, ainda sem tirar os olhos da janela esquerda do carro.

— Ei – Hanna insistiu, docemente –, olhe para mim. Está tudo bem?

Mona sorriu, mas era como se estivesse cansada de ter que responder aquela pergunta.

— Sim – ela aconchegou-se ao ombro de Hanna –, não é medo, é só... um nervosismo repentino.

Hanna não respondeu de imediato, apenas encaixou-a melhor a si e Mona abraçou sua cintura como uma criança carente abraçaria seu bichinho de pelúcia favorito.

Se havia algo no mundo que Hanna sentia que havia nascido para fazer, era consolar Mona. Desde que começaram a conhecerem-se realmente, no primeiro ano, Hanna derretia cada vez que passava um braço ao redor da morena. E ali não estava sendo muito diferente. Estava sendo melhor, aliás. Uma enorme sensação de familiaridade a invadia sempre que as duas trocavam qualquer gesto de carinho perto dos pais de Mona, por mais ingênuo que tal fosse. Eles faziam com que tudo fosse tão confortável, tão natural! Faziam com que Hanna se sentisse como ninguém menos do que alguém da família, e aquilo a emocionava constantemente.

— Eu não quero que você se preocupe com nada, está bem? – a loira sussurrou, com os lábios rentes à testa de Mona e num tom de voz talvez audível apenas para ela.

— Não é preocupação. É ansiedade, só.

— Bem, relaxe, docinho – Leona encontrou o olhar da filha pelo espelhinho retrovisor acima do painel do carro.

— Porque antes que você perceba a manhã vai ter acabado e nós vamos sair para comer pizza até o estômago doer – Ned acrescentou – Por minha conta.

— E depois nós vamos chorar pensando na bomba calórica que acabamos de ingerir – Hanna brincou, arrancando uma risada de Mona finalmente.

— Olhem só vocês três – disse Mona, manhosamente orgulhosa e ainda enganchada em Hanna –, e pensar que quem estava dando os discursos motivacionais até ontem era eu.

— Bem, o ser humano é uma grande confusão de mudanças de humor, não é? – apontou a loira.

— Nós só queremos te lembrar de que a corajosa aqui é você – Leona virou-se para a filha.

— Eu sei – Mona sorriu – e obrigada.

Assim que a morena concluiu, seu celular vibrou pela primeira vez desde que estavam naquele carro.

— É a Emily? – Hanna sentiu o coração acelerar ao ver Mona clicar no ícone de novas mensagens em seu celular.

— É. Ela está à caminho do hospital também. Ali e os pais dela já estão lá.

— Ela ainda não acordou? – foi a vez de Ned fazer contato visual com as meninas pelo retrovisor.

— Ela acorda de vez em quando, mas mal passa cinco minutos de olhos abertos – Hanna respondeu, tentando não mentalizar a figura fraca de Ali no momento.

— Então ela não sabe sobre isso? – Leona perguntou, virando-se para as duas no banco de trás outra vez.

— Ainda ontem Emily contou a ela sobre terem achado um doador – disse Mona – Mas não, ela ainda não sabe que sou eu.

— Isso é o que eu chamo de reviravolta – Hanna lançou à morena um sorriso brincalhão e beijou sua testa outra vez.

— Uau, a tropa já está toda aqui! – observou Hanna enquanto corria os olhos pela sala de espera do hospital.

Aria, Spencer e Emily ocupavam três das cadeiras azuis enfileiradas ao centro do espaçoso saguão. Os pais de Mona haviam ficado um pouco para trás, para acertar na recepção os detalhes da cirurgia.

Aria foi a primeira a sorrir e ir de encontro a Hanna, para abraçá-la. A loira passou pelos braços de Spencer também, mas Emily foi a que a manteve por mais tempo enganchada a si. Observou enquanto as garotas repetiam os gestos com Mona, que parecia bem mais aliviada agora. Emily também envolveu Mona com força. A morena mais alta parecia feliz, renovada, com aparência de quem finalmente conseguira dormir e tomar um bom banho, e tudo em suas suaves expressões indicavam o mais puro dos agradecimentos.

Com as duas mãos sobre os ombros de Mona, Emily repetiu pela enésima vez a mesma pergunta.

— Está tudo bem?

Mona riu levemente.

— Está. E com Ali?

Emily suspirou, porém sem aparentar estar triste.

— Ela está bem. Dormindo ainda, eu acho. Os pais dela estão agora no quarto com ela.

Mona assentiu, como se pensasse que aquela informação era um bom sinal. A cirurgia estava marcada para as nove e faltava quinze minutos. Hanna ainda estava em pé e não sabia se também devia se sentar ali e esperar. Os pais de Mona ainda permaneciam à recepção, e Leona parecia estar assinando mais alguma confirmação daquele procedimento.

O coração de Hanna martelava contra o peito agora. A cada segundo parecia mais e mais oficial. Ela mal conseguia acreditar que aquilo ia mesmo acontecer. Ela queria confessar a Mona que ela havia voltado a se sentir nervosa, mas antes que pudesse fazer isso, uma enfermeira de cabelos cacheados surgiu à frente das meninas. Com um sorriso simpático, a jovem morena de porte similar ao de Mona disse a ela que a guiaria até o quarto. Mona concordou, levantando-se da cadeira um tanto nervosamente também.

— Boa sorte – Aria segurou a mão da garota por uma última vez.

Mona pareceu relaxar novamente.

— Obrigada – mas virou-se para Hanna antes de continuar caminhando e depois voltou a olhar para a enfermeira.

— Eu posso ir com ela? – Hanna adiantou-se, sentindo que arrumaria um jeito de entrar de penetra naquele quarto se não conseguisse a permissão de estar com Mona naqueles últimos minutos antes da cirurgia.

A moça assentiu, porém, sorrindo.

— É claro.

Hanna apressou-se para alcançar a garota, mais tranquila agora que caminhava de mãos dadas com ela pelo largo corredor que cheirava a desinfetante. O quarto também era espaçoso e, se as circunstâncias fossem diferentes, aquela cama no centro dele pareceria até bastante confortável.

— O banheiro fica bem ali – a enfermeira apontou para uma porta fechada à direita da cama e entregou à Mona um daqueles aventais de algodão – Não se esqueça de lavar as mãos, está bem? Seus pais devem dar uma passada por aqui daqui a pouco, antes que te levem para o centro cirúrgico.

Mona assentiu e agradeceu, e coube à Hanna esperar por volta de dois minutos até que ela voltasse novamente ao quarto.

— Certo, isto é realmente bem curto – Mona reclamou, puxando em vão a barra da peça simples, como se quisesse que tal cedesse até pelo menos metade de suas coxas.

Hanna sorriu e contemplou calmamente aquela visão. Sábio aquele que disse pela primeira vez que “menos é mais”. Afinal, como diabos um simples pedaço de tecido branco era capaz de deixar alguém tão impecável? Aliás, por que Mona cismava em querer esconder aquelas pernas naturalmente bronzeadas?

— Bem, eu acho que no momento você define a palavra perfeição.

— Muito galanteador da sua parte, srta. Marin, mas no momento eu me sinto é vulnerável, se é que você me entende – a morena levou as mãos às costas, como se quisesse esconder qualquer parte de si que pudesse estar à mostra.

— Quer, por favor, deixar de frescuras?

Mona deu risada e desistiu de brigar com o avental.

— Vem cá – a loira exigiu, dengosamente, enlaçando-a pela cintura. – Como se houvesse mesmo algo aqui que eu nunca tenha visto.

As duas trocaram beijos lentos, ainda que não profundos demais. De olhos fechados e apenas apreciando a maciez daqueles lábios e o gosto de creme dental que aqueles beijos ainda tinham, Hanna sentia-se em seu paraíso pessoal. Pelos minutos que se seguiram, era como se todas as preocupações pelo que estava por vir tivessem desaparecido.

— Se meus pais nos pegarem aqui, assim, eu juro que não vou saber onde enfiar o que restar da minha dignidade – a morena murmurou, num tom aconchegante que fez os pelinhos da nuca de Hanna arrepiarem-se num piscar de olhos.

— Conte outra. Eu sei que se Rosewood tivesse uma sede da PFLAG, Leona e Ned seriam presidente e vice-presidente, respectivamente.

— Talvez, mas isso não quer dizer que eles aprovariam a ideia de nós estarmos fazendo... coisas em uma cama hospitalar.

Hanna mordeu o lábio, num sorriso travesso.

— Qual é, nós ainda temos um tempinho. Vamos ver o quão rápidas nós podemos ser.

Mona arregalou os olhos, em falsa surpresa.

— Você é tão pervertida! – ela deu um tapinha no ombro de Hanna, que apenas riu em resposta – Mas é sério. Isso não é justo. Eu estou... “à vontade” aqui e daqui a pouco vou estar numa sala de cirurgia. Não sei se é recomendável que você continue me estimulando assim.

— Bem, se você não quer que eu continue te estimulando, não diga coisas como “à vontade”.

— Trato feito – Mona riu outra vez e em seguida abraçou a loira pelos ombros – Mas eu vou sentir falta disso pelas próximas quatro horas.

Hanna apertou a morena contra si, tentando absorver o máximo daquele momento.

— Mas pelo menos você vai estar dormindo. Eu não. E será a manhã mais longa da minha vida.

— Você pode ir para casa e tentar voltar a dormir – Mona sugeriu, fitando a loira nos olhos agora – Aí quando você acordar eu já vou estar acordada também.

— Ah, claro, como se eu fosse me atrever a deixar este inferno antes de ter certeza de que você saiu daquela cirurgia com tudo no lugar, com exceção de um único rim.

Mona deu risada novamente e selou os lábios da loira com um extremo cuidado.

— Eu sou apaixonada por você inteirinha, mas essa sua cabeça-dura ganha o coração de qualquer um, Hanna Banana.

Hanna sentiu o sangue esquentando em suas veias. Aquele apelido... a forma como ela pronunciava... tão íntimo! Se elas não parassem com aquilo agora, seria impossível controlar e aí sim elas estariam encrencadas.

— Que bom ouvir isso – a garota levantou-se da cama, ficando colada à Mona desde os lábios. Deu meia volta, passou um braço por trás dos joelhos dela e deitou-a na cama em seguida.

Mona deu um gritinho empolgado assim que Hanna ergueu-a do chão.

— Prometo não me aproveitar da sua... vulnerabilidade – a loira deslizou um indicador pela barra daquele delicado avental – Então acho melhor eu ir antes que me enxotem daqui ou antes que eu enlouqueça.

A morena concordou.

— Mas posso te perguntar uma coisa antes?

Hanna percebeu que o tom de voz dela havia mudado. Ela não estava mais brincando. Sua voz era agora doce e um tanto infantilizada. Hanna sentou novamente na cama e pegou a mão esquerda de Mona.

— Claro, meu bem. O que é?

— Você vai estar aqui quando eu sair da cirurgia?

Hanna franziu as sobrancelhas.

— Que pergunta é essa agora? É claro que eu vou estar aqui. Assim que você voltar para cá eu também volto, correndo.

Mona desviou o olhar antes de responder, como se estivesse subitamente envergonhada.

— Eu sei que pode soar piegas demais, mas eu gostaria que você fosse a primeira pessoa que eu visse assim que eu acordasse. Porque eu sei que vou me sentir como uma criança carente se eu acordar e tiver que perguntar a qualquer outra pessoa “onde está a Hanna?”.

Era sobre-humana a capacidade que aquela garota tinha de fazer Hanna se emocionar, não importava qual fosse a situação. Ela beijou os dedos da morena e em seguida os lábios.

— Eu te amo – Hanna sussurrou, ainda inclinada sobre ela.

— Eu também te amo.

— Tanto! – ela enfatizou, em meio a outro selinho – E eu vou estar aqui. Tá? Eu prometo.

Mona assentiu.

— E você... – Hanna apontou um indicador para ela – nem ouse em dar trabalho para aqueles médicos.

Mona riu ainda que com os olhos úmidos.

— Combinado.

— Nos vemos em quatro horas, então, minha menina corajosa – ela beijou a testa da morena e saiu do quarto sem olhar para trás, porque se olhasse, talvez nunca conseguisse sair dali.

O toque de novas mensagens de seu celular evitou que Hanna deslizasse as costas pela parede fria daquele corredor e começasse a chorar ali mesmo. Era uma mensagem de sua mãe.

“Como estão as coisas por aí, Han?” Ashley perguntava.

“Estão se encaminhando, eu acho.” ela digitou rapidamente “Mona vai para a sala de cirurgia agora. E eu estou precisando muito de você aqui.”

Ashley trabalhava por meio período nos sábados, mas dissera a Hanna que pediria para sair mais cedo e assim poder amparar a filha pelas próximas horas.

“Eu estarei aí daqui a pouco.” Ashley respondeu em seguida “Seja corajosa, meu bem, por você e por ela.”

Hanna não precisaria responder àquela última mensagem. Ela sabia que seria corajosa. Ainda mais agora que ela via os pais de Mona se aproximando. Ela secou qualquer lágrima que poderia estar rolando por seu rosto e forçou um sorriso enquanto sentia os dois afagando seus ombros antes de entrar para dar uma última olhada em Mona antes daquilo.

Tudo vai ficar bem, ela mentalizava, quase como num mantra, e sentiu seu corpo se acalmar enquanto voltava para a sala de espera. Talvez ela conseguisse um colo com alguma das meninas, afinal, ela estava precisando.


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