Sob a Máfia escrita por Deih


Capítulo 8
7




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/595831/chapter/8

Bella

Abri os olhos e quase não acreditei que estava fazendo isso. Minhas mãos estavam dormentes e meus olhos pareciam inchados mesmo não estando. Olhei para o lado bem lentamente encarando as paredes nada familiares para mim, forçando minha mente a funcionar. Eu tomei um tiro... James atirou em mim? Respirei fundo e me sentei, era como se algo invisível estivesse sendo enfiado em meu peito e isso doeu, muito!
–Bella!
Me virei bruscamente para voz. Jasper me encarava com as mãos na boca, seu cabelo estava um pouco maior desde a última vez que o vi, o que parecia estranho. E ele tinha uma nova tatuagem no pescoço. Pisquei algumas vezes quando se aproximou.
–Estou sonhando? -Perguntei.
–Droga! Você acordou? -Segurou meu rosto. -Por Deus, você abriu os olhos. Você está viva. -Sorriu.
Podia ouvir um som abafado vindo de algum lugar e havia anoitecido, porque a luz que vinha da única janela poderia mostrar isso naquele.
–Onde estou?
–Eu vou chamar alguém...
Segurei sua camisa.
–Não. -Suspirei sentindo o incomodo em meu peito. -Preciso que me diga o que aconteceu... Melhor do que consigo me lembrar. -Pedi.
Jasper me encarou por alguns segundos. Meus olhos queriam se fechar como se o tempo que fiquei desacordada não tivesse sido o suficiente.
–Você levou um tiro. Na verdade, você conseguiu nos enganar. -Sorriu torto. -Nos deu um susto do caramba e sumiu, avisamos ao Edward e ele ficou louco atrás de você. Então perdemos o contato, rodamos todos os cantos ao redor da casa e não te achamos até um tempo depois Felix ligar avisando que haviam te achado.
Encarei o chão por um segundo e quase cai. Jasper me segurou.
–Acho melhor você se deitar...
–Continua.
–Certo, vocês voltaram. Edward pediu para arrumar o quarto e ninguém entendeu nada até vocês chegarem. -Jasper fez uma careta. -Você estava praticamente morta e ninguém sabia se era seguro ou não chamar um médico, na verdade não era. Então todos tentaram argumentar, mas Edward estava cego, ele te levou até o porão, Felix e eu tentamos ajudar, mas eu nunca operei uma pessoa antes...
–Vocês me operaram?
–Na verdade, Edward te operou, ele fez uma coisa muito louca no seu peito e tirou a bala, mas ficou quase meia hora trabalhando nisso. Sua temperatura foi a quarenta graus até despencar assim que a bala foi tirada. Eu já havia me despedido e de verdade, eu não sabia que ia sentir tanto a sua falta. -Afagou meu cabelo. -Mas então você ficou fria, como uma pedra de gelo. Edward nos mandou sair e ele ficou com você e seu corpo até o dia amanhecer. Felix votou por deixá-la em algum lugar seguro e chamar a polícia, mas Edward não deixou. Ele começou a pirar. Você não acordou, apenas estava gelada e era tão estranho.
Forcei minha mente a trabalhar.
–Quando ele deixou o quarto, mandou que a tirasse de lá a colocasse em outro lugar. E quando descemos ao porão você estava limpa e vestida com uma das camisas dele. Felix disse que daria alguns dias e então faria o possível para fazê-lo te deixar, isso é sério Bella, ninguém ouvia seu coração bater e parecia que ia parar a qualquer momento. Você não nos dava sinal algum, então a trouxemos para cá e ninguém entrou nesse quarto nos três primeiros dias. Mas mesmo morta, eu não poderia deixá-la sozinha, então eu passei a ficar aqui todas as tardes, Felix começou a colaborar, até hoje de manhã, você ainda estava fria e sem expressão. Sem qualquer sinal de que voltaria, na verdade estávamos esperando você começar a cheirar mal, mas isso não aconteceu.
– Quanto tempo faz que estou aqui?
–Três semanas.
–Três?
Assentiu.
–Aplicamos antibióticos em você. Edward não vem aqui desde então, desde o porão, tudo o que ele faz é evitar aparecer aqui. Ultimamente, ele ou está bebendo mais do que de costume ou trancado no quarto. Mas acho que ele vai gostar de saber que está acordada...
–Não avise ninguém.... Por agora.
–Bella.
–Por favor, Jasper, eu preciso tomar um banho... eu, preciso ficar sozinha.
–Me promete que não fará nada.
–Jasper, eu não sei em quem confiar. Você não estava aqui no começo, não sabe pelo que passei.
–As coisas mudaram... Ninguém aqui confia na polícia também. Tudo o que temos que fazer é sobreviver.
–Não. Edward tentou me matar uma vez, e as coisas estão se repetindo. O homem que eu ia me casar tentou me matar! -Um grunhido escapou. -Eu estou no meio do fogo cruzado e preciso confiar em alguém. Mas não sei em quem.
Ouvimos vozes no corredor.
–Estão dando uma festa. -Falou. -Apesar de todo o clima, eles queriam uma festa.
–Eu sei, eu já estava morta mesmo. -Cuspi. -Essa é uma tradição que não pode ser quebrada.
–Bella...
–Consegue me tirar daqui?
–Estamos no terceiro andar, eu acho que posso dar um jeito. Edward mudou de quarto.
–Onde ele está?
–Não o vejo desde que o dia amanheceu e duvido muito vê-lo agora.
–E então?
Jasper pegou um casaco em cima da poltrona.
–Eu vou liberar a passagem, mas depois você terá de me deixar chamar alguém.
Assenti. Jasper voltou minutos depois me ajudando a descer da cama. Entramos em um corredor que eu não conhecia e sempre que ouvia vozes, parávamos no lugar e ele me abraçava, ninguém questionava. Ficamos assim até chegar ao corredor um tanto familiar e ele abrir a porta me deixando passar. Estava tudo revirado e destruído, minha mala estava no chão e minhas roupas rasgadas. Jasper me encarou.
–Vou te dar vinte minutos. Avisou- E então eu volto.
–Obrigada. -Esperei a porta se fechar para pensar em algo antes que o desespero me tomasse.
Juntei algumas coisas no caminho até chegar ao banheiro, estava tudo no chão, uma verdadeira bagunça. Passei a camisa pela cabeça e me encarei no espelho rachado, uma cicatriz um pouco funda e avermelhada se destacava a alguns centímetros acima no meio dos seios. Doía o suficiente para saber que ela existia. Deixei o espelho e liguei o chuveiro sentindo a água morna tocar meus pés, então sem pensar duas vezes me afundei embaixo do jato morno. Era bom poder sentir a água. Apesar de tudo, era bom estar viva. Eu não sei quanto tempo passei ali, mas quando deixei o pequeno metro quadrado senti uma pontada no meio da cabeça.
Edward estava parado contra a porta encarando o chão. Soltei o ar quando percebi que estava o prendendo, então seus olhos se levantaram e ele me encontrou. Lentamente, o vi se afastar da porta e tropeçando nos próprios pés, caminhou em minha direção. Ele fazia expressões confusas, suas mãos se mexiam como se quisesse me tocar e ao mesmo tempo não. E sufoquei o grito dentro de mim todas as vezes que isso parecia acontecer, até ele tocar. Até segurar meus braços com força e olhar dentro dos meus olhos, senti o chão sumir embaixo dos meus pés.
–Você não vai me atormentar de novo. -Cuspiu. -Você está morta.
Pisquei.
–Você está... lá. Eu... -Sacudiu a cabeça confusa. Bêbado. -Eu posso te tocar e eu... odeio essa bebida.
Meu coração estava me deixando surda.
–Droga! -Gritou. -Sabe por que eu te odeio? Porque você é o meu maior inimigo e... Quando eu te matei... quando te deixei se matar... eu me matei também. -Segurou meu rosto. -É como uma moeda... ela tem dois lados, mas é uma só. Eu te machuco e você... você é uma desgraçada! Você me machuca de volta. -Senti seus lábios tocando os meus. -Você me machuca todos os dias...
Deixei um grunhido escapar. Então senti seu beijo começar lento, como se não acreditasse que eu realmente estava ali e isso estava acabando comigo. Doendo como no começo. Sua mão se fechou em meu pescoço enquanto a outra enlaçava minha cintura me puxando para perto em um aperto dolorido. Todo meu corpo ainda doía e gemi ao sentir isso. Três anos e eu nunca havia me esquecido como era ser beijada por ele. Eu sentia isso quando James me beijava, eu sentia isso em todos os segundos da minha vida. Porque Edward era como um vírus que se alastrou por todo meu corpo e ninguém sabia a forma de me curar. Nem mesmo eu.
–Eu não posso deixá-la ir... você é minha... -Sussurrou contra meu pescoço mordendo com força e depositando um beijo logo em seguida.
Seu corpo pesou contra o meu antes de se firmar. Edward chutou a bagunça a sua frente e praguejou segurando firme meu pulso em direção a cama, mas antes que pudesse dizer ou fazer qualquer coisa, ele caiu sobre ela e seus dedos afrouxaram o aperto.
Mesmo tentando se manter firme, ele não iria a lugar nenhum, bêbado demais até para realidade.
Forcei minhas pernas a saírem do lugar pegando algumas roupas pelo caminho e vestindo ali mesmo. Achei meu celular no fundo da mala bagunçada e alguns documentos, meu peito voltou a doer. Procurei qualquer coisa no banheiro que me ajudasse, era como uma bomba relógio. Eu não estava preparada para uma segunda vez de Edward. Ouvi sussurros no corredor, alguém que estava saindo dali, então eu abri a porta dando de cara com duas garotas chateadas.
–Eu vou dar o fora daqui. -Uma delas falou, a mais baixa de longos cabelos loiros.
–Pode me dar uma carona? -Perguntei.
Elas me encaram por um tempo.
–Você parece péssima.
–Eu estou bem, só preciso sair daqui.
–Tudo bem, não quero ver a cara de mais nenhum idiota.
As segui pelo corredor escuro até o primeiro andar, haviam muitas garotas ali, seminuas dançando em cima das mesas, tentei não deixar ninguém ver meu rosto, andando de cabeça baixa durante todo o trajeto até seguirmos para saída. A saída que sempre vi bloqueada por uma enorme porta agora me mostrava carros e mais garotas, músicas, bebidas e tudo o que houvesse de ilegal.
–Por aqui. -A outra falou me puxando pela mão.
Paramos em frente a uma caminhonete e elas se embolaram para achar a chave, então estávamos dentro e o carro começou a andar fazendo uma parte de mim se alegrar por isso, a outra estava me assustando. Fechei meus olhos desviando a dor e as lembranças, acho que peguei no sono.
Quando fui acordada, estávamos no meio de uma avenida deserta, as duas garotas me encaravam como se eu fosse uma louca e um arrependimento estampado em seus rostos. Apenas agradeci sem esperar por mais nada e desci do carro atravessando para calçada e esperando que elas dessem o fora e não apenas me reconhecessem. Ouvi o som do motor e elas foram embora. Estava frio demais para a roupa que eu usava, então corri para um banco 24h e abri minha bolsa, a única coisa que consegui pegar, a única coisa que Edward pareceu não revirar. Meus dedos estavam trêmulos quando coloquei o cartão na máquina e esperei que minha conta não estivesse bloqueada.
Por sorte, meu saldo estava positivo, tirei o mínimo possível antes que eu fosse rastreada e sai em menos de cinco minutos. Parei um taxi vinte minutos depois e achei um motel barato, mesmo tendo dormido por horas, eu precisava dormir mais um pouco. Precisava de algo para dor e talvez um novo corpo. Minha cabeça era uma bagunça generalizada, um arrependimento por estar viva me tomou mais rápido do que achei possível. Eu não procurei por nada que houvesse acontecido nas últimas três semanas, não valia a pena, então apenas me afundei nos lençóis e fechei os olhos deixando o sono me levar.
******
Três dias depois
Consegui voltar ao meu antigo apartamento, estava pior do que da última vez que estive ali. Consegui sobreviver nos últimos dias. Comprei algumas coisas na farmácia mais próxima e me enchi de analgésicos a maior parte do dia, a sensação de estar sendo perfurada não passava. O bom de morar em um apartamento caindo era que não havia vizinhos interessados realmente na sua vida, havia sempre algo mais importante do que outro zero à esquerda.
Comprei uma arma, por segurança e a polícia já sabia que mexi em minha conta. Ou alguém pelo menos, eu mal sabia se eles realmente acreditavam que eu estava viva. Me sentia melhor no terceiro dia, porque eu consegui me decidir. Não havia contra o que lutar, mas eu não poderia deixar que me matassem agora. Meu celular – uma das coisas que Edward pareceu não ter visto quando recuperou minha mala – vibrou em cima da cômoda e apaguei meu cigarro na parede antes de pegá-lo. Restrito. Atendi e ficamos em silêncio por um tempo até ouvir sua voz novamente.
–O quão longe pretende ir?
Edward!
–O suficiente.
Ouvi sua risada seca.
–Não há lugar suficiente para mim. Posso te encontrar em qualquer lugar e quando eu achá-la vou fazê-la se arrepender de cada segundo que se manteve fora.
–Devo lhe dizer boa sorte agora?
–Eu não preciso de sorte, apenas guarde essas palavras.
–Vai acertar o tiro dessa vez? -Engoli em seco mantendo minha voz.
Edward ficou em silêncio por um longo tempo.
–Te vejo muito em breve, Isabella. -Desligou.
Eu preciso sair daqui!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sob a Máfia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.