Felizes para sempre? escrita por Zangada Bond


Capítulo 4
Chandelier...




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Denise entra no corredor exatamente na mesma hora em que Leticia sai da Câmara

Escura: o quarto mais sagrado do clube, onde os clientes de Leticia podiam realizar suas fantasias mais íntimas. Ela está nua, a não ser pela máscara de cetim preta sobre seus olhos. Sua pele brilha de óleo e suor.

— Trabalhando bastante? — Denise diz, apontando a cabeça em direção à porta de aço, notando que soa atrevida.

— Como sempre — ela reponde. — Como foi?

— Bom… é… acho que foi bom.

— Você participou?

Ela sente os mamilos ainda duros dentro da lingerie de seda.

— Não, não. Não tenho desejo de transar com a Anitta tendo que dividi-la.

— Aham... — Leticia retruca com ciúmes.

As duas estão paradas no corredor e Denise sabe que deveria se mexer, mas não deixa de notar a reação de Leticia ao vê-la quase nua.

— Fiquei com tesão… — sussurra Denise desviando o olhar, marota.

— Talvez a gente possa tentar um dia — Leticia diz, dando um passo em direção a ela.

Parando a sua frente, levando sua mão por dentro do hobby de Denise.

— Você gostaria de me dominar? – Leticia pergunta.

— Acho que prefiro o contrário — diz, aproveitando para levar sua mão ate a intimidade da outra.

Leticia entende a dica e puxa a calcinha dela, que escorrega toda pelo corpo. Está nua e é toda dela… Leva as mãos ao meio das pernas dela e a toca.

— Ah, Denise, sempre molhadinha — diz num sussurro rouco, dando um tapinha de leve. Repentinamente, ela a vira e prende seu corpo contra a parede.

Uma das regras do clube é: nada de sexo fora da segurança das salas.

Como a própria Leticia disse inúmeras vezes, seu clube não é um bordel ou algo do tipo. Aquele era um lugar claramente italiano: explícito, sim, mas com algum decoro, sempre a portas fechadas. E agora, estava quebrando sua própria regra cardinal e Denise queria isso. Está tão atordoada com sua ida para Londres e confusa a respeito de encontrar Marilia ou não, que precisa abandonar toda a normalidade, ainda que por um instante. Empina o bumbum e ela a pega por trás, com força, pela cintura. Ela se apoia na parede gelada e seu corpo implora para ser preenchida.

Quer que ela vá bem fundo.

Leticia a penetra com força, colocando três dedos, provocando um gemido. Percebe que Denise ficou mais excitada do que imaginava. Ela já está vibrando, deseja que vá mais e mais fundo. A transa é curta, mas intensa e animal — sexo proibido. O corpo dela responde no ritmo das investidas dela. Ela vai subindo, subindo, até que elas gozam juntas, escorrendo pela parede e caindo no chão, enroladas de frente uma para outra.

Denise se vira e tira a máscara de Leticia. Os olhos dela estão fechados e ela está respirando profundamente.

— Que foi isso? — ela pergunta. — Não deveríamos fazer isso aqui.

Ela abre os olhos e lança um olhar surpreso.

— Eu sei… não sei o que deu em mim… Desculpe…

— Não seja boba, eu quis tanto quanto você.

Ela a puxa pelo pé, levantando-se.

— Vamos tomar banho, beber um chá e nos acalmar. – rindo da situação.

Denise descansa nas águas borbulhantes da jacuzzi. Deixa o vapor perfumado envolver seu corpo. Não se sente tão relaxada há semanas. Leticia também está na água, de frente para ela. Ela se vira para servir um pouco de chá de menta de um bule que descansa ao lado da piscina e oferece um copo fumegante. Ela pega o copo com as mãos e bebe delicadamente, olhando sua amiga de perto. Nota que há algo errado. As mãos dela tremem quando passa o chá e está evitando olhá-la nos olhos.

— O que é, Leticia? — pergunta.

Ela suspira e olha para ela, passando a mão pelo cabelo liso e molhado, já devidamente cortado, ela tira uma mecha da testa, revelando pequenas gotas de suor na pele.

— Estou pensando em fechar o clube — anuncia, de repente.

Denise fica tão chocada que quase engasga com o chá.

— Você não está falando sério! — exclama, ainda tossindo. — Está indo tão bem.

— Esse é o problema: muitas pessoas sabem do clube.

Na hora, Denise pensa em Anitta. Desde que foi apresentada ao clube privé de

Leticia, não para de falar a respeito disso toda vez que saem em Milão.

— Sinto muito por Anitta, ela é tão linguaruda.

Leticia repousa seu chá e afunda mais na água, deixando só a cabeça acima das borbulhas.

— Queria que continuasse exclusivo, mas, agora, cada vez mais pessoas querem participar.

— Você pode expandir — Denise interrompe, repousando seu copo de chá e afundando nas borbulhas também.

— Não quero… é complicado demais.

— É uma pena. É tão bom pra Milão ter um lugar como esse…

— Tenho certeza de que alguém vai suprir a necessidade — Leticia faz uma pausa, como se quisesse dizer mais alguma coisa. No entanto, submerge na água e tudo o que Denise consegue ver é o contorno dela desfocado abaixo dela. Não pode acreditar que Leticia queira fechar. O que ela vai fazer se não puder mais ir lá?

Ela emerge da água, balançando a cabeça, respingando gotinhas d’água em Denise. Ela espirra água de volta nela, mas vê que Leticia não está para brincadeira. Parece séria.

— Tem mais alguma coisa, né? — pergunta instintivamente.

— Raquel quer um filho — ela diz sem meias-palavras. — Então, convenhamos, este lugar não é o ambiente mais apropriado para uma criança.

— Vocês vão adotar um bebê!?

Denise se sente desapontada. Não consegue evitar. Mais uma de suas amigas “formando família”! E, ainda por cima, Leticia, sua amiga com benefícios.

— Não, ela quer engravidar mesmo, inseminação sabe....Vamos tentar. Sabe como é, ela tem trinta anos e teme que o tempo se esgote.

— Meu Deus, ela não aparenta — Denise se lembra da última vez em que viu o corpo perfeito de Raquel, que não tinha celulite nem nas coxas. Imaginou que tivessem a mesma idade.

Leticia pega a mão de Denise e puxa-a em sua direção, dizendo em seguida:

— Ela diz que sempre sonhou em ser mãe.

Denise flutua na água na frente dela. Não consegue pensar numa resposta.

— Você parece chocada — Leticia diz finalmente. — Acha que vou ser uma boa ‘segunda’ mãe?

— Claro! Olha como você cuidou de mim…

Ela sorri, prazerosa.

— Hum, isso tudo parece meio confuso, Denise.

Denise não consegue se sentir feliz por ela. Não consegue evitar. Sabe que está sendo egoísta, mas não quer que Leticia tenha um filho com Raquel.

— Mas o que você irá fazer se fechar o clube? — diz, tentando deixá-la em dúvida com relação à decisão.

— Acredite, tenho outros atributos fora da indústria do sexo.

— Nunca duvidei disso — responde delicadamente.

— Sou uma hábil massagista… — ri dela. — Como você já sabe muito bem, aliás. Também tenho me dedicado à ioga ultimamente. Acho que gostaria de aprender a ensinar.

A última coisa pela qual Denise pensou que Leticia se interessaria é ioga.

Ela não faz o tipo meditativo. Não consegue imaginá-la de jeito nenhum: Leticia se equilibrando, de cabeça para baixo.

— Ioga não é um pouco calmo e lento demais pra você?

— Depende do tipo de ioga praticada, Denise. Uma aula de ashtanga, por exemplo, não é nada lenta, assim como bikram yoga não é calma…

Denise não pôde acreditar. Tentou até aprender algumas posições de ioga com Gaby, que praticara por um tempo, mas achou tudo muito chato. Não tinha paciência para isso.

— Se você diz… — resmunga, se afastando dela na água, deixando as ondas perfumadas acariciarem seu corpo.

— Você deveria experimentar. É muito bom pra vida sexual — Leticia diz.

— Minha vida sexual vai muito bem, como você sabe.

Os dedos de Denise estão ficando enrugados. Levanta da piscina, deixando a água escorrer pelo seu corpo macio.

— Então, quando você vai pra Londres? — ela pergunta.

— Segunda — ela sai da piscina com cuidado, virando as costas. Não quer que ela veja a expressão de seu rosto. — Queria te perguntar… — a voz treme de leve. — Você tem o telefone de Marilia em Londres?

Leticia fica muda por um segundo. Ela procura a toalha, confusa pela forma espontânea como fez a pergunta. Na verdade, não vai ligar para Marilia, mas, caso mude de ideia, não faz mal ter o telefone dela, certo? Escuta Leticia saindo da água. Decide não se virar de volta. Por alguma razão, se sente um pouco tímida, por mais que as duas conheçam cada centímetro do corpo uma da outro.

(De trilha sonora de fundo: Chandelier – Sai)

— Claro — diz Leticia finalmente. — Te mando por SMS.

Enrola a toalha em volta de si, aperta bem e vira-se para ela. Leticia está usando um robe felpudo branco. O cabelo preto e liso estão molhados. Ela a entende.

Quando formar família, nunca mais irá querer se divertir com ela. Ela não precisa perguntar para saber a resposta. Mesmo porque, na verdade, isso não tem importância, não é mesmo?

Elas nunca foram um casal, podem continuar a ser amigas depois que ela tiver um filho. Ainda assim, ela sabe que nunca mais poderá gozar da mesma forma que a amizade deles permitia até agora. De repente, queria que fosse Leticia, e não Anitta, a ir com ela para Londres. Se estivesse ao lado dela, certamente não se sentiria tentada a ligar para Marilia.

— Você virá pra Londres na abertura da exposição? — pergunta, tentando sua amiga.

Leticia parece surpreso.

— Talvez. Se precisar de mim, eu vou. Não se preocupe, Denise — ela a abraça. — Por que você parece sempre tão triste?

— Não sei — a voz dela soa abafada. Esconde o rosto no pescoço dela e sente seu cheiro. Sente-se protegida no abraço de Leticia e uma parte dela quer esconder-se em Milão e não ter que enfrentar o desafio londrino, nem seu dilema de procurar ou não Marilia. Sua ex-parceira já não estaria em outra? Ligar para ela não fazia sentido. Ainda assim, há uma dor em seu coração que diz o contrário. Como um amor desses poderia morrer tão rápido?


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