My Little Runner escrita por Angie


Capítulo 29
Resgate


Notas iniciais do capítulo

Heeey leitores lindos da minha vida, tudo bom?
Mais uma vez demorei um século para postar isso aqui, não me matem. E Tori, obrigada por me cobrar quase toda semana, você é 10. Haushuahau
Tenho que aprender a organizar meus pensamentos e minha vida direito pra conseguir postar com mais frequência aqui. Também pretendo reler os livros para ter mais inspiração e me situar melhor na estória, especialmente que estamos quase chegando na fase do terceiro livro!
Sobre a fic: Terminei o capítulo anterior com eles saindo do prédio depois de a Camille e o Minho darem uns pegas (risos), mas já vou começar esse com eles fora de lá, ok?
Boa leitura!



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A garota estava quase adormecendo quando uma sensação sufocante tomou conta de seu corpo, como se mãos fortes apertassem sua garganta e a empurrassem no chão. Ela fechou os olhos, sentindo-se ser engolida pela areia quente quando as lembranças finalmente deslizaram por sua mente.

Levou alguns segundos para se situar. A sala em que se encontrava não passava de um cubículo: a parede, o chão e o teto eram feitos do mesmo material perfeitamente polido e branco, muito branco. Não havia móveis na sala, nem mesmo lâmpadas ou interruptores e, mesmo assim, o cômodo era tão bem iluminado que Camille chegou a piscar algumas vezes para se acostumar. Para sua surpresa, também não havia porta, nem coisa nenhuma que indicasse uma forma de entrar ou sair. A sensação claustrofóbica ameaçou dominá-la novamente.

É apenas uma lembrança, apenas uma lembrança. Repetiu para si mesma, buscando controlar os nervos. Obviamente havia uma forma de respirar normalmente ali dentro, ainda que não entendesse ao certo como.  

Apesar disso tudo, o mais interessante era uma figura encolhida num canto da sala. Camille não precisou se esforçar para saber que era ela mais jovem, ainda com seus 14 anos. Estava descalça, usando uma calça preta de algodão e uma camiseta da mesma cor e material; na pele clara de seus braços haviam pequenas marcas arroxeadas e a mais velha soube imediatamente que antes ali se encontravam fios e agulhas que serviram para sugar seu sangue.

Estremeceu olhando para sua figura jovem com o rosto escondido entre os joelhos, seus cabelos num emaranhado castanho. Era de dar pena.

Ficou ali encarando a si mesma por um tempo indeterminado quando algo a fez dar meia volta. A parede à suas costas começou a mudar, um escudo opaco aparecendo no centro e crescendo até se tornar uma mancha gigante e cinza escura. Camille conhecia aquilo, lembrou-se de quando saíram para a fase dois, passando por um transportal. Alguns segundos se passaram antes de a silhueta de alguém passar por ele: a perna veio primeiro, depois o braço junto com metade do tronco e a cabeça. Logo era possível ver um homem de pé dentro do pequeno cômodo.

Camille o reconheceu de outra lembrança que tivera, de quando tinha 10 anos e um homem a encontrou espionando pelos corredores. Não sabia dizer seu nome, mas tinha a sensação horrível de que não gostaria de estar perto dele. Seu cabelo era preto e curto, cortado à máquina, sua estatura era mediana, mas claramente maior que Camille, usava um jaleco com os dizeres CRUEL bordados no peito, por cima de uma calça preta comum. O mais estranho era seu rosto, assim como na outra lembrança, parecia completamente inexpressivo, mas agora, tomado pela claridade, podia enxergar um brilho incomum em seus olhos escuros, quase sádico.

Camille sentiu uma vontade anormal de se encolher no canto da parede junto com sua figura mais nova, mas controlou esse desejo, não conseguindo compreender o motivo de tê-lo.

Ele pigarreou, chamando a atenção da mais nova. Ela ergueu a cabeça lentamente, mostrando seu rosto. Seus grandes olhos azuis estavam avermelhados e levemente inchados, claramente indicando o recente choro. Não disse nada, apenas esperando para saber o que o mais velho queria.

— Está na hora — sua voz era grave, reverberando no pequeno quarto vazio.

Camille encolheu ainda mais as pernas junto ao corpo.

— Eu não quero.

O rosto do homem não mostrou reação, mas quando falou parecia divertido, como se achasse graça que ela ainda pensava em resistir.

— Camille, veja bem — andou em sua direção, agachando-se para estar na mesma altura que ela —, sei que não concorda com nossos métodos de pesquisa...

— Vão matar crianças — ela o cortou, falando num sussurro dolorido, como se a ideia a assombrasse. — Vão fazer isso comigo.

— Matar vocês? É claro que não. É certo que haverão perdas, mas veja por outro lado, tudo isso vai visar um bem maior, salvar a humanidade do fulgor, fazer as pessoas felizes. Não é isso que você quer? Que todos fiquem bem?

— Eu… É claro que sim, mas não dessa maneira, não usando pessoas inocentes.

— Toda guerra tem suas baixas, a luta contra a doença não é diferente — ele fez uma pausa, mas ela não respondeu. — Estou ficando decepcionado com você, Camille. Não era mais fácil quando você não reclamava dos testes?

— Isso foi antes de eu saber o que estavam fazendo — levantou o queixo, como se o desafiasse. — Antes de ver os outros. Não vou fazer parte disso.

O homem suspirou e se colocou de pé.

— Bom, eu tentei te dar uma escolha simples. Achei que te deixando aqui sozinha por uns dias faria com que pensasse melhor, mas vejo que prefere o jeito difícil.

Dito isso pressionou uma mão em seu ouvido e murmurou algumas palavras num aparelho acoplado.

— Ela concorda com isso? — Camille perguntou, a voz num tom baixo e arrastado.

O homem franziu o cenho antes de compreender a pergunta.

— Ava Paige? — sorriu. — Ela não está responsável por você agora que não quer colaborar. Entenda, há um pequeno conflito de interesses.

Conflito de interesses… A mais velha se incomodou, sentia que deveria saber algo sobre isso. Observava toda a cena com atenção, como se cada detalhe fosse uma pista para seu passado.

A Camille mais nova apenas olhou para o vazio, apertando as unhas nas pernas. Meio minuto se passou quando dois homens uniformizados entraram pelo transportal. O médico – ao menos, a mais velha deduziu que fosse um – fez um sinal de cabeça para a garota no chão.

— Você deveria se comportar melhor Camille, não queremos que nenhum imprevisto aconteça. E você não quer acabar como os outros do grupo de transferência, certo?

Ela não respondeu a pergunta, não precisava responder. Já de pé, cada um dos seus braços era firmemente segurado pelos dois homens. A garota parecia cansada demais para tentar lutar.

— Agora seja uma boa menina e me acompanhe.

— Vai doer? — ela murmurou, seus olhos ainda um pouco inchados.

O coração de Camille se apertou ao ver sua versão mais nova perguntando aquilo. Quis correr para abraçá-la; no fundo, ainda era apenas uma garotinha.

O homem se virou para encará-la e tentou sorrir de forma bondosa, mas seus olhos diziam o contrário. O brilho sádico voltando a aparecer.

— Você sabe que vai.

O quarto parecia cada vez menor, Camille sentiu mãos a puxando por todos os lados quando finalmente foi engolida pelas paredes brancas.

 

***

Quando acordou, seu coração estava acelerado, parecia rasgar suas costelas. Os olhos arregalados moveram-se freneticamente para absorver a paisagem ao redor. Os raios de Sol começavam a surgir indicando o início da manhã.

— Levante-se, hermana — uma sombra apareceu ao seu lado, Jorge. — Parece que achamos seu amigo e a minha Brenda.

Camille ainda levou alguns segundos para se orientar. Depois de saírem do prédio e de serem bombardeados com perguntas, andaram por mais um tempo até resolverem que um bom descanso faria bem, mas a garota parecia mais perturbada que nunca. Sentou-se devagar e apertou os olhos ao sentir uma dor de cabeça chegando.

— Thomas? Onde?

— Seus amigos vão explicar — apontou com um movimento de cabeça os garotos já de pé reunidos num bolinho. — Eles levantaram antes do Sol nascer para dar uma espiada ao redor.

Camille coçou os olhos, ainda estava atordoada, mas se permitiu ficar feliz pela esperança de encontrarem o amigo novamente. Decidiu que a lembrança ficaria para depois.

—Por que não me acordaram?

Jorge deu de ombros.

— O seu líder asiático fez questão de dizer que você teve de fugir de um crank alucinado por um tempo e que provavelmente estava mais cansada. Fique feliz, hermana, aparentemente ele ainda gosta de você — disse e saiu rindo, largando a garota abobalhada para trás.

Ela piscou algumas vezes com o comentário final de seu mais novo companheiro crank.

— Aparentemente — murmurou, tentando conter o sorriso idiota que teimava em aparecer em seus lábios.

Por fim, levantou-se e foi em direção aos garotos que, pelo burburinho, já discutiam.

— É o seguinte, entramos lá e acabamos com a palhaçada. Fim de papo.

— Minho, você por acaso viu a arma daquele cara?

O garoto bufou com impaciência. Antes que pudesse falar qualquer coisa, Camille interrompeu com um pigarro, a fim de entender a conversa. Todos os olhares se voltaram para ela.

— Alguém pode me explicar o que está acontecendo? E que cara tem uma arma?

— Conte para a bela adormecida — Minho olhou para Caçarola e fez um movimento de cabeça apontando para Camille.

Ela revirou os olhos, afinal não era sua culpa que ninguém a acordou, mas seu eu interior saltitava, queria jogar aquele sorriso abobado em sua cara novamente. Ele não a estava ignorando como nas outras vezes. Os outros também pareceram notar isso, mas ninguém comentou nada.

— Bom, hoje mais cedo alguns de nós saíram para olhar as redondezas — Caçarola começou, apontando com o dedo para os outros. — Foi aí que vimos Thomas e a garota, Brenda, serem levados por alguns cranks. Pareciam conscientes como nosso amigo aqui — movimentou as mãos para Jorge —, mas um deles tinha uma arma e não pareciam nada amigáveis.

   Jorge franziu o nariz.

— Se algum daqueles cranks encostar na Brenda…

— Thomas vai dar um jeito, ele é ótimo para fazer negócios, lembra? — disse rapidamente, se referindo a quando o amigo fez um acordo com o hispânico. Era estranho pensar que o novo companheiro também era contaminado com a mesma doença que os alucinados de quem tentavam fugir. — Quer dizer, se o quisessem mortos não iriam levá-los para outro lugar, certo?

Newt coçou o queixo, refletindo sobre o assunto.

— Independente disso, precisamos resgatá-los.

— Para onde os levaram? — Camille voltou a questionar.

— Ah, essa é a melhor parte — Minho riu. — Parece que os cranks estão dando uma festinha de arromba em um dos edifícios.

Camille ergueu as sobrancelhas.

— Festinha de arromba?

— É isso aí — esfregou as mãos umas nas outras. — E então, alguém afim de entrar de penetra?

Passaram as próximas horas planejando um ataque surpresa. Foi difícil controlar os nervos de todos, mas precisavam esperar até que os cranks estivessem dormindo ou bêbados demais para fazer qualquer coisa.

Jorge os fez andar até um esconderijo, onde lhes arranjou armas diversas, desde pequenos objetos pontiagudos até facas enormes e com aparência horripilante. Camille se surpreendeu com a facilidade que os clareanos o aceitaram no grupo agora que tinham um interesse em comum, até mesmo Minho parecia satisfeito, girando entre os dedos duas novas facas, uma em cada mão.

Estava recostada em algo que deveria ser parte de um prédio, agora estraçalhado em meio aos escombros, e observou mais uma vez as palavras pintadas numa parede que ainda resistia de pé na construção demolida.

“THOMAS, VOCÊ É O VERDADEIRO LÍDER.”

Aquele não era o primeiro lugar em que encontraram essa frase escrita; perceberam durante o tempo em que atravessavam a cidade, estava por todo lado. Jorge alegara não ter ideia de onde aquilo vinha, mas que era esse o motivo por ter concordado com qualquer acordo com o garoto.

Pensou em Minho dando de ombros e dizendo que não se importava com aquela mértila de liderança, caso Thomas a quisesse, mas todos ainda pareciam segui-lo e esperar por instruções. Olhou para as botas surradas e se perguntou se ele realmente não ligava.

— Aqui.

Saiu de seus devaneios e ergueu os olhos, encontrando Newt parado à sua frente erguendo um objeto de madeira nas mãos; enrolado na ponta com arame via-se uma peça de metal com uma ponta assustadora. Aquilo rasgaria a pele em segundos. Camille fez uma careta ao segurar a nova arma.

— Eu definitivamente não gostaria de ser atingida por essa coisa. Nem de usá-la.

Newt deu de ombros casualmente.

— É necessário.

— Eu sei — ela suspirou. — Espero que a aparência dessas coisas os assustem antes de qualquer confusão pior.

O garoto balançou a cabeça, um leve sorriso espalhando-se por seus lábios.

— Sinceramente não sei como você e aquele cabeção se deram tão bem — disse. Camille não precisou perguntar para saber que falava de Minho. — Ele está animado de poder quebrar os dentes de alguns cranks para extravasar os nervos.

Ela deixou que os olhos voassem para o garoto que conversava com Jorge ao longe, as lembranças dos beijos na noite anterior ainda vivas em sua mente.

— As coisas parecem estar menos tensas entre vocês — Newt continuou, fazendo com que ela voltasse sua atenção para ele novamente. — Conseguiram ter uma conversa decente?

— Bom, eu não chamaria aquilo de “conversa decente”, mas foi um progresso — considerou, não transparecendo as cambalhotas que seu eu interior dava. — Minha única certeza é a de que vocês dois precisam se entender.

— Estou trabalhando nisso.

Camille revirou os olhos.

— É claro que está.

— A coisa fica mais fácil quando se pode dar uns amassos para melhorar a situação — ele retrucou, claramente se divertindo quando ela pareceu ter um engasgo.

— Como é? — perguntou, tentando soar desinteressada, mas a vermelhidão em suas bochechas a entregava facilmente.

Newt ergueu uma sobrancelha sugestivamente, o resquício de um sorriso ainda dançando em seus lábios.

— Ora vamos, Cammie. Eu não acredito que foi o crank que deixou esse presente em seu pescoço.

Camille arregalou os olhos, levando a mão ao local onde certo alguém explorara tão avidamente na noite anterior. Newt apenas riu de sua reação, dando um tapinha em seu ombro quando saiu para se juntar aos outros.

Ela fechou os olhos e contou até três. Iria matar aquele asiático.

Respirou profundamente antes de se esgueirar até onde Minho estava, não mais falando com o hispânico. Varreu seu redor com os olhos certificando-se de que não havia ninguém por perto para escutá-la.

— Minho — cutucou suas costas.

Ele girou nos calcanhares numa velocidade impressionante, quase abrindo seu tórax com uma das facas afiadas.

— Por Deus, abaixe essa porcaria!

Minho bufou e abaixou os braços, juntando as duas facas em uma única mão.

— Não apareça de repente. E por que está sussurrando?

— Por nada — ela olhou ao redor, certificando-se de que os outros estavam distraídos com seus novos utensílios de luta. — Eu quero falar disso.

Ergueu a mão, fazendo um movimento para apontar para seu pescoço. Minho cruzou os braços.

— Disso o que?

Ela piscou, subitamente tímida, e mostrou mais o pescoço, não acreditando que Newt inventaria aquilo.

O garoto arqueou as sobrancelhas, parecendo compreender o que ela falava.

— O que tem isso?

— Como assim o que tem isso? — ela ficou vermelha —  Não pode sair por aí deixando marcas em mim.

— Ah é? Você não reclamou ontem.

Sua boca se abriu num perfeito “Oh”. Num movimento rápido, Minho segurou seu queixo e virou seu rosto para o lado.

— O que está fazendo? — Camille murmurou, mas não afastou sua mão.

— Apreciando meu trabalho.

— Pelo amor de Deus, Minho — ela saiu do aperto, parecia mais envergonhada que nunca.

O garoto riu descaradamente e, por um momento, Camille se sentiu confortável com a familiaridade de volta.

— Quem foi o sortudo que te contou sobre isso?

O questionamento fazia sentido uma vez que não avistara nenhum espelho por ali e só podia imaginar a marca em sua pele clara. Ela mudou o peso de uma perna para outra, incerta se deveria falar antes de finalmente responder num murmúrio.

— Newt.

O sorriso ainda estava grudado em seu rosto, mas seus olhos o entregavam; o muro gélido entre eles pareceu se erguer novamente.

— É claro. Como duvidar das habilidades de observação de meu querido amigo.

Ela abriu a boca, pronta para retrucar e trazer a familiaridade quente em seus olhos novamente, mas Jorge os interrompeu chamando a todos os clareanos para se juntarem a ele.

— Vamos.

Minho se virou e saiu. Camille suspirou antes de segui-lo, ele definitivamente precisava conversar com Newt. Se pegou desejando que Thomas estivesse ali para falar com os dois, as coisas seriam mais fáceis.

Bom, é melhor você estar bem vivo, Tommie.

...

O ataque foi mais rápido do que imaginou. Assim como planejaram, pegaram os cranks de surpresa. A maioria deles estava dormindo nos cantos, ou desmaiados, Camille não saberia dizer. Outros bêbados demais para reagir direito, atrapalhando-se em seu próprio vômito. A cena era repugnante, mas não teve muito tempo para pensar nisso. Alguns dos cranks ainda conscientes, após se recuperarem do choque em ter um bando de garotos -e uma garota- invadindo sua festa com armas nas mãos, não pensaram duas vezes antes de partirem para cima, berrando à plenos pulmões.

Em segundos encontraram-se num pandemônio: Uma mistura de sangue, pessoas, gritaria, bebida derramando e vidros se estraçalhando enchiam o local, além da música alta ainda pulsando nas caixas de som. Camille movia-se com agilidade, desviando-se de cranks alucinados e procurando qualquer sinal de Thomas. Sentiu-se grata pelos efeitos das bebidas e drogas se mostrarem nos cranks, permitindo que os clareanos, com metade do número dos inimigos, conseguissem dominá-los com facilidade.

Em meio a toda a bagunça, conseguiu avistar uma entrada que levava a uma escada no fundo do recinto. Antes que pudesse falar qualquer coisa para os amigos, sentiu a dor aguda de um objeto se chocando contra sua têmpora, o impacto jogando-a com força no chão. Para sua sorte, caiu sobre um homem deitado inconsciênte, a carne amortecendo a pancada.

Moveu-se para o lado com rapidez, saindo de perto do crank desmaiado, mas o movimento brusco fez com que sua cabeça girasse feito um carrossel. Pernas apressadas chocando-se contra seu corpo em meio a luta. Levou a mão até a têmpora onde fora atingida, sentindo o sangue manchar seus dedos, a dor amortecendo seus sentidos e a fazendo ver dobrado. Levantou a cabeça a tempo de ver a figura manchada de alguém a sua frente, teve um segundo para piscar os olhos com força numa tentativa de focar a imagem antes que esse alguém se jogasse contra ela.

Camille não soube como consegiu reagir tão rápido, girando o corpo no chão antes que a atingissem novamente. A adrenalina fez com que esquecesse da dor, sentindo apenas uma dormência na parte direita do rosto. Seus instintos de sobrevivência começaram a surgir, permitindo-a ver melhor o crank que a atacava: Era uma mulher, pelo menos meia cabeça maior que Camille, as roupas apenas farrapos sujos e o cabelo avermelhado preso num rabo de cavalo. Em suas mãos, uma chave de fenda manchada de sangue que com certeza afundaria seu crânio em mais um golpe.

Camille agarrou com força sua própria arma, preparando-se para um próximo ataque. Não teve de esperar muito, logo a crank avançou, atirando o braço para cima dela, certamente desejando terminar o trabalho em sua cabeça. A garota aproveitou a onda de raiva da Rabo de Cavalo e pulou para o lado, deixando-a cambalear para frente, a rapidez a impedindo de parar e reagir quando Camille atingiu seu queixo com força usando o cabo de madeira de sua faca.

A cabeça da crank foi para trás bruscamente e ela tropeçou nos próprios pés, batendo as costas num balcão e agarrando-o para não cair. Quando olhou para Camille, seus olhos faiscaram de ódio, sua boca completamente manchada de sangue. Ela definitivamente teria matado Camille se não fosse por Jorge. O hispânico apareceu do nada, atirando a Rabo de Cavalo no chão e berrando para que ficasse parada.

Em alguns minutos todos os cranks estavam dominados, presos em amarras providas por Jorge, os clareanos apontando armas afiadas para eles e ameaçando rasgar no meio qualquer engraçadinho que tentasse se mexer. Tudo que faziam agora era resmungar ou balbuciar de dor nos locais atingidos pelos garotos.

Camille apoiou-se no balcão e observou a cena, sua cabeça borbulhando pela pancada anterior, só então lembrando-se do real motivo por terem atacado os cranks. Seus olhos brilharam ao ver Thomas e Brenda no topo da escada aos fundos, guiados por um Minho muito animado para alguém que estava sujo de sangue e carregando duas facas enormes nas mãos.

— Vejam só quem eu encontrei — o asiático anunciou, rindo.

Os dois pareciam bem. Sujos, cansados e um pouco machucados, mas bem. Vivos. Era o que importava.

Observou Newt indo receber Thomas e expressando seu alívio ao vê-lo são e salvo antes de se aproximar dos garotos com um sorriso.

— Bom te ver, Tommy.

O garoto retribuiu com um sorriso sincero,

— Digo o mesmo. Você cuidou desses trolhos enquanto eu estava fora?

Camille se permitiu dar uma risadinha nervosa.

— Bem, é uma longa história. Só é muito bom que você esteja de volta.

Então olhou para Brenda, parecia deslocada num canto após falar com Jorge.

— Você também.

Brenda a olhou por alguns segundos antes de piscar e balançar a cabeça.

— Obrigada — balbuciou.

Camille sentiu-se ser perfurada por um olhar observador. Virou para ver quem era e notou que Minho a encarava com o cenho franzido, a mandíbula cerrada. Parecia lutar internamente para decidir se se aproximava ou não. Ela imediatamente levou a mão a cabeça, percebendo que ele provavelmente estaria analisando o sangue manchando seu rosto.

Se pegou desejando ardentemente que ele se aproximasse e segurasse seu queixo, como sempre fazia, impedindo-a de sair enquanto certificava-se de que estava bem. Mas o contato não veio. Virando-se, ele chamou a atenção de todos.

— Escutem! — gritou ao se afastar, andando entre as pessoas no chão. — Vamos embora agora. Se não nos seguirem, ficarão bem. Sigam-nos e estarão mortos. Uma escolha bem simples, não acham?

Camille suspirou, estariam fora da cidade em cerca de uma hora. Ela sabia que Minho era teimoso e cabeça dura, além de orgulhoso como o inferno, mas não esperava que seria tão difícil fazer as coisas voltarem ao normal.

Os clareanos aos poucos foram saindo do local, reunindo-se em seguida em um beco do lado de fora. Ela chutou uma pedrinha no asfalto rachado enquanto Minho fazia seu costumeiro discurso, explicando que faltava apenas cerca de dois quilômetros para dar o fora daquela porcaria de cidade. Sua cabeça doía como nunca, mas ela tentou firmemente se acostumar com as pontadas agudas e concentrou-se nas palavras do asiático.

— Ei!

A cabeça de Camille chicoteou, virando-se em direção ao dono da voz. Um homem baixo, loiro, com corte militar e feições bonitas apareceu junto ao batente da porta por onde saíram. Camille prendeu a respiração. Ele não parecia nem um pouco com um crank alucinado, estava estranhamente calmo e seguro de si. O que realmente a apavorou foi seu braço estendido, os dedos apertados firmemente numa arma que apontava diretamente para Thomas.


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Notas finais do capítulo

Oh oh, eu sempre fico tensa imaginando essa cena do crank apontando a arma para o Tommie. Mas é isso, vamos esperar pelo próximo! Rs.
Falando sobre o casal: Assim como o Newt disse, eles estão melhores, mas ainda percebemos essa tensãozinha esquisita entre eles. Eu sinceramente estou achando interessante escrever isso, principalmente porque essa é uma fase em que eles estão amadurecendo na relação. Acho que dá para perceber isso quando a gente vai lendo desde o começo da fic (ou talvez seja só coisa da minha cabeça kkkkkk Sempre trato os personagens como se eles tivessem vida própria).
Enfim, mais uma vez me perdoem pela demora. Leitores fantasminhas, por favor comentem, isso sempre me anima para escrever!
Obrigada por lerem!
XOXO



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