Novo olhar. escrita por Ley Morrigan


Capítulo 3
Positivo.




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Eu sabia, não precisava disso.

Olhei para o pequeno aparelho esperando as listras aparecerem no monitor.

Era terça-feira, depois de um fim de semana infernal no Capitol para comprar equipamentos para a padaria de Peeta. Com um sorriso, pensando que ele finalmente irá aposentar os antigos instrumentos quando o ferreiro disse que não havia mais conserto. Porém durante aquele fim de semana senti uma queimadura no meu estômago "Foi a vodka de ontem, você sabe" foi o que Peeta me disse enquanto entravamos no trem, sábado de manhã. Os flashes escondidos enquanto íamos as comprar, e as bebidas extremamente doces do Capitol pioraram a situação, e tudo que podia pensar enquanto voltava para o 12 era o quanto meu corpo me odiava.

Mas o que me deixou alerta foi o desejo por comida infantil, então sabia o que estava acontecendo. Quando saí para ir buscar o teste no hospital, só conseguia ter o pensamento de passar na padaria e comer um enorme pedaço de torta de chocolate, e biscoitos de caramelo, coisas que fazia anos, muitos anos, que tinham sido desejadas por mim.

Agora estava eu, sentada no vaso olhando para o teste. É um misto de confusão de sentimentos que não poderia descrever, porém o que mais me assombrava era a certeza da resposta, não precisava fazer xixi em nada para saber. Senti de novo meu estômago queimar e fechei os olhos para a claridade do meu banheiro, no entanto, depois de um tempo sem poder determinar, abri os olhos e meu sangue gelou.

Grávida

3-4 semanas

Quando a minha gargalhada chegou aos meus ouvidos sabia o quando insana estava, e de alguma forma minhas pernas criaram forças e me levaram para a cama, mas meu estado de loucura já estava no máximo. Virei de barriga para baixo, apertando o rosto no travesseiro impedindo as lagrimas e o riso.

Ah merda.

Não deveria ter sido tão rápido, não tinha muita certeza ainda, porém meu coração batia desesperado deixando bem claro que tinha um bebê dentro de mim, estando preparada ou não.

Quando não pude mais respirar deitei de lado, olhando para a janela do quarto. Gravida, gravida, gravida, era tudo que podia pensar, o medo tinha se alastrado na boca do meu estomago trazendo o frio, mas não me cobri, eu queria aquilo.

Tinha parado com a prevenção à apenas dois meses, no entanto a medica tinha deixado bem claro que poderia demorar de seis meses a um ano para que ocorresse a gravidez, mas aqui estava eu, dois meses depois deitada na cama chorando.

Era estranho o sentimento que tinha no coração, porque senti em muitos anos o medo perto, quase como se pudesse toca-lo, mas igualmente grande era a plenitude: Era meu bebê, meu filho, alguém que mostrava a dimensão do meu amor por Peeta e meu coração gelado se petrificou quando o sentimento de amor se misturou aos outros. Minha decisão por um filho foi por puro desejo de Peeta, mas era engraçado por que agora queria esse bebê, porém Peeta o ama sem ao menos saber da sua existência. Uma luz me fortaleceu quando percebi que se falhasse, o meu parceiro super amoroso teria forças para ajudar a me levantar.

Quando a luz sumiu me dei conta que Peeta estava chegando em casa. Exausta, levantei da cama e escondi o teste entre os meus pijamas, voltei ao banheiro e rasquei a caixa do teste em pequenos pedaços, joguei no lixo e o cobri com papel higiênico. Depois de tudo feito me olhei no espelho, completamente vermelha e de olhos inchados, prendi o cabelo com uma liga e lavei o rosto, teria muitas perguntas se aparece com aquela aparência, desci para a sala, ligando a TV, mas sem prestar qualquer atenção e fui para a cozinha, meu estomago virou quando pensei no cheiro da comida e quase vomitei, foi quando escutei o barulho da fechadura, Peeta tinha chegado.

— Olá? — Escutei o barulho das chaves quando colocou em cima do balcão de entrada. E como não ouviu resposta, me chamou de novo.

—Aqui.

— Ah, oi querida. — Olhei para o seu rosto alegre enquanto vinha para mim com as mãos esticadas para um abraço. —Tudo bem? Você tá gelada.

— Estou bem. — Encolhi nos seus braços, sentindo a velha conexão que tanto gostava. — Meu estômago ainda queima.

— Sinto muito. — Suspirei quando senti seus dedos acariciando minhas costas. — Sem mais vodka para você.

Não respondi, fiquei apenas nos seus braços enquanto me balançava e acariciava minhas costas.

— Vou tomar banho. — Agradecida pelo seu carinho, beijei seu pescoço e ele apoiou sua cabeça na minha.

— Tudo bem, vou preparar um sanduíche para mim e vou subir também.

Assim que cheguei ao banheiro, o frio no estomagou voltou, teria que contar a ao Peeta, mas como contar algo se que nem eu mesma conseguia raciocinar?

Tirei meu vestido, encarei e toquei pela primeira vez meu ventre no espelho desde que soube da notícia, eu seria mãe e Peeta seria pai, não era opção, era fato, mas não conseguia fazer minhas mãos não pararem de suar.

Sem forças para chorar mais, entrei na banheira, olhando a água enche-la treinando meu cérebro para não pensar em nada, mas a água quente não tirava o frio do estomago estômago. Uma criança está vindo, serei mãe, mas tinha que contar a ele, porém como ser o centro do mundo de alguém quando o centro do meu é Peeta?

Prim. Tinha sido mais do que sua irmã mesmo quando eu era tão criança feito ela. Não tínhamos comida, nem dinheiro, ou Peeta, no entanto, sabia que Prim tinha sido amada e feliz e depois foi morta.

Meus pensamentos me magoaram mais uma vez, não foi minha culpa, não foi minha culpa.

Suspirei, afundando na banheira, percebendo pela primeira vez a quantidade de veias nos seios e os bicos escuros, todos os sinais estavam ai, e só foram notados agora. Deixei a água quente fazer o seu trabalho.

— Querida? — Seu chamado me deixou em pânico, e quando ele abriu a porta girei o tronco ficando de lado e pressionando os seios nas laterais da banheira.

— Já estou indo! — Mas ele ignorou e foi ao vaso sanitário, aproveitei que estava de costa e puxei o roupão, as pressas saindo da banheira e vestindo, fechando-o assim que deu descarga.

Penteei o cabelo, assegurando que seguiria a nossa velha rotina, enquanto ele puxava o ralo da banheira, virou para mim e pós as mãos no meu quadril e lutei contra a vontade de dar um passo para trás.

— Ainda não gosto desses fornos novos, mas tenho que admitir me poupo de uma dor nas costas. — Retribui seu sorriso. — Queria que tivesse me esperado para tomar o banho com você.

Você vai ser pai. Abracei-o, e ele puxou minha mão, beijando-a, e não pude resistir de peregrinar pelo dourado dos seus cílios, acariciei seu rosto desejando que o bebê dentro de mim se parecesse com ele.

— Desculpa.

— Não, tudo bem. — Beijou minha mão e me deu um tapinha no traseiro. — Tem um sanduíche para você lá em baixo.

[...]

Não consigo comer isso, porém se não fizesse Peeta ficaria preocupado. Repartindo com os dedos, levando pequenos pedaços a boca, tentando manter tudo lá. Tem outra pessoa que precisa comer também, sua idiota egoísta, mas era difícil, minha língua parecia extremamente sensível, tornando ate o salgado do queijo salgado de mais, e meu estomago girava cada vez mais rápido.

Demorando uma quantidade de tempo patética para comer, voltei ao meu quarto, na esperança que Peeta estivesse dormindo, entretanto o encontrei lendo um livro. Eu tinha posto o pijama mais feio que possuía, não podia me arriscar de animar Peeta então vesti uma das peças mais anti-sexo do meu guarda-roupa. Porem ele não notou minha chegada ate eu deitar e esfregar meu pé gelado na sua perna.

— Aaaaargh, Katniss! — Sorri de sua reprovação enquanto o abraçava e deitava minha cabeça no seu peito. — Mulher, não faça isso.

— Não quis atrapalhar sua leitura. — Murmurei, curtindo seu beijo na testa e seus braços carinhosos me envolvendo.

—De qualquer forma, já não estou mais lendo.

Conversamos, como sempre fizemos durante todos esses anos, conseguindo manter a fachada calma e tranquila, e enquanto escutava Peeta contar sobre seu dia, mas minha mente trabalha desesperada tentando achar uma forma de contar para ele, e percebi que estava ansiosa para ver sua reação sobre aquilo.

Continuei refletindo e pensando muito tempo depois de ele ter adormecido, cochilando e acordando uma hora depois sentindo a garganta amarga e o estomago em ebulição, levantei rapidamente indo ao banheiro, ajoelhada vomitando no vaso lutando para respirar enquanto meu corpo se convulsava para por tudo aquilo para fora.

— Katniss! — Escutei a voz de Peeta aflita enquanto segurava meu cabelo, sua presença me assustando. — Meu amor, tudo bem?

Cuspi mas uma vez, antes de virar para seu rosto preocupado. Tinha chegado a hora, porém as luzes do nascer do sol surgindo pela minha janela me inspirou. Sim.

— Me ajude a ficar de pé.

— Katniss, converse comigo, agora. — Continuei o ignorando enquanto lavava a boca na pia, o que o deixou ainda mais irritado.

Limpa, virei e encarei seu rosto zangado, segurei sua mão e o puxei pelo corredor apenas parando para ver seu rosto e enxergar seus olhos gritando “Você enlouqueceu

— Para onde você esta me levando? — Puxou sua mão das minhas quando chegamos a porta de entrada.

— Preciso te mostrar algo! — Respondi quanto girava a chave e agradecia por ser verão e não precisar de mais de um par de chinelas para sair.

— São 5:03 Katniss, onde você quer ir? — Resignada o puxei pra fora, pensado que talvez ele tenha cedido temendo o estado da minha loucura.

Continuamos caminhando ate chegar ao topo de uma colina, suspirei sentindo o cheiro das flores-memorias que rodeavam o campo abaixo do morro. Cada flor nesse campo era uma homenagem aos mortos do 12 na guerra.

Mórbido e renascedor, pensei, observando o sol lentamente surgir.

— Katniss, me fale agora o que esta acontecendo. — Porém Peeta ficou paralisado quando virei de frente para ele, com a mão em cima do ventre.

— Te trouxe aqui, para nos dois sempre lembrarmos que não importa o quanto longa tenha sido a noite, o sol sempre vai surgir no dia seguinte, sem cobrar nada, mas também sem nunca obedecer. Nosso filho está aqui Peeta. —Pus as duas mãos em cima do ventre, vendo Peeta me seguir com os olhos. —Assim como o Sol, ele esta vindo, nos vamos ser pais, isso é um fato, tão solido quanto o nascer do sol no leste.

Finalmente desviei meu olhar das minhas mãos no ventre, vi o rosto de Peeta em uma careta confusa, como se estivesse processando, depois de segundos intermináveis vi um luz diferente de qualquer outra coisa que possa ter visto.

Os olhos de Peeta pareciam quase um cinza de tão brilhante e esbugalhado e vi a mim mesma naquele olhar, seu coração finalmente tinha entendido que seria pai. Sem qualquer aviso correu se chocando contra mim como uma parede, me abraçando, segurando meu cabelo enquanto nos dois chorávamos. Eu era pura confusão nesse momento: Medo, angustia, a felicidade e o amor se colidiam um com os outro dentro de mim.

— Obrigada meu amor. Obrigada. — Ele repetia enquanto eu apenas chorava escutando seus soluços fortes enquanto me abraçava e beijava minha testa, bochecha, lábios.

E nós ficamos lá, apenas abraçados e chorando, sentindo os cheiro das flores e os tímidos raios de sol, como se fosse apenas para deixar mais forte o sentindo de que não importa o quanto escura seja à noite, sempre havia esperança.


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Notas finais do capítulo

Por favor, não se esqueça de deixar um review.

Vocês não sabem o tamanho da minha felicidade quando recebo.

Beijoooooooooos