Apenas Gêmeas? escrita por Aoshi


Capítulo 2
Capítulo 2




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Pisquei os olhos com força, para que eu pudesse permanecer acordada. Era sexta-feira, um dia depois do incidente do mangá. Eu sentia meu corpo dolorido e toda cansada. Laís havia insistido para dormirmos na minha cama. Eu quase recusei, afinal, era uma cama de solteiro, e não éramos mais criancinhas para dormirmos juntas. Porém, Laís havia descoberto sobre meu último segredo, não podia deixá-la revelar.

Laís me questionou várias coisas no percorrer da noite. O que ela faria se fosse mesmo lésbica? Como os outros reagiriam? Como ela contaria para os nossos pais? Eles iriam entender? Eu dei um abraço nela, enquanto respondi:

– Vai ficar tudo bem, Laís. Não importa o que aconteça, vou estar aqui para você, lembra?

Consegui acalmar Laís, mas não tinha conseguido me acalmar. Foi tudo culpa minha, certo? Não consegui dormir à noite e agora estava aguardando a aula começar, irritada comigo mesma por ser tão estúpida. Decidi trocar meus mangás de shoujo-ai no sebo, depois da aula. Iria escolher outro tipo. Shoujo-ai já me trouxera confusão demais.

Olhei para os diversos rostos em minha sala, sentindo-me triste. A única pessoa que me importava ainda não tinha chegado. Bufei e coloquei os fones de ouvido. Escutar uma música indie qualquer me faria bem.

Mal havia selecionado a playlist desejada, que dois braços enlaçaram o meu pescoço, apertando-o.

– Laís! – ofeguei.

Laís me soltou e rodopiou em frente à minha carteira. A sorte de minha irmã é sua popularidade, não fosse isso e seus momentos esquisitos fariam com que ela virasse motivo de chacota.

Ela ajeitou a tiara rosa nos cabelos loiros. Depois pegou um espelho e conferiu sua maquiagem. Conferindo a sombra, o lápis e o batom, guardou o espelho dentro de sua bolsa e empinou os seios com as mãos. Revirei os olhos. Já não bastava o uniforme ser um pouco transparente e dar destaque aos seus grandes seios, que ela ainda fazia algo assim.

– O que você quer, Laís? – Não consegui esconder o tom de irritação.

Laís e eu sempre estudamos em salas separadas, era um acordo entre nossos pais e os professores. Isso não a impedia de entrar na minha sala antes e depois das aulas, como bem entendesse. Algumas vezes isso me estressava. Laís sempre conseguia tudo o que queria, da forma que queria, e quando queria.

Estirou a língua pra mim, cruzando os braços de maneira dramática e sem sentido.

– Eu não vim pra ver você, sua idiota. – Foi sua vez de revirar os olhos.

Fiquei em um misto de indignação e raiva, mas logo me acalmei.

– O que você quer, então? – Olhei de novo ao redor da sala. Faltava dez minutos para a aula começar, mas os poucos alunos que tinham chegado, haviam se retirado da sala.

Voltei minha atenção para Laís, que batia um pé no chão, com impaciência. Foi então que entendi. A pessoa que ela queria falar era a mesma que eu ansiava por ver. Fui invadida por um sentimento ruim, e quis que Laís voltasse para sua sala logo.

– Ele não chegou ainda, você não viu? – Estava sendo grossa. Não sabia o porquê, acho que via Laís como uma ameaça para mim, apesar de nunca ter dito para ninguém que estava apaixonada, desde que éramos crianças, pelo meu melhor amigo.

Laís me ignorou e começou a mexer no celular. Suas unhas pintadas de rosa choque combinavam perfeitamente com a capinha cheia de strass do celular de minha irmã. Escondi as minhas unhas não pintadas debaixo da mesa, e me afundei mais no moletom que tinha trazido para vestir por cima do uniforme.

Era claro que se fosse para ele escolher uma de nós, ele escolheria Laís. Não que Laís gostasse dele, mas vindo de Laís, tudo era possível. Eu perderia feio para a minha irmã, de novo. E se ele, na verdade, já gostasse dela? Novamente, minha ideia vaga de me declarar foi massacrada.

O frio na minha barriga aumentava ainda mais. Olhei no relógio e faltavam apenas cinco minutos. Ele não costumava chegar tão encima do horário. Laís continuava entretida no celular, dando risadinhas. Os alunos foram voltando, uns foram chegando, e todos paravam na frente da minha mesa, para cumprimentar minha irmã, que não estudava com eles. Ela sorria e falava com todos. Ninguém olhava pra mim. Não me incomodava mais com esse tipo de situação, havia virado uma regra universal.

Miguel entrou na sala assim que o sino bateu. Laís guardou o celular na bolsa e se dirigiu até a porta, dando olhares mortais para Miguel. Ele procurou meu olhar para me perguntar o que ele tinha feito, mas dei de ombros. Ele se sentou na primeira cadeira da segunda fileira, ao meu lado. Ele sempre sentava perto de mim, e eu sempre me forçava à pensar: é porque somos amigos.

Enquanto Miguel ajeitava seus materiais, os demais alunos se ajeitavam em seus lugares, e o professor iniciara a aula. Eu dava olhadas rápidas para o cabelo castanho e bagunçado de Miguel, resistindo ao impulso que eu tinha de arrumar os cachos nas pontas. Até mesmo o cabelo de Miguel era interessante, era liso no começo, e no fim formava cachinhos. Ele detestava os cachinhos, mas eu pedi para ele manter. “Não iria parecer você”, argumentei. E ele deixou.

Miguel me flagrou admirando-o. Corei, quase desviando o olhar, mas o sorriso que ele me deu me impediu. Seus olhos, que tinham a mesma cor do cabelo, olhavam curiosos. O professor começou a explicar a diferença entre isótonos, isóbaros e isótopos, e eu escrevi um bilhetinho para Miguel, deixando-o em sua mesa.

Logo, o bilhetinho me foi devolvido. Abri e a resposta que eu já esperava estava ali. Ele não sabia o que tinha feito para Laís. No entanto, nós dois não estávamos nos importando muito com o surto atual de Laís. Ela sempre brigava com alguém, e geralmente esse alguém era um de nós.

O horário do almoço logo chegou. Apressei-me para conseguir uma mesa para nós três. Miguel praticamente voou para a fila do lanche. A mesa mais afastada do refeitório, que por sinal era minha preferida, estava vazia. Joguei minha bolsa encima dela, e mordi minha maçã, enquanto esperava os outros dois.

Meu celular apitou e dei uma rápida olhada no celular. A mensagem era de Laís: Desculpaaaa, eles insistiram para almoçar comigo, fala pro Mi que nós três precisamos conversar depois da aula. Beijo x*

Corei. Odiava quando Miguel e eu almoçávamos sozinhos. Parecíamos um casal, o que não éramos. Eu iria me lembrar de matar Laís, mais tarde. Voltei meu interesse à maçã enquanto planejava maneiras de matá-la.

Miguel se jogou na cadeira à minha frente, e colocou sua pizza de frango e sua coca na mesa. Seu rosto estava vermelho por causa da correria pela pizza. Ele bufou.

– Acho que esse esforço todo não compensa para comprar essa pizza. – opinei, iniciando um assunto.

– É claro que compensa! – Miguel se ajeitou e abocanhou um pedaço de sua preciosa. – Você não sabe porque nunca quis provar.

– É porque não quero virar alguém como você.

Miguel deu de ombros e continuou a comer.

– Aonde está sua irmã? – perguntou depois de algum tempo.

Dei de ombros.

– Vai saber. – Terminei de comer a maçã e agora saboreava uma laranja. – Você sabe como a Laís é. Ela pediu para nós esperarmos ela quando acabassem as aulas.

– Eu não posso – Miguel pegou o celular e digitou furiosamente um texto. – Tenho que passar no trabalho, lembra? – Ele trabalhava como menor aprendiz na escola de idiomas perto de casa.

Poucos minutos depois, Laís se jogou ao meu lado, e suspirou.

– Olha só quem apareceu! – fingindo surpresa, Laís colocou as duas mãos na boca.

– Não seria eu quem deveria dizer isso? – retrucou Miguel. Laís deu um sorriso.

– Você não disse que não poderia almoçar com a gente? – Estava possessa com Laís. Queria desarrumar o cabelo dela, mas Laís provavelmente me mataria se eu fizesse algo assim com ela.

– Quanto amor pela sua irmã! – Ela me deu um abraço forte. Tentei me esquivar e sair do abraço, mas isso a fazia me apertar ainda mais. Laís adorava me fazer passar vergonha.

Quando ela finalmente me soltou, virei o rosto, irritada. Laís estava muito chata e eu não sabia porquê.

Tentando apaziguar a situação, Miguel voltou ao assunto.

– O que você queria falar, Laís?

– Eu preciso que vocês dois vão a uma festa comigo, hoje. É caso de vida ou morte. – respondeu seriamente Laís.

Miguel e eu nos entreolhamos e chegamos à mesma conclusão: Laís tinha surtado de vez.


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Notas finais do capítulo

Antes que vocês me matem por ter criado o Miguel, eu espero que me deixem agradecer.
Muito obrigado a vocês por lerem, comentarem, favoritarem e acompanharem!
Eu nunca imaginei que fosse receber ao menos UM comentário, e vocês realmente vieram, fiquei muito, muito, muito, muito, muito feliz!!! Espero transformar essa história em algo realmente bom, vou me empenhar muito nela, muito obrigado.
Agora, sobre o Miguel: Sim, eu precisava criá-lo. Ao escrever o primeiro capítulo, eu tinha ideia da metade da fanfic, mas não de como chegar nela. Eu precisava de um personagem masculino importante, para gerar mais cenas e para a história fluir bem, pois eu já tinha definido que a Laura iria ter um (a) amigo (a) importantíssimo (a), então por que não apimentar mais as coisas e colocar um garoto no meio disso?
Espero que não me matem nem parem de acompanhar. Realmente não tenho ideia do que vai acontecer ao Miguel, ele foi um personagem que acabei de inventar. Vou pensar nele com mais calma.
Ainda estou falhando em retratar cenários e a história ainda está muito direta. Meu forte é narrar em terceira pessoa, mas sair da minha zona de conforto é uma das minhas metas aqui.
Ah, outra coisa. Eu devo ter parecido um cara super chato e tosco, mas é porque eu sou muito tímido! Vou tentar sempre me expressar da melhor maneira possível, não desistam de mim ;-;
Eu ia definir o dia como sábado, só que quando eu entrei hoje e tive a surpresa maravilhosa (de vocês terem apoiado a Apenas Gêmeas?), eu sentei a bunda na cadeira e escrevi loucamente.
Espero realmente que vocês tenham gostado, e também torço para ver vocês em breve. Até logo o//