Acho que Natal é a mesma coisa na maioria das famílias cristãs. Assim que os parentes chegam, todos se cumprimentam felizes. Depois as pessoas se dispersam em grupinhos e ficam conversando. Aí vem a ceia, todos rezam, comem horrores, trocam presentes e se cumprimentam felizes de novos. Nicholas ainda me olhava carrancudo. Eu fingia que não via nada. Steves percebeu também, mas acho que resolveu fazer o mesmo que eu. Sobre os presentes, depois que ficamos mais velhos, menos presentes ganhamos. Ganhei uma roupa dos meus pais, um sapato do meu irmão, Steves me deu um livro e, pasmem, Nicholas me deu um box com todas as temporadas de Prison Break. Tipo, ele me deu um presente!

– Não precisava ter comprado algo pra mim. - Falei depois que agradeci.

– Espero que tenha gostado.

– Gostei. Quer dizer, nunca vi. Mas posso começar a ver outro seriado.

– Assim... Não é nenhum Game of Thrones da vida, tipo, foda pra cacete. Mas é muito bom. - Steves comentou e eu sorri.

– Obrigada. - Olhei pro Nicholas com cara de cachorro que caiu da mudança. - Eu nem sabia que vocês viriam. Então, não comprei nada.

– Não tem problema. - A campainha tocou e eu olhei pra minha mãe, vendo-a ir sorridente até a porta. Continuei olhando. Isaac apareceu com uma caixinha e um buquê nas mãos. Mas a gente não só ia se ver amanhã?

– Olá, senhora Parker. Feliz Natal! - Ele falou e estendeu o buquê pra ela. Eu fiquei com cara de cu. Achei que o buquê era pra mim. Steves deu risada

– Ele já te conquistei. Agora é a vez da sua família. - Ele falou pra mim ainda rindo.

– To nem aí. - Falei. Mas seria tão fofo se aquelas flores fossem pra mim...

– Feliz Natal! Obrigada pelas flores. São lindas! Mas não pode ser que tem alguém trabalhando hoje. - Ela falou olhando pras flores. Pra minha mãe, é um absurdo as pessoas trabalharem na véspera. Imagina a meia noite de Natal. Justin ficou um pouco vermelho.

– Na verdade, são do Walmart. Queria ter encontrado alguma floricultura, mas isso seria querer fazer o impossível.

– Não tem problema. São lindas! Vamos, entre. - Logo ele me avistou. Acenei. Ele cumprimentou todo mundo. E minha mãe ia atrás dele dizendo que ele era meu amigo, mas com aquela cara de "até parece, né?".

– Feliz Natal. - Ele falou e me deu um beijo na bochecha.

– Feliz Natal! - Respondi. - Esse é meu primo Nicholas. - Eles apertaram as mãos. Isaac cumprimentou o Steves e sentou do meu lado e me entregou a caixa. Quando abri, vi os livros de Game of Thrones e um funko do Jon Snow. - Socorro! Tenho um Jon Snow! - Falei abraçando a caixa. Isaac deu risada. - Espera. Já volto. - Fui até o meu quarto e peguei a caixa com o presente dele. - Esse é seu. - Entreguei pra ele. - E obrigada pelo presente. - Dei um beijo na bochecha dele. Enquanto o Isaac abriu a caixa, Nicholas e meu irmão espiavam pra ver o que era.

– Laura, isso é... É incrível! Eu quase morri tentando comprar um desses!

– Ainda bem que não conseguiu. Sem ofensas.

– Eu não acredito que você deu esse jogo pra ele e não pro seu próprio irmão. - Colin falou fazendo cara de indignado. - Comparado a isso eu ganhei um par de meias!

– Eu falei isso pra ela. - Steves disse pra ele.

– Reclama não, meu querido. Fique feliz de eu ter comprado alguma coisa pra você. - Respondi.

– Só não vou reclamar porque meu presente foi básico.

– Exatamente!

– É sério que você ganhou o box com Prison Break? - Isaac perguntou animado. - Posso ver junto com você. Eu realmente estava querendo rever tudo antes de voltar a quinta temporada. - Nicholas deu um sorriso e cruzou os braços. Revirei os olhos.

– Mas é lógico que você vai ver comigo. Mas se você contar algum spoiler, eu te jogo da janela do meu apartamento. - Respondi. - Você já ceou, né? Tem comida ainda, se você quiser.

– Eu to legal.

– Tem sobremesa. Pega lá pra gente, Colin, por favor? - Meu irmão me olhou e arqueou uma sobrancelha.

– Só porque a gente tem visita. - Sorri.

– Obrigada!

– Então, Laura, a vó nem sabia que você estava namorando. - Minha vó falou sentando do lado do Isaac e sorrindo pra ele.

– Somos só amigos, vó.

– Amigos bem próximos, eu diria. - Isaac começou a ficar vermelho. Nicholas deu risada.

– Realmente, vó. - Ele respondeu.

– Realmente! - Steves respondeu também e eu empurrei o braço dele.

– Somos só amigos mesmo. - Insisti.

– Ele salvou a vida da Laura. - Colin chegou pra me salvar com a tigela da sobremesa em uma mão e taças na outra, logo apoiando na mesinha de centro que havia ali. Servi tanto a mim, quanto ao Isaac, ao Steves e a minha vó.

– Isso é verdade. - Falei olhando pro Isaac sorrindo. Ele estava mais vermelho ainda.

– Naquele negócio da faculdade? Vocês trabalham juntos ou você estuda lá? - Minha vó perguntou pra ele.

– Eu estudo lá. Éramos da mesma sala.

– Qual curso faz? - Nicholas perguntou.

– Engenharia civil.

– Você tem cara de nerd mesmo.

– Nicholas! - Repreendi e olhei pro Isaac. - Tudo bem que isso não é... Mentira, creio eu. É até bonitinho.

– Obrigado. - Isaac falou rindo um pouco. Minha vó começou a conversar com ele, perguntando da onde ele era, quantos anos tinha, o que ele mais gostava de fazer... Acho que só faltou ela perguntar que número ele calçava.

Como já tinha passado da meia noite, alguns já tinham ido pro hotel e a maioria que dormiria aqui em casa estavam já dormindo. Steves resolveu ir pra casa não muito depois do Isaac ter chegado. Já era mais de meia noite. Na sala só estava o Colin conversando com o Nicholas em uma ponta e eu e o Isaac na outra.

– Eles são simpáticos. Digo, sua família. - Isaac comentou.

– Eles tentam. Fico feliz que tenha gostado de todos. - Ele fez uma cara tipo "hm...". - O que foi agora?

– Seu primo é meio debochado. - Ele falou baixo.

– Ele é ridículo. Mas ele faz isso com todo mundo. Tipo, todo mundo mesmo. Até comigo.

– Mas vocês já tiveram algo?

– Por quê?

– Já, né? Se não tivessem tido, o normal seria "mas ele é meu primo!". - Ele fez uma voz fina me imitando. Revirei os olhos.

– Faz muito tempo. Adolescência. E foi só um beijo, pelo amor de Deus!

– É um pouco estranho. Mas até que ele é bonito. - Olhei pro Nicholas.

– Realmente. Você vai ficar por aqui hoje, né?

– Eu ia pra casa.

– Tá tarde já. Não é porque hoje é Natal que não vá acontecer alguma desgraça. Quer dormir agora?

– A gente podia ficar no seu quarto. - Isaac falou dando um sorrisinho safado e eu dei risada. - Quer dizer, não tem ninguém lá não, né?

– Não. Proibi minha mãe de enfiar alguém pra dormir lá. Tudo bem que não é mais meu quarto, mas privacidade é tudo, né?

– Ele vai dormir aqui? - Colin perguntou carrancudo quando nos levantamos.

– Vai. - Respondi. Dei um beijo na cabeça dele. - Boa noite pra você. E boa noite, Nicholas.

– Tchau. - Isaac falou e eles acenaram. Entramos no meu quarto e eu já coloquei o pijama. Isaac preferiu dormir de cueca, já que ninguém merece dormir de calça. Deitamos na cama e ele começou a rir.

– O que foi, menino?

– Você ainda não tirou esse poster do 'NSYNC.

– Deixa o Timberlake em paz. - Ele me deu um selinho e depois um beijo de verdade. As coisas começaram a esquentar de verdade e, quando eu me dei conta, eu já estava sem a blusa do pijama. Tava tudo maravilhoso, até abrirem a porta do quarto. - Misericórdia! - Berrei e cobri tanto eu quanto o Isaac com o edredom.

– Eu devia ter batido, né? - Meu primo apareceu com a porta entreaberta.

– Adivinha, gênio! O que você tá fazendo aqui?

– Ué. Eu vou dormir aqui. Eu e seu irmão ficamos no seu quarto.

– Colin tá aí fora?

– Ele tá no banheiro. - Nicholas trouxe um colchão pra dentro e fechou a porta.

– Isso é sério? - Perguntei. Qual a parte do "o quarto é meu" que minha mãe não entendeu?

– Você quer que eu durma onde?

– No inferno. - Resmunguei e o Isaac prendeu o riso.

– Quer ir lá pra casa? - Ele perguntou no meu ouvido. Mas poderia ser pior. Pra começar, toda a família dele está lá também. E eu não estou a fim de ser legal com a vó dele por mais que hoje seja Natal. Me perguntei se o Nicholas tá me castigando pelo o que eu fiz mais cedo.

– A gente termina amanhã. - Respondi no ouvido dele também.

– O que aconteceu aqui? - Colin perguntou entrando no quarto.

– Acho que a gente acabou interrompendo alguma coisa. - Nicholas disse parecendo que estava se divertindo.

– Eu diria que graças aos deuses fizemos um bom trabalho. - Meu irmão respondeu colocando um colchão do lado da minha cama. Depois, ele apagou a luz e se deitou. - Não é melhor ele trocar de lugar comigo?

– Não. - Respondi e ouvi a risada do Nicholas. - Vocês nem deveriam estar aqui.

– Isaac, você quer que a gente saia? - Colin disse e o Isaac falou no meu ouvido "o que eu faço?". Dei de ombros.

– Acho que tá tudo bem assim. - Ele respondeu e eu olhei pra ele. Sabia que ele não me veria, mas cacete, né, meu querido.

– A gente podia jogar videogame amanhã. - Nicholas sugeriu. - O que acha de estrear seu jogo, Isaac?

– Ele tem família também. E vamos almoçar juntos. - Respondi ainda carrancuda.

– Não tem problema. Pode ser dia vinte e seis. Eu, a vó e minha mãe vamos ficar até dia dois. - Perfeito. Não podia ser melhor. Esse povo tem que entender que parente tem que só fazer uma visita e ir embora. Ah, vieram pro Natal? Maravilha. Vão embora depois da ceia. Não ficar aqui durante uma semana.

– A gente vai dar vários roles. - Colin comentou. Aí os dois resolveram ficar conversando.

– Se vocês vão ficar falando, porque não ficaram na sala? - Perguntei irritada.

– Ihhhhhhhhhhhhhhhhh... - Os dois soltaram.

– Relaxa, Laurinha. Daqui a pouco a gente dorme. - Nicholas me respondeu. Abracei o Isaac e fechei os olhos. Algumas vezes escutava alguns cochichos e algumas risadinhas vindo das duas crianças que estavam nos colchões, mas consegui dormi mesmo assim. E, pelo o que eu percebi, o Isaac também.