Árabes fazendo malabarismo com suas línguas, francesas jogando brilho que sabe-se lá para que serve, japonesas fazendo danças exóticas. Não posso dizer que não funciona, por que o furacão chega a diminuir a sua intensidade, mas, ainda está com os ventos mais fortes que eu já vi em toda minha vida.
– Não tem jeito - fala a Abby de cabelos brancos ao meu lado depois de tentarmos a telecinese novamente. Vou demorar para me acostumar com seus cabelos totalmente descoloridos.
– As supremas tem que se reunir - fala Kathy. Ela simplesmente sempre sabe o que falar na hora certa. - Cordelia! Por favor, se reuna com elas.
Uma reunião no olho de um furacão. Supremas de vários países de várias partes do mundo e cada uma falando uma língua diferente. Não pode dar certo.
– Como isso pode dar certo? - fala Cordelia, irritada. - Não sei falar nem "sim" em francês, nem português ou muito menos japonês.
– Eu ajudo - fala Claire, que, de fato, só está aqui para ajudar na comunicação. - Eu posso fazê-las entenderem o que cada uma fala.
– Se você diz... - Cordelia começa a reunir as supremas estrangeiras, e todas se reúnem em uma roda, juntamente com Claire.
Só consigo vê-las discutindo, brigando, e a voz de Claire em várias línguas diferentes em que eu não entendo uma palavra. Vejo algumas emoções no rosto de Claire por trás daqueles óculos enormes em sua cara, mas nada que se agrave tanto quanto quando ela soltou um grito e começou a chorar. Fico imaginando qual seria o motivo das lágrimas escorrendo de seus olhos, e vejo as outras supremas com rostos tristes, inclusive a suprema italiana chora.
– O que foi? - pergunta Angie para Claire.
Claire soluça, voltando junto a uma Cordelia de cabeça baixa e chorosa.
– Ela vai se matar! Cordelia vai se matar!
– Como assim? - pergunto. Cordelia se matar? De onde veio essa ideia?
– Claire, me deixa explicar. - fala Cordelia, levantando a cabeça e mostrando o rosto vermelho cheio de lágrimas. - Nada do que tentamos até agora dá certo para parar esse furacão, então o único jeito seria acabar pela fonte, indo para dentro dele e lançando o feitiço. Isso seria fatal para o furacão, e para a bruxa que lançou o feitiço também.
Meus pés não sentem mais o chão. Sinto as lágrimas saindo automaticamente dos meus olhos, e ao olhar para os lados, vejo que o mesmo aconteceu com Abby, que está mudando sua cor de cabelo para cinza. E também aconteceu com Angie, Maggie, Kathy, Zoe e Misty.
– Não - falo. - Não, Cordelia, não, tem que existir outro jeito. Tem que existir!
– Não existe, e mesmo se existisse, o jeito mais rápido é esse. - fala ela. - Vamos parar com isso. Eu vou, ponto.
Foda-se que a Cordelia ficou chata depois da crise dos caçadores, foda-se que ela pode não ligar para mim, eu a abraço.
Eu a abraço exatamente do jeito que se abraçaria alguém que você nunca mais vai ver em vida.
– Vou sentir sua falta - fala ela, depois que eu a abraço. - Minha suprema.
– Suprema? - pergunto. O que ela quis dizer com isso?
– Sim, suprema. - fala ela de novo para mim. - Você é a próxima suprema.
Fico sem reação. Apenas parada, vendo-a se despedir das outras meninas que estão aos prantos, principalmente Zoe e Misty, que estão gritando como se tivessem sido atropeladas por um trem.
– Então é isso... - fala Cordelia, olhando para todas nós. - Agora vocês estão na mão da Serena, sua nova suprema.
Cordelia não faz cena, apenas anda em direção ao vento, e pula.
Por alguns segundos, todas ficamos paradas. Sabe-se lá por que, talvez em luto, talvez esperando o que quer que fosse acontecer. E aconteceu.
Uma fumaça branca se espalhou pelo vento cinza de poeira, fazendo com que o furacão ficasse mais claro impossível. Aos poucos, essa fumaça se espalhava lentamente pelo olho também, assim dissolvendo o furacão. Demorou mais ou menos dez minutos para que o Lauren se dissolvesse por completo.
O Lauren morreu, assim como a Cordelia.
E eu também.