Green escrita por Bah


Capítulo 11
Morfina


Notas iniciais do capítulo

Acho que nunca fiquei tanto tempo sem escrever.Foram meses complicados, mas agora prometo tentar dar continuidade à estória com a maior agilidade possível.Os próximos capítulos prometem, eu garanto! ;)



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Sua avó pediu para que Frida os acompanhasse até a sala de pintura.Quando Sofia adentrou uma sala cheia de telas e tintas de diferentes tipos pensou instintivamente em Taylor.Olhou fixamente para cada detalhe e imaginou o quanto ele gostaria daquele lugar.

_Bom, vamos nos sentar?_Disse o senhor Kügelgen apontando para uma mesa rodeada de poltronas.

Ela se sentou e ele tirou da capa o violão que antes carregava nas costas.

_Bom, senhorita Wickman, eu...

_Só Sofia, por favor_Disse interrompendo.

_Tudo bem, então eu sou só Valentin_E sorriu_eu sou professor de canto e de vários instrumentos, caso queira aprender algum novo é só me dizer.

Sofia já não prestava atenção em nada do que ele dizia, seus olhos estavam fixos na janela.

_Sofia?

_Ah, sim, desculpe.

Ele riu.

_Onde é que você estava?

Ela não repondeu.

_Tudo bem, vamos começar com o canto.

_Olha, me desculpe, eu não posso fazer isso.

_Eu não vou te forçar a nada, tudo ao seu tempo.Podemos só conversar, se quiser.

_Com licença_Disse saindo da sala.

_Sofia!

_Eu só quero sair daqui!

_Esta sala te lembra alguém, certo?

Ela assentiu.

_E se fôssemos para o jardim?Preciso mesmo de ar fresco.

Foram até o jardim e sentaram-se nas belas cadeiras expostas na varanda.Sofia estava mais sensível que no dia anterior, sentia, de alguma forma, que Taylor precisava dela.

_Isso não vai funcionar.Prometo tentar na próxima aula.

Valentin levantou-se dando-se por vencido.

_Tudo bem.Espero que se recupere, seja lá o que tenha acontecido.

_Obrigada_Ela disse forçando um sorriso_te levo até a porta.

Sua avó bordava na poltrona quando a viu despedindo-se do rapaz.Assim que a porta se fechou, Sofia bufou e esfregou o próprio rosto, deixado explícita sua irritação.

_Mas já acabou a aula de canto?

_Não, vó, me desculpe, mas não consegui.

_Ele é bonito, não acha?

_Acho que o mundo inteiro acha, vó, mas se isso foi coisa da minha mãe, avise que não vai adiantar, não sou igual a ela.Foi um golpe muito baixo colocar um cara que parece modelo simplesmente para me dar aulas de música...como se isso fosse a única coisa importante!

_Não foi ideia da sua mãe, querida, ela nem o conhece.Ele é um ótimo professor, fala nossa língua e foi por isso que o contratei.E acho que um pequeno romance não lhe fará mal.

_Eu já vivi o maior romance que alguém poderia viver, não preciso de um pequeno para simplesmente tentar apagá-lo.

Sofia se arrependeu assim que terminou sua fala.

_Eu...eu posso usar o telefone mais uma vez?_Disse abaixando o tom de voz.

_Fique a vontade.

...

_Querida, o seu telefone está tocando_Disse Malcolm.

_Não quero atender ninguém agora.

_Querida, você está segurando a mão do Taylor o dia inteiro, nem almoçou!Não sei se você se lembra, mas a primeira sessão da quimioterapia é hoje.Atende esse telefone, comece a reagir!É ligação internacional, pode ser a Sofia.

_Atenda você, Malcolm.Esses dois já sofreram demais, não conte o que está acontecendo.

_Não contar?

_Ela não vai poder fazer nada sobre, Malcolm, só vai ficar agoniada.

Sofia já havia perdido as esperanças quando finalmente ouviu a voz de Malcolm.

_ALÔ?_Disse mais alto que o normal_Malcolm?

_Ahn...olá, Sofia!

_O Taylor está aí?

_O que eu falo?_Perguntou à Sarah apenas com movimentos labiais.

_Alô?

_Só um minuto, Sofia!_Disse e logo após cobriu o celular com uma das mãos.

_O que você espera que eu diga, Sarah?Que ele não quer vê-la?

...

A mão de Malcolm não foi o suficiente para tapar o som de sua voz no telefone.Sofia apenas apertou os lábios e desligou.

_O que foi, querida?_Perguntou Madeleine.

_Decepção, vó.

Ela abriu os braços e Sofia se aconchegou.

_Venha, vamos até o sofá.

A menina deitou a cabeça em seu colo e sua avó cantou uma canção de ninar alemã.Sofia não fazia ideia do que dizia, mas a melodia era gostosa e harmoniosa, assim como a voz de Madeleine.

A noite chegou.Sofia, já de pijama, fazia uma enorme trança nos cabelos em frente a penteadeira enquanto lágrimas silenciosas escorriam.Alguém bateu na porta:

_Senhorita Sofia?É Frida.

_Ah sim, entre!

_Não pude deixar de ouvir a senhorita chorando mais uma vez.

_Não precisa dessas formalidades, só Sofia está bom_E sorriu_e me desculpe, devo estar sendo a hóspede mais melodramática que você já conheceu.

_De maneira alguma senho...Sofia.É que como não tem muitas pessoas aqui neste casarão pensei que talvez estivesse se sentindo sozinha.Se não for abuso, claro, não vou esquecer minha função aqui dentro.

_Frida, todos nós somos iguais, você não precisa ser "a empregada" comigo, seja só a mulher, seja só a Frida.

_Você é muito gentil, Sofia.

_Sente-se!

_Em sua cama?

Ela assentiu e juntou-se a ela.Frida aparentava ter vinte e poucos anos, o que fez com que Sofia se sentisse mais a vontade para falar de Taylor.

_São lágrimas de amor?_Perguntou docemente.

_Eu não sei mais.Ele não quer falar comigo, é como se toda a importância que ele dizia que eu tinha, todo o amor que sentia por mim tivessem vindo embora junto com a mudança.

_Ele disse que não quer falar com você?

_Ainda não consegui nem ouvir a voz dele, mas ouvi o pai dizer.

_Pois tente de novo!Insista até conseguir ouvir isso da boca dele!

Sofia abaixou a cabeça e deu um sorriso triste.

_Se precisar de qualquer coisa pode contar comigo.

Frida passou a mão em suas costas e saiu do quarto.

...

Um mês se passou e foi o suficiente para que Taylor pudesse ficar consciente, sem a ajuda de muitos remédios.Assim que a dor lancinante amenizou e seus lábios começaram a acompanhar a rapidez de seus pensamentos, pediu o telefone, não aguentava mais um minuto sem Sofia, ou pelo menos sem ouvir sua voz.Ligou para seu celular, mas nem sequer chamava.

_Malcolm, ele vai pedir o número da casa dela, o que vamos fazer?

_Acha mesmo que devemos afastá-los?

_Eles já estão afastados, não dá para alimentar isso, não temos condições de ir à Alemanha agora e não acho saudável para eles manter um relacionamento desse jeito.Nós sabemos como são esses amores na adolescência...simplesmente passam!E chegou a hora de cada um seguir com a sua vida.

_Bom, mas e as redes sociais?

_Taylor me disse que ela não participa de nenhuma porque considera perda de tempo.

_Essa Sofia..._Disse Malcolm com tom bem humorado.

A cabeça raspada de Sarah e sua cor pálida, diferente do habitual,foram as primeiras coisas que os olhos de Taylor viram assim que começou a retomar sua consciência.Sarah lhe contou sobre o câncer e ele prometeu jamais deixá-la sozinha; repetiu diversas vezes que a amava e o quanto ela era linda.Apesar do leito de hospital e das diversas cirurgias, ele ainda mostrava-se forte e sem dúvida alguma de sua dignidade, mas por dentro estava confuso, atordoado.O medo de perder as duas mulheres mais importantes de sua vida doía muito mais que qualquer cirurgia realizada em seu corpo.

_Pai...

O chamamento de Taylor atraiu os olhares de Malcolm e Sarah, que conversavam no corredor.

_Oi, filho, está tudo bem?Sentindo alguma dor?

_Não, as dores estão melhorando_mentiu_Só queria conversar com você a sós_E olhou de relance para a mãe, que assentiu e saiu do quarto.

_Algum problema, filho?

_Eu só preciso conversar..._Disse segurando o choro.

_Claro, sobre o que você quer falar?

_Sobre tudo!Sobre a minha mãe, sobre a Sofia, sobre essa droga de hospital e sobre essa droga de distância entre os Estados Unidos e a Alemanha.

Malcolm se sentou em uma cadeira do lado de seu leito e deu um longo suspiro.

_As vezes as coisas não saem como o planejado, meu filho...

_Disso eu sei, mas por que não consigo sequer ouvir a voz da Sofia?Por que ela não me ligou pelo menos para saber se eu estou bem?Eu estou há um mês e uma semana nesse hospital e é como se ela tivesse esquecido da minha existência!Ela te ligou?

_Ahn...não, ela não me ligou.

_Eu a odeio.

_Não diga isso, Taylor, pode ser que ela tenha tido um imprevisto.

_Imprevisto?_Ele deu um riso debochado_então deve ter sido grande para ela simplesmente esquecer alguém que ela dizia ser o amor da vida dela há menos de dois meses atrás.

Malcolm contraiu os lábios e quase contou a verdade, mas concordava com sua esposa, esse amor desapareceria com o tempo.Odiava mentir para seu filho, mas odiaria ainda mais vê-lo sofrer todos os dias por alguém que não iria mais voltar.

_Bom, e o que queria saber sobre sua mãe?_Perguntou tentando esquivar-se do assunto "Sofia".

_Quero saber qual é a situação e como ela está lidando com isso.

_Sua mãe é forte, Taylor, ela é a mulher mais forte que eu conheço.

Taylor fez cara de dor devido a uma pontada repentina em sua cabeça.Era hora de aplicar a morfina mais uma vez.

...

_Sofia, querida, bom dia!_Disse Madeleine enquanto a menina descia as escadas, mais revitalizada a cada dia.

_Bom dia, vovó!

_Dormiu bem?

_Dormi sim_Respondeu sorrindo.

_Sente-se para o café!Animada para o primeiro de aula?

_Mas é claro!

Sofia havia pedido por aulas em casa ao invés frequentar outra escola.Sua avó mostrou-se relutante no início, mas concordou.Porém, neste dia, era das aulas de Valentin que Madeleine falava.Sofia sentia-se pronta para encarar até a passividade e firmeza na voz de Valentin, que, não fosse pelo sotaque e tom um pouco mais grave, seria muito semelhante a de Taylor.Ela gostava de fechar os olhos enquanto ele falava, porque de alguma forma, a imagem de seu namorado e melhor amigo vinha com clareza e força brutal em sua mente.Não sabia ao certo se o fato se devia a saudade que deixava seu coração do tamanho de uma ervilha, ou se as vozes realmente tinham algo em comum.De qualquer forma, gostava mais de Valentin por isso.

A campainha tocou e Frida a abriu.Valentin cumprimentou-a com a mesma educação de sempre e em seguida foi recebido por Sofia.

_Olá, Sofia, como vai?

_Melhor a cada dia, e você?

_Estou ótimo.

Madeleine levou-os até a sala onde teriam as aulas.Insistia em fazê-lo mesmo que tivesse empregados para isso.

_Fiquem à vontade_E saiu em seus passinhos curtos.

_Bom_Começou Sofia_devo me desculpar pela minha atitude da última vez.Eu estou...estava passando por um momento difícil.

_Está ou estava?

_Estou.Mas agora consigo guardar só para mim.

_Espero que isso realmente passe então_Disse amigavelmente.

_Obrigada, mas não vou te entediar com os meus problemas e fazer você sair daqui achando que eu sou perturbada mais uma vez.

Ele riu.

_Vamos começar?

Começaram com a aula de canto.Assim que Sofia abriu a boca Valentin não pôde disfarçar sua surpresa.Estava acostumado a trabalhar com pessoas de diferentes timbres e agudos incríveis, até mais incríveis que os de Sofia, que era extremamente afinada e possuía voz tranquila e angelical, mas não apresentava nada de extraordinário se comparada às vozes que ele já havia ouvido.Ainda assim algo lhe atraía a atenção.Algo em Sofia era diferente, e esse "algo" se ressaltava quando cantava.Ninguém sabia ao certo o que, mas era tão nítido e indestrutível quanto o que ela sentia por Taylor.Talvez fosse a pureza de sua alma, talvez fosse sua capacidade de dar o máximo de si em tudo o que fazia.

_Você...você é incrível, Sofia.


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