Next Stop, Happiness! escrita por Yukino Miyazawa


Capítulo 7
Sétima Parada


Notas iniciais do capítulo

Oi

Dessa vez não demorei tanto.

Erros no caminho, desculpem!

Bjos e boa leitura!!



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Félix acordou mais não abriu os olhos, queria manter a sensação de contentamento o máximo possível. Desde que acordara, não tinha despertado de uma noite de sono tão pacificamente. Seu sono nunca fora tranquilo, era permeado por sonhos ruins e sentimentos que não conseguia nomear.

Pela primeira vez o vazio que sempre o acompanhava parecia ter diminuído de intensidade. Sabia que havia vários buracos na sua vida e que precisava preenche-los para que pudesse começar uma relação saudável com Niko.

O pensamento o fez abrir os olhos e sorrir. Um relacionamento com Niko? Dormir com ele ao seu lado, nos seus braços, sentindo o cheiro dele. Acordar e o primeiro que ver ser o rosto dele, desperta-lo com beijos, ou se despertado com a voz dele. O quão precipitado estava sendo por deseja isso? E o mais assustador é o quanto desejava isso com todas as suas forças.

E o Niko? Desejava o mesmo?

Félix não sabia. Não sabia de muitas coisas, e o mais importante, não sabia se tinha o direito de se envolver com Niko. Ele tinha um filho, uma vida. E o que tinha a oferece a ele?

Félix suspirou, não podia seguir por esse caminho. Sua vida era uma sucessão de becos escuros e sem saída, não podia deixar que isso fosse maior do que o que sentia pelo Niko. E a reação dele ao saber de sua condição, era um sinal positivo.

Depois que se beijaram não conversaram profundamente sobre nada muito importante, na verdade não haviam conversado sobre nada, apenas ficaram se beijando como um casal de adolescentes, Félix sorriu com o pensamento, sabendo que algumas horas o beijando, o tocando não era o suficiente.

O que o levava a outra reflexão, a convicção que tinha em relação a Niko, desde o segundo que seus olhos se puseram sobre ele, cegamente o seguiu com essa certeza que não sabia de onde vinha, que ele o completaria. E se antes havia a dúvida de que poderia está projetando nele alguém de seu passado, já não o tinha mais.

O que sentia quando estava com ele era forte demais, real demais. Quando estava com ele sentia que ele era tudo o que queria, era tudo o que precisava.

Como podia ter se apaixonado assim? E o que faria se Niko pensasse melhor e percebesse a loucura que era se envolver com alguém que não conhecia sua própria identidade.

Eram muitas perguntas para as quais não tinha resposta, e se continuasse a cavar apenas surgiria mais perguntas o que o deixaria angustiando e frustrado. Respirando fundo Félix empurrou as cobertas e saiu da cama, precisava correr até que sua mente estivesse mais calma, então procuraria Niko e conversaria com ele.

Félix chegou a sala e parou ouvindo o barulho que vinha da cozinha, já passara das dez da manhã, esse horário Renan deveria estar no hospital. Será que ele não foi trabalhar para saber como foi seu encontro? A ideia parecia absurda por que o amigo colocava seus pacientes em primeiro lugar, porem quando chegou de madrugada ele estava esparramado no sofá, pensou em acorda-lo, mas apenas jogou uma coberta em cima dele. Deixa-lo ter uma noite desconfortável no sofá seria um bom castigo para que ele deixasse de ser intrometido.

– Renan se você não foi trabalhar para saber do meu encontro, vou logo avisando.... - Félix parou de falar quando chegou a cozinha e viu que não era Renan que estava lá.

– E para mim Félix, você quer contar do seu encontro?

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Niko não conseguiu dormir e por saber que qualquer tentativa séria em vão, se deixou ficar na confortável poltrona do seu quarto, chegou a pegar um livro para tentar distrair sua mente, mas não terminou a primeira página, não cabia espaço em sua cabeça para nada que não fosse Félix. Fossem as sensações que ele provocava, ou as perguntas que geravam outras perguntas e para quais não tinha uma resposta.

Enquanto estavam no pequeno escritório se permitiu não pensar em nada, apenas se deixou levar pela sensação da mão dele em sua pele, do coração dele batendo contra seu peito, dos beijos que faziam seu corpo arrepiar. E tudo que importava era que ele estava em seus braços.

Mas agora precisava encarar a realidade, Félix não se lembrava dele, não se lembrava dos filhos, da família dele. E tudo era tão insano que não sabia por onde começar. Devia avisar Jonathan? Devia falar com Félix primeiro? O que diria a ele?

Niko suspirou e olhou para o quarto escuro, antes que decidisse o que faria precisava ter todas as cartas sobre a mesa, precisava entender o que havia acontecido.

Mas quem poderia encaixar todas as peças desse confuso quebra cabeça?

Os amigos!

Mas como poderia encontra-los? Niko enrugou a testa, o amigo que o levou de sua sala, lhe era familiar. Onde o tinha visto antes?

Os olhos de Niko se arregalaram quando lembrou. No hospital! Fabricio teve uma virose, quando Paloma o atendeu, cruzaram com um médico, qual era o nome dele?

Renan! Renan, esse era o nome do médico que Paloma o apresentou.

Agora que possuía um nome que poderia lhe fornecer respostas qualquer possibilidade de dormir estava totalmente descartado. Quando os primeiros raios de sol nasceram, já encontraram Niko pronto para sair, deixou um bilhete para Adriana avisando que talvez demorasse a voltar e que cuidasse de tudo.

Sabia que era ainda muito cedo, e que o Dr. Renan provavelmente não estava no hospital e talvez ele não tivesse pacientes a atender nesse dia, mas precisava fazer algo por que não suportaria ficar em casa ou ir ao restaurante com tudo que estava acontecendo.

Quando chegou ao hospital não foi difícil descobrir em qual andar e em qual a sala o Dr. Renan atendia.

Como imaginava a antessala estava deserta. Tentando controlar sua ansiedade sentou-se em uma das cadeiras, os minutos pareceram se arrastar, tentou se distrair olhando os pôsteres de autoajuda espalhados pela parede, quando seu olhar captou algo. A porta que dava a sala Dr. Renan estava entreaberta, uma pequena fresta, que mostrava a mesa dele e sobre a mesa um pêndulo.

Quando percebeu já estava dentro da sala, seus dedos roçando no objeto. Lhe pareceu tão triste como se as duas bolinhas tentassem de tudo para se encontrar e não pudessem.

Niko ouviu quando a porta foi aberta e virou-se a tempo de ver o homem o olhar, sua expressão surpresa tentando entender quem era o estranho em sua sala.

– Desculpa ter invadido sua sala, mas preciso falar com você! E não vou embora até que você me explique algumas coisas... mas antes deixa eu me apresentar.

Dr. Renan suspirou resignado.

– Não é necessário, eu sei quem você é. Você é o Niko, Félix me falou de você.

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Félix encarou André sua expressão impassível, aos poucos um sorriso foi se formando em seu rosto.

– André! Achei que assim que você percebesse que tinha ido embora, pegaria o primeiro voo até o Brasil - disse passando por André e enchendo uma caneca com café.

– E assim que você me enxerga Félix? Alguém tão dependente, para correr atrás de você desesperadamente.

– Não foi o que eu quis dizer André, mas nossa relação vinha tomando um caminho... que não era o que eu queria para mim - Félix disse sem desviar os olhos do amigo, que se encostou na mesa como se precisasse de algo onde se apoiar.

– Sei que você achar que eu o sufoco...

– Novamente está distorcendo o que eu disse André, sou e vou ser eternamente grato por tudo que você fez por mim. Te considero um grande amigo, assim como o Renan, mas não sou uma criança, e minha fase de completa dependência ficou para trás. Eu faço as minhas escolhas, e tomo as minhas decisões.

André balançou a cabeça concordando, porém Félix podia ver no olhar dele o quanto sua independência o desagradava.

– Eu estava do seu lado, vi você lutando para conseguir essa independência, comemoramos juntos cada obstáculo vencido... apenas achei que merecia mais do que um bilhete grudado na porta da geladeira avisando que você estava indo embora.

– Te devo desculpas por isso, mas não vou me desculpar por ter partido, aquele não era o meu lugar.

– Claro que não, o seu lugar é aqui, não é?

Félix estreitou os olhos com o sarcasmo que escorreu da voz dele.

– Seja mais claro André, lembre-se que sou um pobre desmemoriado.

– Por isso! Você não tem ideia o quanto foi infeliz aqui, se você soubesse quanto sofrimento esse lugar pode te trazer.

– O que quer dizer com isso André? Você e o Renan me esconderam algo?

André desviou o olhar por um segundo, quando voltou a olha-lo um pouco da raiva que brilhava lá desde que o viu tinha sumido.

– Não escondemos nada de você. Tudo que contamos a você, sobre seu pai, o relacionamento horrível que vocês tinham, sobre como sua família te abandonou não é suficiente? Você não lembrar, mas antes da cirurgia você me disse que durante toda a sua vida só teve migalhas de amor, que você nunca foi feliz.

Félix respirou fundo tentando se livrar da tensão que se formara em seus ombros, essa informação não era novidade, havia lido com suas próprias palavras na carta que tinha escrito para si mesmo. Félix apertou a caneca com força, podia sentir algo em seu interior se movendo. Medo. Não deixaria essa sensação, e as palavras de André o afugentarem. Não recuaria para a escuridão, não quando começava a visualizar uma fresta de luz.

– Estou disposto a pagar para ver André. Talvez você não consiga entender o quanto eu preciso encontrar esse antigo Félix para pode seguir em frente, seja aqui, em Boston ou em qualquer outro lugar do mundo.

– E o que sair em um encontro tem a ver com encontrar a si mesmo? - ele perguntou não conseguindo esconder a raiva em sua voz.

– Não vou discutir com você esse assunto que pertence apenas a mim.

André riu.

– Renan me contou que você invadiu o restaurante dele, que o obrigou a sair com você. Hoje foi ele, e amanhã? Já vi você se encantar por alguém e não durar mais que alguns minutos.

– É diferente - Félix disse firme - Eu não sei explicar, mas com ele é diferente. Desde que eu o vir foi como se minha busca terminasse, como se finalmente eu encontrei o que estava buscando.

– Félix ele é um estranho! Você não sabe nada sobre ele, e ele não sabe nada sobre você! O que você acha que vai acontecer, quando ele descobrir que você não recorda nada da sua vida.

– Ele já sabe, eu contei para ele. Sobre a operação e a minha perda de memória.

André o olhou surpreso, como se não acreditasse no que estava ouvindo.

– Você contou a ele? - André perguntou perplexo - E? Imagino que a reação dele não deva ter sido a melhor.

– No início sim, depois ele entendeu, não conversamos muito...

– Félix! Meu Deus! Escuta o que você está dizendo, um estranho que você perseguiu e intimidou aceita jantar com você e depois de ouvir tudo que você contou tem a melhor reação possível, como se fosse normal encontrar pessoas desmemoriadas em cada esquina.

– O que você está insinuando André?

– Se põe um segundo no lugar desse cara? Vamos Félix, você nunca foi burro, nem antes nem agora! Me diz, você acha a reação dele normal?

Félix não disse nada por um tempo, no segundo após deixar Niko em casa, a pergunta tentou se forma em sua cabeça, mas não permitiu. E foi fácil, ainda tinha o gosto dele em sua boca, o cheiro dele ainda o inebriava o deixando sonolento.

Félix caminhou até André, tão perto que suas roupas roçavam nas dele, a proximidade o fez desviar os olhos. Félix colocou a caneca sobre a mesa e sorriu.

– Você tem razão, eu não sou burro. Não se preocupe André, eu confio no Niko! Estou indo correr, quando voltar podemos continuar essa conversar e quem saber possa até contar a você como foi o meu encontro.

Antes que André pudesse dizer algo que não pudesse contra argumentar Félix atravessou a cozinha e a sala. Assim que alcançou a rua começou a correr, tentando não pensar em nada. Tentando abafar a vozinha persistente que insistia em dizer o quanto sua afirmação fora infantil e quanta verdade havia nas palavras de André.

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– Se eu precisar dizer a você para sair dai de novo...

– Mas que saco! Não posso nem tomar banho em paz!

– Olha a boca Jaime! Vem logo que o café vai esfriar!

– Por que você não entra e me ajudar mamãe?!

Quase pode ouvir o irmão bufando e revirando os olhos. Jaime sorriu vitorioso, sempre perdia nos seus embates com Jonathan, ele sempre tinha a última palavra, sempre finalizavas as discussões com algo que Jaime não sabia como retrucar. Mas seu arsenal de respostas sagazes começava a crescer.

Pensou em enrolar mais um pouquinho apenas para irritar Jonathan, mas seu estômago reclamou exigindo comida. Passou a mão sobre o espelho embaçado e se olhou arrumando o cabelo, ergueu o queixo a procura de algum fiapo de bigode, mas sua pele continuava tão lisa como sempre. Com uma careta se enrolou na toalha, Jonathan lhe dissera que também demorou para que nascesse sua barba, e que Jaime ainda era muito criança.

Se trocou rapidamente e deu mais uma ajeitada no cabelo, pegou o skate que estava apoiado sobre seu criado mudo, seus olhos encontraram o porta-retrato, seu pai abraçando ele e Jonathan. Não via seu pai a quase um ano, ele tinha ido embora. Ele o abandonara, o que Jonathan afirmava que não era verdade, mas Jaime sabia que era isso, ele o abandonou como tantos que cruzaram sua vida haviam feito antes.

Jaime queria ter raiva dele, mas não conseguia, a saudade era maior que qualquer outro sentimento. Por isso ainda mantinha o porta-retrato com a foto deles. Queria conversar com Jonathan sobre o pai, mas nunca conseguira, por que sabia que Jonathan estava sentindo o mesmo e falar sobre isso apenas destruiria a pequena esperança que um dia ele voltaria e lhe daria um daqueles abraços apertados e o faria rir com as coisas engraçadas que ele sempre dizia.

Com um suspiro deu as costas a foto. Jonathan se movia pela cozinha com rapidez o que fez Jaime sorrir.

– Toma logo esse café, que hoje o dia vai se cheio, vou te deixar na escola, mas não vou pode te pegar.

– Eu posso voltar sozinho!

– Você não pode, já tivemos essa discussão antes Jaime, não quero você andando por aí sozinho. O motorista da vovó vai te busca, já falei com ela.

– Ah, não Jonathan! Detesto quando ele vai me busca, meus amigos ficam me zoando de playboyzinho...

– Se eles ficam te zoando é por que não são seus amigos! E você ainda é muito...

– Eu não sou criança! Mania que vocês têm de me chamar de criança!

– Jaime não começa! Come logo isso... eu já devia estar na empresa, e você ficar me atrapa... – Jonathan não terminou o que iria dizer, com um suspiro virou-se para Jaime um pedido de desculpas dançando em seus olhos.

Jaime sentiu a raiva crescer em seu estômago, por ser chamado de criança e por Jonathan quase dizer que ele o atrapalhava.

– Jaime, eu...

Jaime não esperou para ouvir o que ele diria, pegou seu skate e saiu como um foguete, ainda ouviu Jonathan o chamar antes de bater à porta com força, ele quase o alcançou quando chegou ao elevador, mas as portas se fecharam antes que ele conseguisse.

Sabia que Jonathan dissera aquilo da boca para fora, que não era o que ele sentia. Em sua inocência, Jaime perguntara a ele quando percebera que o pai poderia não voltar mais, se Jonathan queria que ele fosse embora. Foi a primeira vez que vira o irmão realmente zangado. Jonathan segurara seus ombros com força e gritara que eles eram família, irmãos. E que um irmão não abandona o outro.

Jaime virou o skate em direção a um parque que havia próximo, já não sentia mais raiva apenas vergonha por ter agido assim. E mesmo sua raiva não era direcionada a Jonathan, ou ao que ele tinha dito. Estava com raiva de si mesmo, por sentir que estava atrapalhando a vida do irmão, por sentir tanto a falta do seu pai, por querer ver ele, mesmo que fosse por alguns segundos.

Frustrado Jaime entrou no parque, desceu do skate e sentou-se em um banco colocando o skate em suas pernas. Jonathan devia estar preocupado, por causa do seu rompante, o dia dele devia estar mais complicado ainda. Com um suspiro se colocou de pé pronto para voltar para casa e se desculpar com o irmão, mas não conseguiu sair do lugar.

O skate escorregou das suas mãos quando o viu, seus olhos se arregalaram. Ele vinha na sua direção, cada vez mais próximo, ele corria como se tentasse fugir de algo muito ruim. Como em câmera lenta, ele estava do seu lado sua expressão de concentração mudou quando seus olhos se encontraram, ele sorriu.

Jaime piscou e tudo voltou ao normal, o seguiu com o olhar, suas costas retas, seus joelhos se dobrando devido ao ritmo da corrida.

Era seu pai?

Sim era o seu pai!

Jaime abriu a boca, mas nenhum som escapou. Ele já estava quase virando um conjunto de arvores que o faria refazer o percurso novamente, quando Jaime gritou.

– PAI!

Sua voz pareceu ecoar por todo o parque, mas ele não parou, desaparecendo ao contorna as arvores. Jaime não desviou o olhar sentindo o tempo se deter, mas ele não voltou. O peso das lágrimas que já deslizavam por suas bochechas o fizeram abaixar a cabeça, seu coração doía como se tivesse se partido em vários pedaços.

– Do que você me chamou garoto?

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– Félix falou de mim?

– Sim, ele me falou muito sobre você, sobre vocês.

Niko respirou fundo e recuou até um sofá onde sentou-se, sentia que suas pernas não aguentariam tudo que essa conversa traria.

Renan puxou uma cadeira e a levou para perto do sofá, sentou-se e cruzou suas mãos.

– Você deve ter muitas perguntas, eu vou responde-las, mas antes preciso que saiba que Félix te ama, ele sempre amou. Tudo que ele queria era proteger você, que você não se machucasse...

Niko o olhou incrédulo.

– Me proteger? Não me machucar? Você pode dizer alguma coisa que faça sentido?! Por que se tem algo que Félix fez foi me machucar. E quando minha vida começa a entra nos eixos, ele aparecer falando sobre operação, perda de memória... e me joga nesse limbo, que eu não sei como escapar. Então não diga que ele está tentando me proteger!

Renan respirou fundo.

– Entendo sua raiva, não era para ser assim...

– Eu vim aqui atrás de respostas, e tudo que você está conseguindo é me deixar mais confuso - Niko o interrompeu seu olhar duro, estava cansado, mal podia pensar direito, e não queria desculpas queria a verdade - Félix me disse que fez uma cirurgia e perdeu a memória, isso é verdade? Eu sentir a cicatriz na cabeça dele, mas não faz sentido...

– É verdade, ele operou e uma das sequelas foi a perda total da memória. Ele não lembra de ninguém do passado dele.

Niko podia sentir sua respiração se agitando, não podia negar que uma parte de si desejava que Renan não confirmasse a história de Félix. Por que se fosse verdade, o que mudaria? Félix ainda o abandonara. Quis chorar, mas não podia, ainda tinha muitas perguntas que precisavam de respostas.

– Sequelas? Ele me pareceu muito bem.

– Ele está agora, mas foi um longo processo de recuperação.

Niko fechou os olhos uma ideia horrível, que não queria acreditar, se formando em sua cabeça.

– Félix nunca me falou de você, como você ficou sabendo disso... e eu e a família dele não?

– Destino talvez? - Renan disse com um pequeno sorriso - Minha relação com o Félix era estritamente profissional, eu como medico desse hospital e ele como administrador. Até o dia que ele invadiu meu consultório, assim como você fez. O que discutimos aqui foi entre medico paciente, eu não posso... - Niko abriu a boca para protesta, mas Renan levantou a mão o impedindo - eu não posso entra em detalhes, mas sei que o Félix não se importaria se eu dividisse com você o que conversamos.

– Félix estava no meio de uma transição, muitas mudanças estavam acontecendo na vida dele, algumas bem difíceis de se lidar. Eu não preciso enumera-las, você melhor que ninguém conhece cada uma delas.

Niko olhou nos olhos de Renan, se perguntando o quanto Félix confiara nele, o quanto ele realmente o conhecia.

– Félix não fez as melhores escolhas - Renan suspirou - E por mais que ele tentasse se redimir dos seus atos, ele nunca se sentiu merecedor... Félix acreditava que não merecia ser amado, que um dia você e todos que o amavam o veriam como ele se via e o abandonariam.

Niko desviou o olhar para o pendulo sobre a mesa, sentia as lágrimas subindo por sua garganta, por que seus piores medos começavam a se confirmar.

– Ele vinha sentindo dores de cabeça, desmaiou algumas vezes e estava tendo sonhos estranhos. Foi por causa desses sonhos que ele me procurou, e nos tornamos amigos... eu pedir que ele fizesse alguns exames, que constatou um tumor.

Niko voltou a encontrar os olhos de Renan, as lágrimas já escorriam por seu rosto, sua voz saiu engasgada quando perguntou.

– Ele me afastou de propósito?

Renan apenas confirmou com a cabeça.

– Ele achava que estava protegendo você e os filhos dele, que vocês não mereciam passar pelo sofrimento de vê-lo morrer. Niko eu não quero justificar a decisão dele, eu mesmo tentei demove-lo várias vezes, mas as chances dele eram poucas. Ele podia tentar o tratamento e viver alguns meses, mas a saúde dele apenas se deterioraria um pouco a cada dia. Por isso ele optou pela cirurgia.

Niko cobriu o rosto com as mãos, um soluço escapando por entre seus lábios. Seus sentimentos se colidiam e se misturavam, raiva e dor, tristeza e medo, frustração e pesar. Como Félix podia ter feito isso com eles? Por que ele não o deixou ama-la? Como ele pode acreditar que essa era a melhor escolha? Como ele pode ser tão egoísta? Será que não demonstrara que o amava o suficiente para suporta tudo ao lado dele? Por que ele precisava passar por tudo isso sozinho? Por que ele não permitirá que ficasse ao lado dele? Cuidando dele? O Amando?

– Niko... - Renan colocou a mão em seu joelho o trazendo de voltar.

– Por que? - Niko o encarou, seus olhos e nariz muito vermelhos.

– Ele achava...

– Não Renan! Por que você permitiu que ele passasse por isso sozinho? Por que você não me avisou? Ou aos filhos dele, ou Paloma? Por que não contou a ninguém?!

Renan recuou parecendo extremamente exausto.

– Eu... nada que eu diga será suficiente para me desculpa. Eu só posso me justificar dizendo que prometi a um amigo...

– Amigo?! - Niko se levantou suas mãos fechadas em punhos - Que tipo de amigo você é que deixar um amigo passar por isso sem a família dele, sem as pessoas que o amam. Que tipo de ser humano é você?

Renan esfregou as mãos nos olhos tentando impedir que as lágrimas viessem.

– Você tem razão... eu não devia ter aceitado. Niko não tem justificativa o que eu fiz, eu mereço a sua raiva, e a aceito. Só que você precisa entender...

– O que eu preciso entender? Que mesmo você sabendo da dificuldade do Félix em se deixar amar, concordou com tudo isso? Você é um psicólogo devia... - Niko se interrompeu quando um pensamento atravessou sua cabeça - Boston?! Por que você o levou para tão longe? Estava tentando afasta-lo de nos...

– Niko não! - Renan também se pôs de pé - Escutar, por favor! As chances do Félix sair da mesa de cirurgia com vida eram mínimas, todos os prognósticos estavam contra ele... E no primeiro momento achamos que ele tinha perdido a batalha.

– O que quer dizer?

– Ele ficou em coma...

– Coma?! - Niko murmurou e voltou a sentar.

– Durante um mês. Por um mês eu pensei em contar a verdade a vocês, mas eu tinha prometido... eu sentia que era tarde demais, que voltar atrás apenas traria mais sofrimento. André, o médico que operou o Félix estava indo para Boston, para um dos melhores hospitais do mundo, eles têm uma pesquisar de ponta em casos como o de Félix. Ele teria o melhor tratamento e poderia acordar do coma.

– Como um milagre, dias após ele chegar. Ele acordou. Eu queria ter ido imediatamente, mas não pude. Fui duas semanas depois, ele estava frágil. Todos os seus movimentos foram afetados, ele tinha dificuldade até para segurar uma colher.

Renan encontrou os olhos de Niko, mas ele não o enxergava, nesse momento ele só conseguia ver o que medico descrevia.

– Quando eu o reencontrei, um estrago estava feito. Félix tinha escrito uma carta antes da operação, eu não sabia o que tinha nela, mas ele me fez prometer que se caso saísse com vida da operação eu entregaria a ele, André levou a carta, e uma enfermeira leu para ele.

– O que dizia essa carta? - Niko murmurou as lágrimas rolando por seu rosto.

– Félix nunca me deixou ler - Renan disse com um suspiro cansado - quando tentei conversar sobre ela, ele desconversou... eu não insistir...

– Então você resolveu que o melhor seria deixa-lo acreditar que ninguém o amava.

– Não! Eu tentei contar, mas sempre que tentávamos força as memorias dele, por algum motivo que não sabemos Félix não reagia muito bem, ele tinha fortes dores de cabeça. O psicólogo que estava cuidado dele me aconselhou a não o pressionar, que deixássemos Félix se recuperar, só que cada dia que se passava contar a verdade ficava mais difícil.

Renan parou e fixou seus olhos em um canto da parede, Niko podia ver que ele estava tentando encontrar as melhores palavras para se expressar.

– Não teve um dia que eu não me culpasse, ou arranjasse desculpas para as minhas escolhas, tentei me convencer que traze-lo de voltar ao Brasil, onde haviam tantas lembranças ruins, apenas dificultaria mais o tratamento dele. Naquele momento eu era responsável por ele, me perguntei mil vezes o que teria acontecido se eu tivesse ligado para você, para o Jonathan ou Paloma. Nunca vou ter essa resposta, é pouco, mas tudo que eu fiz foi achando que estava cuidando do meu amigo. O que você planeja agora Niko? Eu não tenho certeza se o Félix está pronto para saber quem ele foi, e tudo que ele fez.

Niko limpou as lágrimas que ainda persistiam em cair, respirou fundo e deixou o ar sair pela boca, seu olhar passeou por toda a sala até para novamente no pendulo.

O que faria agora?


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Notas finais do capítulo

Próximo capitulo vem mais rápido!!

Carol, Rafa, suas maravilhosas! Como vocês conseguem serem tão incríveis assim? Sou fã de vocês lindas. Bjos e mais bjos adoro vocês duas!!!