27 – Pequenas revelações

A sopa feita por Wanda estava bem quente, o que ajudara a Aiolia espantar o frio deixado pela chuva. Nico, o irmãozinho da garota, ainda estava todo encantado e feliz de conhecer o loiro e não escondia os olhinhos brilhantes.

—Então o irmãozão tem um irmão?

—Sim, um irmão mais velho. Ele se chama Aiolos.

Sim, havia algo em Wanda que a incomodava desde que conhecera o Tavoros mais velho por um acaso. Ele tinha o mesmo nome do herói do Santuário dos tempos em que seu pai fora um cavaleiro e fugiu na diáspora. Mas devia ser só coincidência.

—Ah igual ao herói das histórias do papai! – exclamou Nico de forma inocente. Mas a tensão que o comentário deixou na bruxa não passou despercebido pelo leonino.

—Oh, existe alguma lenda grega de algum herói chamado Aiolos?

—Sim! Que ele salv...

—Nico! – ela interrompeu o irmão. – Se ficar fofocando sua sopa vai esfriar.

O pequeno garoto fez bico, mas acatou a ordem. Wanda estava tensa e apenas quando achava que Aiolia demonstrava uma mera confusão que ela relaxou. Mas na verdade ele apenas emulava uma confusão.

Aqueles minutos na casa da garota lhe haviam acendido um alerta. Sim, Wanda tinha algum elo com o Santuário. Ele se lembrou do fato de muitos cavaleiros terem fugido quando seu irmão foi tratado como traidor e nem todos foram localizados após sua morte pela deusa Atena, que queria de algum modo recompensar.

Nico apenas dividia os cabelos negros da irmã, mas seus olhos eram castanhos. Ele de algum modo lembrava um dos cavaleiros que fugira naquele tempo.

Árion de Escudo.

Ele nunca mais vira aquele homem e o julgou como traidor a época. Mas lembrava vagamente dele ser incrédulo quanto a Aiolos ter sido um traidor.

O leonino comia tranquilamente e estava de fato apreciando o prato, Wanda cozinhava bem.

—Seus pais trabalham longe?

Ele decidiu quebrar o silêncio. Wanda até se assustou por alguns segundos.

—Não, são falecidos. Vivemos das economias e dos meus bicos.

Ele pensou no próprio irmão que assumira a ele quando perdeu o pai e a mãe. Suspirou pensativo.

—Meus pêsames... e... Minhas desculpas por julgá-la mal.

A garota ficou surpresa de ouvir aquilo vindo do loiro.

—Tudo bem, eu também não fui exatamente educada com você.

Nico os olhava, silenciosamente torcendo que aquilo fosse uma fagulha de esperança que os dois ficassem juntos.

O jantar terminara e Aiolia fez questão de ajudar a morena com a louça enquanto o pequeno Nico estava vendo televisão. Ele passara o resto do momento antes da limpeza ponderando perguntar sobre suas dúvidas.

—Parece pensativo, Tavoros-san.

—Por acaso seu pai se chamava Árion?

Ele decidira falar de vez, não dando espaço para Wanda fazer rodeios. Aquilo funcionou pois a pegara de guarda baixa. Ela congelou onde estava.

Aiolia era DE FATO alguém do Santuário. E ela passou a tremer.

—Não, não vou fazer nenhum mal. – ele a olhou com serenidade. – Eu admirava Árion...

—Mas... c-como...? Isso seria imp...

—Vamos terminar aqui e conversar? Eu juro por Atena, eu nada farei de errado e nem omitirei ou mentirei.

Ele notou que ela tremia ainda. Estendeu sua mão, a oferecendo e deixando que ela sentisse seu cosmo que tinha ocultado até então. Wanda notara pelo suave brilho que aquele garoto não era qualquer um. Era um jovem de nível dourado.

Terminaram os afazeres e se sentaram a mesa novamente. Aiolia explicou tudo o que houve durante os anos após a diáspora, as guerras que houveram e que Atena retomara o controle do Santuário e após a última guerra santa, buscou pelos desertores para pedir desculpas e que alguns ela nunca encontrara.

—Não... Atena nunca encontrou meus pais...

—Imaginei, senão não estaria passando por dificuldades.

—Mas eu não posso aceitar tal ajuda... Eu estaria traindo a memória do meu pai...

—Wanda, é um direito seu e do Nico. Não estou duvidando da capacidade de vocês mas por favor, aceite minha ajuda e de Atena. Atena está aqui, podemos ir lá.

Wanda ponderou. Conversar não seria o mesmo que aceitar, certo? Assentiu com a cabeça.

—Mas seu cosmo... O brilho dele é dourado... Quem é você? De verdade, quem é você?

—Aiolia de Leão, cavaleiro de ouro da quinta casa. Meu irmão é Aiolos de Sagitário.

—Mas ao que meu pai falava, Aiolos de Sagitário faleceu. E mesmo que tivesse sido um sobrevivente, Aiolos deveria ser um homem de meia idade.

—Bem, seu pai não mentiu. Eu e meu irmão de fato falecemos. Ele aos 14 anos e eu aos 20.

Ela ficara chocada. Aiolia, a sua frente, não era um adolescente?

—Foi a senhora Perséfone quem nos trouxe em corpos juvenis há cerca de 1 ano e meio. Atena negociou nosso retorno por 25 anos. Ela desejava que vivêssemos novas vidas, como garotos comuns. Que estudássemos, trabalhássemos e formássemos famílias.

—Então seu irmão... é o herói que meu pai falava...?

Aiolia deu um sorriso carinhoso.

—Sim. Meu irmão se sacrificou salvando Atena. O mesmo que te ajudou outro dia, o mesmo que agora está em algum lugar nessa cidade esperando a Smith-san acordar e lhe dar uma resposta de confissão.

Wanda tampou a boca surpresa, exclamando. Então de fato os dois se gostavam.

—Espero que fiquem juntos. Depois de tudo o que aconteceu...!

—Eu também.

—E você e a diretora...?

Aiolia ficou surpreso dessa vez.

—Bem... minha mãe era bruxa e... eu tenho habilidade de sentir os sentimentos, ver aura e cura básica... aprendi com ela... Não tive a intenção de ser invasiva.

—Não... tudo bem. E sim, Marin e eu éramos amigos de infância e treinamento. Nos gostávamos, mas minha morte impediu qualquer chance de ficarmos juntos. E eu fui rejeitado recentemente quando nos revemos.

A morena imagina o por que, afinal, foram 25 anos que se passaram. Ao menos agora entendia o por que daquilo tudo que sentia vindo dele.

—A chuva passou.

—Sim.

Aiolia se levantou e novamente ofereceu sua mão.

—Poderia confiar em mim e vir comigo, Silveira-san? Pode levar o Nico também, acho que ele ficará feliz de saber que poderá conhecer o herói das histórias do seu pai.

Ela aceitou e foram para a sala. Wanda abraçou o irmão que nada entendera. Aiolia se ajoelhou ficando na altura do pequeno garoto.

—Nico, quer passear conosco?

—Aonde vamos?

—Conhecer meus amigos. A gente tem algumas coisas para ajudar você e sua irmã.

—A mana não vai precisar trabalhar e estudar tanto? – ele viu o loiro assentir.

—E também vai poder conhecer o seu herói. Ele voltou a vida sabia?

—O irmãozão é um cavaleiro?! Uau! O que você consegue fazer?!

—Nico, calma. Vamos ter muito tempo agora para conversar e conhecer isso.

Aiolia riu e afagou a cabeça do garotinho que estava todo encantado. Mas ele ficou surpreso de receber um abraço apertado do moreninho.

—Uau, o irmãozão é um herói também! Como o papai!

O leonino retribuiu o gesto e o segurando no colo deixando Wanda sem jeito por considerar que o irmão estava sendo indecoroso com o grego.

—Não se preocupe. Seu irmão é levinho. E eu gosto de crianças.

—Podemos ir...

E saíram os três, com o menor no colo de Aiolia e Wanda andando junto dele.

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Morgana enfim abrira os olhos e ao seu lado estava Yomi.

—Mama...?

—Como está? Se sente cansada?

—Não... Mas... tive um sonho bom... Que o menino que eu gosto tinha se declarado pra mim...

A mulher deu um longo suspiro. Recebera a informação que Morgana voltara desmaiada e nos braços do jovem Aiolos Tavoros e junto do mesmo veio o rapaz que mexia com seu coração maternal, Milo Galanós.

Viera correndo e fora informada por sua enteada, Afrodite, de que Aiolos se declarara e das intenções de Amélia sobre aquele rapaz.

“O que Morgana responder a ele poderá significar a resposta que procura, Takagi” fora basicamente a ordem que recebera: aguardar a escolha de Morgana.

—Aiolos Tavoros realmente se declarou a você, meu bebê... Não foi um sonho.

Morgana sentou de sobressalto, vermelha. Olhando para a mais velha confusa.

—E ele e o menino Milo estão aqui no quartel, esperando por você.

—C-Como...?

—Brian e Saori Kido acordaram assim. Eu não sei ao certo o que aconteceu, mas parece que ele até nocauteou alguns dos nossos para poder te proteger.

Sim, fora assim seu “sonho”. Então aquilo não foi sonho e sim real. Aiolos a amava...

—Onde eles estão?

—Na sala da Afrodite.

Morgana saiu como um foguete e nem parecia que estava apaga momentos antes.

—Morgana!

Yomi a chamou em vão. Mas foi atrás da filha a vendo entrar na sala da afilhada. A atitude da garota, envergonhada e ofegante pegou de surpresa os 3 dentro da sala. Aiolos se levantou de imediato e os dois se encaravam.

Afrodite discretamente fez sinal para Milo e ambos os loiros saíram da sala, encontrando do lado de fora uma preocupada Yomi.

—Afrodite, a Morgana...

—Se ela entrou toda esbaforida como entrou eu acho que ela estará bem o suficiente para fazer o que precisa fazer, Yomi.

A morena olhou para o outro rapaz, que parecia relaxado e tranquilo.

—Desculpa aê. – Milo coçava a nuca. – Fomos um pouco insistentes demais. – ele olhou Afrodite como que se perguntando se a morena sabia deles. A viu fazer um “não”.

—Tudo bem. – Yomi respondeu, segurando um forte desejo de abraçar aquele menino. – Morgana é bastante apegada a você, eu sei o quanto vocês se importam um com o outro.

—Usamomo é a irmã que não tive. – Milo sorriu tão espontâneo que não teve como Yomi não se sentir cativada. – Eu ficaria muito triste se a perdesse...

Enquanto isso, lá dentro da sala, Aiolos e Morgana ainda se encaravam, seus corações acelerados e os rostos corados. Com alguma dificuldade, o sagitariano quebrou o gelo.

—Sua febre...?

—Ah... bem... Passou... estou bem... acho...

Um novo silêncio.

O garoto então criou coragem e se aproximou, tocando a testa dela com delicadeza.

—Tudo bem se quiser descansar...

—Oh não... Estou bem... – Morgana se calou um pouco e respirou fundo. – Então o que ouvi não foi sonho ou delírio...?

—Não... Não foi... – Aiolos então passou a fazer carinho. – Eu realmente estou apaixonado por você.

—Ah... – ela se encolheu tímida. – Então... eu não estou maluca nem nada... Eu realmente ouvi Tavoros-kun dizer que gosta de mim...

—Eu tive... medo de te perder de vez.

Morgana o olhou. Ele realmente parecia a olhar como se fosse aquilo de mais precioso. Era assim que se sentia também, que nunca mais pudesse vê-lo.

Ela tomou coragem e tocou o rosto dele.

—Então... eu vou tentar de tudo para não ir embora... Então não precisa brigar com ninguém por mim.

Ela arregalou os olhos azuis, surpreso com o gesto e as palavras da garota.

—Então você...?

—Sim... eu também gosto muito do Tavoros-kun...! E eu quero ficar com você aqui, não quero ir embora...!

Aiolos se sentiu tão feliz que tudo que conseguiu fazer foi abraça-la com força, mas cuidadosamente. Sentiu os braços delicados dela retribuírem e se segurarem nele como se tudo dependesse disso.

Claro, do lado de fora o trio estava atento, em especial Milo que podia sentir por cosmo. Ele deu um sorriso malandro.

—Ahá! E tava certo!

—Então a Momo respondeu?

—Afirmativo. – riu o loiro. E de forma positiva. Ganhou um cunhado bonitão, Afrodite.

Yomi então entendeu algo. Aquele garoto não era de fato comum, ele era como ela. De impulso ela segurou o rosto dele com carinho, mas certa severidade, e os dois se encararam.

—Cosmo...? Esse é o segredo de vocês?

Milo deixou o sorriso ir, surpreso com o que ouvia. Yomi repassava tudo em sua mente, dos poucos dados, da tranquilidade de Amélia e até mesmo o acidente do ginásio. E por fim aquele contato ao segurar o rosto do rapaz.

—Vocês são... cavaleiros de Atena...