Sétima Lua escrita por Pamela S


Capítulo 9
A Morte Manda Lembranças


Notas iniciais do capítulo

Estou tão feliz de estar com vocês de novo, pessoinhas que não conheço, mas moram no meu coração.
Capítulo novo, a história está passando por uma transição nessa fase, espero que gostem, eu pelo menos estou amando escrever!
Beijos e divirtam-se!



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—Pelos deuses Rafael! Nem ao menos se embainhou na carne dela e já se comporta como um tolo enfeitiçado...! —exclamou indignado o curandeiro, estavam parados próximos á entrada principal de Gaterion, a lua estava alta no céu sem nuvens, haviam galopado do entardecer até a alta madrugada, se tudo corresse como o planejado eles estariam embarcando rumo á Cítara muito antes do amanhecer.

Tinham apeado dos cavalos por um instante para acertarem detalhes do que seria feito antes de passarem pelos portões da cidade, mas o que deveria ser apenas uma pausa instantânea para que Elina aliviasse seu corpo da árdua cavalgada por um momento e para que Rafe explicasse seu plano para o curandeiro e os dois guerreiros se tornou uma exasperante discussão.

Mednamas não estava nem um pouco feliz com os rumos da situação, desde o instante em que seus olhos pousaram em Elina ela soube que não seria nada fácil convencer aquele homem de que estava arrependida pela fuga. Ele não parecia disposto á facilitar a vida da feiticeira.

—Sou o futuro soberano da Licânia e não o menino de quem você cuidou quando criança. Por favor, Élligor, respeite minhas decisões assim como respeita as do meu pai. —Enquanto o príncipe falava, mesmo que sua voz soasse um pouco distante, Elina pode ouvir respeito em seu tom, mas também firmeza. Rafe não cederia ao curandeiro, por mais que seu apresso por aquele lobisomem fosse notável.

—Não aceitarei suas ordens enquanto não voltar á agir com razão. Ela é ardilosa como uma serpente e está envenenando-o com suas mentiras.

—Vi com meus próprios olhos o horror que nos espera por terra, e não podemos viajar pelo ar, á menos que tenha ideia melhor, a princesa está certa, se viajarmos pela agua os berserks não irão conseguir nos rastrear. Pense Élligor, não é um mau plano.

—Não devemos nos separar Rafael. Sua segurança é tão importante quanto a da princesa. Lembre-se de que você não é um guerreiro qualquer.

—Estaremos logo atrás de vocês, minutos de distância. Leve-os consigo—ele apontou para os dois guerreiros próximos á Elina, que fingiam não ouvir a conversa. —reviste o porto, e certifique-se de que é seguro. Logo que encontrarmos o capitão nos reuniremos á vocês.

—Ela é apenas uma menina Rafael, se um plano secundário de fuga teria de ser traçado caberia á você o fazer, e não á ela... —o curandeiro estava relutante, mas suas palavras desafiadoras soaram mais flexíveis, e o velho lobisomem logo se deu por vencido, entregando ao príncipe um frasco com o contraveneno que Elina havia roubado de sua bolsa de couro em sua penúltima visão e outro frasco contendo um liquido escuro.

—Mas o que...?

—Se houverem berserks no seu caminho suas armas certamente serão de prata se estiverem usando alguma. —comentou apontando para o antídoto.

—E o outro frasco? —Indagou Rafe analisando o liquido esverdeado que transparecia pelo frasco de vidro.

—Sumo de dormideira selvagem. —Rafe fez uma careta, mas antes que pudesse retrucar o curandeiro falou novamente. —Talvez essa não seja a forma com que se imaginou derrubando um berserk, mas creia Rafael, é uma das mais eficientes. Derrube algumas gotas sobre a lâmina de sua espada e então corte a pele. A fúria irá se dissipar e você não terá nada além de um mortal sonolento em suas mãos.

—Espero de coração não ter que usar nenhum destes frascos esta noite, de toda forma, obrigado pelo presente. —Rafe sorriu e tocou no ombro de Mednamas antes de dirigir-se para onde Elina e os dois guerreiros estavam. —Venha. Nosso tempo é curto. —ele disse montando em seu cavalo e estendendo a mão para que a feiticeira fizesse o mesmo.

“Mais curto do que você imagina, meu senhor...” divagou a princesa mentalmente, ao contrario do que Zéfiro havia lhe dito em sua visão, os deuses estavam sim á seu favor. Ela nem ao menos precisou pedir pelo antidoto, Mednamas o entregou prontamente ao príncipe, Elina tinha certeza de que quando chegasse o momento conseguiria convencê-lo á salvar a vida de Petros. Agora era apenas questão de instantes...

Adentraram a cidade minutos depois, Mednamas e os guerreiros seguiram para o porto, enquanto Elina indicava o caminho pelas ruas de terra até estarem entre a estalagem e o lupanar.

—Estamos no lugar errado. —Comentou o príncipe apontando para a estalagem. —A entrada fica pelo outro lado.

—Não vamos para a estalagem. —explicou a feiticeira ameaçando apear, mas foi parada quando as mãos do príncipe barraram-na pela cintura.

—Se não vamos para a estalagem, então vamos para... Não... Você não poderia saber que o Capitão passa suas noites aqui á menos que... —ele enfatizou apontando para o prostíbulo de forma horrorizada.

—Sim, passei a ultima noite aqui. Por que acha que escolhi este lugar? —ela indagou tentando retirar a mão dele de sua cintura, mas foi em vão, os dedos de Rafe pareciam travados e seus olhos mantinham-se fixos sobre as janelas iluminadas por velas e tochas espalhadas por toda a parte. —Era o ultimo lugar onde me procurariam, eu estive mais segura aqui do que em qualquer outro lugar.

—Se meu pai souber que além de fugir do casamento você se instalou em um lupanar ele cancela nosso casamento antes mesmo que sua tia possa protestar... —comentou o lobisomem em tom distraído.

—Precisamos entrar lá, estamos perdendo tempo. —comentou a feiticeira impaciente, a mão que segurava sua cintura era forte e determinada á não deixa-la se mover.

—Deixe-me fazer isto sozinho, irei procurar o capitão no prostíbulo e você me espera sobre o cavalo, assim não perderemos tempo e sua honra estará mais segura. —ele propôs depois de um instante. —Se houver alguma armadilha preparada é mais seguro que se mantenha afastada. E se for preciso, por favor, não hesite em fugir.

—Eu... Meu senhor...Eu não lhe disse toda a verdade... —sussurrou a feiticeira tentando soar culpada quando na verdade estava apenas aflita pelo que poderia acontecer á Petros.

—Se tem algo mais á dizer é melhor que se apresse, não podemos ficar muito tempo parados aqui, sua vida corre perigo.

—Há um lobo desgarrado em um quarto no segundo andar. Ele me protegeu durante as ultimas semanas.

—E por qual motivo o seu protetor falhou em sua missão no dia de hoje? —Rafe sentiu seu coração acelerar em expectativa, sabia que ela viajara acompanhada até a cidade dos rejeitados, mas não esperava que ela lhe contasse isso caso pudesse esconder...

—Ele foi ferido na noite passada. Por uma lâmina de prata. Sem o antídoto que carrega consigo neste momento ele irá morrer. —ela explicou olhando-o com aqueles olhos grandes e brilhantes.

—Então foi por isso que você foi até o acampamento... —ele deduziu com desgosto. —Não se arrependeu por ter fugido, você apenas queria salvar o tal lobisomem.

—Não... Não! —protestou Elina com toda sua fraca veemência—Eu estava arrependida. Duas semanas após minha partida eu já havia me arrependido, mas então não havia nada que eu pudesse fazer para reparar meu erro além de continuar fugindo até que surgisse a oportunidade de contatar alguém que pudesse me resgatar.

—Não minta para mim. — pediu o príncipe, concentrando-se nos batimentos acelerados do coração dela e no peito que arfava contra a camisa suja de sangue e com o fétido odor da morte que ela havia emprestado do vampiro. Realmente aquela não era uma princesa comum, e havia muita coisa que ela teria de explicar quando a oportunidade se apresentasse...

—Não estou mentindo. Por favor, me dê um voto de confiança. —ela implorou sentindo os olhos marejados. —Salve Petros. Como presente de casamento.

—Sabe que não devo nada á você, não é mesmo? —ele indagou desviando os olhos dos dela, ela parecia tão inocente, tão verdadeira que ele temia que Élligor estivesse certo.

—Se salvar a vida de Petros então quem estará devendo algo á você serei eu. —Elina notou que suas palavras foram entendidas com exatidão demais quando os olhos do príncipe voltaram á encarar os seus. —Muitas pessoas já morreram por mim, meu pai, as pessoas alegres que me acolheram na vila andarilha, e sem sua ajuda o amigo fiel que me protegeu por todo este tempo sem cobrar nada em troca também morrerá.

“Por Ares... Espero mesmo que Ele não tenha cobrado nada em troca de sua proteção, feiticeira...” Rafe pensou nas palavras de Elina por um instante, Élligor poderia ter razão, aquela feiticeira poderia mesmo ser perigosa com sua beleza e ardil, ou então aqueles lindos olhos castanhos poderiam estar falando a verdade. Ele não queria acreditar em Élligor então resolveu dar á princesa um voto de confiança.

—Vamos. Seu amigo desgarrado tem pouco tempo se quiser usar o antidoto para salvá-lo. —ele disse em um suspiro, logo após apear do cavalo e estender as mãos para a cintura de Elina novamente, ajudando-a á fazer o mesmo.

Ele limpou uma lágrima que escorria pelo rosto dela e então puxou o capuz de sua capa para ocultar-lhe o rosto, ela amarrou a capa em um laço mais apertado e então sorriu. Rafe sentiu-se realmente um tolo enfeitiçado, mas ao inferno Mednamas e suas considerações, ela era linda, doce e seria toda dele dentro de algumas luas...

—Como assim ele não está aqui? —indagou uma Elina exasperada enquanto pressionava a prostituta grisalha á um canto entra a escada e o corredor do segundo andar, por onde era possível ver a porta escancarada do quarto onde ela deixara Petros na manhã anterior.

Por mais alto que falasse suas exclamações eram abafadas pelos gritos dos bêbados e pela canção que alguns marinheiros entoavam á plenos pulmões. —Ele estava muito mal, não pode ter saído deste quarto sozinho!

—Ele não saiu sozinho, meu rapazinho bonito... —comentou a prostituta tocando o rosto de Elina em uma caricia desajeitada, confundida pelo feitiço renovado que a outra havia lançado sobre ela na noite anterior.

—Com quem ele saiu? Diga-me mulher! A vida dele depende de suas palavras. —implorou a feiticeira sacudindo-a de forma rude e claramente desesperada.

—Foi o seu outro amigo que o levou, meu menino. Aquele poço de luxúria com pele de alabastro e toque gelado como as mãos de um cadáver. —a prostituta grisalha devaneou, sussurrando as palavras de modo trôpego, claramente embriagada.

—A porta do quarto estava enfeitiçada! Como meu outro AMIGO pode ter entrado por ela? —Elina segurava o rosto da mulher. Tentando fazê-la manter a concentração. Rafe apenas analisava seu desespero, esperando que ela fizesse suas perguntas, mesmo que parecesse improvável que aquela mulher lhe desse uma resposta concisa.

—Eu não sei. Ele e o outro rapaz apenas abriram a porta e entraram. Acho que o outro rapaz falou alguma coisa, mas eu não entendi o que ele disse. Ele também era muito bonito, tem que trazer seus amigos mais vezes, nenhum cidadão de Gaterion tem tanta...

—Como ele era? O homem que acompanhava meu amigo com pele de alabastro? —Elina interrompeu a meretriz com uma nova sacudidela.

—Alto... Magro demais para um guerreiro... Cabelos negros e pele tão clara quanto a do seu amigo de alabastro. Eles não saíram pela porta. Ou se saíram, eu não vi. Mas seu amigo já parecia morto se isso o consola, meu rapaz. Se não estava morto naquele momento, já deve estar agora.

—Não acredito nisso... Você está mentindo. Quem pagou você?

—Você me pagou. Não se lembra? Deu-me como presente para seu amigo pálido pela noite de ontem.

—Elever sues sodgerges! —recitou a feiticeira olhando nos olhos da prostituta antes de tocá-la. E então ela viu toda a cena, tão nítida quanto se estivesse lá...

Realmente aquela era uma criatura notável, incrivelmente alto, pálido como a morte, com olhos escuros e profundos e cabelos negros ele mais parecia a personificação de algo potencialmente perigoso.

Ele não olhava nem para as prostitutas nem para os homens, apenas andava por entre eles sem se importar com o que acontecia á sua volta, Elina sabia que ele não poderia vê-la, mas sentiu um arrepio quando os olhos dele pousaram sobre ela.

—Não, eu não deveria poder vê-la... —ele comentou subindo as escadas calmamente, aproximando-se da feiticeira. —Mas não sou um mago de truques baratos, muito menos um feiticeiro com poderes limitados.

—Quem é você? O que fez com Petros? —ela indagou ignorando o arrepio que subiu por sua coluna, um aviso de que algo estava muito errado.

—Eu sabia que não poderia me reconhecer, mesmo assim sua ignorância me machuca. Afinal... A feiticeira magnífica presa em seu corpo tem grande apresso por mim.

—Ela está morta e é assim que deve continuar.

—Arrogante, sinto o seu medo, mas sua cabeça continua erguida. Digna de aplausos! —ele bateu três longas e pausadas palmas, subindo lentamente mais alguns degraus antes de parar pouco abaixo de onde Elina estava fazendo com que seus olhares se encontrassem.

—Leve seus aplausos para o inferno e diga-me agora o que fez com Petros, ou eu juro... —seu assomo de ira foi interrompido por uma mão fria e incrivelmente forte que a segurou pela garganta, trazendo-a para perto do rosto dele.

—Não jogue promessas ao vento, jovem princesa. Talvez alguém exija que as cumpra.

—Diga-me... Onde ele está!

—Quando a sua gente matou o corpo e escravizou a alma da mulher que amo e então esconderam todas as pistas por décadas, deixando-me sem saber como salvá-la, sem uma única chance de tê-la de volta, sem encontrar conforto nem mesmo na morte, eu sofri mais do que você possa imaginar. Agora sofra você feiticeira, pague com a sua dor um pouco da minha. —ele sussurrou contra a orelha dela, seus lábios gélidos roçando-lhe contra o pescoço, causando repulsa.

—Por todos os Deuses... Eu prometo que arrumarei uma forma de acabar com minha vida antes que você tenha Elíria de volta.

—Palavras vazias quando saídas da boca de uma criatura imortal... —ele debochou antes de larga-la. —Olhe para ele uma ultima vez. —incentivou-a apontando para a porta escancarada do quarto, Petros estava sobre a cama como quando ela partira, adormecido, ou então...

—Petros! —ela gritou tropeçando na barra da capa marrom enquanto corria na direção de seu amado.

— Grave na memória cada uma de suas feições, porque depois de hoje, você nunca mais verá seu amado Petros. —ele declarou fazendo com que a porta se fechasse com um movimento de mão. Elina á alcançou e á abriu com um feitiço falado, mas não havia nada no quarto. —Nos veremos novamente em breve...

E então ela estava novamente na presença de Rafe e da meretriz grisalha. Não conseguiu conter suas lágrimas e teria caído se Rafe não a tivesse segurado pela cintura antes que atingisse o chão.

—Você está bem? —perguntou o príncipe com olhar preocupado. —Conseguiu descobrir algo sobre seu amigo?

—Morto... —ela sussurrou após um instante.

—Sinto muito. —ele retrucou amparando-a para que se firmasse de pé. —Há algo que eu possa...

Ela balançou a cabeça negativamente, tudo o que queria era partir, o mais rápido possível, para longe de Gaterion, para um lugar onde as lembranças de Petros seriam suprimidas pela triste realidade que á esperava...

Um casamento infeliz, nunca ter realmente uma família, viver trancada sob as muralhas de um castelo... Seu coração estava destroçado.

Quando seu pai morreu uma parte de si se foi com ele, agora que Petros também havia partido ele havia levado consigo a outra parte...


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Notas finais do capítulo

Gostaram?
Se puderem comentem pra eu saber a opinião de vocês.
Se não puderem tudo bem, obrigadíssima por terem lido!
Até semana que vem pessoal.