Sétima Lua escrita por Pamela S


Capítulo 4
Os Deveres de Uma Labelle


Notas iniciais do capítulo

Pessoas Lindas que leem meus textos, tenho duas noticias.

Primeira: Estou sem internet, por isso fica um pouquinho difícil manter a regularidade nas postagens.

Segunda: Eu sou meio que agente ''000'' e faço loucuras por vocês que amam a saga da Elina tanto quanto eu.

Pretendo postar o máximo possível, se demorar pra responder comentarios me perdoem, é falta de internet não de interesse.

Amo vocês e boa leitura.



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—Já se passaram três semanas desde a fuga de Elina... Cada passo que ela dá para longe de Antera é um passo mais perto da nossa ruína. —comentou Séfora recusando a xícara de chá que Pandora lhe estendia.

—Tenha fé minha irmã. Elina vai ficar bem. —incentivou Pandora, bebendo em seguida um gole do chá calmante que Séfora havia rejeitado no intuito de apaziguar a tempestade de emoções que tomara conta de seu peito nas ultimas semanas.

—Elina nunca esteve fora de seus aposentos sem ter companhia. Ela tem poderes que nem mesmo nós teríamos capacidade para controlar. É provável que esteja perdida e nós sabemos que ela não sabe como se defender. Se os seguidores de Elíria á encontrarem antes de nós...

Séfora não precisou concluir sua frase, Pandora sabia o que ela queria dizer. Sentia tanto medo por Elina quanto sabia que a irmã sentia, mesmo que a outra não demonstrasse.

Ainda pensava no que responder quando Khalid adentrou as portas duplas dos aposentos reais, ele trazia um amontoado de tecido azul nas mãos e seu olhar não era nada animador, Pandora desviou os olhos quando ele á encarou, concentrou-se nas pequenas ondulações que seus dedos trêmulos provocavam no chá fumegante em sua xícara.

—Tem noticias de Elina? —inquiriu a Soberana de Antera virando-se parar encarar o berserk.

—Uma caravana nômade foi atacada por mercenários nos arredores de Zurkar. Elina estava com eles.

—Pelos Deuses... —exclamou Pandora apertando a xícara involuntariamente.

—Zéfiro? —questionou Séfora, seu sangue pareceu congelar nas veias quando Khalid acenou afirmativamente. —Elina foi capturada? —ela mantinha em sua expressão uma tranquilidade que não possuía. Seus dedos não tremeram ao segurar o medalhão em seu peito, mas ela sentiu que o coração estava acelerado e cada batida doía mais do que a anterior.

Khalid negou e depois estendeu para a feiticeira o amontoado de tecido que trazia consigo.

—Encontramos isto flutuando nas águas do rio das lágrimas, perto de Signon.

Séfora desdobrou-o e então pode reconhecer um dos vestidos de Elina, estava úmido e tinha muitas manchas escuras.

—Eu dei este vestido á Elina. —disse Pandora aproximando-se da irmã e tocando o tecido com carinho. —Isto é...

—Sangue. —concluiu a outra devolvendo o vestido á Khalid. Pandora deixou cair sua xícara com um estrondo e tombou sobre uma poltrona, sem conseguir controlar suas lágrimas.

— Não há nenhum rastro dela em direção á Signon além de seu cheiro no vestido seguindo rio abaixo. —comentou Khalid ante o silêncio das feiticeiras. —Elina deve ter jogado o vestido no rio e seguido na direção contraria. Os mercenários seguiram o rastro falso até Signon, como nós fizemos. Depois mudaram de direção... O sangue no vestido não é de Elina, Majestade.

Séfora encarou-o com o cenho franzido. Se o sangue não era de Elina, então de quem era?

—É sangue de lobisomem. —esclareceu Khalid como se pudesse ler seus pensamentos.

—Acha que podem ser Acadianos? — questionou Séfora após alguns instantes em silencio.

—Não saberia dizer. —disse o berserk, dando passagem quando a Soberana atravessou o aposento.

—Dobre o número de guerreiros, expanda o território em que Elina está sendo procurada, vá ao fim do mundo, mas encontre-a Khalid.

—Não temos guerreiros nem recursos o suficiente. Os homens de Zéfiro são numerosos. Caso aconteça um confronto não há possibilidade de vencermos. —ponderou o guerreiro. Séfora assentiu e depois andou até Pandora, que ainda chorava.

—Chorar não irá nos ajudar em nada, irmã. —ela tocou o ombro de Pandora em sinal de apoio, algo muito raro de sua parte. —Diga á Larten que prepare o coche.

—Coche? —indagou Pandora levantando-se e limpando as lágrimas.

—Irei á Licânia. —respondeu simplesmente.

—Não vai encontrar aliados dentre os lobisomens depois do que Elina fez. —objetou Pandora.

—Se Elíria retornar ao poder o primeiro reino que atacará depois de Antera é a Licânia. Se não nos ajudar agora, Declan perderá tudo depois.

—Sabe que nada é tão simples quando Declan está envolvido. Ele não é do tipo que esquece o passado...

—Que ele enterre o passado se for preciso. O momento presente é quem exige atenção... Creia quando digo que tudo vai dar certo, a aventura de Elina logo terá fim. —disse Séfora tentando consolar a irmã, depois se virou para Khalid. —Reúna seus homens e voltem á procura-la. —falou para o berserk.

—Avise Larten de que partiremos ainda hoje. —ela pediu á irmã e então e retirou, deixando Pandora á sós com Khalid.

Pandora limpou uma lágrima e então se abaixou para recolher os cacos da porcelana sobre a tapeçaria, Khalid fez o mesmo.

—Elina logo estará em Antera, protegida. —ele comentou sem olhá-la, estar tão perto já era difícil, olhar em seus olhos escuros, sentindo o calor e o cheiro doce que ela exalava, era pedir demais...

—Será mesmo, Khalid? —ela questionou levantando-se e depositando os cacos na bandeja. —Elina estará protegida ou condenada? Séfora está fazendo com ela o mesmo que nosso pai fez conosco. Nenhuma escolha, nenhuma paixão. Apenas o dever de uma Labelle para com Antera.

—Não daria certo de outra maneira... —ele respondeu, colocando os pedados de porcelana que recolhera junto aos outros.

—E deu certo assim? —indagou Pandora alterando minimamente seu tom de voz, mas o suficiente para que ele soubesse o quanto ela estava abalada. —Não, é claro que não. Entretanto, há muito isso deixou de importar...

Ela virou-se de costas, escondendo as lágrimas que rolavam livres por sua face.

—Se me der licença... —ela indicou a saída, sem virar-se para encará-lo. Khalid despediu-se rapidamente e então partiu.

“Que os deuses estejam á nosso favor, ou nem mesmo um exército de lobisomens será o suficiente para deter Elíria...”. Refletiu Pandora limpando as lágrimas e rezando para que Elina não se arrependesse de suas decisões.




Embora Elina tivesse insistido para que ele á levasse de volta á Vila Andarilha, Petros não atendeu seu pedido. Ele havia dito que provavelmente Zéfiro esperaria que ela voltasse ao acampamento nômade em busca de sobreviventes e que se ela o fizesse estaria condenando á morte os poucos sobreviventes.

Ela queria protestar, seu coração pedia para que retornasse, precisava saber se Renzo estava bem, precisava saber quantos estavam vivos e como iriam viver, já que suas casas haviam sido consumidas pelo fogo... Mas ela sabia que eles não sobreviveriam á um segundo ataque, não poderia coloca-los em risco novamente apenas para aliviar sua culpa.

Petros havia lhe convencido de que o melhor á fazer era seguir viagem até a cidade vizinha, que ficava á menos de meio dia de viajem, e de lá enviarem ajuda ao povo da Vila Andarilha.

Foi o que fizeram, depois partiram, seguindo a direção contraria do rastro que Petros havia improvisado com seu vestido. Em uma semana atravessaram Gazer-Lock, Riroin, e Axautumn, evitaram as estradas, cavalgando a maior parte do tempo.

—Zéfiro irá seguir o rastro falso por pouco tempo, logo ele tomará a direção contraria, procurando dois pares de pegadas ou mesmo o rastro de um lobisomem. O cavalo não é tão ágil, porém é mais seguro. —Petros explicou quando ela perguntou o motivo de terem que cavalgar entre as arvores.

Ela não protestou quando ele sugeriu que trocasse o vestido por calças, nem que prendesse os cabelos sob um horroroso chapéu cor de musgo. Depois de ter se acostumado com o odor da erva fétida que usava para ocultar seu cheiro qualquer coisa era suportável...

Eles dormiam pouco, comiam pouco e cavalgavam muito. Estavam cada dia mais próximos, embora Elina não tenha tido coragem de contar-lhe a verdade. Ela confiava nele, queria dizer que seu nome não era Alessa, que na verdade era a princesa fugitiva de Antera e que estava prometida á outro.

Mas depois de tudo o que ser Elina havia lhe causado de mau, ela decidiu que com Petros ela seria Alessa, e enquanto estivesse com ele teria toda a felicidade que Elina não poderia ter...

Depois de dez dias viajando chegaram á Gaterion a, a populosa cidade mestiça. Constituída de minorias, aquela era uma das maiores cidades de Ceridian.

Depois que Elíria morreu e seu reino foi devastado, seus súditos buscaram abrigo em Gaterion. Era irônico que fosse aquele lugar á lhe oferecer segurança...

Andaram pelas ruas movimentadas até encontrarem uma estalagem, aquilo algum dia poderia ter sido uma casa nobre, agora o lugar tinha uma aparência medonha. A fachada suja e coberta por trepadeiras exibia uma placa de madeira com as palavras “Palácio de Dionísio” escritas em letras desbotadas. Sua tia Pandora teria uma síncope se soubesse que ela passaria a noite em um lugar como aquele...

Petros á conduziu até o interior e então trocou algumas palavras com o mal-encarado estalajadeiro. O homem olhou para Elina com um olhar trepidante e então entregou as chaves do quarto ao lobisomem.

—O que disse á ele para que me olhasse daquela forma? —ela indagou enquanto subiam as escadas.

—Disse que queria quartos com ligação. —comentou abrindo a porta e acenando para que Elina entrasse primeiro. —Agora ele acha que aprecio a companhia de meninos.

—E o que tem demais você apreciar a companhia de meninos? —Ela perguntou sentando-se na ponta da cama.

—Ele acha que aprecio a companhia de meninos em minha cama, Alessa. —Petros esclareceu levantando uma sobrancelha.

—Pelos céus! —ela exclamou corando.

Ele sorriu e piscou para ela.

—Coma, leia, durma, mas não saia do quarto. —Petros avisou recostando-se contra a parede. —Irei comprar roupas novas e sondar se há noticias sobre Zéfiro por essas paragens.

—Acha que temos motivos para preocuparmo-nos? —indagou a feiticeira retirando o chapéu, deixando seus cabelos caírem em ondas pelos ombros até tocarem sua cintura.

—No momento não, mas preciso estar alerta caso seja necessário traçar uma rota de fuga. —tranquilizou-a o lobisomem após alguns instantes em silêncio, fitando-a.

—Não me olhe assim. Sei que estou um horror. —ela disse penteando os cabelos com os dedos, tentando colocar ordem no caos de cachos escuros e revoltos. —Três dias sem tomar banho, mais de uma semana sem pentear os cabelos, dormindo mal, comendo mal... Eu devo estar...

—Fedida, desgrenhada e cheia de olheiras. —ele interrompeu indo até a cama e puxando-a pelas mãos até que seus corpos estivessem se tocando.

—Isso foi... extremamente rude de sua parte. —ela observou franzindo o cenho, embora fosse alta, sua cabeça batia na altura do queixo dele, fazendo com que tivesse de levantar os olhos para encará-lo.

—Eu sou naturalmente rude. —ele sorriu expondo uma covinha na face esquerda, aquele sorriso seria capaz de matar pessoas de coração fraco. —Seu estado é lastimável. Mesmo assim não consigo pensar em outra coisa que não seja tê-la em meus braços...

Uma batida na porta interrompeu o momento e Elina agradeceu aos céus, pois sabia que não teria forças para resistir sozinha.

—Pedi á uma criada que trouxesse as chaves do quarto de banho. —ela explicou afastando-se.

—Coloque seu chapéu. —ele instruiu afastando-se e passando os dedos sobre a barba por fazer, sua insatisfação era palpável. Elina obedeceu, depois foi até a janela, fingindo analisar a paisagem, que na verdade não passava de uma ruazinha estreita de terra batida com algumas construções amontoadas em torno de um lupanar agitado por musica e gritaria.

Petros abriu a porta, pegou as chaves e assim que a criada se retirou, ele colocou o molho de chaves em seu bolso, depois avisou Elina que retornaria em breve.

—Preciso das chaves para tomar banho. —ela virou-se para encará-lo.

—Não é seguro. Você toma banho quando eu voltar.

Ela teria retrucado, mas ele saiu sem dar-lhe tempo para réplicas. Resignada, foi até a porta e girou a chave duas vezes, depois foi até a porta de ligação entre seu quarto e o de Petros e checou se o quarto dele estava trancado. Após o que acontecera na Vila Andarilha ela não se sentia plenamente segura em lugar algum. Fechou até as janelas, mesmo que estivessem no terceiro andar.

Voltou para seu quarto, deitou-se na cama e passou á ler o livro de alquimia com as anotações de seu pai, ela sorriu e acariciou a caligrafia conhecida. Estava exausta, adormeceu logo em seguida.

Não ouviu o barulho da chave girando na porta, nem os passos dele até a cama. Seu sono, normalmente leve, estava pesado depois de várias noites praticamente insone. Só despertou quando sentiu a cama ondular com o peso do corpo de Petros á seu lado, e depois sentiu o calor dos dedos dele sobre seu rosto, abriu os olhos e deu de cara com o par de olhos mais intensos que já vira na vida.

Sorriu sonolenta ao sentir que ele retirava seu chapéu, e não protestou ao sentir os lábios dele cobrindo os seus. A língua que da primeira vez foi suave, agora era voraz, tornando o beijo intenso. Suas línguas se encaixando de forma desajeitada, mas ele não parecia se importar com sua falta de experiência.

Elina envolveu-o pela cintura e tocou os músculos de suas costas com suavidade, a boca dele desceu por seu pescoço, e então os dedos da mão direita, que tocavam seu cabelo, desceram para frente da camisa, abrindo os primeiros botões. O peso do corpo de Petros sobre o seu era inexplicavelmente agradável, ela se sentia protegida nos braços dele...

Quando os dedos se insinuaram pela abertura da camisa ela segurou-lhe a mão. Ele sorriu e a segurou pela cintura, girando e trazendo-a consigo, fazendo com que Elina ficasse sobre seu colo, sentando-se em seguida, sem afrouxar seu abraço.

—Eu não posso. —ela sussurrou rouca, apoiando a testa contra o queixo bronzeado dele.

—Você ainda é donzela. —concluiu o lobisomem abraçando-a com mais suavidade, acariciando os cabelos que pendiam por suas costas com uma das mãos. —Case comigo e o problema estará resolvido.

Ela soltou-se de seus braços e saiu da cama, muito abalada. Abriu a janela e apoiou-se no parapeito, inspirando profundamente, como se estivesse sem ar.

Petros levantou-se da cama e a abraçou por trás, apoiando seu queixo no alto da cabeça dela. Sem saber o que dizer a feiticeira apenas deixou-se abraçar.

—A ideia de casar com um lobisomem é tão desprezível á ponto de lhe fazer chorar? —ele perguntou calmamente.

—Antes de te conhecer a resposta seria sim. —afirmou tentando manter seu tom de voz tão controlado quando o dele. Ela afastou seu corpo do dele e apoiou-se novamente no parapeito. —Mas agora... Casar com você, lobisomem, seria a melhor coisa que poderia acontecer em minha vida.

—Então case comigo. —ele pediu fazendo com que ela se virasse. —Prometo fazê-la feliz. Você só tem que aceitar Alessa.

—Petros, eu não me chamo Alessa. —ela confessou finalmente. —Não posso me casar contigo porque estou prometida á outro. Assim que encontrar uma forma de voltar para meu reino irei casar com ele, salvando assim o meu povo.

Quando ele tentou se aproximar ela deu dois passos atrás.

—Nunca houve chances de ficarmos juntos. Por favor, me perdoe. —ela pediu antes de entrar no outro quarto e trancar a porta, sabia que ele poderia abri-la facilmente, mas acreditava que ele a respeitaria. Precisava ficar sozinha, precisava chorar.

Acabara de desistir de sua felicidade pelo bem de Antera, como uma verdadeira Labelle...


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Notas finais do capítulo

Gostou? Então se puder deixe seu comentário, eu amo saber o que você, leitor amado, pensa sobre meus textos.
Beijos e até breve!