VII

Rachel acordou sem saber como havia ido parar deitada em sua cama de frente para a loira mais linda do mundo com quem ela sequer havia transado na noite anterior. Se aquilo fazia sentindo? Nem mesmo um pouco. A morena ficou contemplando a face serena de Quinn até que olhos avelãs se encontrassem com os seus depois de um bocejo que a morena classificou como “extremamente fofo”.

— Como você pode ser tão linda de manhã? — Foi a primeira coisa que Quinn disse antes de dar um sorriso sonolento.

— Eu sou? — Diferente de todas as outras vezes, ouvir o elogio da loira realmente deixou Rachel constrangida e fez seu coração acelerar. Ela nem tinha feito seu ritual matinal ainda.

— É sim, insanamente linda. — Confirmou a loira beijando a judia. — Que tal se eu e você passássemos o dia todo aqui, sem fazer nada, só curtindo a preguiça e dando uns amassos? Eu juro que vou me comportar.

Rachel sorriu prestes a concordar, mas saltou da cama ao se lembrar do compromisso que tinha com Santana. — Eu adoraria, mas marquei com minha irmã e já estou atrasada. — Disse olhando a hora no celular. — Eu vejo você mais tarde? — A baixinha terminou de trocar de roupa e pulou no colo da loira capturando seus lábios.

— É claro que sim, minha baixinha. — A loira sorriu entre o beijo, não deixando que Rachel se afastasse ao aprofundar o contato fazendo sua língua serpentear na procura pela da morena.

— Quinn, eu preciso ir. — A morena sorriu para o bico e a carinha contraria que a outra fez antes de soltá-la.

Quinn levou a judia até a porta acertando um travesso tapa em sua bunda antes de deixá-la descer as escadas.

[...]

— Posso saber qual é a desse sorrisinho bobo ai? — A latina perguntou assustando Rachel, que estava completamente entretida em seus pensamentos sobre certa loira.

— Não tem sorrisinho bobo nenhum, não viaja S. Então, por que você não deixou Brittany escolher esses arranjos? Eu não sei qual é a diferença entre esses dois, eles parecem ser exatamente iguais.

— Eu sei, foi isso que eu disse. Mas ela nunca me ouve realmente, ouve?

— Acabou o pânico, chegamos! — Mercedes e Tina acabavam de entrar na loja.

— Ótimo, escolham esse maldito arranjo de flores vocês porque eu não consigo encontrar a diferença entre eles e isso está me deixando frustrada.

— E chegamos ao ponto em que sua escassez de atividade sexual começa a afetar seriamente seu humor. — Disparou maldosa a latina mais velha.

— Eu quase passei para a vigésima primeira ontem... — A morena confessou baixinho escondendo o rosto em uma mão e passando a outra entre seus fios de cabelo nervosamente. — Mas no último momento eu a afastei. E, surpreendentemente, ela respeitou isso. Ela não insistiu dizendo que era bobagem minha como qualquer outra teria feito. Sabe o que eu quero dizer? Só eu sei o tamanho do esforço que tive que fazer pra não me deixar levar. Eu nunca me senti assim por alguém antes... — Um suspiro baixinho escapou dos lábios da judia. — E então nós só ficamos lá, deitadas no sofá, nos beijando no terraço do meu prédio como se ainda fossemos adolescentes namorando escondido dos pais.

— Ela quem? — Santana traduziu a confusão no olhar das outras duas.

— Quinn, a minha vizinha. — A baixinha tinha um olhar completamente apaixonado ao pronunciar o nome da loira.

— Aquela que se esconde todas as manhãs na sua sala pra fugir das garotas que estão no apartamento dela? — Debochou a morena mais velha.

— Para Santana, ela não sai com alguém há dias!

— Rachel, para você! Será que você não percebe? Eu conheço bem esse tipo de garota e ela definitivamente não é o que você precisa agora. Ela só está atrás de sexo e quanto mais difícil for, mais alto o ego dela se elevará quando ela finalmente alcançar seu objetivo.

— Olha, eu sei que o passado dela não é um dos melhores, mas o meu também não é nenhum exemplo. E ela não é assim! Não comigo... — A baixinha se recusava a acreditar nas palavras da irmã, não depois da noite incrível que havia compartilhado com Quinn.

— Rae, acorda! Ela não é essa pessoa perfeita que você procura, mas você está tão fissurada nessa merda que não consegue enxergar o que está bem diante dos seus olhos. Ela é só mais uma vadia como todas as outras com quem você esteve.

— Não fale assim dela, não a julgue como se a conhecesse, você não tem esse direito Santana. — Rachel respirava com dificuldade, tinha se exaltado em defesa de Quinn e milhares de dúvidas pairavam sobre sua cabeça agora. — Por favor, vamos mudar de assunto. Eu não quero brigar com você na véspera do seu casamento.

— Apenas me prometa que você vai pensar nisso, é pro seu próprio bem. — Insistiu Santana.

— Não vamos mais falar sobre isso e ponto final!

[...]

A morena largou a bolsa em cima do sofá antes de largar seu próprio corpo sobre o mesmo. Sua cabeça latejava forte em uma enxaqueca terrível, ela não conseguia parar de repassar as palavras de Santana em sua mente. Rachel ouviu o barulho da fechadura se abrindo para logo em seguida ouvir a voz de Quinn lhe chamar.

— Rach? — Como ignorar aquela loira lhe chamando carinhosamente? A judia só queria desaparecer. — Ei, o que você tem?

— Não é nada demais. É só minha irmã que está estressada com o casamento e acaba repassando tudo isso pra mim. — Mentiu.

— Você quer uma massagem? Posso pedir comida tailandesa se você quiser. — Quinn se aproximava para dar um beijo em Rachel, mas a baixinha a repeliu antes que ela concretizasse o movimento.

— Quinn, não. — A loira encarou Rachel confusa e a morena suspirou sem ter coragem de olhar nos olhos avelã. — O que nós estamos fazendo?

— Eu não sei. Pedindo comida tailandesa, talvez?

— Não Quinn, eu falo sério. É que sinceramente não sei o que estamos fazendo... Juntas.

— Como assim Rachel, não é obvio? Somos duas mulheres adultas nos conhecendo e descobrindo coisas, pelo menos foi o que eu achei.

— Vamos combinar que você não é o tipo de mulher que quer casar e ter filhos. E no momento, eu estou procurando exatamente por isso. Eu quero um relacionamento sólido que não se baseie apenas em sexo casual.

— E quem foi que te disse que eu não quero construir uma família? Quem foi que disse o que eu procuro é apenas sexo casual?

— Ah, por favor, Quinn! Com esse papo pra cima de mim? Você pode enganar todos os rabos de saia de Los Angeles, mas eu não sou estúpida como a maioria delas.

— Eu achei que tivéssemos vivido o mesmo momento ontem à noite, mas pelo visto isso não aconteceu, certo? — A morena não respondeu. — Eu gosto de estar por perto Rachel, me traz sensações que eu nunca imaginei sentir por alguém. Por que isso não é o suficiente pra você?

— Você quer mesmo que eu acredite nisso quando você sequer se importa em acordar ao lado das inúmeras garotas com quem você “troca experiências afetivas”? — O sarcasmo na voz da judia destruiu a pouca esperança que restava em Quinn.

— Como você pode querer comparar o que nós passamos ontem à noite com o que geralmente acontece? Você realmente me acha tão vazia assim? Mesmo depois de tudo?

Rachel não respondeu mais uma vez, os flashes da noite passada tão vivos em sua memória. A baixinha achou que o silêncio fosse a melhor resposta, mas ela estava enganada e soube disso quando Quinn saiu do apartamento batendo a porta.

A judia não se moveu, mas sentiu uma dor forte que parecia separá-la ao meio ao mesmo tempo em que algo úmido e salgado tocou seus lábios. Pela primeira vez em muito tempo, Rachel não conseguiu segurar as lágrimas e o choro veio forte e intenso, de partir o coração.

[...]

Três dias haviam se passado. Rachel tinha quase certeza de que Quinn estava evitando encontrar com ela, pois a morena não teve nenhum sinal de vida da loira depois da discussão. Não que ela tenha se esforçado para vê-la, a judia achava que as duas precisavam daquele tempo para pensar e colocar a cabeça em ordem, mas uma coisa Rachel pôde concluir logo após a saída de Quinn de seu apartamento: ela estava completa e inegavelmente apaixonada por aqueles hipnotizantes olhos avelã e, consequentemente, pela dona deles.

— Terra chamando Rachel Berry! — A morena levantou seu olhar para Santana que fazia uma voz de robô ridícula. — O que foi Rae? Você anda muito distraída nesses últimos dias, até parece que é você quem vai se casar e não eu.

— Eu sei, me desculpe. Mas não se preocupe, não é nada. — Rachel tomou o resto do conteúdo de sua taça de vinho sem encarar a irmã.

— Não ouse mentir pra mim com essa cara de bunda, nanica. Eu sei que você está fodidamente apaixonada por essa mulher que eu sequer conheço. — A morena mais velha se jogou no sofá ao lado da baixinha colocando os pés preguiçosamente na mesinha de centro.

— É só que... Eu não consigo parar de pensar nela San. O que ela deve estar fazendo agora, se está bem, se dormiu com alguém ontem à noite, se ainda pensa em mim. Eu me sinto uma completa idiota, mas isso está me sufocando.

— Eu ainda acho que é melhor você esquecer.

— É? Então me diga como fazer isso. Me diz como parar de sonhar com ela todas as noites, como não pensar em estar com ela a cada minuto. Me diz como eu posso me livrar da vontade de atravessar aquele maldito corredor e invadir o apartamento dela Santana, me diz!

— Rachel, primeiramente, você precisa sair de casa. Ficar no lugar onde suas memórias com ela são intensas não vai ajudar em nada. Além disso, você está desempregada e eu não vi você correndo atrás de outro emprego ainda.

— Eu sei, papai conversou comigo ontem e eu contei a ele sobre minha decisão.

— Que decisão?

— Vou entrar para os negócios da família.

— Sério mesmo Rae? — A latina sorriu verdadeiramente surpresa e Rachel sabia que sua irmã aprovava sua escolha.

Os Lopez eram donos de uma extensa rede de hotéis por toda a Califórnia com filiais em NYC, Boston e Nevada. Rachel nunca quis se envolver no ramo de hotelaria apesar de ter cursado a faculdade de Administração e Contabilidade por ter facilidade com os números. Ela sempre preservou sua liberdade de escolha e talvez por orgulho não tenha aceitado viver, tecnicamente, à custa do pai. Mesmo sabendo que um dia tudo aquilo seria dela e de Santana, achou que S poderia dar conta sozinha e ela, determinada do jeito que era, queria tentar fazer fama sem utilizar seu sobrenome como atalho. Entretanto, nem tudo saiu como o planejado.

— Bem, não é como se me restassem muitas opções... Além disso, como você vai passar mais de um mês fora em lua de mel, ele vai precisar de mim pra controlar tudo lá dentro. Então, é isso.

— Isso é maravilhoso Rachel! Você sabe que eu e papai estávamos de dedos cruzados esperando por esse dia. É muita coisa pra nós dois só resolvermos e você é tão boa com números e contratos. Estava mais do que na hora de você engolir esse orgulho sem fundamento e tomar conta do que também é seu. Fico feliz por você ter percebido isso também.

— Obrigado S, você sabe que significa muito pra mim ter o seu apoio. — A baixinha recebeu de muito bom grado o abraço de Santana.

— Mas voltando ao assunto chave, o que vai fazer a respeito da sua vizinha? — As duas se encararam.

— Eu tenho medo. Medo do que eu sinto por ela. — Rachel assumiu baixinho.

— Você tem duas opções óbvias. Ou você arrisca tentar levar isso adiante, ou você tem uma mudança a fazer.

— Os chutes no traseiro ainda estão de pé caso algo dê errado? — A baixinha perguntou insegura, apoiando a cabeça do ombro da irmã.

— Você sabe que sim, sempre. — Santana respondeu antes puxar Rachel para seus braços novamente.