Doce Fruto de um Passado Amargo escrita por XxLininhaxX


Capítulo 17
POV Hyoga


Notas iniciais do capítulo

Yoo pessoas XD

Desculpa pela demora para postar T-T!! Vou ser sincera com vcs, para q entendam minha situação XD
Eu tenho alguns problemas emocionais q estão sendo controlados por remédio... Algumas vezes eu acabo ficando instável e me deprimo... Isso me faz perder o ânimo de fazer qualquer coisa... E na última semana isso acabou acontecendo e non consegui escrever...
Por sorte, essas crises são passageiras e agora tô bem melhor XD!! Por isso voltei a escrever XD!!
Bom, gostaria de agradecer os reviews e comentários de todos XD!! Agradeço ShalaNala pela preocupação e pelo apoio XD!! E agradeço também a Sarinha, q postou mais um cap lindo e perfeito da fic dela *-*!! Foram duas coisas q me deram mais força pra conseguir escrever XD!!
Bom, non tenho mto mais o q dizer XD!! Peço q continuem comentando, pois isso é mto importante pra mim XD!! E agradeço a quem tem acompanhado minha fic XD!!
No mais, boa leitura...

=**
^^v



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— Hyoga, posso te fazer uma proposta?

Eu ouvi aquele moreno perguntando. Ele me olhava com olhos divertidos e ao mesmo tempo maliciosos. Eu levantei minha sobrancelha do olho esquerdo, desconfiado.

— Proposta?

— Sim. Mas apenas a farei se estiver disposto a ouvir. – ele falava olhando para o alto, como se estivesse pouco se importando se eu ia aceitar ou não.

— Diga. – o incentivei.

— Que tal a gente se mandar daqui?

— Como? – não entendi o que ele realmente queria.

— Sabe, eu tenho esse jeito todo grosso de ser, mas eu ainda sei quando alguém não está bem. Não sei o que aconteceu com você e também não vou perguntar. Mas sei que ficar aqui conversando com aquele acéfalo do Seiya ou ficar lá embaixo fazendo cena pros adultos não vai te ajudar em nada. Por isso pensei que pudéssemos dar umas voltas por aí, eu te mostro alguns lugares legais da cidade e você se distrai um pouco.  O que acha?

Eu ainda estava desconfiado. Aquele moreno não tinha cara de quem fazia gentilezas de graça. E ele sabia que eu não seria bobo de cair em seus truques. Sabia? Bem, pelo menos eu pensava que a gente teve uma sintonia um pouco fora do comum pela manhã. Talvez fosse só da minha parte, mas alguma coisa me dizia que não era esse o caso.

— E o que você ganha com isso? – perguntei desconfiado.

— Bom, não sei se percebeu, mas também não estou com saco pra ficar aturando o Seiya. E, quem sabe, no final eu ainda possa ganhar um bônus. – agora ele me olhou com bastante volúpia e, por algum motivo, eu me ruborizei.

Ele começou a rir e eu desviei meu olhar, aborrecido. Detestava quando as pessoas me pegavam em minhas fraquezas. Aquele moreno estava me provocando mais do que deveria. Não sabia que tipo de experiências ele já havia tido na vida, mas ele estava me subestimando um pouco demais. Só as pessoas próximas a mim sabiam disso, mas eu era muito orgulhoso. Detestava ser subestimado, de ser passado para trás, de acharem que só porque eu tinha aquele rostinho de anjo, eu seria bonzinho o tempo todo. E não tinha nada que me irritava mais do que me fazerem demonstrar minhas fraquezas. Eu realmente não gostava disso. Eu tive um caminho muito árduo para aprender a colocar uma máscara de indiferença, uma máscara de força e coragem. O Hyoga que eu era de verdade era um fraco, chorão, sentimental. Eu odiava aquele Hyoga. O Hyoga impotente que não podia fazer nada a não ser sentar e chorar. O Hyoga que clamava pelos braços de alguém que pudesse levar embora toda a dor que sentia no peito. O Hyoga que não conseguia sair do lugar sem ajuda, que não conseguia fazer nada. Tudo que eu havia passado na vida foi por conta deste Hyoga ridículo. E eu não queria mais ser esse Hyoga. O problema é que não tinha como negar quem eu realmente era. Então tive que aprender a levantar barreiras e criar máscaras. Eu tinha várias; a de moço educado, a de moço forte, a de moço corajoso, a de moço determinado, etc. E elas não podiam cair, nunca!

Claro que eu não ia deixar barato. Por mais que eu estivesse extremamente perturbado, apenas pensando na morte de minha mãe, eu ainda tinha forças para desbancar o sorriso irônico do rosto daquele moreno atrevido. Aproximei-me dele e o puxei pelo colarinho de sua camisa de maneira um pouco bruta. Ele me olhava surpreso. Nossos rostos estavam perigosamente próximos.

— Mostra o que você sabe fazer e eu penso se você merece ganhar qualquer outra coisa que não seja apenas minha cordialidade. – eu falei sussurrando e de maneira bem provocativa.

Ele engoliu em seco e eu o soltei bruscamente, sorrindo triunfante. Ele ainda me olhava um pouco perplexo, mas logo suavizou a expressão e sorriu de leve. Aquilo me deixou confuso.

— Você fica melhor sorrindo, mesmo que seja um sorriso sarcástico como esse. – ele falou de maneira doce, o que me deixou surpreso e me fez ruborizar novamente.

Ele não riu dessa vez. O clima que se instalou naquele momento era algo diferente de tudo que eu já tinha experimentado. Ele me provocou apenas para que eu pudesse sorrir? Era isso mesmo que eu tinha entendido? Não parecia algo que ele faria por alguém, ainda mais alguém que ele nem conhecia direito. Eu estava confuso. Não sabia que Ikki era real. Suas atitudes pareciam contraditórias, exatamente como... as minhas. Será que éramos mais parecidos do que eu imaginava? Eu sentia que éramos diferentes, como fogo e gelo. Mas ao mesmo tempo éramos iguais. Isso era estranho!

— E então? Aceita a proposta ou não? – ele perguntou, tirando-me dos meus devaneios.

Fiquei pensativo por um tempo enquanto fitava aquele par de olhos azuis, escuros como as profundezas do oceano. Não era uma proposta ruim. Eu realmente precisava de um pouco de paz e distração. E Ikki parecia ser uma boa companhia.

— Acho que não tenho nada a perder. – dei de ombros e ele sorriu. – Mas como vamos sair daqui sem sermos percebidos?

— Ah! Eu já fugi dessa casa antes. Vem comigo.

Ele me pegou pela mão e me levou até a janela. Seu toque era quente e leve ao mesmo tempo. Não tive tempo de ficar pensando, logo o vi abrindo a janela. Ele não queria que pulássemos do segundo andar. Ou queria?

— Vem. – ele logo começou a passar o corpo para o lado de fora.

— O que está fazendo? Estamos no segundo andar, não tem como pular. – eu disse.

— Relaxa. Apenas veja e faça o mesmo que eu.

Ele colocou os dois pés no batente da janela e pulou. Logo vi que ele tinha pulado em um galho de árvore que ficava próximo da janela. Esperto.

— Anda logo, não temos muito tempo. – ele falou.

Subi no batente da janela e fiz o mesmo que ele. O problema foi que acabei escorregando. Fechei os olhos, apenas esperando pela queda. Mas não senti nada. Quando os abri, vi que Ikki estava me segurando, com o braço em volta da minha cintura. Não consegui evitar que meu rosto estava vermelho pela terceira vez em menos de dez minutos. Ikki também parecia um pouco ruborizado. Ficamos parados naquela posição por alguns segundos, até que ele se afastou um pouco ao perceber que meu corpo já estava firmado no galho.

— Er... vamos descer logo.

Ele pareceu sem graça e eu não consegui evitar o sorriso. Era estranho! Eu nunca me senti tão livre como eu estava ao lado de Ikki. Parecia que eu podia ser o que quisesse e mesmo assim ele ainda estaria do meu lado. Eu não costumava confiar nas pessoas tão facilmente. Não sabia se era por que eu estava mais sensível e vulnerável, mas eu sentia que poderia confiar em Ikki. Por que eu estava me sentindo daquela forma? Não era seguro sentir aquilo. Confiar em outros nunca era uma boa saída. Eu tive o desprazer de descobrir isso da pior maneira possível. Talvez Ikki também soubesse o quanto confiar em outras pessoas era algo estúpido. E talvez por isso ele fosse capaz de me entender. Eu não sabia por que pensava que Ikki seria tão empático para comigo, mas de alguma forma eu conseguia sentir certa afinidade entre nossos pensamentos e atitudes.

Descemos da árvore e logo começamos a andar pela rua. Vi Ikki tirar o celular do bolso e mandar uma mensagem para alguém. Fiquei curioso, mas não perguntei nada. Caminhávamos em silêncio. O vento estava frio, mas nada com o qual eu já não estivesse acostumado. O sol já estava se pondo, formando uma linda paisagem no fim da rua. Eu olhava tudo ao redor bastante maravilhado. Aquele parecia ser um bairro bem pacato. Não tinha tráfego de pessoas na rua, apenas uma ou outra. Carros também não passavam com frequência. As casas eram todas no mesmo estilo da de meu pai e Milo; grandes, sem muros, com um jardim na frente. Um lugar para quem procurava por sossego e boa qualidade de vida. Claro que, provavelmente, só morava ali quem tinha muito dinheiro. Não era difícil deduzir isso ao visualizar a beleza e sofisticação do bairro. Isso me fazia pensar no quanto Milo e meu pai ganhavam. Milo era um grande empresário, pelo visto. Então fazia sentido que ele ganhasse muito. Mas meu pai era um médico. Por mais que seu salário fosse bom, não conseguia imaginar que ele ganhasse tão bem assim. Bom, eu não tinha muita noção dessas coisas também, já que passara minha vida numa vila pequena em um país isolado do mundo. Além disso, eu sempre fui pobre. E tudo ficou ainda pior depois da morte de minha mãe. Cheguei a passar fome junto com minha avó, pois tinha meses que o dinheiro não era suficiente para comprar o remédio e comida. Não gostava de me lembrar daqueles tempos. Por mais que eu tenha acabado de sair daquela realidade, ao olhar pelas ruas daquela cidade, parecia que tudo fora há muito tempo atrás.

Continuávamos andando em silêncio. Quando meu pai descobrisse que eu não estava lá, provavelmente eu estaria em grandes problemas. Mas eu não queria pensar em nada daquilo. Tudo que eu queria era tentar me distrair. Eu já havia chorado demais naquele dia. Chorei com Milo, chorei com meu pai. Eu estava muito vulnerável e isso era um problema. E se meu pai achasse que eu estava dando uma trégua? Não! Isso não podia acontecer! Iludi-lo daquela forma seria ainda mais cruel. Eu tinha que pensar em alguma forma de não ficar tão vulnerável perto dele. Mas eu sabia que essa seria uma missão quase impossível. Eu não estava conseguindo controlar meus sentimentos. Toda vez que eu olhava para ele, sentia que devia deixar tudo de lado e apenas me deixar ser cuidado por ele. Eu precisava tanto daquele amor paterno. Eu precisava daquele carinho, daquela atenção, daquele afeto. E pelo visto eu tinha a chance de ganhá-lo em dobro, se Milo estivesse mesmo disposto a me ter como filho como ele dizia. Será que eu conseguiria dar as costas para algo que sempre sonhei na vida? Pelo menos naquele momento, eu não tinha forças para recusar. E meu medo é que se eu continuasse experimentando aquele sentimento o qual eu tanto esperei, provavelmente não teria forças para parar.

Já estávamos longe da casa de meu pai e Milo. Ainda continuávamos calados. Eu queria entender as razões de Ikki. Pelo que eu tinha entendido, ele havia levado uma boa surra do meu pai por ter “fugido”. O que o faria arriscar daquela forma outra vez? Não fazia muito sentido ser por mim, afinal nós conhecemo-nos naquele dia pela manhã. Então o que ele queria exatamente? Confesso que eu adoraria conhecer melhor aquele moreno, mas seria perda de tempo estreitar laços com ele. Eu o faria sofrer muito e eu não queria mais fazer ninguém sofrer por minha causa. Se ele soubesse de todo o meu passado e de tudo que eu ainda planejava fazer, talvez nem quisesse mais chegar perto de mim. Isso me deixava ainda mais chateado. Pensar o quão intragável eu era. Provavelmente jamais saberia o que era amizade ou amor verdadeiro. Eu estava sozinho! E ficaria sozinho para sempre. Quem seria idiota o suficiente para se sujar comigo? E pensar que minha mãe morrera para que eu pudesse viver. Ela seria muito mais útil à humanidade do que eu. Ela merecia ter vivido e eu tinha que ter morrido. Ela poderia ter se encontrado com meu pai e eles poderiam ter tido outro filho. Mas eu sobrevivi. Por quê? Não conseguia entender por que um ser humano tão digno como ela pôde morrer tão cedo e de uma forma tão injusta e cruel. Sua existência exalava um doce aroma capaz de transformar qualquer coisa ruim em algo de extrema beleza. Era como um anjo. E talvez por isso teve que voltar para o céu tão cedo. Mas aquilo não era justo! Era como dar o doce para uma criança e não deixá-la saborear até o final. Eu só queria que ela não tivesse ido embora para sempre.

Lembrar-me de minha mãe fez com que meus olhos marejassem. Eu não sabia se conseguiria chora mais. Meus olhos ainda ardiam e eu sentia que meu rosto já estava queimado pelo caminho que as lágrimas fizeram repetidas vezes. Qual era o propósito de ter saído de casa para continuar sentindo-me daquela maneira. Eu queria me distrair, mas eu já devia saber que dificilmente eu conseguiria. Qualquer pensamento me levaria de volta a minha mãe. Talvez fosse melhor voltar antes que meu pai sentisse minha falta. Pelo menos eu não estaria encrencado. Parei de andar por um minuto e fiquei com minha cabeça baixa. Ainda ouvi alguns passos de Ikki antes que ele também parasse.

— O que foi? – ele perguntou.

— Talvez seja melhor voltarmos.

— Por quê?

Eu fiquei em silêncio. Não sabia exatamente o que responder. Ouvi Ikki suspirando e aproximando-se de mim. Ele segurou meu queixo e fez com que meu rosto se erguesse para fitá-lo.

— Está doendo tanto assim? – ele me olhava com ar de preocupação.

— Por que você se importa? Acabamos de nos conhecer. Não faz sentido! – eu não queria me abrir com ele, não queria me sentir vulnerável com mais uma pessoa.

— Eu te disse, eu posso ter um jeito meio tosco, mas consigo ver quando alguém não está bem. – ele parou de falar, pois percebeu que eu não estava muito convicto do que ele dizia. Ele suspirou novamente e bagunçou os próprios cabelos, como se estivesse com raiva. – Olha, eu não sei por que estou fazendo isso, ok? Eu não costumo ser amigável com quem acabei de conhecer. É só que... toda vez que eu olho pra você, eu me lembro de mim mesmo há alguns anos atrás. Seus olhos transmitem uma dor enorme, como se viver fosse um fardo para você. E isso me deixa louco! Eu já senti isso antes e eu sei o quão terrível é. Então eu apenas... queria ajudar. Queria ajudá-lo a sair desse inferno como eu consegui sair. Sei que parece um motivo idiota, mas eu não sou do tipo que precisa de motivo pra fazer o que tenho vontade.

Ele falava tão rápido e com tanta aflição que eu acabei achando engraçado. Ele tentava explicar algo que provavelmente não tinha mesmo uma explicação. Não consegui segurar e comecei a rir de leve.

— Ah! Que bom que você acha isso engraçado! – ele levantou as mãos para o alto, em um ato de impaciência e começou a andar novamente.

— Espera! – eu segurei seu braço. – Desculpe, não quis parecer grosseiro. É que... não estou acostumado com atos de gentileza gratuita.

— Acho que entendo o que quer dizer. No seu lugar eu também ficaria meio desconfiado.

Ficou silêncio novamente. Era estranho como não precisávamos ficar falando o tempo todo para nos sentirmos confortáveis na presença um do outro. Era como se estar ali com ele bastasse.

— Muito bem, vamos mudar os planos. – ele disse.

— Mudar os planos?

— Sim. Eu ia apenas dar umas voltas no bairro com você, mas vou te levar em outro lugar. Um lugar que eu gosto muito de ir quando estou chateado e quero apenas esfriar a cabeça.

— E onde fica isso?

— Fica um pouco mais longe, teremos que ir de ônibus.

— Mas eu não tenho dinheiro.

— Relaxa, eu pago dessa vez.

Ele segurou meu braço e começou a me guiar até chegarmos a um ponto de ônibus. Dessa vez começamos a conversar. Não que realmente fosse necessário, mas apenas jogávamos conversa fora. Ikki me contou de como foi sua adaptação à vida com Shaka e Mu. Ele disse que no começo era estranho ver dois homens juntos, mas foi se acostumando com o tempo. Ele também contou de algumas vezes em que aprontou e acabou se dando mal. No início ele não quis me contar o que os pais fizeram para puni-lo, mas eu acabei dizendo que Milo me contara o que rolou com meu pai, então ele acabou desencanando e contando tudo. Algumas de suas histórias eram engraçadas. Ele me contou de uma vez que saiu de casa, meio que sem rumo, e acabou parando em outra cidade. Lá ele conheceu uns caras que o fizeram experimentar bebida alcoólica pela primeira vez. Ele abusou um pouco da primeira vez, ficou bêbado e capotou no primeiro lugar que encontrou. Shaka e Mu só o encontraram no dia seguinte. Ele estava dormindo dentro do banheiro da rodoviária. Ele contava tudo com muito humor, mas disse que levou uma bela surra naquele dia por conta daquilo. Eu achava estranho que ele continuasse aprontando, mesmo sabendo da punição. Ele me explicou que sempre foi muito inconsequente. Disse que a vida é pra ser vivida e que as consequências não devem nos impedir de ter novas experiências. Claro que ele tinha limites e não costumava fazer nada muito estúpido ao ponto de colocar a própria vida em risco ou prejudicar outras pessoas. Ele apenas não deixava que os pais controlassem sua vida demais.

— Mas qual o problema dos seus pais te controlarem? – perguntei.

— Bom, é mais difícil de explicar do que parece. – ele suspirou pesadamente.

— Não precisa me contar se não quiser.

— Não, tudo bem. A verdade é que não suporto a ideia de ser controlado por alguém. Quando eu era criança eu trabalhei como escravo e passei por maus bocados por causa disso. Eu gosto da sensação de liberdade, de poder fazer o que eu quiser na hora que eu quiser. Eu tive que aprender a me virar muito cedo e não me sinto muito confortável com alguém cuidando de mim e me fazendo seguir regras.

— Sinto muito, não queria fazê-lo relembrar essas coisas.

— Tudo bem. Eu não ligo de falar sobre isso. O passado é passado. Claro que tudo pelo que passamos deixam marcas, mas não sofro mais por pensar no que aconteceu.

— Sinto inveja de você por isso.

— Está falando sobre a morte de sua mãe, não é?

— Como sabe?

— Seu pai e sua avó nos contaram o que aconteceu. Imagino que tenha sido muito difícil pra você. Quer dizer, minha infância não foi nada fácil, mas não posso dizer que sabia o que era amor dos pais antes de Shaka e Mu. Agora que conheci, tenho certeza que não saberia lidar com a perda deles. Eu acho que você é até mais forte do que imagina.

As palavras de Ikki tocaram fundo em meu peito. Alguém que entendia minha dor. Alguém que não sentia pena, apenas compreendia o quanto doía. Naquele momento senti que havia encontrado alguém muito especial. E ao mesmo tempo não sabia como agir. Era tão fácil conversar com ele, estar perto dele. Mas eu sabia que não poderia me aproximar muito. Quanto mais eu me aproximasse, mais doloroso seria. Eu me questionava se estava mesmo tomando a atitude correta. Será que não seria melhor abrir o jogo e resolver tudo de uma vez? Talvez eu não precisasse fazer nada. Se eu apenas deixasse tudo de lado, o passado ficaria no passado. Eu queria viver livre também, como Ikki. Eu queria sair daquela prisão que tanto me machucava. Poder despejar todos os meus problemas, fazê-los sangrar até que finalmente fosse o suficiente para cicatrizar. Não seria melhor para todos? Eu não estava sofrendo mais que o necessário? Eu não sabia dizer. Eu não sabia o que fazer. Meu coração dizia que eu deveria acabar com aquela palhaçada logo, mas minha razão me condenava por causar mais esse problema aos que estavam ao meu redor. Ninguém tinha nada a ver com meus problemas. Eu não permitiria que mais alguém me abandonasse por fraquezas minhas. Eu precisava pensar rápido no que poderia ser feito, caso contrário as coisas ficariam ainda mais complicadas.

Ikki deu sinal e nós descemos do ônibus. Ele me disse que ainda precisávamos caminhar um pouco. Já estava escuro e o vento estava ainda mais frio. Estávamos em um lugar alto e rodeado de árvores. Estávamos subindo ainda mais até chegarmos ao que parecia ser um mirante.

— Esse lugar é muito legal, principalmente de noite.

Aproximamos-nos da beirada, que tinha uma espécie de cerca. Dava para ver a cidade toda dali. Meus olhos brilhavam com aquela vista. As luzes da cidade brilhavam, como que querendo roubar a cena das estrelas do céu noturno. Era uma das paisagens mais lindas que já havia visto na vida. Eu sequer tinha palavras para descrever aquilo. Tudo que eu podia era tentar agradecer Ikki de alguma forma.

— Eu não sei o que dizer. É incrível! – eu disse, maravilhado.

— Sabia que você ia gostar. Eu também me amarro nesse lugar. É como um refúgio, quando quero fugir de tudo e de todos. Ficar aqui me acalma e me faz pensar que talvez viver não seja de todo ruim.

Eu olhava para aquele moreno ao meu lado. O vento balançava seus cabelos azuis suavemente. Ele olhava para a cidade com um olhar bastante sereno, como se estivesse em êxtase. Era uma bela imagem para guardar na memória e eu provavelmente o faria.

— Obrigado por me trazer aqui. – ele olhou para mim e eu desviei meus olhos para o céu. – Amanhã faz exatos dez anos que minha mãe faleceu. E pela primeira vez eu me sinto tão perto dela. Quando olho para esse céu estrelado é como se eu pudesse sentir que ela está me vendo lá de cima e que está sorrindo para mim. E pensar nisso faz com que eu não me sinta tão triste como de costume. – voltei meu olhar para Ikki. – Obrigado, de verdade.

Ele sorriu de leve e eu também. Ficamos nos olhando por um tempo, em silêncio. Acredito que ele não quisesse quebrar meu momento de nostalgia. Mas eu queria compartilhar aquele momento com ele de alguma forma. Timidamente, segurei em sua mão. Ele não se afastou, pelo contrário, segurou ainda mais firme, transmitindo aquele calor que ele tinha. Eu continuava olhando para o céu, sorrindo.

— “Olha mãe, esse é meu primeiro amigo. Está feliz por mim?” – pensei.

Continua...


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