Hats Up escrita por Mabée


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

São questões que precisam de tempo para pensar



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Let's dance
'Til the fire burn us

Embaixo do sol quente de verão, acima de águas cristalinas e profundezas nunca exploradas antes, havia uma embarcação. Um grande navio, feito de madeira fina, roubada durante um ataque ao norte. A família que teve seu material retirado de suas mãos não deve ter sentido falta. Tinham dinheiro para construir mais de dez navios daquele. Grandes baús nas laterais guardavam grandes tesouros. Mas só o capitão tinha a chave para suas trancas. As joias pesavam em seus bolsos, e as grandes correntes de ouro penduradas em seu pescoço balançavam de um lado para o outro, em sintonia com as ondas. Suas vestes pesadas não o incomodavam no calor. Seu corpo já havia se acostumado com tanta roupa. Sua arma estava presa à calça, junto de um facão. E o mais importante de tudo, usava seu chapéu, herança de seu tio.

Vince comandava o navio. O grande chefe, o capitão. Navegava em águas perigosas desde sua adolescência. Era o que fazia e o que amava fazer. Havia construído seu "Clipper" aos dezessete anos, com ajuda de algumas pessoas que trouxe consigo em uma fuga. Desde então, seu maior apego teria sido a obra.

— Estamos com falta de rum — disse Jaden ao sair do convés.

Vince o mirou de modo tão assustador que poderia petrificar qualquer inocente.

— Estávamos com um estoque cheio! — indagou o capitão. — o que houve com tudo aquilo que guardávamos?

O jovem pareceu constrangido. Mexeu na manga de sua camisa enquanto olhava para o chão. Vince já tinha ideia do que havia ocorrido. Virou-se novamente com a visão ao oceano.

— Eu poderia mandar-lhe pular da prancha agora mesmo. Ou amarrar sua perna em uma âncora e assistir seu afogamento. Ou poderia fazer pior.

Mais uma vez, o moreno pareceu assustado.

— Mas não farei isso — continuou. — Você ainda é meu aprendiz. Não poderia te matar de um modo que você nunca viu ninguém morrer por.

— Obrigado, eu acho — Jaden virou-se, caminhando de volta ao convés.

— Avise à tripulação que desceremos no porto mais próximo — complementou Vince.

[...]

Jaden andava com passos rápidos em direção aos marujos. Eram todos hospedeiros no navio, mas o Capitão estava sempre a mudar sua tripulação. Apenas com a exceção de alguns, e Jaden estava incluído nesse grupo.

Chegou ao mundo dos rebeldes assim que nasceu, fruto de um casal pirata que ninguém sabe sua origem. Teve sua antiga moradia naval atacada pelos maiores e piores piratas que podiam existir. Não sabe mais sobre si, foi só o que veio consigo em um bilhete, dentro da caixa em que estava quando flutuava pelo oceano.

Teve a sorte de ter sido encontrado por uma tripulação amigável, mas o azar de tê-los perdido também. Mas, bem, foram mortos em um ataque do Capitão Vince e sua trupe, e, mais uma vez, Jaden possuía uma nova moradia naval.

E desde que foi denominado "gente", sempre foi desastrado. Chegou a quase atirar em seu próprio pé, quase rasgou três das velas do mastro principal, e ao mesmo tempo, ficou enroscado na escada. E, naquele dia, havia feito algo que poderia ter sido o pior de seus problemas.

Tudo começou enquanto limpava a adega. Rum era algo precioso para o Capitão e grande parte dos piratas, mas Jaden não se interessava muito. Enquanto passava a vassoura tirando o pó do chão, o cabo bateu, acidentalmente, em uma das prateleiras onde eram posicionadas as garrafas de rum. E então começaram a cair, uma seguida da outra, fileira por fileira. E o garoto já sabia que morreria após aquele momento.

Mas não foi o que ocorreu. Ao invés disso, o Capitão lhe deu uma ordem: informar aos tripulantes que deveriam estar no convés.

Então Jaden caminhou até a escada que levava aos compartimentos. Chegou à entrada do corredor e pôde ver que vários marujos jogavam baralhos, dormiam e alguns até tomavam uma garrafa de rum. Jaden achou melhor ficar calado sobre aquilo, ou o inocente pirata morreria por uma pequena causa. Deu um passo à frente e tropeçou em um pedaço de madeira, o que fez com que todos os outros piratas parassem de fazer o que estavam fazendo e mirassem seus olhares ao garoto. Ajeitando a postura, Jaden pigarreou:

— O Capitão chamou-lhes ao convés.

Os homens se entreolharam com certo medo. Jaden observou todos os grandalhões caminharem para fora dos compartimentos. Todos eles se vestiam de maneira parecida: bandanas, camisas listradas ou até lisas, calças ou bermudas e casacos. Mesmo estando há seis meses com a mesma tripulação, Jaden não sabia o nome de nenhum deles. Nem sabia vê-los pela face. Quando era preciso, chamava pelas características físicas mais sobressaltadas em cada um dos rebeldes. Assim que o último pirata estava saindo, o jovem retirou de sua mão a garrafa de rum, fazendo com que o homem o olhasse de modo ameaçador.

— Vai por mim — Jaden deu um gole e fez careta. — Você não vai querer aparecer com isso na frente do Capitão.

O pirata deu de ombros e seguiu andando atrás de seus comparsas. O moreno ajeitou seu casaco e passou na adega para jogar a garrafa entre as outras que estavam despedaçadas antes de ir ao convés junto dos outros tripulantes.

O Capitão Vince estava logo à frente dos piratas que conversavam baixinho. Estava um calor infernal e todos presentes podiam sentir pequenas partículas de água salgada cair em seus rostos por causa das ondas que batiam com força no casco. Com a chegada de Jaden, o homem começou a pronunciar-se:

— Todos vocês tem um trabalho aqui. E... Podem começar a se movimentar. Vamos parar no porto mais próximo, não muito longe daqui — Vince virou-se e olhou de relance para o oceano. — Enquanto isso, quero minha preciosidade impecável!

[...]

Não demorou muito para que o barco encontrasse um porto. E para Vince, parecia desconhecido. O que significava que era seguro de guardas irritantes e má fama. Mas se havia algo que ele havia aprendido com o tempo, foi que chapéu algum poderia entrar em cidades como estas. Desceu na frente, liderando, após ancorarem o barco. O homem sentia-se confortável em cidades assim. Trazia lembranças de sua maravilhosa infância, mas ao mesmo tempo, trazia as péssimas memórias de sua adolescência.

Sua tripulação já sabia o que fazer ao chegar a uma cidade nova. Deviam ter feito parte de outros grupos de piratas. Alguns poucos foram nobres induzidos à vida rebelde. Com apenas um olhar por cima de seu ombro, todos os marujos compreenderam o que havia de se fazer naquele momento. Retiraram seus facões e revólveres das prendas de suas calças e começaram a correr por trás das casas e lojas.

A cidade era pequena. Ruas feitas de pedras brancas, casas de nobres feitas de madeira clara, várias lojas espalhadas. Dava certa impressão de um local fino a quem olhasse de longe. Vince só tomou a atitude de descer em pleno porto, pois conhecia esse tipo de local. E ele estava certo sobre seu conhecimento. Os guardas não estavam vigiando nada, o que indicava que havia uma família importante hospedada na cidade. Dois de seus piratas mataram dois guardas silenciosamente. Um pequeno deslize de facão pelo pescoço, deixando sangue escorrer pelas vestes finas, manchando seus lenços brancos de um tom mais “vivo”.

O Capitão esperou um pouco até seus tripulantes se afastarem para que retirasse o facão de sua calça. Jaden estava ao seu lado, parado. Seus cabelos enrolados ao vento e seu olhar estava fixo no fim da rua, onde um dos piratas corria com sua bolsa transbordando de moedas de ouro.

— Vamos ao bar — concluiu Vince.

Jaden não questionou, apesar de achar estranho ir ao bar em meio a um ataque. Seguiu seu capitão e adentrou o local.

Era um ambiente escuro onde havia poucas pessoas. Alguns homens jogando baralho e encarando um ao outro de modo assustador. Jaden preferiu sentar-se numa das banquetas que ficava logo em frente ao balcão. Um dos atendentes apareceu, e ele não era diferente de tudo naquele bar. Também era assustador. Seu bigode fino que enrolava nas pontas o deixava um tanto menos horrível. Vince sentou-se ao lado de seu aprendiz e colocou suas correntes de ouro para dentro da camisa fina. Pediu duas canecas de rum e bebeu-as com gosto. Jaden ficou observando o mais velho enquanto colocava seu dedo dentro da bebida e o retirava, observando o líquido pingar de volta à caneca.

— Jaden — chamou-o Vince. — Ser capitão é cansativo.

— Imagino que seja — disse o jovem enquanto lambia o líquido de seus dedos.

— Mas é um cargo de status — riu o louro. — Se um dia conseguir chegar a isso, não se arrependerá nunca! Porém — deu um longo gole no rum. — Você nunca vai ser. É um molenga, isso sim!

O Capitão começou a gargalhar sozinho enquanto bebia alguns goles de sua caneca. Jaden riu baixinho apenas para agradar. Vince tinha muitos defeitos, mas o pior de todos, era depreciar as pessoas. Sempre duvidava da capacidade dos outros. O moreno já havia acostumado com o humor negro do superior, era capaz de receber punição se o encarasse.

Um homem vestido de casaco negro e capuz se aproximou calmamente até os dois. Suas botas faziam um ruído na madeira que compunha o chão enquanto estalava. Sentou-se ao lado de Vince e pediu rum também. O Capitão havia parado de gargalhar e já estava sério, lançando pequenas olhadas ao estranho sentado logo ao lado. Jaden também estava curioso a respeito do homem. Antes de beber o rum que havia acabado de pedir, retirou seu capuz, deixando seus cabelos negros à mostra. Parte dele cobria seus olhos, mas dava para notar que havia uma cicatriz que descia a bochecha onde o cabelo cobria. Ele usava um tapa-olho. Segurando seu copo, virou sua cabeça e ficou olhando diretamente para Jaden, que procurou desviar o olhar do homem sombrio.

— Vocês são piratas.

Vince deu o último gole no rum e riu um pouco enquanto olhava para o homem.

— Que bom que não está cego — retrucou.

Jaden bebeu um longo gole do rum enquanto observava os dois se encarando raivosamente. Vince não perdeu tempo, bateu com a caneca no balcão e desceu da banqueta. Olhou mais uma vez para o pálido e torceu a boca.

— Tenha uma boa tarde.

Enquanto saía do bar, Jaden bebeu o último gole da caneca e seguiu seu capitão. Seus olhos ficaram sensíveis à claridade após sair daquele local escuro. Vince bocejou e olhou para o relógio que havia roubado de um prefeito de uma pequena cidade.

Quando foi dar um passo a frente, sentiu unhas cravando em seu pulso e virou-se rapidamente, colocando a faca perto do pescoço do homem que o segurava, que por acaso era o mesmo homem sombrio do bar. O pálido retirou sua mão do pulso do louro e ergueu os braços em modo de rendição. Seus passos traseiros faziam barulho enquanto pisava nas poças d’água que ficavam paradas entre uma pedra e outra que formavam o chão.

— Qual seu destino? — perguntou com um tom rouco.

Vince acariciou o pulso como se as longas unhas o tivessem machucado. Ainda segurando o facão olhou para Jaden de relance e voltou a olhar para o homem.

— Nunca revelo minhas trajetórias. — respondeu o louro enquanto abaixava a manga de seu casaco.

— Vince — disse o pálido. — Eu tenho uma proposta.

A ideia de o estranho saber seu nome o assustou. Mas ele não demonstrou nada mais além de seriedade. Analisou as cicatrizes do rosto do alheio, uma por uma, tentando lembrar-se de onde havia visto aquelas coisas anteriormente. O Capitão pensou um pouco a respeito da tal proposta e resolveu escutar o outro, fazendo um sinal com suas mãos para que ele seguisse falando.

— Você é uma pessoa traíra — começou o estranho. — Mas preciso de sua ajuda.

— Não ajudo ninguém.

— Dessa vez vou conseguir convencer-lhe — retirou do bolso de sua longa capa um mapa e o estendeu, dando nas mãos do capitão. — No “x” há um tesouro gordo.

O louro se interessou, mas novamente, não demonstrou. Desconfiava do pálido, ainda porque o homem sabia seu nome, sem que ele tivesse mencionado uma vez sequer. Analisou o mapa mais uma vez e viu que não era um caminho muito longe de onde estavam.

— Você não consegue ir andando? — indagou Vince.

O estranho lambeu os lábios e piscou lentamente. Algo nele era muito familiar para o Capitão, até seu modo de piscar.

— Não existe caminho sem ser pelos mares.

— Então você quer que eu o leve em meu barco? — Vince cruzou seus braços.

— Eu tenho o tesouro a lhe oferecer — disse o pálido. — Posso lhe garantir que o local onde preciso estar tem mais tesouros do que você verá em toda sua vida.

Isso atraiu a atenção de Vince. Tesouros eram tudo para os piratas. Assim que sua tripulação começou a voltar com as bolsas transbordando em joias e moedas, ele teve que apressar seus pensamentos sobre deixar o pálido ir ou não.

— Precisamos partir — disse um dos piratas enquanto corria de volta para o barco. — Guardas estão atrás de nós!

Vince mexeu nas penas de papagaio que estavam penduradas em sua orelha. Olhou mais uma vez para o homem miserável à sua frente e abaixou a cabeça.

— Vamos. Corra.


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Notas finais do capítulo

São elas que são as piores resolvidas



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