Menina Veneno escrita por DreamsOfASummerNight


Capítulo 15
Capítulo 14




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Estacionei o Bugatti vermelho do outro lado da rua do prédio amarelo de quatro andares, examinando a fachada. Peguei o telefone na bolsa.

Tinker atendeu no segundo toque.

–Tem certeza que o endereço é esse? - perguntei. - Não parece uma república.

–Mas é. Encontrei o perfil de Graham na internet. Está tudo OK, eu chequei.

–Certo.

–Regina, toma cuidado com o que vai...

–Preciso ir.

– Desliguei.

Não foi difícil entrar no edifício, já que não havia porteiro. Subi as escadas externas - as únicas -, olhando em volta, tentando adivinhar em qual das oitos portas sem número do segundo andar morava o filho de Ingrid.

Graham descia as escada apressado, duas caixas de papelão debaixo de cada braço, e quase me atropelou.

–Opa! Foi mal. - Então me viu, deu aquela conferida e abriu um sorriso lento. - Ooooi.

–Oi, estou procurando...

–Um cara bacana para concertar o encanamento de sua cozinha, eu espero.

Acabei rindo.

–Na verdade meu carro. Ele morreu e não quer pegar - disse de improviso. - Meu celular está sem sinal, aí eu vi o prédio e decidi pedir um telefone emprestado para chamar o guincho.

–Ah, você veio ao lugar certo. Entendo de carros. Posso dar uma olhada pra você.

–Sério? Isso seria bem legal.

–Só deixa eu deixar essas tralhas em casa primeiro. Vem comigo.

Eu o acompanhei até o andar de cima (talvez eu devesse dar um caderno de caligrafia a Tinker, seu 3 era muito parecido com um 2) e entrei num minúsculo apartamento. A ausência de mobília denunciava a falta de uma presença feminina, não fosse por uma vassoura deitada sobre o encosto de duas cadeiras, fazendo as vezes um varal, onde um conjunto de sutiã e calcinha estava pendurado. O mesmo cenário onde a foto que eu vi no celular de Ingrid fora tirada.

Dois rapazes grandes (e quando digo grande quero dizer imensos) estavam no sofá, a atenção na TV, os dedos correndo frenéticos sobre o controle do videogame.

–Você não ia levar as luzes, seu merda? - perguntou o de cabelos escuros.

– Olha a boca que a gente tem visita - ralhou Graham.

Os dois jovens me olharam de relance, e já voltaram a atenção para a tela quando algo - provavelmente minha beleza - fez com que eles largassem os controles e se levantassem, arrumando as camisetas.

–Ah... Oi - cumprimentou o de cabelos escuros, sorrindo.

–Nem tenta, Samamba. A moça já tem problemas. Vou dar uma saída. Leva as luzes pra mim. E, Largatixa - ele se dirigiu ao outro, de cabelos louros e piercings no rosto -, vê se meche essa bunda e acorda os caras. Tem muita coisa pra descer ainda.

–Pô, Canjica, você só sabe dar ordens - reclamou Lagartixa.

–Se cada um fizesse sua parte, eu não precisaria. Vamos lá, coisa linda? - Graham sorriu pra mim.

–Vamos. - Assenti uma vez.

Acompanhei Graham escada abaixo. Ele andava com confiança, os ombros eretos, a coluna esticada.

–Eles são seus colegas de alojamento? - soltei.

–Infelizmente, sim.

–Então você é o Canjica, é?

Graham/Canjica bufou.

–Graças a minha mãe. Logo na primeira visita ela trouxe um pote de canjica. Aí já viu. Mas Canjica ainda é melhor que filhinho da mamãe.

–Acho que é. Quantas pessoas moram com você? - perguntei, como quem não quer nada.

–Seis. Samambaia, Largatixa, Zóião, Índio, Mancha e o Zodaque.

–Todo mundo tem apelidos?

–Menos o Zodaque, coitado. - Ele balançou a cabeça, se divertindo. - Ah, e agora tem a Mary.

Mary, Merda. Eu estava certa.

–E essa Mary é namorada de algum de vocês?

–De nenhum de nós. De todos nós. É complicado.

E você pensando mal de mim, não é mesmo, meu bem?

–Parece mesmo - concordei.

Ele me fitou de relance, meio sem graça.

–É que a menina apareceu aqui com a cabeça zoada. A gente não sabia de onde ela veio, nem se tem alguém procurando por ela. O Índio ficou de ver se descobre alguma coisa na internet, mas o cara tá todo fod... cheio de trabalho pra entregar. Enquanto isso Mary fica com a gente. Quem sabe ela não se lembra de alguma coisa uma hora dessas.

Não se eu pudesse evitar.

Estampei na cara meu sorriso mais estonteante.

–Sim, vou torcer para ela lembrar. É aquele vermelho ali. - Indiquei o outro lado da rua.

Ele avistou o carro e se deteve, o queixo quase atingiu o asfalto.

–Tá de brincadeira comigo? Você tem um Bugatti Veyron?

Dei de ombros, como que me desculpando.

–Uau! - Ele assobiou.

Graham/Canjica se enfiou na traseira do carro e ergueu o capô, apenas para se deparar com tubos cromados.

–Motor lacrado - resmungou, assentindo em aprovação. - Cara, esse carro é um tesão. - Ele fechou o capô - Gata,, acho que não vou poder ajudar muito no fim das contas. Quer tentar dar partida pra ver se ele pega?

Fiz um pequeno teatro ao me acomodar atrás do volante. Canjica gostou do espetáculo. Girei a chave. O Bugatti ganhou vida.

–Ei, olha, parece que está tudo normal! - Fiz minha melhor expressão de surpresa.

–Os caras não vão acreditar que eu encostei num Veyron. Posso tirar uma foto dele?

Temendo que Mary visse a foto e reconhecesse o carro de pai, sugeri:

–Que tal se você sentar no volante e eu bater a foto pra você? Afinal você se dispôs a me ajudar, né?

–Isso seria legal demais!

Sentado no banco do motorista, Graham/Canjica correu os dedos com delicadeza pelo painel e volante antes de pisar no pedal e acelerar de leve.

–Ah, cara, escuta só esse gemido!

Revirei os olhos. Garotos...

Graham desceu do carro minutos depois, me olhando fixadamente. Devolvi o celular a ele.

–Vai ter um festão hoje a noite, a galera da facul que organizou, mas é coisa fina, vai ter até um bufê. Todo mundo vai. Até a Mary tá animada,, e olha que tudo que aquela menina faz é resmungar. Vai ser aqui do lado, naquele salão - Ele apontou para um prédio azul. - Aparece.

–Eu adoraria, mas não posso. - Pisquei algumas vezes. Ingrid me mataria se soubesse que eu estava flertando deliberadamente com seu filho apenas para conseguir informações. - Eu só estou de passagem, preciso segui viagem.

–Que pena. Pensei que ainda ia te ver;

–Uma pena mesmo. Bem, obrigada pela ajuda, Canjica.

–De nada, hã... eu ainda não sei seu nome.

–Vitória. - Entrei no carro, engatei a marcha. - Te vejo por aí.

Ele piscou um dos olhos, exibindo uma fileira de dentes grandes e perfeitos, e saí de lá acelerando mais que o necessário em agradecimento.

Uma festa. Era perfeito. Dei um tapinha na bolsa jogada no banco do carona. Eu tinha algo especial para manter Mary Margaret desmemoriada ali dentro. E sabia exatamente como alcançar meu objetivo. Só precisava de um disfarce.

Eu iria entrar naquela festa.


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