No instante em que pus os pés dentro de casa, Tiker me interceptou:

–Poxa, custava ter ligado avisando onde ia? Fiquei preocupada, Regina. Mary me avisou que você sumiu da academia. Ela teve que voltar de táxi. Pensei que você tivesse sido sequestrada.

–Fui fazer umas compras. Robin está subindo com as sacolas.

–Ah. Aaah! Mas... não entendo. O que aconteceu? Você não ia seduzir o encantado? Por que decidiu fazer compras?

Ri da habilidade de Tinker de criar apelidos para as pessoas.

–Porque eu não tive nem chance de tentar seduzi-lo. Alguém chegou antes.

Tinker começou a rir.

–Não é piada, Tinker. -Lancei a ela um olhar severo. A risada morreu em sua garganta.

Marchei para minha suíte. Precisava de um banho demorado. Entrei no quarto, mas me contive, derrapando no piso liso. Um par de All Star se balançava em cima da minha cama. Mary girou o rosto e revirou os olhos.

–Ah, você voltou. O que aconteceu para sair daquele jeito da academia?

–O que você está fazendo no meu quarto?!

–Te esperando. Você deveria ter me avisado que ia embora.

–Não quis atrapalhar. Você estava ocupada falando com um rapaz.

–Não era ninguém especial. - Ela deu de ombros. - Bom, não sei, né? Achei ele um pé saco no começo, mas aí descobri que é o Guitarrista dos Charmings. E ele me convidou para sai, dá para acreditar?

–Sinceramente, não.

Então reparei o que ela estava segurando. Meu iPad. Joguei a bolsa na poltrona e corri para a cama.

–O que você tá fazendo com o meu iPad?

–Estava brincando para passar o tempo. Esqueci de recarregar o meu. Adorei esse joguinho da beleza. Fiz 99 pontos!

Eu estava esticando o braço para pegar meu tablet quando estanquei, o coração subitamente batendo com ferocidade.

–O que?! - perguntei, tentando controlar o choque.

–Esse aqui, Divina Proporção. Vou baixar no meu. Adorei.

–Você deve ter se enganado. Noventa e nove é uma contagem altíssima. Ninguém consegue atingir.

–Mas eu consegui. Quer ver?

Ela ligou o aplicativo e tirou a foto antes que eu pudesse detê-la. A imagem de Mary sorrindo foi analisada pelo aplicativo em segundos, e a resposta foi como uma bala se alojando no meu cérebro.

Cem por cento! Você é a própria Divina Perfeição.

–Uau! Fiz 100! Viu isso Tinker?

Não sei ao certo qual foi a reação da minha assistente. Eu nem tinha me dado conta que ela havia me seguido, para começo de conversa. Minha atenção estava voltada para o número da tela. Cem por cento. E Mary nem usava maquiagem.

–Sai do meu quarto - falei.

–Fofadrasta, eu...

–Sai daqui, agora! - berrei.

–Vem, Mary. Regina precisa se aprontar para o próximo compromisso. Por que você não vai comer alguma coisa enquanto isso?

–Pode ser. - Ela me entregou o aparelho. - Acordar cedo me deixou cheia de fome.

A porta foi fechada. Furiosa, arremessei o iPad contra a parede, mas graças ao case protetor, ele não se espatifou como eu desejava.

Pensei que estivesse sozinha, mas Tinker havia permanecido ali.

–Regina, fica calma. É só uma porcaria de aplicativo. Ninguém leva isso a sério.

–Eu levo, Tinker! Ninguém tem uma pontuação maior que a minha. Nenhuma das modelos, nem mesmo Cora!

–Sinto muito. Eu não sabia que ela estava qui. Mary não deveria ter mexido nas suas coisas.

–Mary Margaret não deveria existir! - vociferei.

–Bom, mas ela existe, e não há nada que você possa fazer quanto a isso.

Mary podia se tornar a nova Menina Veneno, ganhar o coração do homem que eu queria, mas minha beleza... Não, ela não me colocaria sobre sua sombra. Ninguém faria isso. Era tudo que eu tinha.

Sim, meu bem, você está certo. Foi naquele momento que decidi agir. Você é bom observador.

Infelizmente Tinker também é.

–Certo, Regina? Não há nada que você possa fazer, né? - insistiu, um tanto apreensiva.

–Bem... - Sorri complacente para ela.