Castle chegava ao precinto com dois copos de café nas mãos. Vinha em alta velocidade pois estava atrasado. Ouviu o “ding” do elevador e então saiu correndo para alcançá-lo e por questão de milímetros não esbarrou com café e tudo na pessoa que saía do elevador.

- Beckett?! Oi... Desculpe o atraso. Já está saindo para o caso? – Rick perguntou vendo a detetive com bolsa e casaco nas mãos.

- Oi, Castle... – Kate respondeu sem voz.

- Nossa, o que aconteceu com a sua voz? Você está doente? – Ele continuou andando ao seu lado ainda com os cafés em suas mãos.

- Sim... Dor de garganta... – ela dizia fazendo grande esforço pra sua voz sair.

- Pra onde você está indo? Você devia ir pra casa, descansar. Um resfriado pode se tornar uma coisa séria e... – ele não parava de falar.

Kate interrompeu sua trajetória, virando subitamente para ele, fazendo sinal com os dedos para que ele calasse a boca. Sua cabeça estava fervendo.

- Ok... Desculpe... Já entendi – ele falou, mas continuou seguindo-a até o estacionamento.

Chegaram ao carro de Beckett e ela parou, tentando abrir a porta do veículo, mas antes precisou respirar fundo tentando manter a visão nítida.

- Você não me parece nada bem. Me deixe dirigir. Não quero que você sofra um acidente ou provoque um.

Ela não argumentou por dois fortes motivos. Primeiro, ela realmente queria que ele calasse a boca e segundo, não estava em condições mesmo de assumir o volante. Kate apenas entregou as chaves e seguiu para o outro lado do veículo apoiando-se para atingir seu objetivo. Ela acomodou-se doloridamente no banco do carona, recostando-se e fechando os olhos. Céus, ela estava implorando para morrer o mais rápido possível.

- Vou levar você pra casa, ok? – ele disse observando-a concordar, antes de puxar o ar com um pouco mais de força para compensar a falta de fôlego.

Ele dirigia o carro com cuidado, dividindo a atenção entre o trânsito e o comportamento de Beckett. Ela estava pálida, abatida, com o olhar baixo e aparentemente estava suando. Ela sentiu sua vista escurecer, como se fosse perder os sentidos e, ao mesmo tempo, algo revirava seu estômago. Kate estendeu uma das mãos até o braço de Rick pedindo para que ele parasse o carro, levando em seguida a outra mão à sua boca para controlar um impulso que subia pela sua garganta.

A detetive desceu correndo do carro procurando um lugar reservado para expulsar seu escasso café da manhã. As pessoas ao redor ficaram observando enojadas a cena enquanto Castle tentava ajudar Kate de alguma forma. Ela se recompôs conseguindo controlar seu mal estar e então Rick a colocou de volta no carro, ardendo em febre.

- Você precisa de um médico – ele disse ansioso. – Vou levar você para o hospital.

Beckett não argumentou e agradeceu em seu pensamento por ter alguém cuidando dela naquele momento. Lembraria de agradecer a ele mais tarde. Rick preocupava-se com o estado de saúde de Beckett. Ela sempre pareceu tão forte que para derrubá-la daquela forma deveria ser algo muito grave.

- Grav... – Castle pensou. – Será que?... Não...Não... Beckett não poderia estar grav... Se bem que... Ela está num relacionamento com Josh, já algum tempo. Poderia acontecer mesmo... Mas, puxa vida...

Rick perturbou-se com a possibilidade de Beckett estar esperando um filho de Josh. Ele não gostava muito daquele cara, na verdade ele tinha ciúmes e morria só em imaginar sua musa nos braços de outro homem. Mas agora, se ela tivesse grávida do “motorcicle boy”, isso poderia afetá-lo de uma forma que não conseguiria imaginar. Castle estava agoniado e então resolveu não pensar mais sobre isso. Afinal, não deveria existir apenas esse motivo para fazer uma mulher se sentir enjoada pela manhã.

Chegaram ao hospital e então esperaram atendimento na recepção.

- Senhorita Katherine Beckett – uma enfermeira chamou.

Kate levantou-se entrando na pequena sala de atendimento médico e antes que pudesse argumentar algo, Rick estava dentro da sala junto com ela. Decidiu não questionar, não adiantaria mesmo.

Seguiram-se então as intermináveis perguntas de triagem. Kate respondia cada uma delas sem entusiasmo nenhum. Entretanto, as perguntas começaram a ficar mais íntimas e Beckett começou a mudar de cor. Data da última menstruação, frequência de relações sexuais, quantidade de parceiros, métodos contraceptivos e, por fim, a que mais interessava Rick naquele momento.

- Você está grávida? – a doutora perguntou naturalmente, enquanto Rick se espichou para melhor ouvir a reposta.

- Não... – Kate respondeu tentando enfiar a cara em algum lugar entre os prontuários na mesa da médica.

- Preciso examiná-la melhor – a mulher de jaleco falou calmamente. - Por favor, tire a blusa.

Beckett ultrapassou o limite do constrangimento e apenas teve como reação suspirar. Rick entendeu a situação e o recado suspiroso de Kate, mas ele já estava ali e tudo acontecia muito rápido. Não sabendo o que fazer e, ao mesmo tempo não querendo fazer nada, resolveu virar discretamente para a parede fechando intensamente os olhos enquanto repetia para si mesmo um mantra: “não olhe, não olhe...”

Terminado o exame físico, a médica solicitou alguns exames de sangue e raios-X, e encaminhou a detetive para a sala de medicação. Rick agradeceu apertando as mãos da médica enquanto Kate apenas deu um leve sorriso, agradecendo também.

Beckett deitou-se em um dos leitos da enfermaria, enquanto Castle sentou-se ao seu lado acompanhando a movimentação de uma bela enfermeira que aplicava a medicação. A detetive acompanhou os olhos do escritor com um leve sorriso nos lábios, mas esse breve sorriso se desfez quando ela percebeu que ele não estava olhando para a enfermeira. Ele estava olhando para ela.

- Obrigada por estar aqui – Kate lembrou-se de agradecer.

- Não precisa agradecer. Está se sentindo melhor? – Rick perguntou arrumando seus cabelos.

- Mais ou menos... – ela sussurrou baixinho.

- Você já vai melhorar. Descanse um pouco. Eu vou ficar aqui – ele disse observando-a fechar os olhos e finalmente relaxar.

Quase uma hora depois, o soro já estava terminando e Rick decidiu acordar Kate. Ela a chamou suave e ela acordou lentamente e embriagada pela combinação de medicamentos que havia tomado. Ela ainda processava a luminosidade do ambiente e a imagem de Castle ali quando a médica veio com os resultados dos exames.

- Parabéns, Senhorita Katherine Beckett! Você foi duplamente premiada – a médica disse animadamente num tom divertidamente sarcástico.

Beckett não entendeu muita coisa, mas o coração de Rick foi ao extremo em questão de segundos. “Kate estaria mesmo grávida? E porque duplamente premiada? Seriam gêmeos? E como a médica já poderia saber disso?” A cabeça de Rick rodava, então a doutora interrompeu sua rotatória com o diagnóstico.

- A senhorita está com uma infecção dupla. Vírus e bactérias combinados...

Ambos abriram os olhos e a boca. Por motivos bem diferentes. Kate por se assustar com o que isso poderia significar, e Rick por estar aliviado em não ter nenhum bebê “Josh-Kate” a caminho.

- Então, eu vou prescrever alguns remédios, pra você tomar em casa. E vou também recomendar um repouso de sete dias pra você se recuperar...

- Sete dias? – a voz soou totalmente desafinada.

- Sim, sete dias. Seu marido pode tomar conta de você por sete dias, não pode? – A médica encarou Rick e Kate respectivamente.

Beckett tentou explicar a situação, mas Rick a interrompeu recebendo os formulários das mãos da médica dizendo que cuidaria dela da melhor maneira possível. Kate se desculpou assim que a doutora saiu liberando-os para irem para casa, mas Rick ignorou seu pedido. Para ele não teria problema nenhum ele ser marido dela, mesmo que fosse por engano.

Estavam passando pela recepção e Kate precisou assinar alguns papéis enquanto Rick, um pouco afastado, atendia o celular com uma ligação de Alexis. Ao desligar, foi surpreendido por uma voz masculina.

- Olá? Você não é o Rick Castle?

Castle se virou para ver quem era e ficou meio descorado.

- Oi, você é o...

- Josh. Namorado da Kate.

- Sim, certo. Trabalha aqui? – Castle tentava ser o mais educado possível, por respeito a Kate.

- Sim, trabalho. E você? Alguém da sua família está precisando de cuidados médicos?

Antes que Castle pudesse responder, Kate surgiu do lado dele e os três ficaram sem ação durante eternos segundos.

- Kate? Querida, o que você está fazendo aqui? Você está bem? - Josh perguntou atordoado.

- Sim... Não... É que... – A confusão fazia sua voz falhar mais ainda.

- Beckett não estava se sentindo bem, e então eu a trouxe para tomar alguma medicação e fazer uns exames – Castle começou a explicar em modo automático, vendo que Beckett estava perplexa com toda a situação.

- Oh sim, eu entendo - Josh falou com um tom semi-alterado. - Eu gostaria muito de ir pra casa com você, amor, mas infelizmente estou cobrindo um amigo meu, que também está doente. Só sairei daqui amanhã à noite. Mas eu sei que o Castle vai cuidar de você para mim, não é mesmo, Castle?

Beckett olhou firmemente pra Josh, odiando o tom que ele estava usando. Castle apenas sorriu tentando manter a compostura. Josh mirou os lábios de Kate para um beijo de despedida, mas ela se virou fazendo-o beijá-la no rosto. Rick percebeu a cena e seu coração saltou ao imaginar que um dos motivos que poderia ter feito Beckett reagir daquele jeito ao seu namorado poderia estar relacionado a ele. E estava mesmo.

- Sinto muito, Castle. Ele não devia ter tratado você assim – a detetive falou assim que entraram no carro.

- Sem problemas, já está no passado – ele disse sorrindo para ela, ligando o motor do veículo.

Chegaram ao apartamento de Beckett por volta das dez da manhã. Ela ainda permanecia de estômago vazio, visto que seu café da manhã tinha sido rejeitado pelo seu organismo. Entretanto, seu corpo pedia desesperadamente por cama e descanso. Alimento era o que menos importava agora. Então ela trocou de roupa e enfiou-se debaixo dos cobertores. Segundos antes que caísse no sono, ela ouviu Rick batendo na porta.

- Beckett? – ele abriu a porta devagar, sem ousar olhar para dentro. – Kate? Posso entrar?

Ele perguntou, mas se lembrou que provavelmente ele não conseguiria ouvir se ela respondesse. A voz dela ainda estava muito comprometida.

- Desculpe, lembrei que você está sem voz! Estale os dedos duas vezes se eu puder entrar – ele sugeriu.

Kate estalou os dedos uma vez. Segundos depois estalou duas vezes, rapidamente. Ele ouviu e então entrou no ambiente. Beckett estava deitada, enrolada até o pescoço e a cabeça repousando de lado sobre dois travesseiros, um em cima do outro.

- Você estalou os dedos três vezes. Fiquei sem saber o que você queria dizer – ele disse sentando-se ao lado dela.

- Eu quis dizer pra você calar a boca e entrar logo – ela sorriu.

- Vejo que você já está se recuperando, detetive. Está voltando a ser o amor de pessoa que é.

Ambos riram.

- Olha só, eu tomei a liberdade de ver a sua geladeira e percebi que está na hora de fazer compras.

- É, eu ia fazer, mas não tive tempo... – Beckett argumentou com a voz arranhada.

- Então, eu vou até o supermercado trazer algumas coisas, pra preparar algo saudável pra você.

- Será que vou sobreviver, com você cozinhando para mim, Rick Castle? – ela brincou.

- Claro que vai... Alexis sobreviveu até hoje... – ele falou no tom protetor que ela amava ouvir.

- Obrigada, Rick...

- Não precisa agradecer. Você é importante pra mim. – Houve uma pausa e um clima diferente reinou ali. - Eu vou e já volto. Você vai ficar bem? Quer que eu traga alguma coisa específica?

- Não, obrigada. Vou ficar bem – ela disse fechando os olhos.

- Ok, daqui a pouco estou de volta. Qualquer coisa me ligue, está bem?

- Sim – ela respondeu já caindo no sono.

Ele arrumou um pouco mais o cobertor dela, deu um beijinho na testa, e saiu do quarto fechando a porta devagar.

Antes de sair do apartamento Castle ligou para Alexis.

- Filha? Beckett está doente. Vou precisar de sua ajuda.