Perdida em Crepúsculo escrita por Andy Sousa


Capítulo 14
Inesperado.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :}



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Trailer

"Eu não sou uma pessoa perfeita.
Há muitas coisas que eu gostaria de não ter feito,
Mas eu continuo aprendendo
E nunca quis fazer aquelas coisas com você.
Eu preciso lhe dizer antes de ir
Que eu só quero que você saiba,
Eu encontrei uma razão para mudar quem eu costumava ser,
Uma razão para começar de novo.
Sinto muito por ter te magoado,
É algo com que devo conviver todos os dias.
E toda a dor que lhe fiz passar,
Eu gostaria de poder retirar completamente,
Por isto preciso que você escute.
Eu encontrei uma razão para mostrar
Um lado meu que você não conhecia,
Uma razão para tudo o que faço
E a razão é você."

The Reason - Hoobastank

~*~

Estávamos no Volvo, Edward manobrava o carro para fora do estacionamento em silêncio. Eu terminara de comer rápido, pensando realmente no que ele dissera sobre Charlie estar preocupado comigo. Olhava pela janela e pensava na reviravolta que ocorrera com a situação, jamais cogitaria estar vindo embora acompanhada de quem estava.

– No que está pensando?

– Nada de mais – fiz um gesto de indiferença, eu não queria partilhar com ele as reflexões sem nexo que tinha, fiquei contente delas estarem salvas de seu conhecimento.

– Sabe que eu gostaria de saber o que é.

Eu sabia que sim, Edward detestava não poder interpretar a mente de alguém, o deixava inseguro, mesmo que ele não me admitisse isto.

– Estou somente imaginando se Charlie estará bem.

– Gostaria que o xerife soubesse o que seu amigo lhe fez hoje – comentou com desdém.

– Não há motivo para isto, Charlie provavelmente levaria o assunto com mais seriedade do que precisa, talvez Mike fosse parar na cadeia – fiz piada da última parte.

– Acredito que não seja má idéia – ao contrário de mim, Edward não parecia estar brincando e concluí que definitivamente ele não simpatizava com o rapaz.

Passei a mão por meu cabelo, como fazia quando estava pensativa.

– Este anel que usa o que ele significa?

Olhei para meu dedo, ele reparara na jóia que meus pais me deram de aniversário, eu sempre me esquecia dela, pois nunca a tirava de onde estava.

–Ah, é só um presente bobo.

– E por isso nunca o tira? – Perguntou com sarcasmo. – Temos tempo até Forks, pode me contar sua história.

Eu o fitei surpresa com suas palavras. Seria possível que estivesse mesmo interessado em saber o que eu tinha a dizer? Parecia algo bom demais para se esperar de qualquer rapaz, mas Edward Cullen não era um rapaz qualquer.

Respirei fundo.

– Em meu país seguimos o costume de vocês de dar uma grande festa à garota que completa quinze anos, sei que aqui é dezesseis, mas isto não faz diferença, tirando essa peculiaridade o resto é igual. De qualquer forma, eu já havia planejado tudo, feito lista de convidados e alguns meses antes de eu poder divulgar para meus amigos meus pais passaram por uma fase muito difícil nos negócios: um sócio deles foi desleal e conseguiu levar grande parte do dinheiro que minha família tanto trabalhou para ter. – Eu fiquei em silêncio um momento, eu jamais me esqueceria daquele dia, a expressão de horror no rosto de minha mãe e o fracasso estampado no de meu pai.

Olhei um pouco pela janela, as árvores que passavam velozes por nós me diziam que eu estava mesmo muito longe de casa.

– Bem – continuei sem querer demonstrar emoção demais – o fato é que com muita dificuldade meus pais conseguiram recuperar quase tudo que lhes fora tirado, mas isto só aconteceu anos depois, quer dizer, como foi há poucos anos atrás eles ainda colhem frutos desse tempo tempestuoso, mas de qualquer forma o anel me veio por isto. Minha festa logicamente foi cancelada, mas meus pais usaram o pouco dinheiro que havia lhes sobrado na época, foram até uma joalheria sem que eu sequer suspeitasse e me compraram este anel. Quando me deram primeiro se desculparam, disseram que em nada podia se comparar com o grande baile que eu esperava, mas que fora o melhor que eles podiam ter feito...

Desta vez eu me calei e olhei pra baixo, sentia os cantos de meus olhos úmidos e me arrependi de ter tocado naquele assunto, eu estava com muitas saudades de meus pais, não fora uma escolha sábia.

Edward se curvou um pouco na direção em que eu estava e abriu o porta-luvas, tirou de lá um lenço branco e de acabamento simples, mas muito bem cuidado como se nunca tivesse sido usado.

– Tome – disse ele.

Eu peguei o pequeno pedaço de pano, sentindo a maciez do algodão.

– Edward, eu não posso usá-lo, vai manchar por causa da maquiagem.

– Eu lhe fiz se lembrar de coisas tristes, não tem que se preocupar comigo.

Suspirei, mas aceitei e limpei meu rosto. Tinha um cheiro bom de roupa recém-lavada e achei curioso que Edward levasse aquilo consigo, era como se ele esperasse que fosse ter de usá-lo. Mas imaginei que o intuito fosse este e achei muito cavalheiresco de sua parte. Desconfiava que nem que procurasse por todo o mundo, eu jamais acharia alguém como ele.

– Olhe, não se culpe está bem? Não estou aborrecida, eu gosto de falar sobre meus pais. E a história tem um final feliz, pois tudo se encaixou novamente no lugar. – Passei a mão pelo pequeno anel dourado em meu dedo – eu nunca disse a eles, mas isto para mim significou mais que ter ganhado a mais linda festa. É irônico pensar que em uma das épocas mais difíceis de minha vida eu tive um de meus momentos mais felizes – completei sorrindo.

Edward me olhou e também sorriu, eu me perdi outra vez naqueles olhos e em silêncio afirmei pra mim mesma que estava novamente descumprindo a promessa. Mas eu não me importei desta vez, porque enquanto olhava aquele rosto soube do quanto me enganara, eu não conseguiria ficar longe dele, eu sempre soube disso. Mas a verdade genuína era que eu não queria.

Olhei pelo pára-brisa a noite onipresente e me senti muito frágil, mas não fisicamente, talvez um pouco. O que eu enfrentava era a descoberta de que estava mais interessada naquele garoto do que deveria e eu sabia que pagaria por isto depois. Eu sequer sabia o que ele pensava, sequer cogitava o que ele poderia sentir por mim e eu não queria me apaixonar por ele. Eu não queria acabar sofrendo por desilusão amorosa, pois Alex apesar de ter sido o único fora suficiente para mim, eu queria desesperadamente ser feliz, mas minha cabeça me dizia que a felicidade existia, mas não ali; que eu não devia estar neste carro, que eu não devia estar com Edward, mas quando pensava em deixar tudo isso de lado eu via que já não podia.

Eu estava muito perdida.

Não havia percebido que já adentrávamos os limites de Forks, logo eu estaria em casa e achei melhor assim, fora uma noite longa e eu tinha muito que pensar sobre ela. Edward não disse mais nada, mas eu desconfiava que estivesse tão mergulhado em pensamentos quanto eu.

Quando chegamos a rua ele parou o carro, mas não à frente da casa de Charlie.

– Imagino que você tenha o direito de contar ou não ao xerife o que houve esta noite, ele desconfiaria se olhasse pela janela e a visse chegando em um carro diferente – explicou sorrindo.

Edward estava tão diferente! Qualquer um diria que não era o mesmo garoto com quem eu estivera nos primeiros dias. O que havia mudado de ontem para hoje? O que o fizera modificar tanto seu trato comigo? Eu não entendia e achei que assim era melhor, enquanto não decidisse o que fazer com meus sentimentos o mais seguro seria tornar a manter distância, se eu não era forte o bastante para fazer isto por Bella que ao menos fosse por mim.

– Eu lhe agradeço muito por hoje Edward, acho que merece saber que eu não vou contar a Charlie sobre o incidente com Mike, mas que sei bem como lidar com ele daqui em diante. Sei que pareço ingênua às vezes, mas sei me cuidar. – Eu procurei por uma maneira de tranqüilizá-lo e de lhe dizer que não se preocupasse comigo, sem soar rude, pois estava mesmo grata por sua ajuda.

Ergui minha mão para a porta, disposta a sair, mas Edward tocou de leve meu braço, me fazendo virar para ele. A frieza de seus dedos conseguiu me atingir mesmo por baixo da jaqueta e um arrepio me assaltou quando me dei conta de que era a primeira vez que ele deliberadamente me tocava.

– Aneliese... – Ele me olhava de uma forma que eu não compreendia, seus olhos antes sorridentes agora revelavam certa agonia. Parecia querer encontrar algo para dizer. – Porque sinto que apesar dos minutos que passamos juntos você está mais distante de mim do que antes?

Eu não soube o que lhe dizer, não esperava que ele fosse me perguntar isto, não esperava que ele fosse me perguntar nada, de fato esperava que ele tivesse me deixado ir como deveria ter sido. Era o certo e o esperado. Porque ele insistia em modificar o senso comum? Porque ele tinha que me fazer ficar mais tempo ao seu lado só para tornar mortalmente mais difícil a partida?

– Eu... Me desculpe Edward, mas eu tenho que ir.

– Não, não tem. Você tem que fugir. Quer se manter longe de mim, mas porque? Ainda teme? Aneliese, se eu realmente quisesse machucá-la, eu...

– Não, não é isso. É... Difícil.

– Tenho certeza de que consigo compreender.

– Desta vez não. Desta vez apenas você está errado, você não entenderia minha vida se eu a contasse a você. – Eu estava tornando as coisas mais árduas, eu tinha de ir ou ele começaria a me fazer perguntas as quais eu não podia responder. – Eu tenho mesmo que ir Edward.

– Espere. Por favor, espere. Só me deixe... Aneliese, eu...

Era muito estranho o ver procurando por palavras, em geral Edward se expressava muito bem. Isto queria dizer que estava mesmo transtornado, mas porque? Assim como ele me afirmara não ter mais perigo eu não lhe passara a mesma impressão? Eu não era nociva a sua família, será que ele ainda temia por mim?

– Edward...

– Não, por favor, não me diga novamente que tem que ir. Não me fale que o que tentei fazer de nada adiantou porque você quer se manter longe. Eu odiaria saber que ainda não confia em mim.

– Mas eu confio em você – afirmei rápido demais. Depois pensei sobre minha frase, mas vi que era verdade, eu confiava nele agora, não tinha mais medo. Eu não me dera conta disto.

– Se confia então não se mantenha distante, não fique longe de mim.

– Por que não? Edward você sabe que sua família ainda não gosta de mim, sabe que ser meu amigo é errado, que estaríamos tentando fazer dar certo uma coisa impossível, então porque insiste em ficar por perto? Porque você não se afasta de mim?

– Porque não consigo.

Eu fiquei parada, imóvel enquanto o olhava. Edward que até agora se mantivera afastado se aproximou e manteve seus olhos com tanta intensidade nos meus que não pude me desviar.

– Eu não consigo me manter distante de você, esta é a verdade. Se não revela seus motivos, posso lhe contar o meu: eu não consigo me manter longe de você. Eu não havia percebido até ontem, até lhe ouvir dizendo que me deixaria em paz. Aquilo deveria ter sido o que esperava, mas foi o completo oposto. Perturbou-me. Eu fiquei perdido tentando entender a razão para tal coisa, desde aquele segundo em que você me virou as costas eu não pude tirá-la de minha cabeça. Eu a via em toda a parte pelos pensamentos dos outros e tardamente me dei conta de que sentia sua falta. Quão louco isto pode soar? Sei que pouco nos conhecemos, mas é a verdade Aneliese, eu já lhe disse antes, há algo em você que me atrai imensamente e eu falharia logo se continuasse a fingir que esta não é a realidade.

Eu devia estar imaginando demais.

– Eu não sabia que se sentia assim – murmurei.

– Não, não sabia e isto a faria ir embora e eu não poderia lidar com a distância mais uma vez. Será que agora pode me dizer que mudou de idéia e que não vai se afastar?

– Bem, eu... – Eu tinha que dizer que não. Tudo aquilo que ele me confessara devia ser o motivo principal para que eu corresse para fora de sua vista. Minha mente me acusava repetindo que eu não tinha o direito de estar ali, mas eu vinha dando ouvidos ao meu lado racional por tempo demais. Meu corpo ansiava por estar cada vez mais perto de Edward e meu coração batia acelerado me impossibilitando de ter juízo. – Tudo bem, acho que podemos ser amigos, afinal.

Ele sorriu e eu tentei ser sincera ao sorrir de volta, mas eu sabia bem que a palavra ‘amigos’ era ridícula, eu queria significar muito mais que isto.

Charlie estava adormecido no sofá quando eu chegara, provavelmente ficara cansado de me esperar e quando o acordei ele pulou assustado, já gritando comigo e me perguntando se eu não tinha noção da hora. Eu tentara argumentar, mas acabei proibida de sair pelo próximo mês inteiro e prometera a mim mesma que jamais tornaria a confiar em Mike Newton.

Depois disso eu subira para tomar banho e viera me deitar. Podia não ter tido um dia longo de trabalho, mas estava emocionalmente esgotada. Fiquei revirando na cabeça o que Edward havia me dito e toda vez me perguntava se havia mesmo sido real. As coisas faziam mais sentido agora que eu sabia seus motivos, mas não haviam ficado mais fáceis. Fora minha consciência apontando o dedo em riste para mim eu tinha que conviver com a insegurança de um sentimento ainda novo e confuso. Tudo o que Edward me dissera significava afinal que ele gostava de mim? E se gostasse como eu lidaria com isto? Devia ser tudo o que eu mais queria, mas parecia imprudente e me admirava que fosse eu a pessoa a se ocupar pensando nisto, eu geralmente não era tão sensata. Mas eu tinha medo, e não mais era o medo incapacitante da morte e sim um que eu conhecia bem e de que também não gostava nem um pouco: o medo da rejeição.

Era muito coisa em que se pensar e eu estava cansada, o melhor que fiz foi adormecer e deixar as dúvidas de lado imaginando que talvez ao amanhecer elas tivessem se ido com a noite.

Eu fitava a janela da cozinha, depois de tomar meu café decidindo o que iria fazer. Charlie acabara de sair para o trabalho, mas não sem antes me frisar que eu estava proibida de sair de casa, isto me fez optar pela única maneira produtiva de passar o dia: estudar.

Peguei meu material no quarto e desci para a sala, depois dei uma olhada na pequena coleção de CD’s de Charlie e optei por um de música instrumental para me ajudar a ficar tranqüila e me concentrar na tarefa. Passei boa parte da manhã enfiada nos livros, terminando os deveres e relendo textos explicativos, quando chegou a hora do almoço fiz macarrão com queijo e comi vagarosamente. Olhando pela janela senti inveja da chuva que estava do lado de fora, não era como se eu tivesse qualquer compromisso que estivesse perdendo, mas o fato de saber que estava presa só me dava vontade de sair correndo porta afora.

Depois que terminei e lavei a louça voltei para a sala e tornei a me sentar no grosso tapete bege. Passei para espanhol e percebi que tinha dúvidas quanto a esta matéria, já que não tínhamos ela em minha antiga escola. Quando procurei pelo livro correspondente me lembrei de que a professora ficara de me entregar uma cópia, mas que ainda não o fizera. Havia bastante lição para ser respondida e comecei a ficar preocupada sem saber como terminar. O computador me veio a mente por um segundo, mas logo mudei de idéia: a chuva estava forte e provavelmente deixaria a internet ainda mais lenta.

– Eu preciso de um livro de espanhol – verbalizei o óbvio.

Pensei em ligar para algum de meus colegas e pedir que me emprestasse, mas eu não me sentia assim tão íntima deles. Por fim tive a resposta para meus problemas, algo de que eu me esquecera: a biblioteca municipal. Provavelmente lá eu encontraria o que precisava.

Levantei-me num pulo e corri para o telefone, disquei o número da delegacia e esperei um pouco ansiosa. Eu sabia muito bem que minha exaltação não se devia ao fato de poder desvendar o maravilhoso mundo da língua estrangeira e sim porque eu agora tinha um ótimo pretexto para sair.

Um dos policiais atendeu e pedi para falar com o xerife.

– Aneliese, está tudo bem?

­– Sim Charlie, está. Me desculpe se estou interrompendo, mas é que eu queria lhe pedir para me deixar ir a biblioteca, estou estudando e não tenho um dos livros que preciso.

Ouve silêncio do outro lado da linha.

– Que livro é?

– De espanhol.

– Hmmm tudo bem, pode ir, mas tente voltar logo, está bem?

– Sim Charlie, obrigada! – Tive que conter meu sorriso ao lhe responder, para que não desconfiasse de algo. Eu não estava planejando aprontar nada, iria mesmo fazer o que lhe dissera, eu só ficara feliz por ter conseguido passe livre para a rua.

Desde a véspera eu viera me empenhando muito em passar por uma garota comum, uma verdadeiramente comum – que não estivesse perdida dentro de alguma história de fantasia por aí. Eu fazia isto porque queria que o perfeito funcionamento da realidade me ajudasse a comprovar que a noite anterior não fora um sonho. Porque havia sido mais do que eu esperava. Todas as vezes que lembrava que Edward dissera aquelas coisas para mim meu subconsciente me fazia pensar que era mentira e eu agora queria muito estar do lado de fora, cercada de árvores e chuva que só iriam me ajudar a ter certeza absoluta de que eu estava mesmo em Crepúsculo.

Depois de colocar a capa de chuva saí correndo ao encontro da picape e liguei-a, descendo a rua em direção ao centro. Eu me sentia muito esquisita, como em um daqueles dias em que tudo parece surreal e você se pergunta se não se esqueceu de acordar. Mas o fato mais importante era que eu estava incondicionalmente na defensiva. Eu estava temerosa pensando como seria quando encontrasse Edward de novo na escola, na segunda-feira. Pela experiência que tivera convivendo com ele eu não fazia idéia de como iria se portar e por isso eu não fazia idéia de como eu iria me portar.

Mantive o olhar na rua, procurando meu destino, eu me esquecera de perguntar a Charlie aonde deveria ir, mas como a cidade era pequena logo encontrei o que precisava. A biblioteca era um prédio de dois andares, de aparência muito antiga e bem ornamentada do lado de fora, estava claro que o espaço havia sido reaproveitado e como eu sempre gostara de ler me senti animada para verificar o que aquele lugar reservava. Estacionei a picape e saí para a chuva habitual, logo cheguei à entrada e me deparei com uma moça jovem que se encontrava sentada atrás do balcão de madeira marrom. Me surpreendi que ela parecesse tão nova, mas não me lembrava de já tê-la visto antes o que devia significar que já terminara a escola.

Assim que ouviu meus passos ela desviou os olhos do que fazia e me olhou com ar prestativo.

– Boa tarde, posso ajudar?

– Boa tarde, gostaria de saber o que é preciso para se tornar sócio.

– Ah sim, você trouxe seu documento?

Puxei minha identidade do bolso e lhe entreguei. Ela se virou para o lado, puxou uma ficha e a colocou em uma máquina de escrever, eu fiquei surpresa com o método rústico.

– Que interessante sua máquina.

A menina sorriu.

– Gostamos de manter a originalidade, nos faz parecer mais sérios – brincou.

Nós duas rimos e ela me fez algumas perguntas referentes ao cadastro, eu fizera questão de memorizar meu endereço e telefone novos para não precisar recorrer a Charlie toda vez.

– Espera, você é a garota que mora com o xerife?

Já fazia algum tempo que não me perguntavam isto.

– Sou.

– Ah sim, bem, seja bem-vinda a Forks, Aneliese. Aqui está sua carteirinha, ela tem validade de um ano e você pode fazer empréstimo de dois livros por vez. Se tiver dúvidas, aqui está o manual do usuário, está cópia é sua, pode levá-la.

– Muito obrigada.

Fiquei contente por ter conseguido me associar sem problemas, a moça me indicou uma porta e eu segui, passando por um diminuto corredor e logo saindo em um enorme espaço, dividido em dois andares e ocupado por muitas estantes abarrotadas de livros. Uma grande abertura no teto possibilitava ver o segundo andar e lá havia algumas mesas grandes de aparência antiga onde pessoas liam seus livros e cochichavam entre si. Se eu procurava por familiaridade definitivamente viera ao lugar certo.

Como prometera a Charlie não demorar me apressei para checar os volumes, placas indicavam os gêneros e logo notei que os livros de estudo ficavam ao fundo, dispostos em fileiras iguais. Depois de procurar por algum tempo encontrei o que precisava e estava pronta para ir, porém como tinha direito a mais um livro decidi subir e verificar também o que havia disponível na parte de cima. Quase corri para a seção de publicações antigas e depois de passar o olhar velozmente pelos títulos encontrei um de meus favoritos.

– "Orgulho e preconceito", também gosto muito deste.

Virei meu rosto e arfei baixinho ao encarar a dona da frase. Era nada mais, nada menos que Alice Cullen. E eu que pensara que estaria livre de coisas fantasiosas por hoje.

– Gostaria de ter nascido alguns séculos antes para ter tido a chance de conhecer Jane Austen, ela é fantástica, não é? – Ela sorria calorosamente como se não houvesse nada de estranho em nosso inesperado encontro. – Me desculpe se estou sendo rude, mas acho que você já deve me conhecer, sou Alice Cullen, irmã de Edward.

Ela me deu um rápido abraço e eu tentei retribuir de uma forma que não parecesse mal-educada, mas eu estava claramente sem palavras.

– Olhe, me perdoe por pegá-la de surpresa, mas eu queria muito falar com você, entretanto nem todos vêem esta minha escolha com bons olhos, por isso quando vi que viria para cá não pensei duas vezes – explicou-se.

Ela parecia muito confiante no que dizia, eu havia sido estúpida de pensar que era coincidência, estava claro que a única pega de surpresa fora eu.

– Você quer falar comigo? – Perguntei como uma tonta, ela já deixara claro que viera aqui pra isto, mas eu tinha o direito de estar sobressaltada afinal ela me surpreendera e ela era Alice Cullen, eu sempre quisera falar com ela!

– Sim – ela riu. – Venha, vamos nos sentar ali.

Ela pegou minha mão com sua palma muito fria e me conduziu até o lado mais reservado do salão, me indicou que me sentasse junto dela no banco comprido de carvalho.

– Olhe Aneliese, vou ser rápida, ao contrário de meus irmãos não gosto de falar por códigos. Eu queria na verdade era pedir-lhe um favor.

Minhas sobrancelhas se ergueram, mas eu nada disse então ela continuou:

– Queria, por favor, pedir a você que confie em mim.

Foi difícil não demonstrar minha confusão com o que ouvia. Alice não acabara de dizer que não falava por códigos? Eu não compreendia seus dizeres com precisão. Ela notou minha reação e se aproximou um pouco mais, falando baixo.

– Liese, eu sei que você ainda tem medo de minha família, mas não há motivo para tal, acredite em mim, Rosalie é a única cabeça dura daquela casa, mas com ela eu posso me virar. Peço que confie em mim nisto: não precisa se manter longe de nós. Não lhe faremos mal, não a machucaremos em hipótese alguma, você sabe que Carlisle jamais permitiria tal coisa, ele se envergonha muito por não ter podido impedir minha irmã do que fez.

– Eu não o culpo.

– Eu sei que não, acredite em mim. Eu sei disso e de muitas outras coisas e sei que você é uma boa pessoa, eu soube desde o início, mas tive que deixar os outros aceitarem este fato com mais calma, alguns deles ainda estão relutantes, mas vão ceder.

– Me desculpe, mas ainda não entendo. Porque quer que eu me aproxime de vocês?

– O que quero apenas é que você deixe de lado a incerteza, que baixe a guarda, isto vai lhe fazer bem também porque vejo em seus olhos que você está assustada de estar aqui comigo agora e que já cogitou sair correndo. – Ela riu curtamente. Eu só podia ouvi-la, estava impressionada com o poder que seu dom lhe dava. – Será muito melhor você largar a paranóia e eu vou conversar com aqueles teimosos para pararem de pensar coisas sem sentido sobre você. Estou cansada desse ar de suspense pairando sempre sobre nossas cabeças, no começo foi até divertido, mas agora está ficando sem graça.

Ela se recostou ao banco e cruzou os braços fazendo bico e olhando para frente com cara de tédio. Eu aproveitei a pausa para reorganizar o que pensava, essas conversas que eu andava tendo com as irmãs Cullen estavam ficando cada vez mais estranhas. Ao menos Alice não viera me ameaçar.

– Alice, eu fico muito grata que queira me ajudar, acho que nós duas sabemos que não adianta fingir que sou corajosa quando está claro que ainda tenho receio, mesmo assim, me desculpe por dizer isto, mas não entendo qual seu interesse em particular neste assunto.

Ela suspirou e se virou para me fitar.

– Liese, eu gosto de minha vida, se é que posso chamá-la assim. Passei muito tempo tendo dificuldade para aceitar minha existência, mas agora me dou melhor com isto, tenho muita sorte de ter Carlisle, Esme, Jasper... Só que há algo de que sinto falta: uma amiga. Rosalie é minha irmã e a considero muito, mas ela é muito decidida e suas opiniões completamente difíceis de contornar. Eu gostaria de ter essa experiência com alguém que eu possa contar; alguém que não me force sempre a criar um motim antes. Aqueles vampiros levam tudo muito a sério, ás vezes eu sinto falta apenas de rir.

Seu comentário não foi engraçado, mas eu ri dele, eu ri de ver Alice se queixando de sua família desse jeito, algo tão típico de uma adolescente comum, eu imaginava que ela estivesse imune ao desapontamento, mas me equivocara.

Ela também riu e ficamos assim por alguns minutos.

– Viu só? Com você é muito mais fácil, eu sabia que seria assim.

Eu ponderei por um segundo, mas tomei coragem para lhe perguntar:

– Alice, me diga, por favor, quando você diz que sabe é porque sabe mesmo, não é? Você viu isso? Previu que nos tornaríamos amigas?

Pensei que ela se ofenderia com minha intromissão, mas ao contrário abriu um largo sorriso e assentiu freneticamente, os olhos grandes me fitando com alegria.

– Sim, claro que sim! E fiquei imensamente feliz. Mas, bem, Edward me proibiu de falar com você. Aquele egoísta queria guardar você só pra ele, mas agora não há nada mais que ele possa fazer. Liese, eu estou do seu lado, de verdade. Edward só leva a precaução a um nível absurdo, não há o que temer.

Eu me distraí pensando em Edward me querendo só pra ele. Você sabe que não foi isso o que ela quis dizer! Sim, eu sabia, mas podia sonhar, não podia?

Alice deu uma olhada no relógio em seu pulso.

– Bem, acho que já estou tomando demais seu tempo, eu também tenho de voltar se não quiser levantar suspeitas. Se puder lhe pedir outro favor, não conte a meu irmão que vim vê-la, está bem? Posso te assegurar que ele vai ficar sabendo, mas eu prefiro adiar a ira dele pelo maior tempo possível, estou disposta a descansar este final de semana – riu-se.

Eu concordei e nos levantamos, ela me acompanhou até o térreo, eu não me enganara sobre Alice, ela era ainda melhor do que eu pensava, eu não lhe respondera sobre sua proposta de sermos amigas, mas eu sabia que não havia o que pensar, era claro que eu queria. Eu sempre gostara dela, me sentia contente por ela também simpatizar comigo. Além disso, Alice fazia tudo parecer mais leve, eu confiava nela, não porque ela me pedira que o fizesse, mas porque sentia em meu coração que ela estava sendo verdadeira; se houvesse perigo ela saberia e eu acreditava que ela iria me contar.

Estávamos quase chegando ao corredor que levava à entrada e ela se voltou para mim.

– Obrigada por ter me escutado. – Se curvou e me abraçou e desta vez eu pude retribuir melhor. – Você vai ser muito feliz aqui em Forks, acredite em mim, eu sei disso.

Ela piscou e sorriu mais uma vez, depois se afastou rapidamente, desaparecendo na curva do corredor e eu fiquei sozinha para interpretar o que suas últimas palavras significavam.


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