Perdida em Crepúsculo escrita por Andy Sousa


Capítulo 15
Confiança.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! :}



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Trailer


"Eu conheço coisas boas, e conheço as más também,
Qualquer testemunha deste mundo pode dizer isto.
Se há tristeza, também há beleza e fé,
Então, verdadeiramente, se há luz eu quero ver
Agora que eu sei o que estou procurando.
Realmente, se há alegria eu quero sentir,
Aqui neste mundo é onde eu quero estar
Porque eu não posso mais chorar.
E há mágica agora,
Debaixo das árvores vermelhas de sangue todo o céu grita um mistério.
E se somos estranhos aqui desde o dia em que nascemos
Porque temer a liberdade se ela é sua?
Todo mundo está chamando, chamando pelo meu nome,
Todo mundo está dizendo que as coisas não serão mais as mesmas,
O céu está mostrando como tudo será,
Mas estou assustada e cansada de ser como eu sou."

Truly – Delerium feat. Nerina Pallot

~*~

Estava se tornando um hábito que eu dirigisse com a cabeça nas nuvens, eu tinha sorte do caminho ser sempre curto e pouco movimentado, pois se exigisse mais de minha atenção acidentes poderiam acontecer. A chuva não dera pausa e novamente tive de correr pelo pequeno trajeto do gramado até a porta da frente, mantive os livros protegidos dentro da grossa capa de chuva, satisfeita por ter deixado a vaidade de lado uma vez e tê-la usado.

Adentrei o hall e me despi da capa, pendurei no gancho perto da porta e também tirei as botas, sem querer sujar de lama o interior da casa. Eu ainda não tomara banho e achei melhor fazê-lo já, assim poderia ficar aquecida e continuar os estudos de forma mais confortável. Deixei os livros na mesinha de centro da sala e fiz meu percurso até o andar de cima, eu lavara meus cabelos na véspera, mas a chuva sempre os deixava oleosos, eu passava a mão pelos fios desembaraçando-os e adentrei o cômodo de cabeça baixa. Um vulto anormal chamou minha atenção e ergui meu olhar, distraída. Então congelei no lugar fitando aqueles olhos que eu agora conhecia tão bem e não acreditando que estivesse vendo-os em meu quarto.

– Edward! Mas o que você está fazendo aqui?! – Esganicei-me.

Não era possível, quantos vampiros mais eu iria encontrar hoje? E dessa forma inesperada... Meu coração já estava tendo overdose de adrenalina.

– Não achei que seria aconselhável fazer uma visita formal, seus vizinhos iriam comentar e talvez o xerife não ficasse muito contente.

– Mesmo? E o que acha que ele vai dizer quando souber que um garoto esteve dentro de meu quarto esta tarde?

Ele sorriu sacudindo a cabeça devagar.

– E quem irá contar isto a ele? – Indagou, uma de suas grossas sobrancelhas levantada.

– Ah...

Era patético que eu ficasse sempre sem palavras na presença dele. Mas também não seria por menos, Edward parecia que gostava de me ver assim, não podia acreditar que ele fosse alheio ao poder que possuía. Eu me lembrei de que estava molhada e descabelada, com certeza em nada parecida com ele que por sinal estava muito bem vestido e perfeitamente apresentável com ênfase na palavra perfeito. Será que ele bagunçava aquele cabelo de propósito?

– Você está bem?

– C-Claro que estou. – Pigarreei e aprumei meus ombros tentando demonstrar firmeza. – Agora me explique, por favor, o que você faz aqui.

– Minha irmã. Sei que você a viu hoje. – Esclareceu, agora com ar sério.

Minha boca se abriu um pouco em surpresa, então ele já sabia? Poxa, mas também com esses dons dos Cullen ficava difícil esconder-lhes qualquer coisa, ao menos não fora eu quem lhe contara.

– Tudo bem, eu a vi. Acredito que não haja nada de errado nisso.

Não foi uma pergunta. Eu não quis fazer parecer que precisava de sua permissão, entretanto, eu sabia que a determinação de Edward conseguia facilmente mitigar a minha.

– Acredito que não. Se me disser o que ela esteve falando com você.

Soltei um som de deboche, agora eu tinha chance de subjugá-lo.

– Sabe que não vou dizer Edward, não acho que isto compete a você.

Talvez eu tivesse passado um pouco dos limites, ele semicerrou os olhos e se aproximou alguns passos de mim, eu tentei manter a mesma intensidade no olhar que agora via nele, prontamente não o deixaria me dominar de novo.

– Mesmo? Não acredita que me diga respeito? E sobre o que falaram afinal? Livros?

– Bem, acho perfeitamente cabível tendo em vista que estávamos em uma biblioteca.

– Entendo. Bem, Alice tem o costume de sempre querer controlar as coisas, pensei que ela tivesse ido lhe dizer o mesmo que disse a mim no dia em que você chegou à cidade.

Incrível! Ele estava tentando me driblar, queria que eu lhe perguntasse de que se tratava o assunto, o pior era que minha curiosidade havia ficado inflamada, mas ao observar com cuidado seu rosto percebi que escondia uma armadilha e eu não pretendia cair nela.

– Não sei dizer se se trata do mesmo ou não, mas acho que é algo que jamais saberemos. – Dei-lhe um sorriso irônico.

Seu olhar escureceu, todavia ele se manteve quieto.

– Você está certa, é direito seu me contar ou não. Me assegure apenas de que ela em nada lhe incomodou.

– Sabe que não. Eu gosto muito dela, fiquei feliz em vê-la.

Ele assentiu para si mesmo e olhou para o chão, pensativo.

– Edward, de verdade, porque lhe perturba tanto que sua irmã e eu sejamos amigas?

– Não me perturba Aneliese, mas penso se não seria melhor mesmo que você mantivesse distância de nós.

– Estranho você dizer isto, não fui eu quem lhe procurei ou fui?

– Parece aborrecida.

– E estou. Sinceramente Edward, este seu temperamento é muito difícil de lidar, ontem você me deixou pensando que queria ficar perto de mim, mas eu sabia que iria mudar de idéia.

Eu caminhei alguns passos e me sentei na cadeira de balanço, era de fato complicado viver aquela vida, eu lidava com pessoas incrivelmente volúveis.

– Me diga o que mais você pensou.

Levantei a cabeça para olhá-lo.

– Me desculpe, não entendi.

– Diga-me que não achou loucura em minhas palavras, diga-me que eu estou certo, porque a verdade é que ainda tenho dúvidas, ainda me sinto violando um espaço que não me pertence. Se isto é algo ruim, me fale.

Franzi o cenho.

– Não. Não é algo ruim, eu gosto. Acho só que... É apenas árduo demais.

Ele levou uma das mãos à cabeça e cobriu um pouco o rosto, eu não quis dizer nada, sabia que no final ele acabava decidindo algo e voltando atrás depois, gostaria de ver um pouco mais de decisão vinda dele. Fiquei me balançando devagar, estava com frio e isto me ajudou a me esquentar um pouco.

Edward passou a mão pelo cabelo e fechou os olhos, continuou em pé, longe de mim.

– Aneliese, seria mais fácil se... Se soubesse que pode confiar em mim?

Soltei o ar num silvo.

– É a segunda vez que me pedem isto hoje – resmunguei.

Ele me olhou interessado.

– Minha irmã lhe pediu que confiasse nela?

Droga.

– Tudo bem, ela disse que você ficaria sabendo mais cedo ou mais tarde mesmo. Sim, Alice me procurou para pedir que fôssemos amigas, o que por sinal eu aceito de muito bom grado, mas também queria que eu parasse de ter medo de vocês.

– E acha que pode fazer isto?

– Não sei Edward, me diga você. Você é a razão de eu temer, se me disser que não há perigo então eu acreditarei.

– Está mais decidida esta tarde, muito mais do que esteve ontem à noite.

– Estou? Talvez eu só queira resolver esses problemas e ter chance de viver em paz – dei de ombros.

– Acha que sou um problema para você?

Eu o olhei e quase que imediatamente respondi.

– Não. Mas ainda acredito que estou indo contra minha própria concepção ao continuar aqui conversando com você.

– Quer mesmo se manter longe de mim?

Mordi o lábio e desviei o olhar. Isto era péssimo, ao menos agora ele poderia ler meus pensamentos e entender o que eu pensava.

– Eu tenho que me manter – murmurei.

Engoli em seco e trinquei o maxilar, estava com vontade de chorar e não queria.

– Me diga a razão.

– Não posso. Não posso dizer – confessei com a voz embargada, então me levantei. – Edward, eu tenho mais algumas coisas que fazer ainda esta tarde, acho melhor você ir.

– Ontem me disse que havia uma forma de sermos amigos, lembra-se disso? Não acredito que esteja voltando atrás como há pouco me acusou de ter feito. – Apesar do que dizia ele não parecia zangado, seu tom era quase uma súplica.

– Mas é diferente, é completamente diferente! Você não entende e não entenderá jamais!

– Tente me dizer.

– EU NÃO POSSO!

Levei as mãos ao rosto assustada com a intensidade de minhas emoções, eu não queria ter gritado com ele, não sei por que o fiz. Mas Edward não me deixava escolha, ele insistia demais naquele assunto, não havia como lhe contar, eu queria, queria de verdade poder resolver, mas lhe diria o que? Não posso ser sua amiga, porque sou amiga da mulher da sua vida, que você ainda nem conheceu, mas que existe! Se amizade fosse a palavra haveria um jeito de lidar, eu não sabia a quem queria enganar quando fingia isto. Não posso ser sua amiga, porque gosto de você, gosto de você de um jeito muito mais intenso e muito mais proibido que apenas amizade.

Eu fechei meus olhos por um breve instante e esfreguei meu rosto, quando os abri olhei somente para o chão, estava um pouco envergonhada.

– Me desculpe se fui grossa, mas, por favor, Edward, vá embora, está bem? É muito difícil pra mim pensar com clareza quando você está aqui – confessei. Talvez isto já estivesse óbvio de qualquer forma.

Ele se aproximou até ficar tão perto que eu podia sentir seu hálito soprando suavemente em meu rosto, o cheiro era bom como eu nunca havia sentido antes, eu não quis que ele se afastasse.

– Também é difícil para mim, você não vê? Eu não tenho mais o controle que pensava ter sobre meus dias, tento me focar em coisas diversas, mas no final tudo acaba se resumindo incontestavelmente a você. Como você faz isso quando ao menos nem tenta? O que há em você que me dominou, me confundiu dessa forma que ninguém jamais conseguiu antes? Mas apesar disto tudo, Aneliese, eu não pretendo me afastar de você. E isto é uma promessa.

Ergui minha cabeça e o encarei, olhei fundo em seus olhos, mas não encontrei sequer sinal de dúvida, ele falava sério e eu não desconfiei de suas palavras. Não pude evitar sorrir, porque ficara feliz com isto.

– Me chame apenas de Liese, está bem?

Edward retribuiu meu sorriso e ficamos os dois nos fitando em silêncio por um momento. Foi incrível como naquele segundo tudo se encaixou e ficou bem. E tudo parecia certo, e não mais problemas ou complicações existiam. Mas isto logo passou.

– Suponho que esteja estudando – falou ele se contraindo um pouco e dando um passo involuntário para trás.

– Estou – assenti. Eu ficara curiosa sobre sua atitude, imaginei que não faria mal lhe perguntar. – Porque se afastou assim? – Imaginei se eu estaria tão suada que acabara por enojá-lo, embora eu não achasse isto possível.

Ele me olhou com profundidade.

– Seu cheiro. Na chuva ele... Bem, fica difícil ignorar.

– Oh! – Eu não devia ter ficado surpresa, já vira aquilo acontecendo antes.

– Deve me achar uma pessoa horrível – comentou sombriamente.

– Pelo contrário, acho que entendo você mais do que pensa. – Me calei por um instante, refletindo. – Não é absurdo como em um dia estamos revelando um ao outro mais coisas do que compartilhamos desde o momento em que nos conhecemos?

– Algo mudou – foi só o que ele disse.

Eu não queria me perder naqueles olhos, eu não queria continuar observando aquele rosto, eu queria disfarçar meu interesse, queria ignorar meu coração batendo forte, mas ainda não tinha aprendido a desenvolver tal auto-controle.

– Talvez agora seja melhor eu ir.

A chuva aumentara e até mesmo trovejava.

– Vai se molhar – afirmei como uma tola porque ele apenas riu de meu comentário.

– Creio que para mim ao menos isto não seja um problema.

– Claro. Bem, até segunda-feira então.

Edward sorriu e estreitou um pouco os olhos como quem esconde algo, ele fazia aquela cara muito bem, pois sua presunção era inegável.

– Segunda – apesar da afirmação seu tom era divertido. Eu estava deixando passar algo, talvez no fundo de minha mente tivesse uma suspeita, mas ela parecia tão louca que não lhe dei atenção.

Ele se encaminhou para a janela.

– Espero que não se importe. – Assim que terminou de falar ele abriu-a e saiu, fechando-a e desaparecendo ao mesmo tempo no temporal do lado de fora.

A tarde de domingo estava tranqüila, Charlie assistia televisão enquanto bebia de uma lata de cerveja, eu estava sentada no tapete de pernas cruzadas, olhava para a tela na verdade sem nada ver. Eu havia terminado todo o dever escolar na véspera, a casa estava limpa e eu já almoçara, agora era vítima do ócio e isto deixava minha mente livre para vagar sem restrição. Eu não fora muito longe, a pessoa que me interessava estava nos limites de Forks e eu me perguntava o que ele estaria fazendo agora.

Além de vampiro Edward era ridiculamente rico o que me deixava com a sensação de que ele raramente devia se entediar. Inúmeras vezes eu me pegara pensando no que faria se tivesse tamanha quantidade de dinheiro. Com certeza eu não estaria em casa em um fim de semana na Península Olympic quando a chuva era amena. Mas mesmo que não tivesse todo o dinheiro do mundo ao meu alcance eu ainda podia me virar com o que tinha.

Eu queria ficar um pouco sozinha em algum lugar que meu pensamento pudesse vagar tranquilamente.

– Charlie, hoje é domingo e eu já terminei todas as minhas tarefas... Sabe, eu gostaria de poder sair um pouco.

Ele mediu minha expressão.

– Está querendo se safar aos poucos de seu castigo não é mocinha?

Prendi os lábios, eu havia me esquecido disto. Mas que coisa, me castigavam de todos os lados, será que eu era mesmo tão má assim?

Algo em minha expressão deve tê-lo amansado.

– Está bem. Você anda cuidando bem da casa ultimamente e não gosto de ninguém bufando de irritação além de mim, pode sair para se divertir um pouco, mas deverá voltar antes do anoitecer, combinado? Do contrário o período de abstinência sobe para dois meses!

Eu sorri radiante.

– Obrigada Charlie!

Me levantei num pulo e corri para pegar meu casaco e as chaves e antes que ele tivesse chance de pensar duas vezes, saí porta afora.

Eu seguira pela estrada até estar bem longe do acúmulo de pessoas, por fim encontrei uma clareira perto do acostamento e estacionei, duvidava que fosse perturbar alguém ali, além disso, eu morava com o xerife, então não havia mais a quem temer. Fiquei recostada ao banco, olhando para a floresta verde e sempre viva ao redor. A chuva, mesmo fraca dava uma impressão de estar mais frio do que devia e me encolhi, colocando as mãos nos bolsos da capa na tentativa de aquecê-las. Em um dos lados havia um objeto e o puxei com curiosidade. Era meu celular, eu me esquecera que na correria para sair de casa na véspera acabara colocando-o ali sem querer. Vi surpresa que ele funcionava normalmente e corri para a caixa de mensagens esperando que houvesse algo novo, mas estava vazia.

Puxei pela memória a última vez que o usara, já fazia algum tempo, depois disso não recebera nem mandara mais nenhuma mensagem para Bella. Eu mal podia pensar no nome dela sem me sentir um monstro, eu agira mal desde que chegara, omitira dela sua relação com Edward e para piorar agora flertava com ele sem pudores! Minha consciência parecia pesar uma tonelada e era impossível ignorar a culpa me acusando incansavelmente. Se ao menos eu pudesse falar com ela, explicar o que se passava. Talvez eu não pudesse revelar-lhe tudo ainda, mas me sentiria melhor contando ao menos parte da verdade.

E qual seria a resposta que receberia quando lhe dissesse que havia um homem educado, charmoso e extremamente bonito esperando por ela aqui em Forks? O que Bella diria se eu lhe revelasse que havia conhecido sua alma gêmea? Será que ela embarcaria no primeiro vôo para os Estados Unidos? Se minhas palavras não a convencessem eu a mandaria procurar uma foto dele, devia ser o suficiente para qualquer mortal repensar imediatamente suas opções.

Sacudi a cabeça espantando os pensamentos absurdos. Por mais lindo e maravilhoso que Edward fosse eu sabia que apesar de ser grande parte aquele não era o único motivo para Bella se apaixonar por ele. Sem todo o mistério e os encontros ocasionais ela o consideraria apenas um rapaz bonito e talvez por isso sequer desse bola para o que eu lhe dissesse. De todo o jeito eu sentia que a culpa era minha, talvez não estivesse errada em pensar que já era tarde demais para começar aquela história da maneira como devia.

Distraidamente reli as mensagens que ela me enviara, pareciam não conter nada de mais, assuntos para se discutir com uma amiga. Amiga! Como Bella me odiaria ao descobrir que eu estava de olho em algo que era dela, como ela me consideraria uma traidora por tê-la escondido tudo o que sabia até agora. Se houvesse uma forma de não ser assim...

Meu dedo deslizou sobre o nome dela na tela e acabei selecionando a opção ‘ligar’. Estava prestes a cancelar o feito quando vi que a chamada deu certo e pude ouvir o primeiro toque soando baixinho. Trouxe o aparelho ao ouvido e mordi o lábio nervosamente. Minhas mãos tremiam de expectativa. Houve cinco toques e eu já estava quase desistindo, mas antes que o sexto fosse completo ela atendeu.

Alô. Aneliese, é você?!

Eu não soube o que falar, estava completamente extasiada.

Alô! Tem alguém aí?

De repente saí do choque, preocupada que ela pudesse desligar e eu acabasse perdendo aquela chance.

– Sim Bella, sou eu.

ANELIESE? Eu não acredito! Como conseguiu me ligar?

– Também não sei, foi... Por acaso.

Ela bufou e riu, sua voz era exatamente como eu imaginara, e eu não me sentia falando com uma estranha, era como se aquela fosse minha amiga de longa data que eu não via há tempos. Eu sentira saudades dela! Será que isto fazia sentido? Estivera tão acostumada a ter a companhia de Bella todos os dias presente através dos livros e não percebera que ela me fizera falta. Meus olhos estavam úmidos por causa das lágrimas que ousavam cair.

Mas é muito bom que você tenha conseguido, eu queria muito falar com você! Talvez não tenha sido por acaso que conseguiu então... – Sua voz perdeu um pouco o brilho e ficou vacilante. Eu franzi o cenho e a escutei: - Não sei quanto tempo teremos, então vou ser breve, quero lhe contar isto por telefone, já que não pode ser cara a cara.

Eu não estava entendendo ao que ela se referia. Comecei a ficar nervosa.

– Bella, são meus pais? Eles estão bem?

Não, não são eles Liese, eles estão muito bem. É outra coisa...

Meus pais estavam bem e eu logo me toquei que se alguém tivesse se ferido provavelmente eu já estaria sabendo, pude respirar mais tranqüila.

– Bella, me escute, há algo que eu preciso lhe contar, eu...

Não Liese, seja o que for você pode me dizer depois, eu não sei se temos tempo, me deixe falar primeiro ou não vou poder dormir tranqüila hoje. Eu preciso que você me perdoe.

Eu ia discordar, mas suas últimas palavras me pegaram de guarda-baixa, Bella queria que eu a perdoasse? Pelo quê? Pensei que fosse eu quem lhe devesse desculpas.

– Do que você está falando Bella?

Pude ouvi-la suspirar pesadamente.

Estou no restaurante com seus pais e vim ao banheiro atender sua ligação, de toda forma tenho que voltar logo, então... Bem, eu estou aqui com seus pais, mas não apenas com eles. – Houve um breve silêncio. – Alex também está almoçando conosco.

Alex? Meu Alex? Ele não é seu há um bom tempo, Aneliese. Sim, eu sabia disso, pensara desse jeito por força do hábito. De qualquer modo eu não compreendi o que Bella disse: o que Alex fazia junto de minha família? Depois de nosso término meu pai deliberadamente o rechaçara de nosso convívio, como podia estar junto dele agora? Algo estava errado.

– Mas e a Rafaela? Por acaso minha mãe a chamou também? Ela nem vai tanto assim com a cara do Alex, porque o convidaria para algo quando eu nem sequer estou aí?

Bem, é justamente isto o que estou tentando lhe contar... Quem o convidou para vir fui eu.

O quê? Porque ela teria feito isso? Eu nem sabia que eles eram amigos!

Nós meio que... Como vocês definem por aqui? Estamos ficando.

O QUÊ?

– Vocês...

Sim, nós estamos juntos desde semana passada, aconteceu tudo muito depressa, de fato eu sequer tive tempo de lhe contar, mas agora me sinto muito mal por isto. Principalmente porque já nos beijamos várias vezes e, bem, já estamos muito próximos.

Mas como é que isto era possível? Eu falara com Bella há apenas alguns dias e ela não me revelara nada! Estavam juntos desde semana passada e já haviam se beijado? Parecia incrivelmente extravagante... Eu pensara que Alex ainda sentisse algo por mim, ao menos fora isto que Bella fizera parecer, será que ela havia mentido? Porque ela faria isto? Porque não me contara nada antes? ‘Amigos’ não era bem o termo para descrever os dois agora.

Ouvi um ruído do outro lado da linha, Bella falava com alguém e quando apurei a audição pude reconhecer a voz de minha mãe.

Liese – sussurrou às pressas – sua mãe acabou de vir me procurar, me desculpe, mas eu tenho que ir ou ela vai desconfiar, eu não disse que estava falando com você, achei que era o melhor. Logo que puder lhe mandarei uma mensagem explicando tudo direito, mas me desculpe por ter mantido segredo, não fiz por mal. Agora eu tenho mesmo que ir, me desculpe, tchau!

O clique do celular sendo desligado pareceu mentira. Ela me contara tudo isto e simplesmente ia embora assim sem mais, nem menos? Eu nem tivera chance de lhe pedir para falar com minha mãe, eu queria muito ter podido falar com ela, estava morrendo de saudades!

Retirei devagar o telefone de perto do rosto e o baixei, soltando-o no banco ao lado. Fiquei quieta remoendo o que ouvira, de repente sem perceber eu estava chorando. Porque Bella fizera isto comigo? Eu me sentia uma estranha em minha própria vida! Ela era quem estava lá em minha cidade, junto de meus pais e na companhia de Alex. Alex. Eu ainda não podia conceber isto... Alex e Bella juntos? O que isto significava afinal? Mas eu pouco me importava com isto, só o que podia fazer era repetir sua frase em minha cabeça na tentativa de tornar tudo normal: “já nos beijamos várias vezes e, bem, já estamos muito próximos.”

Quão próximos?!

Eu chorava feito uma criança, não entendia porque aquilo me magoara tanto, mas eu quis acreditar que a tristeza era somente porque eu não pudera dizer a Lindy mais uma vez que a amava. Olhei ao redor, mas não havia nada de familiar, nem mesmo as árvores em seu verde-jade, nem mesmo as nuvens pesadas... Eu me senti uma completa intrusa. Aqui e em casa.

Você está exagerando. Estou não é mesmo? Consciência idiota, sempre me julgando, pois desta vez eu não a ouviria!

Sequei as lágrimas como pude com a manga grossa da capa e respirei fundo algumas vezes, dei uma olhada em meu rosto no espelho retrovisor e minha cara não estava das melhores, eu ficaria aqui mais algum tempo até estar suficiente calma e recomposta para rever Charlie sem levantar suspeitas sobre nada.


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