Perdida em Crepúsculo escrita por Andy Sousa


Capítulo 10
Um dia para se confrontar a verdade.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Trailer

"Tudo no começo é colorido,
Ninguém sabe nada, você não sabe nada,
Não existe amor, nem coração partido,
Apenas a vingança acumulada.
Eu sei que eu posso estar enlouquecendo
E o mundo inteiro está contra mim;
Eu sei que eu posso estar me entorpecendo
Neste caminho que não tem mais fim.
Eu andei por caminhos duvidosos,
Que lhe fariam desistir.
Eu andei por caminhos perigosos,
Não sou alguém pra se seguir, mas venha comigo.
Estamos bem próximos do abismo."

Abismo - Mackzero5

~*~

Abri meu olhos, mas continuei quieta, deitada na cama. Qualquer pessoa em meu lugar faria o mesmo, ainda mais tendo passado a noite quase em claro, preocupada com algo que eu podia classificar como importante: a própria vida. Sei que soava excessiva quando falava assim, mas se eu pudesse ignorar o perigo, fingir que ele não existia com certeza o faria. Isto não se tratava de bullying, não era uma simples briga da escola da qual às vezes se saía com alguns hematomas e se recuperava depois... Com quem eu desabafaria? A quem eu recorreria? O que eu iria fazer?

A noite dormida só me fizera acordar com a certeza de que o ocorrido fora real e estava inacabado. E hoje poderia ser o dia de encarar as conseqüências.

Duas batidas na porta me roubaram de meu pequeno momento de agonia.

– Sim?

A cabeça de Charlie surgiu pela porta entreaberta.

– Liese, se sente bem? Já passou da hora de você sair da cama, se não se apressar poderá se atrasar para a aula.

– Eu estou bem, já vou me levantar Charlie, obrigada.

– Bem, eu já vou indo para o trabalho, mas se quiser posso lhe esperar e lhe dar uma carona.

Analisei sua expressão, ele procurava não revelar, mas vi que estava preocupado. Aquilo estava se tornando ridículo, Charlie tinha mais o que fazer, não podia ficar desassossegado por minha causa, já passara da hora de sentir pena de mim mesma.

Me levantei da cama rapidamente.

– Não precisa Charlie, eu me apronto num minuto. Pode ir tranqüilo – esbocei um sorriso. Ele assentiu e saiu me desejando bom dia.

Assim que tornei a ficar sozinha suspirei pesadamente, entretanto continuei a me apegar a decisão de seguir com minha manhã na maior normalidade que pudesse encontrar. Tomei banho, me agasalhei para enfrentar a chuva onipresente e saí, sem tomar o café, ao menos enganar meu estômago eu não podia, já que ele ainda se contorcia com certa ansiedade. O cheiro da picape já me era familiar e fiquei surpresa ao ver que este era o lugar onde eu me sentia mais segura e em casa. Tive que dirigir com pressa, pois estava mesmo atrasada e não me animei ao chegar ao estacionamento da escola e perceber que o sinal de entrada já havia batido.

Tranquei o carro e corri para a marquise, cheguei ao primeiro corredor que estava vazio e continuei a passos rápidos, tentando me lembrar qual era a primeira aula. De repente alguém pegou meu braço e me puxou para o canto, eu me desvencilhei com tanta rapidez que chegou a doer, quando focalizei Edward me olhando meu coração deu um salto desagradável e começou a bater desenfreado.

– Calma – pediu ele – não vou lhe machucar.

A forma como ele me observava me fez ficar um pouco calma, mas tornou a despertar em mim a sensação estranha de que ele não estava se portando como deveria.

– Precisa realmente assistir às aulas hoje?

Eu pensei por um momento, não me parecia muito aconselhável segui-lo, aonde quer que ele estivesse pensando em me levar, além disso se Charlie soubesse que faltei talvez não aceitasse com tanta tranqüilidade, por isso minha primeira opção de resposta foi o não. Mas havia algo, algo urgente e abrasador naqueles olhos que tornava impossível a negação e eu cedi covardemente.

E então eu já não estava mais no corredor, Edward me levou para seu carro em movimentos tão rápidos que pareceram ser um só. Ligou o motor e arrancou, acelerando e nos levando cada vez mais para longe da Forks High School. A brevidade do acontecimento não me deu chance para repensar o que fazia, e agora já dentro do Volvo e em alta velocidade eu duvidava que pudesse fugir. Olhava para frente calada, acreditando ser o choque o culpado por meu silêncio.

– Você continua nervosa – falou a certa altura.

Respirei fundo.

– E não é para estar?

Ele não respondeu e considerei aquilo como um sim. Dirigiu por mais dois quilômetros e desacelerou fazendo a curva para uma estrada de terra. Minhas mãos suavam frio e eu procurava esconder o pequeno tremor que as perpassava, logo Edward tornou a diminuir a velocidade e finalmente parou. Estávamos no fim da estrada e ao nosso redor não havia nada mais que a floresta, fora o vento e as aves que por vezes se manifestavam, tudo estava silencioso.

– Me diga no que está pensando.

O olhei ao responder, mas ele fixava as árvores ao longe.

– Estou pensando no que Charlie vai dizer se eu não voltar mais pra casa. – Fiquei surpresa com a ousadia de minhas palavras.

Edward se virou vagarosamente para mim, o rosto como uma figura de pedra – uma figura inquieta.

– Você não vai morrer pelas minhas mãos ou pelas de alguém de minha família, Aneliese.

Pisquei atordoada, não era isto que eu esperava ouvir e constatei desanimada que eu já esperava a morte, além disso, ele nunca dissera meu nome antes e me soou tão agradável que tive vontade de pedi-lo para repetir. Você devia se envergonhar acusou minha consciência e não tive escolha além de lhe dar razão, o que eu estava pensando? Me iludindo com uma pessoa que não me pertencia!

– O que estamos fazendo aqui? – Acabei soando mais rude do que gostaria.

– Aqui é mais fácil conversar. É mais... Silencioso.

Eu não entendi a principio, mas logo me dei conta de que ele se referia a torrente de pensamentos que sempre invadiam sua cabeça, aqui eles não existiam, aqui Edward só ouvia o que ele mesmo pensava, já que eu não podia ser incluída nesta categoria.

– Como você sabe?

Soltei o ar num silvo. Eu sabia exatamente a que ele se referia.

– Não há como lhe explicar, me desculpe.

– Você chegou à cidade há apenas alguns dias, nunca alguém chegou sequer tão perto, muito menos em tão pouco tempo! – Sua frase saiu dura, quase como um rosnado e eu tentei não me encolher no banco.

– Já pensou que eu posso apenas ter chutado corretamente?

– Sim. Mas não foi isso. Há alguma coisa em você... Eu não estaria aqui pondo em risco a segurança de minha família se não tivesse certeza de que você compartilha de nosso segredo tanto quanto nós.

– Alice é quem lhes conta as novidades sobre mim? Então devem saber que eu não planejo fazer absolutamente nada com esta informação.

Ele me olhou assustado, mas eu continuei serena. A parte principal ele já tinha ciência de que eu sabia, porque eu me ocuparia em esconder o restante?

– Nós sabemos. Sabemos de tudo... – E então completou tão baixo que quase não ouvi: - Mas será suficiente?

Houve igual silêncio, um passarinho pousou em um galho alto de uma frondosa árvore e começou a cantar, perfeitamente alheio a nossa presença. Me voltei para Edward que tornara a evitar me olhar.

– Olhe, você me fez várias perguntas e eu lhe respondi como podia, acredito que isto me dá o direito de também lhe interrogar. O que você tanto teme?

Ele fixou seus olhos dourados em mim e eles eram intensos, fizeram eu me sentir esquisita enquanto o encarava de volta, um sentimento forte se apossava de mim, mas acreditei precisar de um pouco mais de tempo para desvendar o que ele seria.

– Eu temo estar errado sobre você, temo acabar cruelmente me enganando e tendo que pagar por isto mais tarde.

– Você não concorda com eles. Não quer me matar, não é mesmo? Porque se quisesse já o teria feito.

– É observadora.

– Sou – assenti. E sei o bastante para estar segura do que digo, quis completar, mas optei por vias mais fáceis. – Sabe, eu realmente não direi nada a ninguém. Quem acreditaria de qualquer forma? Eu mesma não sei mais em que acreditar...

Podia estar surpresa com a facilidade que encontrara ao dialogar com ele, mas era verdade que eu sempre fora a favor do diálogo, tratava-se de um terreno que eu conhecia bem.

– Parece não me sobrar escolha além de acreditar em você – ele foi franco ao sorrir desta vez. Eu tive a impressão de que poderia admirá-lo para sempre.

– Obrigada. É bondade sua me proteger.

– Sim, apenas bondade – soou-me como uma pergunta, mas talvez eu não tivesse interpretado da maneira correta. – Melhor voltarmos, não quero lhe arranjar problemas.

Concordei e pude relaxar pela primeira vez, recostando-me um pouco no banco e devaneando sobre a diferença de se dirigir um carro assim quando comparado à minha humilde picape. Refizemos o caminho, cada um absorto em suas considerações, não arriscando trocar um único olhar. A conversa fora longa, mas curiosamente a única parte que parecia me interessar era o final dela.

A estrada estava tranqüila e vazia, o oposto do trânsito em geral na minha cidade, cheguei a pensar que fôssemos os únicos, mas o ruído distinto de um carro se aproximando em alta velocidade me comprovou que não. Ele logo surgiu após uma curva e vinha na direção contrária a nós, foi só ao chegarmos poucos metros próximos um do outro que Edward exclamou:

– Rosalie, não!

O ostentoso vermelho sangue atravessou a pista no último instante, vindo de encontro a nós como uma bala, foi em menos de uma fração de segundo que Edward pisou no freio e girou o volante, o Volvo rodopiou, cantando pneu de forma audível. Eu tentei me segurar, mas foi inútil, meu corpo foi jogado de encontro ao banco quando paramos bruscamente e acabei batendo minha cabeça dolorosamente.

Um zumbido baixo surgiu em meus ouvidos e levei as mãos às têmporas, apertando os lados do crânio enquanto procurava extinguir a dor. Eu ainda tentava apreender o que se passara.

– Aneliese, você está bem? – A voz apreensiva de Edward pareceu soar alta demais. Eu não quis falar nada então apenas confirmei com um aceno mínimo. – Fique aqui um momento, eu volto logo.

E ele já estava fora do carro.

Devagar procurei me aprumar no assento, fechando os olhos ao sentir minha cabeça latejar, como as janelas do veículo estavam abertas eu pude ouvir claramente o que se passava do lado de fora, aliás, o tom alterado das vozes foi bastante útil em minha compreensão.

– O que você acha que está fazendo, Rosalie? Ela está machucada!

Uma risada irônica ecoou.

– Sinto que o estrago tenha sido tão pequeno.

– Prometemos a Carlisle que não faríamos mal a ela! Devo me impressionar que sua palavra não valha nada?

– Não faça papel de mártir, não queira se doar pela causa, Edward, isto não combina com você, ou já se esqueceu de que foi um dos primeiros a desejar a cabeça dela em uma bandeja?

– Cale a boca! Cale a boca, Rosalie!

– NÃO! Não vou concordar com esta loucura, estão desvairados, todos vocês! O que acham que vai sair desta brincadeirinha com a humana? Eu digo o que: nossa ruína! Poupamos a vida dela pondo em evidência as nossas? Como isto pode ser certo?

– Você não se preocupa com o que é certo. Isto pouco lhe importa, porque se importasse não seria aqui que você estaria. Ela não tem culpa, talvez quando puder deixar de lado a psicose você consiga ver que também concorda com isto.

– O que sabe sobre o que eu penso seu imbecil?

– Sei tudo o que você pensa Rosalie. Ou já se esqueceu? Pobre Emmett, dou-lhe os parabéns por não poder ver a maldade em sua cabeça como infelizmente eu vejo.

– Seu idiota! IDIOTA! Não vire as costas para mim!

O som de passos surgiu e logo a porta foi aberta enquanto o motorista reassumia seu lugar, ele religou o motor e manobrou voltando a deslizar com destreza pela estrada. Só então reabri meus olhos, o brilho fraco do dia os fez arder um pouco.

– Me desculpe – pediu ele.

Eu não soube o que dizer e não quis falar nada, eu não estava melhor, ainda sentia como se alguém martelasse minha cabeça e o sacudir do carro, mesmo leve estava me dando náuseas.

– Logo chegaremos ao hospital – informou.

Eu quis discordar, quis dialogar, mas preferi apenas aceitar. Meus nervos estavam em frangalhos e eu não tinha tanta certeza de que poderia melhorar rapidamente se estivesse por conta própria. Com a cabeça apoiada ao recosto do banco fiquei observando as nuvens passaram depressa e quase adormeci.

O ruído baixo de um celular tocando me despertou.

– Oi Alice – Edward atendeu no segundo toque.

Fiquei um tanto emocionada de ele estar falando com sua irmã, eu sempre gostara muito de Alice. Que sorte eu tinha de estar onde estava talvez apenas não tanta sorte com minha saúde.

– Sim, imaginei que você já estivesse ciente do que Rosalie ia aprontar, mas eu estava em uma área com má cobertura, por isto não consegui receber suas ligações... Sim, ela está comigo – ele fez uma pausa enquanto escutava. – Acredito que sim, estou levando-a para ver Carlisle... Ainda não pensei nisso, você acha que é melhor...? É talvez seja, então eu já sei o que dizer a ele... Com certeza ficará sabendo e não ficará nada feliz, mas acho que posso tentar contornar a situação... Tudo bem, obrigado Alice. – Desligou. – Aneliese, não durma, estamos chegando.

Eu forcei meus olhos a ficarem abertos até que enfim Edward desligou o motor, ele saiu e numa batida do coração estava ao meu lado abrindo a porta para mim.

– Você precisa de ajuda?

Percebi que ele agia estranhamente e caí na real de que por mais que tivéssemos passados um tempo juntos ainda éramos estranhos, ele ainda era um vampiro e meu sangue ainda o tentava. Ele evitava me tocar e eu podia facilitar as coisas.

– Não, tudo bem, consigo andar – agradeci.

Ele aquiesceu e fez um gesto me indicando por onde irmos, o hospital era um prédio grande, porém simples, andamos alguns metros pela calçada de pedras retangulares e logo chegamos a recepção. Eu não tinha me dado conta até agora de que não estivera chovendo.

Uma moça jovem sentava-se atrás do balcão de arenito e ao ver Edward se ajeitou no lugar, claramente nervosa.

– Olá Edward, veio ver seu pai?

Quem era aquela mulher e porque toda essa intimidade com ele? Porque eu estou me preocupando com isso?

– Sim Bianca, ele está no escritório?

– Está, aguarde só um segundo que vou avisá-lo que você está aqui – disse ela cheia de sorrisos.

Ou Edward era muito distraído ou ele não deu atenção à moça de propósito, porque ao menos para mim estava claro que ela flertava com ele.

– Avise a ele, por favor, que estou com uma paciente.

Se eu não tivesse sido mencionada poderia passar despercebida como um vaso de plantas colocado a um canto, a recepcionista me olhou surpresa e pareceu ficar sem graça. Tudo bem querida, eu conheço o efeito que ele causa nas mulheres.

A moça informava a Carlisle o que Edward lhe pedira e eu me senti mal de repente, apoiando-me ao balcão com uma mão e levando a outra a cabeça.

– Aneliese. – Edward quis me ajudar, mas eu neguei, pois fora apenas uma pontada rápida. – Bianca avise a meu pai que estou levando-a ao consultório. Venha comigo Aneliese.

Entramos por portas duplas e seguimos um pequeno corredor, viramos a direita até a segunda sala e Edward se precipitou abrindo a porta para mim.

– Sente-se – ele indicou a maca e eu subi com cuidado.

Menos de um minuto depois a porta tornou a ser aberta e um homem louro de aparência muito jovem apareceu.

– Olá Aneliese, sou Carlisle Cullen, pai de Edward.

Ele estendeu a mão com confiança e eu a apertei sentindo a frieza peculiar. Estranhei que ele não tivesse sido evasivo como o filho, mas imaginava que meu conhecimento sobre seu segredo já tivesse sido deveras confirmado para que ele se ocupasse com tal coisa.

– O que aconteceu? – Perguntou olhando mais para Edward do que para mim.

– Um pequeno acidente. – As palavras não diziam muito, mas eu pude ver que ficara tudo subentendido e que eles discutiriam isto mais tarde quando eu obviamente não estivesse ouvindo. – Acho que ela bateu a cabeça com força, está um pouco desatenta e há pouco passou mal na recepção.

– Certo, vou examiná-la, ficará tudo bem.

Foi difícil acreditar no que ele dissera e mais difícil ainda não duvidar de seu sorriso quando seus olhos revelavam preocupação. De pé ao fundo da sala Edward me observava e eu procurava alguma razão para acreditar que tudo não se passava de um sonho.

Eu estava em um dos quartos, deitada numa cama confortável enquanto aguardava o retorno do doutor. Carlisle me submetera a um exame a me trouxera até aqui me aconselhando que descansasse enquanto esperávamos o resultado, eu agora estava sozinha já que ele se ocupava dos outros pacientes e Edward partira logo no início quando houve confirmação de que eu estava fora de perigo. Dizer que eu estava confusa era o mínimo, eu não queria pensar que ele fugira, mas não havia dúvida que ele teve pressa em partir.

Carlisle enfim retornou e ouvi com alívio ele dizer que eu estava bem e que não acontecera nada grave, me liberou para ir embora e me acompanhou para fora do cômodo.

– Se sentir algo como dor de cabeça forte ou pontadas contínuas deve voltar e faremos mais exames, mas acredito que dentro de algumas horas já estará melhor. Prescrevi alguns remédios que deverá tomar nos próximos cinco dias, a receita está com o xerife.

– Com Charlie? Ele sabe que estou aqui?

– Está na sala de espera. - Carlisle sorriu com gentileza. - É uma cidade pequena Aneliese, e ele é o chefe de polícia, duvido que pudesse ocultar dele por muito tempo.

Suspirei vencida.

– Sim, o senhor está certo. – Mas eu não estava tranqüila, Charlie não devia estar nada feliz e eu mal podia esperar para encarar sua fúria de pai.

Chegamos às portas duplas e eu me virei para agradecer, tornei a apertar sua mão ao passo que ele disse:

– Desculpe-me pelo inconveniente que minha família lhe causou.

Eu fiquei desconcertada com o que ouvi e não tive chance de dizer qualquer coisa porque ele se virou e se afastou a passos rápidos, desaparecendo na dobra do corredor. Respirei fundo procurando pôr minha cabeça em ordem e segui para a sala movimentada. Charlie se levantou às pressas quando me viu e eu lhe dei um sorriso fraco anunciando que estava bem e só queria ir pra casa.

Ele não disse nada até estarmos dentro da viatura.

– Já comprei sua medicação, Carlisle disse que você deve tomar assim que chegarmos em casa.

– Obrigada Charlie, eu farei isto.

Desconfiei que ele só estivesse sendo legal comigo por educação, mas não tinha dúvidas que estava encrencada: eu matara aula, sumira sem dar explicações e me acidentei durante minha ausência, meus pais já teriam me colocado de castigo pelo resto da vida. Chegamos a sua residência e eu corri para o abrigo do telhado, pois recomeçara a chover e eu havia esquecido minha capa de chuva na caminhonete.

– Charlie, meu carro ficou na escola – lembrei-o, observando-o com cautela.

– Na verdade ele já está aqui, Edward o trouxe mais cedo, também trouxe sua mochila e eu já a coloquei em seu quarto.

Edward trouxe meu carro de volta? Porque ele faria isto? Pensei que ele tivesse feito questão de ficar fora da situação... E porque Charlie parecia tão calmo? Aquele suspense estava sendo pior do que levar uma bronca.

– Hmmm, Charlie, acredito que Edward já deve ter lhe contado o que houve. Eu sinto muito por ter agido mal.

– Agido mal? Do que está falando Aneliese? – Ele pendurava o casaco encharcado e se voltou para me olhar, parecia genuinamente confuso.

– Eu... O que está acontecendo, afinal? Não parece bravo. - Porque você não está gritando comigo?

– Será que você bateu a cabeça com tanta força que se esqueceu das coisas? – Ele pareceu bem-humorado ao dizer aquilo, começou a convergir para a cozinha e eu lhe segui embaralhada.

– Talvez – resmunguei.

Ele lavou as mãos no tanque e voltou, pegando o garrafão de leite da geladeira e servindo em dois copos, me ofereceu um deles enquanto bebia do outro. Eu continuei parada, esperando. Charlie me fitou quando continuou a falar:

– Você não se lembra mesmo? Você caiu na escadaria da escola, nem chegou a entrar na sala de aula, eu lhe disse que tomasse cuidado para não se atrasar, mas não esperava que fosse levar meu conselho tão a sério. Devia ter tomado mais cuidado, o filho do doutor viu tudo e disse que você se desequilibrou em um dos degraus e acabou acertando em cheio o corrimão de ferro, foi sorte ele estar lá porque lhe levou ao hospital em seguida.

Eu estava perplexa, pensara tão mal de Edward quando no final ele inventou uma história que me livrou de todos os problemas que eu teria com Charlie. Não me escapou que ele também conseguiu sair ileso nesta versão, mas não havia motivo para que eu revirasse algo que já estava resolvido. A conversa que ele teve com a irmã pelo telefone pareceu fazer muito mais sentido, agora eu entendia a que ele se referiu quando disse que contornaria a situação.

Deliberadamente eu peguei meu copo de leite e bebi num só gole tentando disfarçar meus sentimentos para Charlie.

– Vou anotar num papel as doses de seus remédios e deixarei sob um dos imãs da geladeira. Tome os primeiros agora e vá acertando o horário depois. Você tem que ficar boa logo! Vou preparar o jantar, pode subir para tomar banho se quiser.

O examinei enquanto ele mexia nas panelas e concluí que se culpava pelo que achava que havia acontecido comigo. Eu me senti muito mal pela mentira, porém não voltei atrás já que não era a única envolvida nos acontecimentos da tarde, eu não iria arrumar problemas para os Cullen, nem mesmo para Rosalie apesar de achar que ela até que merecia. Ao invés disso procurei ao menos tentar eliminar um pouco a responsabilidade que Charlie jogava em cima de seus ombros.

– Eu estou bem Charlie, já me sinto muito melhor. Devia mesmo ter tomado mais cuidado, não foi sua culpa eu ter saído correndo como uma inconseqüente. Obrigada por estar cuidando de mim, você me lembra um pouco meu pai – sorri.

Charlie resmungou algo e continuou preparando a comida, eu o conhecia o suficiente para saber que ele preferia não demonstrar emoção em momentos como este, mas fiquei tranqüila por ver que ele parecera aceitar bem minhas palavras.


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