Estava andando pelo colégio, minhas amigas me acompanhavam, mas não falavam comigo.

Passando pela parte do jardim, vi uma garota, estava deitada preguiçosamente sobre um banco ouvindo sua musica na sombra. Nem se importava com a bronca que levava de um funcionário do colégio.

Me perguntei como alguém poderia ser assim. Ou melhor, como seus pais deixariam isso acontecer? Se fossem os meus...engoli a seco só de pensar o que me fariam.

O sinal do recreio tocou, voltamos para as aulas.

A garota de longos cabelos negro passou por mim ao entrar pela sala e se dirigir ao fundão. Eu sentava na primeira cadeira, e ela, na ultima.

Nosso professor de física chegou com uma massa de provas para entrega-las. Chamou todos pelo nome, recebi os parabéns por ter tirado a maior nota da sala - novamente- Peguei minha prova e sorri sem jeito, desejando que a terra me tragara para não ficar mais lá. Odiava essa atenção excessiva em cima de mim.
A manha passou rapidamente. E logo estava na hora de ir embora. Novamente minhas "amigas" estavam me arrodeando. Amigas com aspas sim. Não eram de verdade, e sim status, todas elas possuíam pais ricos e que se comunicavam, então era obrigatório para nós nos socializarmos. O que eu acho uma idiotice por completo, já que 1- eu as odeio 2- não poderia existir seres menos indecentes que elas.

Minha felicidade surgiu quando tivemos que nos separar, pra minha desgraça meu inferno astral estava a mil. Para os que não sabem...inferno astral é uma espécie de imã que cola em você e que traz só desgraça, não que não possa trazer coisas boas, mas é mais comum má sorte. Isso para infernizar as datas próximas ao seu aniversário.

Acabei ficando por fora da conversa mas "amigas" e logo vaguei para meu mundinho ..acabei tropeçando e ralando o joelho.

- Ai amiga, você está bem? - perguntava uma delas

- Mas é claro que não. Olha, ela tá sangrando, eca! - Falava outra

- Ai que nojinho! Bem, mudando de assunto, Jujubinha querida, você vai a festa com a gente hoje? -

Eu a encarei incrédula. Eu cai, ninguém me ajudou a levantar, estava sangrando e doendo. E ainda vem me perguntar se eu quero ir pra uma festa completamente indecente ?!

- Am...não - Falei. Controlando minha raiva e dando um sorriso gentil, que tirei de algum lugar

- Oh! Por My Gloob! Okay querida, nos vemos outro dia - Dizia alguém ai e todas foram andando embora, me deixando atrás.

Ainda estava incrédulas com a desumanidade dessas...dessas...Ugh! O problema de ter sido criada com professores particulares até o Ensino médio, é que você nem sabe xingar alguém !

Encarei meu machucado , estava horrível. Olhei para os lado e achei um banquinho a vista no parque. Mancando me dirigi até ele. Ou tentei.

- Agh! Maldita diretora...Idai se eu tava dormindo? A Porra do recreio é feita pra fazer o que a gente quiser! Se eu quiser Plantar bananeira, dançar macarena, ou fingir ser um macaco eu posso fazer isso! Droga de escola, droga de diretora, de funcionário! Agh! Vou ter que escutar de novo ...-

Olhei para onde escutei essas reclamações, e vinha da garota de cabelos negros. Ela bufava e até fazia caras e bocas imitando os funcionários reclamando dela.

Ri um pouco.

A Garota me encarou de longe, e começou a andar pela minha direção, eu peguei o primeiro livro que vi e me pus ler.

- Iai Jiloba! De boas? - Me perguntava

- Pra começo de conversa é Jujuba

- Tanto faz. O que tu tá fazendo aqui? - me perguntou

- Lendo - respondi com o tom de "não é obvio ?"

Ela começou a rir - Lendo? No meio do parque, vazio, a essa hora da noite? Vamos, fala a verdade, teu joelho tá sangrando. E Seria mais fácil dizer que tava rodando bolsinha, que ai sim eu iria acreditar - Falou soltando uma sonora gargalhada. Senti minhas orelhas queimarem

- Como ousa?! Sabe quem eu sou? E quer saber!? Vá embora! - elevei meu tom

- Calma Jiloba, só vim ver se precisava de ajuda. Mas como acho que não - ela deu nos ombros - boa sorte! Ae, falando nisso, o parque é sinistro para pessoas que não fazem parte daqui..- ela sorriu maldosamente e seguiu andando a passos lentos

Suspirei

- Tá bom...volta, Eu...eu preciso de ajuda. E não me chama de Jiloba! - Pedi

- Há! Finalmente a dona perfeição aceitou ajuda! Que milagre! - Ela me encarou e depois se colocou de costas e se agachou - Venha - chamou - Sobe ai que te levo

A encarei meio sem jeito, mesmo assim subi em suas costas

- Er..se não quer que te chame de Jiloba...então como te chamo? Jujuba é enjoativo de mais. E como conseguiu essa merda de apelido?! - Então, essa era a tentativa dela de puxar assunto. Até que é...diferente

- Jujuba foi como me apelidaram as garotas que ando...me disseram que é por que sou doce como jujuba.

"Como se isso tivesse algum sentindo " pensei - Me chame de Bonnie

- Meu deus, essa merda tá pior do que meu apelido. Enfim, Bonnie, como vai? - Pela perguntou para mim logo depois de me deixar sentada em um banco do parque

- tá ardendooo - respondi choramingando. Ela sorriu e tirou algo de sua mochila, uma espécie de frasco. Espirrou em minha perna e em um pouco tempo aliviou a dor - Isso é remédio? - Perguntei surpresa. Por que ...geralmente alguém do ..estilo dela.er..não levaria consigo algo assim.

- É sim, meu irmãozinho costuma se machucar muito...então sempre levo comigo

Me surpreendi com a resposta.

- Tá, Agora tu tá bem. Consegue andar ? - respondi que sim - Ótimo. Então vamos - Ela começou a andar

- Pra onde?

- Pra sua casa ué. Ou quer passar a noite aqui? Eu não me importaria - Deu um sorriso que mostrava os caninos

- Er...Continue reto, siga para a esquerda e logo entre na terceira direita -

- ok!

A garota foi comigo até a minha casa, também me pagou um refrigerante pelo caminho, me deixou em casa e foi embora. Meu pai estava extremamente irritado comigo, e preocupado. Mas ela procurou explicar o que aconteceu e que eu tinha me machucado, logo ele saiu bufando, pelas minhas 'amigas" Minha mãe foi gentil com ela, e a agradeceu por me ajudar e a convidou para passar a noite aqui, mas ela recusou. Disse que tinha assuntos para resolver ainda.

Minha mãe nos deixou a sós

- Então..muito obrigada! -

- De nada Jiloba...- fiz uma careta e ela soltou uma gargalhada - Relaxa, e sinceramente acho jujuba meio inapropriado... Prefiro bonnie - Minhas orelhas arderam

- Humm...- Um silencio se formou

- Bem, Adeus! Mais cuidado por ai ein!? - Ela me gritou quando já estava fora de minha casa.

A vi ir embora, e nem sei seu nome.