Creatures of The Night - The Called of The Wolf escrita por Giovana Machado


Capítulo 1
Capítulo 1 - Dream of a new beginning




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/593061/chapter/1

Os passos da garota ecoavam pelo asfalto a medida que ela corria. A manhã havia começado fresca e agradável para alguns exercícios e Sasha não desperdiçaria seu último dia naquela cidade em casa.

Can you meet me halfway, right at the borderline. That's where I'm gonna wait, for you. I'll be lookin' out, night and day. Took my heart to the limit, and this is where I'll stay. - seus lábios mexiam, acompanhando a letra da música que tocava no Ipod.

Apesar de estar correndo há alguns bons minutos, sua respiração continuava a mesma e ela sentia que seria capaz de muito mais se assim o desejasse. Era ótimo poder sentir essa sensação de liberdade toda vez que corria.

Sentira o celular vibrar dentro do bolso da jaqueta de lona e logo parara, pegando o aparelho. 1 nova mensagem brilhava na tela.

De: Autumn.

Para: Sasha.

Venha para casa. Você ainda precisa arrumar suas coisas. Nós vamos embora ao meio dia, não esqueça. Beijos, te amo.

Sasha guardou novamente o celular no bolso, girando nos calcanhares antes de voltar a correr, dessa vez na direção contrária.

Há três dias Autumn comunicara que as duas estavam deixando a cidade devido a uma proposta de emprego que a mais velha recebera de uma faculdade do interior. No começo Sasha não havia entendido o porque dela aceitar, já que ela tinha um ótimo emprego numa das universidades mais renomadas da região e fazia parte do conselho oficial da mesma.

– Todo mundo precisa de novos ares, incluindo nós. - foi a desculpa que ela havia dado quando Sasha perguntara seus motivos. - E não é como se a faculdade de lá fosse inferior a essa. As duas estão no mesmo nível de qualificação.

A garota preferira não argumentar, deixando o assunto de lado.

A mudança não era nenhuma novidade, as duas nunca ficavam muito tempo no mesmo lugar devido as constantes transferências que Autumn solicitava e também pelas viagens de campo que ela organizava com alguns dos seus amigos historiadores. A mulher podia ser jovem, mas já era muito respeitada perante as comunidades de pesquisa de todo o país, chegando até dar entrevistas em importantes jornais, revistas e programas de televisão.

Sasha sentia muito orgulho de sua tutora e a acompanhava com o maior prazer, mesmo que isso significasse pular de escola em escola, repetir de ano ou nem chegar a completar um período escolar. Não importava.

– Chegou rápido. - comentara Autumn vendo-a passar pela porta da frente do apartamento. - Nossa, como você está suada!

– Faz bem para a saúde. - Sasha tirou os tênis Nike e os levara para o quarto. - Como é que está tudo por aqui?

– Quase acabando. - ela suspirara, embrulhando mais uma louça com jornal. - Só faltam mais algumas caixas que irão no porta malas junto com a nossa bagagem. O resto já foi no caminhão.

– Certo. Eu vou tomar um banho e já desço para ajudar.

Autumn sorrira com o beijinho que recebera na bochecha e voltara a embrulhar as peças. Ela estava cansada, muito cansada e Sasha notara isso no segundo em que a vira. Talvez pudesse dirigir no lugar de Autumn quando fossem embora, para dar a ela um pouco de descanso.

O seu quarto nunca parecera tão deprimente quanto agora, com alguns poucos móveis, sem a decoração confusa de pôsteres, páginas de revistas e desenhos que ela havia feito quando era mais nova. Ter que deixa-lo era estranho, não parecia certo, mas era a única alternativa que tinha e estaria mentindo se dissesse que sentia remorso por faze-lo.

Depois de um banho quente e relaxante, Sasha agachou-se em frente a mala com suas roupas, mordendo o canto da bochecha. Ali o clima era constantemente frio e muito seco, mas, naquela época do ano, para onde iriam fazia sol e chovia bastante, o que chegava a ser um problema quando o assunto era o vestuário.

Decidiu escolher uma calça jeans justa de lavagem escura, uma blusa estampada e uma bota de salto médio, se por acaso sentisse frio era só jogar um casaquinho por cima dos ombros e pronto.

Ao meio do dia a porta do porta malas já estava sendo fechada, todas as bagagens e caixas foram acomodadas organizadamente para que nada quebrasse ou caísse durante a viagem. Apesar da insistência de Sasha, Autumn preferira ela mesma dirigir, já que a primeira não sabia para onde elas estavam indo e ela não poderia lhe falar se estivesse dormindo, como fora proposto pela mais nova.

– Okay. - cedera ela, entrando no carro.

Autumn havia ficado para trás para trancar o apartamento e o portão, mas logo assumira seu lugar atrás do volante, ligando o carro em seguida.

– Tudo pronto? - a loira olhava Sasha com um leve sorriso nos lábios.

– Tudo. - assentira ela.

***

"Concentre-se"

Ouvi uma voz sussurrar no meu ouvido e me virei assustada, procurando seu dono. Apesar de ter sentido o hálito quente no meu pescoço, não havia nada lá.

"Força, força, força!"

Ele ou ela, não pude identificar, gritava comigo, parecendo transbordar pura raiva.

Comecei a correr, procurando uma saída. Aquilo parecia ser um estacionamento subterrâneo pelo cheiro de umidade e borracha queimada, mas infelizmente estava vazio. Ninguém me ouviria gritar, pedir por socorro ou qualquer coisa que eu fizesse. Eu estava sozinha.

"Você nunca está sozinha".

A voz sussurrara mais uma vez, como se tivesse lido meus pensamentos. Não tinha o tom raivoso de antes, mas também não era de todo doce. Parecia mais séria, como se estivesse tentando acalmar um animal arredio.

– Cadê você? - perguntei para o nada, sentindo as lágrimas descerem quentes e grossas pelas minhas bochechas. - Onde eu estou?

Dei mais alguns passos, sentindo algumas poças de água estalarem debaixo das minhas botas.

– Está aonde deveria. - disse alguém atrás de mim.

Eu me virei, assustada demais para formular qualquer pensamento. Minhas pernas tremiam e eu sabia que poderia desabar a qualquer momento.

– Quem é você? - um soluço escapara dos meus lábios.

O estranho rira, aproximando-se.

– Você não quer saber. - os sapatos dele faziam barulho no piso de concreto a medida que ele caminhava na minha direção. - Mas eu sei quem você é.

Senti meu coração bater acelerado dentro do meu peito.

– O que você quer? - afastei meu rosto de sua mão erguida. Ele tentara acaricia-lo, mas seus dedos pareciam tão frios e sem vida que eu fiquei com medo dele me tocar.

– Me divertir. - ele rira antes de me empurrar contra uma parede com força. Senti minhas costas doerem com o impacto, o concreto era disforme e possuía várias falhas, o que piorou tudo. - Você se lembra da sensação?

As lágrimas desciam incontroláveis pelo meu rosto, escorrendo pelo meu pescoço, até sumirem dentro do casaco que o estranho tentou arrancar. Os botões eram fortes, mas não resistiram ao puxão e logo ouvi o tilintar deles sobre o piso.

– Diga que se lembra. - a boca dele estava pressionada contra a minha bochecha direita, sua língua provando o gosto salgado deixado pelas lágrimas. - Diga que se lembra de nós.

Depois disso senti a presença de mais alguém ali, dois homens especificamente, e eles pararam ao lado do primeiro me olhando com cobiça.

E então eu entendi que aquele "nós" não significava nós dois, que ele não me pedia para me lembrar de alguma coisa que nós supostamente tivemos, até porque eu nunca seria capaz de me envolver com alguém como ele. Não. Ele me pedia para me lembrar deles, dos três homens que agora me deitavam no chão sujo e molhado, que riam de mim enquanto eu sentia suas mãos geladas apertarem minhas coxas, minha barriga e meus seios.

– Você vai gostar, princesa. - um deles disse e pude notar que sua voz parecia mais suave que a do primeiro. - Só fique quieta e diga que se lembra.

Me debati, sentindo minha calcinha e minha saia serem deslizadas por minhas pernas e ,como as botas eram muito grossas, elas ficaram presas um pouco abaixo dos joelhos.

A escuridão não me permitia enxergar os rostos dos homens, as lâmpadas fluorescentes piscavam a todo momento, fazendo com que meus olhos ardessem e não me restava nada a não ser rezar para que eles terminassem logo e me deixassem em paz.

"Você é mais forte que isso".

– Por que você não me ajuda? - gritei, na esperança de que quem quer fosse me dizendo aquilo tudo aparecesse e me livrasse daqueles monstros. - Me ajude!

– Você está sozinha, princesa. - o barulho de cintos sendo abertos preencheu meus ouvidos e naquele momento eu soube que estava perdida.

"Você é mais forte que eles e sabe disso".

Ao final dessa frase, as luzes pararam de piscar e iluminaram tudo por igual, dando-me a chance de olhar para os meus estupradores.

Um grito desesperado saiu dos meus lábios assim que vi a pele cinza do braço que me apertava. Os três tinham os mesmos olhos vermelhos brilhantes, as roupas estavam rasgadas e sujas de sangue, como se eles tivessem sido atacados por algum animal muito violento. A carne do abdômen de um deles estava dilacerada e podre, com alguns vermes se contorcendo sobre ela.

– Diga que se lembra disso. - gritei mais uma vez ao sentir o primeiro homem se posicionar entre minhas pernas, passando os dedos escuros pela pele sensível do interior das minhas coxas.

Sua bochecha direita havia sido arrancada por uma mordida, expondo o maxilar e os dentes amarelados.

– Diga que se lembra do que fez comigo. - minha respiração estava tão acelerada que senti que poderia morrer a qualquer momento e o pior é que eu seria grata se isso acontecesse.

"Mate-o".

– Mas ele já está morto!

"Mate-o agora!".

– Diga que se lembra! - ele gritou um pouco antes de me penetrar com força e vagarosamente. - Você se lembra!

– Eu me lembro! - eu chorava compulsivamente, sentindo ele se movimentar dentro de mim. - Eu me lembro, eu me lembro, eu me lembro, eu me lembro!

***

– Eu me lembro! - Sasha gritara, tentando se desvencilhar do cinto de segurança.

– Ei, ei, o que foi? - a menina parecia confusa ao olhar para o lado e perceber que Autumn a encarava preocupada. - Querida, você está bem?

– Eu... - seu coração batia tão rápido dentro do peito que não se surpreenderia se tivesse um ataque do coração ali mesmo, dentro do carro. - Eu estou bem.

Ela olhava ao redor, procurando pelos cadáveres que a estupravam, mas não havia nada ali. O carro continuava em movimento e não via sinal de qualquer construção na beira da estrada, muito menos um estacionamento.

Foi um sonho. Suspirara ela, passando a mão pelo cabelo.

– Tem certeza de que está tudo bem? - os olhos azuis de Autumn brilharam assustados quando ela olhara novamente para Sasha. - Eu posso parar. Nós estamos quase chegando mesmo.

– Não, não é necessário. - ela tentara sorrir, mas o sorriso saíra mais como uma careta estranha.

Autumn não se convencera, procurando por algum lugar seguro no acostamento.

– É sério, eu estou bem. - Sasha pigarreara, tentando fazer a voz parecer firme. - Está tudo bem. Foi só um pesadelo.

– Certo. - Autumn acelerara mais o carro.

Sasha olhara para a janela, onde via o próprio reflexo no vidro. Se aquilo foi só um sonho, por que ainda se sentia violada? Por que, apesar do cheiro de hortelã que vinha do chaveiro de feltro de Autumn, ainda sentia aquele fedor de carne podre impregnado em seu cabelo?

– Foi só um sonho. - repetira ela, tentando acreditar nas próprias palavras.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Creatures of The Night - The Called of The Wolf" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.