Adagio escrita por Kiri Huo Ziv


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

De novo, não leiam se ainda não leram "O Panóptico".



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/592880/chapter/1

Desde o momento em que Jinora e Konrad finalmente conseguiram convencer Tenzin de que Asami estava, de fato, esperando um bebê de Korra, ele soube que não teria escolha a não ser enviar a engenheira até Kya, na Tribo da Água do Sul.

Eles haviam decidido que era necessário manter a gravidez em segredo até que, pelo menos, se tivesse mais informações a respeito, e não podiam contar com o silêncio de um médico ou curandeiro aleatório a respeito de algo tão inacreditável. Tenzin também não achava prudente pedir que Kya viajasse até a Cidade República para encontrá-los, pois sua irmã já passava dos noventa anos de idade e da idade em que tais viagens podiam ser feitas facilmente.

Portanto, cerca de um mês depois da chegada de Asami e Konrad à Cidade República, os dois se juntaram a Bolin, Opal, Mako e Jinora em uma viagem até a Tribo da Água do Sul, onde Kya os estava esperando.

A viagem no dorso de Pepper foi uma das coisas mais fisicamente desagradáveis que já aconteceram a Asami, perdendo apenas para suas duas experiências de quase morte nos dezoito anos anteriores. Embora não tivesse sentido qualquer sintoma físico de sua gravidez nas primeiras semanas, após a sexta, a engenheira começou a sentir enjoo em vários momentos do dia; o que tornou a viagem não apenas desconfortável para todos, como também mais longa, já que eles tinham que parar esporadicamente para que Asami mantivesse alguma coisa no estômago.

Eles chegaram em uma noite, e um dos membros da Lótus Branca estava a postos para recebê-los. O homem era jovem, apenas alguns anos mais velho que Konrad e se chamava Nasak. Ele pareceu muito mais animado a respeito de sua missão quando foi apresentado ao jovem Avatar.

Nasak os guiou até a casa de Kya, a mesma em que Katara habitara durante a maior parte de sua vida. A viagem foi curta e tranquila; Nasak caminhou ao lado de Konrad e lhe fez várias perguntas a respeito do crescimento dele e dos mestres que tivera, ficando ainda mais animado quando descobriu quem eles foram.

O grupo chegou ao seu destino e foi saudado por Kya com a alegria. A mulher mais velha cumprimentou primeiramente a sua sobrinha, depois, se voltou para Konrad com o rosto repleto de afeição.

"É um prazer te conhecer, Avatar Konrad," disse a mulher, com um sorriso.

"É um prazer te conhecer também, Mestre Kya."

Antes de morrer, Katara confidenciara a sua filha que se encontra uma vez, alguns poucos anos antes, com a antiga executiva das Indústrias Futuro e seu protegido, o jovem Avatar, apenas para lhe assegurar que Konrad estava sendo treinado e, um dia, eles teriam seu Avatar. Desde então, a curandeira aguardava silenciosamente o momento em que o conheceria.

Para Kya, que conhecera dois Avatares antes de Konrad, era fascinante perceber como cada um deles era diferente e, ainda assim, havia uma semelhança indescritível no olhar de todos eles.

Então, Kya se voltou para Asami. Ela ficara muito surpresa com o relato de seu irmão do que acontecera com Asami Sato. Ela nunca esperara se ver diante daquela situação sem precedentes, provocada por Korra quase vinte anos após a sua morte. Não que Kya duvidasse, é claro! Tendo conhecido dois Avatares, ela sabia que em torno deles sempre aconteciam coisas inexplicáveis.

"Você parece exausta, criança," disse Kya, se aproximando lentamente da mulher mais nova e lhe apertando as mãos como que para lhe dar segurança. Logo em seguida, ela se voltou para todos, "venham, tenho jantar preparado para todos. Depois disso, bom, acho que todos vocês merecem uma noite de sono após uma viagem tão longa."

Kya não examinou ou fez qualquer pergunta a Asami naquela noite, e a engenheira compreendeu que a mulher idosa apenas lhe dava um tempo para descansar antes de começar a indagá-la a respeito da concepção daquele bebê. Ela se sentiu agradecida por aquilo; não tinha certeza se conseguiria responder à curandeira adequadamente, tamanha sua exaustão física e mental após aquela viagem.

Com o corpo pesado de sono, Asami se retirou logo após o jantar para o quarto que Kya havia reservado para ela, Jinora e Opal, onde dormiu assim que seu corpo pouso sobre a cama.

~~//~~

Asami acordou no dia seguinte ao ouvir alguém chamar o seu nome e, enquanto abria os olhos, notou um par de olhos verdes a encarando. Ela sentiu a luz que irradiava dentro de si se agitar dentro dela e sorriu.

"Ei," ela disse, e Konrad lhe lançou um singelo sorriso em retorno. Asami, entretanto, percebeu que algo não estava certo. "O que aconteceu?"

"Achei que talvez você gostasse de saber que Tonraq e Senna estão aqui," Konrad disse, com o cenho franzido, e Asami se sentiu repentinamente nauseada, muito embora a luz dentro de si a estivesse preenchendo como quem quisesse confortá-la. Vai ficar tudo bem.

"Eles vieram me ver?" Perguntou Asami. "Eles sabem sobre o bebê?"

"Eles estão aqui há algumas horas e, sim, querem te ver, mas não acho que saibam sobre o bebê," respondeu Konrad, prontamente. "Quero dizer, eles não fizeram nenhum comentário a esse respeito, e disseram que vieram para me conhecer, porque Tonraq disse que gostaria de ser o meu mestre de dobra de água. Mas, como eu disse, eles falaram que querem te ver também."

Asami deixou escapar um suspiro resignado. Ela supunha que os pais de Korra tinham o direito de saber que ela estava esperando o neto deles, embora ela não soubesse bem como seria capaz de explicar a eles como aquilo ocorrera.

A pedido da engenheira, Konrad esperou na porta do quarto enquanto ela se trocava e a acompanhou até a sala de jantar, onde Senna conversava animadamente com Kya a respeito da propriedade das ervas mais comuns naquela região. Quando Asami entrou na sala, as duas pararam imediatamente de conversar e Senna se ergueu para cumprimentá-la.

"Asami, eu e Tonraq lhe devemos nossas sinceras desculpas," disse Senna enquanto as duas se sentaram à mesa ao lado de Kya, e Konrad saía da sala dizendo que buscaria algo para Asami comer. "Mas acho melhor esperar que ele volte antes de lhe explicar tudo."

Asami olhou com curiosidade para a mulher, perguntando-se porque ela estava se desculpando. Mas, logo que Konrad colocou um prato diante dela, a engenheira resolveu que aquilo podia esperar; aparentemente, seu bebê gostava da comida da Tribo da Água do Sul, pois era a primeira refeição diurna que ela estava ansiosa para comer em semanas.

"Quando você terminar de comer, poderemos começar a nossa sessão," disse Kya, com um sorriso que Asami, com a boca cheia, não pôde retribuir, embora ela tenha balançado a cabeça em um sinal de concordância.

"Sessão? Há algo de errado?" Perguntou Senna, que observava, com espanto, Asami comendo.

Asami quase engasgou diante da pergunta, subitamente feliz por ter comida o suficiente diante de si para ocupar a sua boca por mais algum tempo. Não que achasse que seria capaz de pensar em algo para dizer antes que terminasse. Konrad, entretanto, a poupou de ter que elaborar qualquer coisa.

"Asami não tem se sentido muito bem," disse Konrad. "Tenho certeza que todos que vieram conosco até aqui vão ficar muito surpresos quando descobrirem que ela conseguiu comer uma refeição completa sem sentir pelo menos um pouco de náusea."

Senna não pareceu convencida pela resposta de Konrad, mas deu de ombros, e Asami teve certeza de que a outra mulher não tinha a menor ideia de que Korra estava envolvida de alguma maneira com o mal estar que ela estava sentindo. Afinal, não haviam motivos pelos quais a mulher ligaria aquilo diretamente à filha, falecida quase vinte anos antes.

"Como está Siku? Sinto a falta dele," perguntou Kya, com um sorriso jovial, e, feliz por terem mudado o foco da conversa, Asami se perguntou quem seria Suluk.

"Caçando com Shila," disse Senna, deixando escapar uma risadinha. "Eu sempre digo a Tonraq que, em alguns anos, ele terá que ajudar Siku a preparar um colar de noivado para Shila*."

"Espere um pouco, quem é Siku?" Perguntou Asami, curiosa. Ela não sabia muito sobre os costumes das Tribos da Água, mas não conseguia imaginar o motivo pelo qual Tonraq ajudaria um jovem a fazer um colar de noivado.

"Oh, eu me esqueci de que você não sabia," disse Kya, parecendo surpresa. "Siku é o herdeiro de Tonraq. Ele é filho do irmão de Senna."

"Quando o pobre Siku ficou órfão durante a Guerra Civil, eu e Tonraq resolvemos cuidar dele," disse Senna, com tristeza. "Desde que Tonraq se tornou chefe, pensávamos em adotá-lo também como herdeiro, porque Korra era a Avatar e não deveria assumir, mas achamos que deveríamos adiar até que ela voltasse para casa."

Mas Korra não chegara a voltar para casa, portanto, nunca ficara sabendo a respeito de Siku. Sentindo-se repentinamente enjoada, Asami afastou o prato.

Kya se levantou imediatamente depois e pediu que a mulher mais jovem a seguisse até a cabana ao lado da casa, onde Katara atendera seus pacientes por muitos anos e, agora, Kya o fazia. Era evidente que ela estava curiosa a respeito daquele bebê.

Antes que saísse, entretanto, Asami trocou um olhar com Konrad, pedindo-lhe silenciosamente que ficasse com Senna, não dando uma razão à outra mulher para segui-los.

"Você sabe que precisará contar a Tonraq e Senna, certo?" Kya quebrou o silêncio, abruptamente, enquanto Asami entrava na pequena piscina no centro da cabana. "Não creio que isso mudará a condição de Siku como herdeiro, afinal, ele vem sido treinado para fazer isso desde que aprendeu a andar. Mas eles têm o direito de saber."

"Eu sei, mas não sei como dizer a eles. Quero dizer, como você diz a um casal que a filha deles, que morreu há dezoito anos, te engravidou?" Perguntou Asami, deitando-se na piscina.

Kya deixou escapar uma risadinha e, sem responder, começou a fazer movimentos de dobra de água que Asami nunca vira antes. A água ao seu redor começou a brilhar suavemente, e a engenheira sentiu a luz dentro dela reagindo com entusiasmo. Fechando os olhos, ela concentrou-se na sensação de plenitude que a preenchia naquele momento e, por um momento, ouviu a risada de Korra. Eu também te amo, minha querida Asami!

Ela ouviu Kya arfando de surpresa e abriu os olhos, percebendo que a luz em torno dela se expandira para fora do seu corpo e, provavelmente, era visível mesmo fora da cabana. O susto pareceu fazer com que a luz subitamente se apagasse.

"D… desculpe," disse Asami, após um momento, observando Kya a olhando completamente boquiaberta. "Isso nunca aconteceu antes comigo. É normal isso acontecer durante os exames?"

Kya a encarou por um tempo, visivelmente surpresa e como quem absorvia lentamente as palavras que a outra mulher dissera. Por fim, ela deixou escapar um suspiro e meneou a cabeça suavemente.

"Nunca aconteceu antes," falou a mulher idosa, enquanto ajudava Asami a sair da piscina de água espiritual. "A água normalmente brilha um pouco por causa da minha dobra, mas o paciente em si nunca brilhou."

"Isso aconteceu por que é um filho do Avatar?" Perguntou Asami, preocupada.

"Não sei dizer. Quando Tenzin nasceu, eu ainda era muito pequena e não tenho memórias da gravidez de minha mãe," falou Kya. "Mas, pelo que eu pude perceber, a sua criança é saudável, Asami. Não há como saber o que exatamente ela é, o sexo ou se é um dobrador ou não, também não sei dizer o motivo do brilho; mas posso te garantir que está saudável."

Asami assentiu; não estava de todo satisfeita, mas se sentia aliviada diante das palavras de Kya. Ela queria que Korra ou Katara estivessem vivas e pudessem lhe contar o que estava acontecendo com ela, mas saber que a criança estava bem já era bom o bastante para tranquilizá-la.

Kya secou as roupas da mulher mais nova com sua dobra e gesticulou para que Asami se sentasse, enquanto se sentava na única outra cadeira no aposento.

"Asami, essa é uma conversa que eu tive que ter não mais que meia dúzia de vezes em toda a minha vida, mas todas as vezes foram desconfortáveis," disse Kya. Ela fechou os olhos por um tempo antes de continuar a dizer, "você ainda é jovem em muitos aspectos, Asami, mas o período mais seguro para uma mulher engravidar é até os trinta anos de idade, e eu sei que você não pode ter menos que trinta e cinco."

"Eu tenho trinta e oito," disse Asami, com um suspiro. "O que eu posso fazer para evitar que meu filho corra algum risco?"

"Bom, para começar, mantenha uma alimentação saudável e bem balanceada; e, é claro, eu espero que possamos fazer um exame como o de hoje a cada duas semanas, também porque não sabemos nada sobre esse bebê," disse Kya.

Asami assentiu, e ela e Kya se levantaram e rumaram para fora da cabana e a caminho da casa da mulher mais velha. A engenheira ainda se perguntava o que diria aos pais de Korra quando os encontrasse, como explicaria algo que ninguém sabia ao certo como ocorrera. Mais uma vez, ela desejou que a antiga Avatar estivesse ali para ajudá-la.

Quando entrou na casa, encontrou a sala de jantar completamente cheia. Tonraq e Bolin conversavam animadamente a respeito de suas técnicas de dobra, o fato do primeiro ser dobrador de água e o segundo ser de terra e lava não parecia impedi-los de comparar táticas de combate um a um. Senna e Mako apenas encaravam os dois com tranqüilidade enquanto bebericavam chá.

Embora não pudesse ver Jinora, Opal e Konrad, achava muito provável que eles estivessem treinando dobra de ar em algum lugar próximo. Não haviam tido muito tempo para praticar durante a viagem, e Jinora já havia dito que treinariam ainda mais duro quando chegassem à Tribo da Água do Sul.

Quando perceberam que Asami entrara na sala, todos os olhares se voltaram para ela, e a engenheira soube naquele mesmo instante que as pessoas dentro da casa de Kya haviam visto a luz que emanara de seu corpo.

Ninguém fez qualquer pergunta, entretanto, Bolin e Mako apenas a olharam com simpatia e saíram da sala sem dizer sequer uma palavra ou perguntar se era aquilo que ela queria. Kya pareceu perceber o que estava acontecendo e acompanhou os dois irmãos.

Tonraq se adiantou com um sorriso no rosto que lembrava o de Korra e segurou a mão dela com firmeza e entusiasmo. Asami percebeu pela primeira vez que a antiga Avatar se parecia muito com o pai, e ela se perguntou se poderia reconhecer os traços de Tonraq em seu filho também.

"É um prazer revê-la, Asami. Venha, temos algo para lhe entregar," disse Tonraq, gesticulando um pedido para que ela se sentasse à mesa com ele e Senna.

Asami se sentou diante de Senna, e Tonraq se adiantou para se sentar ao lado de sua esposa. Ela notou que grande parte das feições de Korra eram herdadas de sua mãe; era muito provável que a criança das duas tivesse pelo menos alguns daqueles traços.

A engenheira foi tirada de seus devaneios quando Tonraq tirou um envelope de aparência antiga de dentro do bolso de seu casaco. Asami segurou-o com as mãos trêmulas, percebendo que seu nome estava escrito com a letra de Korra.

"Nós realmente sentimos muito. Antes de se entregar a Zaheer, Korra me procurou para conversar sobre os sentimentos dela por você, ela estava completamente perdida sobre como conversar sobre esse assunto com você," disse Tonraq, sorrindo suavemente ao se lembrar do momento, mas fechando a cara no momento seguinte. "Ela me entregou essa carta e me fez prometer que te entregaria se alguma coisa lhe acontecesse. Mas, quando ela morreu, eu e Senna conversamos e achamos que não fazia sentido acrescentar esse peso nos seus ombros."

Tonraq fechou os olhos por um momento, e Asami percebeu que o homem fazia força para não chorar. Ela viu Senna colocar a mão sobre as do marido em um gesto de conforto; o casal trocou olhares antes de se voltarem novamente para a mulher diante deles.

"Espero que nos perdoe, Asami," disse Senna, com a testa franzida. "Nós não sabíamos que você nutria os mesmos sentimentos. Achamos que estávamos lhe poupando de uma dor ainda mais intensa."

Asami se voltou para a carta em suas mãos. As últimas palavras da Korra que ela conhecera para ela. Tantos anos depois do funeral que começara aquela etapa terrível da vida de Asami, a engenheira sentiu novamente a ferida que a morte da mulher que ela amava causara se abrir.

"C… como vocês sabem?" Perguntou Asami, erguendo os olhos para encarar o casal diante dela. "Como sabem que eu… que eu amava a Korra da maneira como ela me amava?"

"Katara nos contou quando você fugiu com Konrad," falou Tonraq. "Eu fiquei furioso com você; por um momento, achei que você estava traindo Korra. Mas Katara nos disse que aquilo foi um gesto de amor, não de traição."

"Como Katara sabia?" Insistiu Asami. Aquela era uma pergunta que a engenheira se fazia desde que se encontrara com Katara, alguns anos antes; a mulher mais velha nunca lhe perguntara a respeito de seus sentimentos por Korra, muito embora parecesse saber perfeitamente do que se tratava.

"Não sei, mas ela conseguiu me convencer. De todo modo, quando isso aconteceu, você tinha sumido do mundo, e não voltaria para falar conosco, pois eu também sou membro da Lótus Branca."

Asami novamente encarou a carta, perguntando-se se deveria abri-la ali, na frente dos pais de Korra. Ela sentia urgência em conhecer as últimas palavras que a mulher que ela amava sentira necessidade de lhe dizer, mas, por outro lado, achava que talvez fosse melhor estar sozinha quando lesse aquilo.

Além disso, havia algo que precisava falar com o casal também, e percebia que eles começavam a se levantar para partir.

"Esperem, eu… eu também tenho algo para contar a vocês dois," disse Asami, e Tonraq e Senna se olharam por um momento antes de se sentar novamente. Asami encarou as próprias mãos, tentando se decidir a respeito de como dizer aquilo. "Nós, eu e Korra… nós nos encontramos de novo… no Mundo Espiritual. Eu estava doente e ninguém achava que eu me recuperaria, então Konrad desistiu do vínculo dele com Korra para que eu e ela pudéssemos nos falar de novo na esperança de que ela me curasse."

"Ele desistiu? Ele pode fazer isso?" Perguntou Tonraq com espanto.

"Ele… aprendeu. Não tenho certeza de como ele fez isso, Korra me contou que foi o Ladrão de Faces, Koh, que ensinou a Konrad, mas ela não falou mais que isso e eu nunca perguntei a ele," disse Asami.

Ela se sentia burra por nunca ter feito aquela pergunta ao jovem Avatar; estivera tão ocupada nas últimas semanas que se esquecera daquele detalhe. Prometeu-se que perguntaria a ele assim que tivesse a oportunidade.

"Enfim, Korra e eu… nós," Asami sentiu o rosto ruborizando por completo e deixou escapar um suspiro, ela sentiu que deveria pular a parte de como acontecera e partir para o que acontecera. "Eu estou grávida. Não sei como é possível ou por que é possível, mas eu estou. Kya acabou de confirmar."

Tonraq e Senna passaram o que pareceu a Asami ser um longo período olhando-a boquiabertos. A engenheira se perguntou não apenas uma vez se eles acreditariam nela e o que faria se eles quisessem saber mais. Então, Senna se levantou e contornou a mesa para abraçar Asami.

"Um neto?" Perguntou a mulher mais velha, e Asami assentiu. "Oh! Isso é Korra sendo Korra. Ela sempre descobre um jeito novo de nos surpreender."

"Espere aí," Asami e Senna se voltaram para Tonraq. "Como você sabe que essa criança é da nossa filha? Poderia ser de outra pessoa, não? Afinal, mesmo que não esteja mais ligada ao Avatar, Korra ainda é um espírito."

"No Mundo Espiritual, os espíritos tem forma física. Você pode tocá-los e interagir livremente com eles; afinal, foi o próprio Iroh que ensinou Kon a dobrar fogo. Além disso, Korra foi a única pessoa com quem eu," ela fez uma pausa, procurando a palavra certa enquanto corava violentamente, "estive nos últimos dezoito anos."

Tonraq pareceu pensar por um momento, seu rosto ficando cada vez mais corado. Asami se perguntou se ele estava nervoso ou apenas desconcertado, então, finalmente, ele falou de novo:

"Eu… eu vou ser avô?" Os olhos de Tonraq ficaram repentinamente cheios de lágrimas, e Asami percebeu que ele corara no esforço de tentar não chorar. O dobrador de água se levantou e envolveu Asami e sua esposa em um abraço carinhoso.

Após um momento de desconforto, a mulher mais jovem finalmente relaxou nos braços dos avós de seu filho. Quando eles se separaram e Tonraq começou a insistir que Asami ficasse na casa deles durante a gestão, ela agradeceu Korra mentalmente por mais aquele presente: uma família.

~~//~~

Asami não conseguia acreditar que Tonraq e Senna haviam tirado ela e Konrad da casa de Kya naquele mesmo dia.

Eles haviam convidado todos os outros, é claro, mas Jinora queria passar mais tempo com a sua tia e Opal resolvera permanecer lá com Jinora, o que significava que Bolin também ficaria. Quanto a Mako, ele dissera que não queria abandonar Bolin, mas Asami desconfiava que o dobrador de fogo apenas se sentia desconfortável sendo hóspede dos pais de sua ex-namorada.

Deitada no quarto que um dia fora de Korra, Asami sorriu com tristeza, encarando a carta que continha as últimas palavras de sua amada para ela. Após alguns segundos de hesitação, ela finalmente abriu.

Querida Asami,

Eu não sou muito boa em falar sobre sentimentos, e escrevê-los não é exatamente mais fácil. Então, talvez isso não fique perfeito.

Se você receber essa carta, é porque Zaheer acabou comigo. Sei que é impossível alguém como ele vencer a Avatar, mas me incomoda saber que estou indo enfrentar algo realmente perigoso sem ter conversado com você antes. Mais do que escrever sentimentos em uma carta, aliás.

De qualquer jeito, eu quero dizer te dizer que eu amo você. Tipo, amo de verdade, não só como amiga. Não sei se você sente o mesmo; Bolin diz que sim, mas você sabe como ele é.

Sei que parece meio aleatório, mas tenho pensado nisso desde que ficamos presas juntas naquele deserto. E é tão grandioso e bom sentir isso que eu não quero morrer e deixar isso ser esquecido.

Queria, também, te fazer um pedido. Se eu morrer mesmo e você não estiver lendo isso apenas porque seria engraçado te mostrar depois de todo o perigo e quando a gente começasse a sair juntas de verdade (estou sendo otimista, mas, ei!, preciso ser), você poderia cuidar do próximo Avatar por mim? Quero que o novo Avatar conheça você e o amor que você me faz sentir.

Eu estou sendo egoísta? Espero que você não ache que sou egoísta, eu odiaria isso.

É isso aí. Então, até mais. Talvez nos vejamos na minha próxima encarnação. Ou quando você virar para rir de mim, se essa carta for só uma piada.

Sua,

Korra

Engraçado como o destino funcionava. Sem sequer saber da existência daquele desejo de Korra, Asami o havia cumprido. Quando eu não for mais a Avatar e você não for mais Asami, mas formos, em essência as mesmas: então, nós teremos paz.

"Quando eu não for mais Asami," disse em voz alta, esperando que Korra estivesse, de alguma forma, ali. "Mas, até lá, talvez a vida não seja tão vazia assim. Talvez exista felicidade para mim."

Com os olhos cheios de lágrimas, Asami tocou seu abdômen e sentiu a luz dentro dela, a criança que ela e Korra haviam criado, confortando-a.

_______________

* Em Inuit, Shila significa chama, Siku significa gelo. Na minha cabeça, Shila é bastante parecida em personalidade com a Korra , enquanto Siku é mais centrado e menos brigão. Eles são amigos de infância e eu tenho a história dos dois toda montada na minha cabeça, mas provavelmente nunca vou escrevê-la.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Porque eu me senti órfã de "O Panóptico" e porque eu achei que um pouquinho de fluffy para esse universo seria legal de se escrever.

Depois de reler a fic, eu descobri que está faltando algo nela. Então, eu prometo que escreverei um capítulo adicional no clima da fic original, esse capítulo vai se passar entre o capítulo V e o epílogo.

Infelizmente, a plataforma do Nyah não me permite alterar a história uma vez que ela esteja completa, então vou ter que adicionar como outra história.

Se quiserem ser avisados por MP quando estiver pronto, só me falarem que eu aviso, ok?

Abraços e até a próxima!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Adagio" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.