A comedora de flores escrita por The Human


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Outra one-shot. Pensei nela depois de ver o filme Submarine. Uma música em especial me ajudou bastante a escrevê-la. Se chama Hiding tonight do Alex Turner. É muito boa. Espero que gostem.



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Conheci uma garota estranha. Bela, mas tinha algo esquisito nela.

Ela comia flores.

Eu perguntava à ela o motivo e apenas recebia um olhar irritado.

Era tão bonita, mas sua personalidade era ruim. Mesmo assim acabei me apaixonando pela comedora de flores.

Gostava de fazer chás com biscoitos duros de avelã. Eu comia por educação, rendendo alguns machucados. Mas adorava quando ela ria de minha desgraça. Era doce.

Mesmo tendo um gênio petulante, eu via que tentava ser boa. Acompanhava-me até a porta, depois de rir de meus acidentes ela ajudava-me com os cuidados de suas consequências, deixava em meu bolso bilhetes com frases de livros que achava interessante.

Estão guardados numa caixa no fundo do meu armário, onde mãos guiadas pela curiosidade não chegariam tão facilmente. Lá também jaz as mixtapes que dava-me, a receita dos duros biscoitos que até eram bons...

Gostava de ficar em casa, lendo ou ouvindo música. Sempre que eu visitava-a, fingia que não estava animada, mas seus olhos eram tão fáceis de serem lidos. Eu sempre me lembrarei da clareza deles.

Também apreciava ir à praia, dar caminhadas curtas e apenas encarar o mar. Queria jogar-se na água e ser levada para longe. Como pequenas pedras numa onda, nada a impedia de ficar lá. Mesmo sabendo disso, eu ainda estava , esperando que minha comedora de flores não fosse embora.

Tenho as várias fotos que tirei de seus momentos, como quando gostava de correr pela areia e machucar os pés, ver coisas afundando, arranhar-se na parede de pedras da minha casa. Ela dizia que se sentia bem e dava-me um olhar travesso.

Uma tarde, cheguei a sua casa e estranhei o silêncio no local. Adentrei cuidadosamente, já que ela gostava de dar sustos. Fui para a cadeira que sempre estava sentada, com o vestido rosa que sempre vestia e sua caneca de chá predileta. Mas não encontrei ninguém.

Fui para o andar de cima, já apavorado por não achá-la em nenhum lugar. Desci para a cozinha e algo chamou minha atenção. Um pequeno papel preso por um biscoito estava em cima da mesa.

Aproximei-me até ver que era um bilhete. Peguei-o prontamente e as poucas palavras me assustaram.

Saí da pequena casa, correndo morro a baixo. Virei-me antes do final, numa pequena estrada cercada de paredes de pedras e comecei a chorar. Continuei a correr, seguindo pela trilha até chegar a praia.

Desesperadamente procurei com os olhos o lugar inteiro e corri pela beirada da água. Já um pouco mais tarde, comecei a andar cansado. Mas algo colorido fez-me correr novamente.

Cheguei perto e vi que eram três flores.

Eu não podia impedir que isto acontecesse.

Olhei para o mar e várias pétalas jaziam nas águas calmas, sem ondas.

Enquanto as lágrimas borravam minha visão, entrei no mar. Comecei a desesperadamente andar para o fundo, mas eu sabia que ela já tinha ido. Apenas boiei junto aos restos de flores, olhando para o céu laranja, com as lágrimas misturando-se com o mar salgado.

Já de noite, saí da água com as roupas coladas em meu corpo e o frio atingindo-me em cheio. Subi os morros que pareciam mais altos, passando ao lado da casa da mais bela moça que havia existido.

Na batente da porta, encontrei com ela novamente. Seguia-me com um olhar ansioso e eu chorei. Passei por ela, fazendo-a desaparecer. Encontrei-a no corredor, no meu quarto, no banheiro. Mas não fui junto, como pedira.

Deitei em minha cama e encontrei-a novamente, onde apenas palavras doces foram ditas entre lençóis vazios.

Ainda hoje, ela me visita com o humor ácido e a vontade de arranhar-se nas paredes.

“Você sabe que as águas me chamam e um dia eu iria atendê-las. Não quero que siga-me, pois isso é algo meu. Nunca lhe disse o porquê que engulo flores.

Tenho esperanças de que, se engoli-las, talvez eu tenha a beleza delas. Dentro e fora.

Com amor, sua eterna comedora de flores.”.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Agradeço por lerem.