Nesperim - A Irmandade Fantasma escrita por L S Gabriel


Capítulo 10
Capítulo 9: Reaproximação


Notas iniciais do capítulo

Não é fácil recomeçar... ainda mais quando estais morto para todos que te conheciam.

Bernardi Gallic.



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Por mais que testemunhe, porém, não importa. Bernardi ainda não consegue acreditar que está vestindo, outra vez, o uniforme cinzento do Jardim das Montanhas – outro presente de Felix. A ficha não cai durante o trajeto ao colégio, nem mesmo após atravessar o portão e correr os olhos maravilhados pelo vasto jardim esverdeado, à medida que se dirige à sala. Ah, essa sensação de nostalgia que o faz moldurar um sorriso tristonho no rosto. Por segundos –por míseros segundos –, ele consegue esquecer-se de tudo o que passou... De tudo o que perdeu e sofreu. E fingir ter voltado àqueles dias normais do passado – ao bom e velho passado.

Chega à sala de aula – ligeiramente atrasado, tradicionalmente. Endurecido como uma estátua, ele paira diante a porta, tomando fôlego para então dar umas três batidas moderadas na porta. Um, dois, três... Ouve os gemidos da maçaneta emperrando para abrir. A porta escancara bem devagar. O rosto do professor metido entre ela lança um olhar espantado, comparando a semelhança de Bernardi com um rosto familiar na sua memória. O professor está prestes a recordar, mas Bernardi então se expressa explicando que é um aluno novo. De bom grato, o professor abre passagem para ele, e gesticula com a mão, freando-o diante a pressão do mar de olhos, cujos, de repente, parecem estar mais perplexos e curiosos do que poucas vezes estiveram.

– Alunos, por favor – pede o professor gentilmente, recebendo o silêncio atencioso que desejara –, temos um novo aluno nessa sala. Dêem todas as boas-vidas ao... – ele confere o nome na folha de transferência dada pelo ragazzo –, signore Bernardi Gallic.

O professor não o conheceu tão bem na vida passada para ter um susto quanto às coincidências. Mas o resto da sala sim – esses que terminam de arregalar ainda mais os olhos, soltam gritinhos involuntários, ou saltam ligeiramente da cadeira, suspiram fundo, ou qualquer reação anormal impulsionada pelo espanto da notícia.

Não demora até os rostos abismados e pasmos formarem um coral de sussurros que sobrevoa a sala, compartilhado de boca em boca.

Estão vendo o mesmo que eu?!... Sim. Ele me lembra um pouco aquele ragazzo arrogante que morreu. E não é só isso, ainda tem o mesmo nome... Nossa que coincidência, não acham?... Sim... E ainda veio parar nessa sala!... Isso não pode ser apenas coincidência. E seria o que idiota? Uma alma penada?... Sei lá... Quem será ele?... Que coisa estranha, ele me lembra alguém, mas quem?... Eu não o acho parecido... Nem eu!... Vocês acreditam em tudo; é apenas coincidência. Vocês não leem não? Há diversas pessoas no mundo que são parecidas ou idênticas; e há uma pequena porcentagem de chance delas se encontrarem ou frequentarem o mesmo lugar... Bernardi não é um nome incomum também... De onde será que ele veio?... Do além?!... Lá vem você com essa bobagem de fantasmas... Poderia ser o fantasma dele que voltou... Cala a boca sua idiota, fantasmas não existem!... Claro que existem; você não assiste TV?!...

Bernardi tem deixado de se importar com os murmúrios há muito tempo. Prefere dar atenção a uma coisa mais importante: seu ex-lugar, que prevalece vazio. Não pensa duas vezes em avançar e acomodar-se nele. Entretanto, um suave rosnar vindo da cadeira ao lado, de longe, não pareceu um alegre gesto de boas-vindas. Propositalmente, e momentaneamente mal-humorada, Sarah prefere prender os olhos na lousa vazia ao ter que encarar o seu novo colega de classe. Enquanto Bernardi tem toda a atenção do rosto abobalhado cedida para ela. Oculta os profundos suspiros de saudade, mas não os olhos trêmulos. Está paralisado, vivendo apenas as lembranças que correm em sua mente. Quando ele volta a si, surpreende as bordas da boca úmidas. Por fim resolve se apresentar.

Buon giorno. Eu sou Bernardi Ga...

Apressadamente, Sarah se levanta e esnoba as palavras virando o rosto de poucos amigos. Na mesma direção olhada, avança a passos largos sem olhar para trás ou com intenção de voltar. Pára apenas quando se acomoda numa mesa ladeada a de Xavier e sua rodinha de amigos estúpidos. O rosto de Bernardi entristece-se, entrementes fica boquiaberto.

– Não fique aborrecido com ela – pede a voz tentando esconder a tristonha rouquidão. Bernardi não precisaria entreolhá-lo para saber que é Hugo, sentado à mesa de trás. – Nós perdemos um grande amigo há pouco tempo, e ela ainda não começou a superar a perda.

– Sinto muito, eu não sabia – mente ele, surpreendendo uma fraca alegria por Hugo não ter lhe virado as costas também. – Buon giorno – ele estende cordialmente a mão ao ragazzo –, prazer em conhecê-lo. Eu sou Bernardi Gallic.

– Hugo Foullen – responde com um aperto de mão.

Nostalgia... Simplesmente, esse deve ser o termo que define o momento. Rapidamente, ambos se veem numa conversa simpática e entrosada, que não tem nenhuma diferença – além da ligeira maturidade – das que tinham nos primeiros dias que se conheceram. Mas algo receia Hugo quanto a Bernardi. Como esperado e indesejado, Hugo sempre solta algumas perguntas e demonstra desconfiança quanto à personalidade do novo colega. Bernardi consegue desviar sutilmente, porém convincente. Mesmo assim, algumas vezes, fala e age como Bernardi Balleny; e talvez esse seja o motivo que assusta Hugo ao ponto de não permiti-lo a se aproximar mais.

Já Sarah constantemente espia a conversa entre os dois, sempre sentenciando Bernardi com os olhos raivosos. No intervalo, bate o pé para que a presença dele não os acompanhe enquanto ela e Hugo descansam sob um dos velhos carvalhos à beira do pequeno rio – o que faz Bernardi passar o intervalo inteiro sentado isoladamente, pensativo em como conseguirá se reaproximar do melhor amigo e amolecer o coração de Sarah para que ela deixe de repudiá-lo impiedosamente.

O mesmo acontece ao saírem do colégio. Bernardi já estava disposto em acompanhá-los, mesmo que isso significasse caminhar quase o dobro ao que faria até a sede. Mas novamente Sarah deixa um dilema para Hugo: ou a companhia dela ou dele. Constrangido, Hugo se despe de Bernardi antes de sair caminhando com Sarah – que permanece com uma expressão amarga e orgulhosa, entretanto, ligeiramente contente pela escolha do amigo. A decepção assombra o rosto de Bernardi, enquanto ele se dirige à sede, cabisbaixo.

Como de costume, Bernardi atravessa o bar da sede sem dar importância aos que ali estão – hoje muito menos, pois seus olhos não despregam do chão, desde a porta até o quarto. O ragazzo se atira sobre a cama assim que se aproxima o suficiente. Afunda o rosto frustrado no travesseiro branco. Mas, misteriosamente, um pressentimento involuntário persiste em alfinetar sua tranquilidade, gerando uma sensação de estar sendo observado. E descobre que realmente está quando ergue o rosto e entreolha Felix encostado contra a parede.

Buon giorno. Eu estava no bar quando o vi cruzá-lo carregando essa mesma expressão, no mínimo, insatisfeita.

– O senhor viu certo! – responde ele sentando-se na cama.

– Como foi o primeiro dia de aula? – Felix já pressupõe o motivo da frustração de Bernardi.

– Nada bom, para não dizer o pior. O clima foi tenso. Alguns alunos me compararam ao antigo Bernardi, e me rejeitaram com os olhos.

– Já deveria esperar por isso: tem uma aparência e nome semelhante para frequentar o mesmo colégio, a mesma sala...

– Todos esses fatos são importantes e eu não poderia abrir mão deles – retruca Bernardi ligeiramente ríspido. – Até mios amigos me rejeitaram. O pior de tudo é que eu não sei se vou recuperar a amizade deles.

– Não recupere o que perdeu; reconquiste. Tente se pôr no lugar dos alunos, principalmente dos seus amigos. Imagine você perdendo alguém especial, e de repente uma pessoa com diversas coincidências surgisse na sua vida como se já te conhecesse. Entendeu aonde quero chegar?

– Um pouco!

– As coincidências são os problemas. Então evite demonstrá-las o máximo que puder. Seja naturalmente paciente, como se tudo e todos fossem novos para você. Afinal você é uma nova pessoa. Aja como tal.

O conselho dado por Felix acaba não resultando da forma que Bernardi tanto ansiava. Inclusive, elimina quase toda a esperança que ele tinha em ainda conseguir recuperar aos poucos a vida que teve. Provavelmente esse era o real desejo do homem. Maldito Felix. Contudo, logo o ragazzo percebe que isso não é ruim. Nos dias de aula, porém, não deixa de habitar o mesmo lugar que o pertencia – o que fez Sarah se mudar provisoriamente para a mesa ao lado de Xavier. Todavia, Hugo ainda continua lá, e a cada dia que ele conhece melhor o desconhecido Bernardi Gallic e sua personalidade – cinicamente diferente ao do falecido –, espontaneamente Hugo continua a deixá-los de associá-los. Entrementes Bernardi descobrira que tem uma incrível facilidade quanto a mentir.

O contrário pode ser dito de Sarah, que não encurta a distância entre ela e Bernardi; mas suas constantes pontadas de olhares, a cada dia que se passa, vão perdendo o desprezo. O mesmo gesto vale à maioria dos alunos, cujos deixaram de sentenciá-lo por conta das coincidências que ele não vem enfatizando. Entretanto, todos ainda têm um respeitoso receio, desconfiando de uma espécie de mau-pressentimento. Mesmo que se aproximem pouco a pouco, entretanto, ainda carregam aquele brilho de estranheza ao olharem para Bernardi. E o fato dele sempre estar com as mãos enluvadas para esconder a mão cristalizada, mesmo nos dias escaldantes, quando seus dedos encharcam sob o couro negro das luvas, não ajuda muito.

Acostumado em passar os intervalos em um lugar remoto, ou vagando pelo jardim invejando a vida tranquila dos outros alunos, Bernardi deduz que o intervalo de hoje não será diferente. Mas, logo ao banhar-se com os raios de sol, descobre seu equívoco, espantando-se com um inesperado convite.

– Gostaria de passar o intervalo conosco? – convida Hugo, enquanto Sarah está longínqua e insciente disso, aguardando.

Bernardi não deixa aparentar a alegria que tenta contagiá-lo, e sim o receio fazendo-o cogitar a oportunidade.

– Sarah não se sentirá incomodada?

– Sim, mas já está mais que na hora dela começar a superar a tragédia. O primeiro passo é parar de descontar as dores em você.

Então Bernardi aceita.

Partem para o frescor de uma árvore tortuosa. Amargamente, Sarah não esconde o rosto rabugento perante presença de Bernardi. Por outro lado, as caretas autoritárias e contorcidas de Hugo mandam ordens inaudíveis – igual a uma madre querendo intimidar o filho bagunceiro. Nem por isso ela dá trégua. Sarah clareia o rosto com uma falsa serenidade. Permite-se dialogar naturalmente com Hugo; porém quanto a Bernardi, evita lhe dirigir as indispostas palavras ou as dispara rispidamente, mas não mais que duas ou três no máximo. Uma eminente tentativa de esnobar o pobre estranho, cujo, a esta altura, está muito além de constrangido– visto isto pelas suas bochechas coradas –, instigado a ficar quieto para não piorar a situação.

Agora sabe o que é ser desprezado por alguém amado. E isso, inusitadamente, pesa como um chumbo nos seus pensamentos. Uma reflexão inoportuna?... não, e ele se vê obrigado em concordar. Talvez não assim, espinhosamente, contudo, quantas vezes ele não desprezou Sarah, Hugo, os outros colegas de classes e, o pior, até sua família?!... Não, não foram poucas.

As coisas não poderiam ficar piores, ele pensa. Pena que está prestes a enganar-se novamente. Agora, Hugo se põe de pé, dando os primeiros passos para algum lugar distante dali.

– Preciso ir ao banheiro! – ele alega, embora sem muita verdade nas palavras.

Os olhos de Bernardi, que levantaram juntos com o amigo, acompanham-no temerosamente ficar menor à distância do plano e verde horizonte. Agora, ele entreolha para Sarah, lutando para manter a calma e pensar no que irá fazer para agradar aquele rosto contorcido de amargura. Seu coração lateja de medo em arriscar algumas palavras; e se elas agravarem ainda mais a nula chance que ele tem?Todavia, se as palavras não afundarem-no, o desconfortante silêncio vai.

– Bom... Você não é de falar muito, não é?! – tenta ele, forçando um sorriso simpático.

No entanto, Sarah franze o rosto, apontando-o para o nada, para que assim seja mais fácil ignorar o estranho. E ele desmancha o sorriso amargamente.

– Não sei o porquê de me detestar tanto assim. Mas eu gostaria de saber o que eu te fiz de mau... – propõe ele humildemente.

Sarah ainda faz questão de afastar os olhos pretos dos cinza, e manter a boca pregada. Constantemente, ela solta bufadas raivosas e baixas, que vão ficando mais alto à medida que a fúria da ragazza ferve-a ainda mais.

Será impossível alcançá-la assim, Bernardi teme em pensar... e admitir.

Va bene... – suspira ele decepcionado, pronto para levantar-se. –Peço mil perdões pelo incômodo, e não se preocupe em se aborrecer comigo de novo. Prometo que nunca mais chegarei perto de você...

– Talvez eu não te deteste... – escapam as palavras. Uma surpresa, além do fato de ela, finalmente, permitir que Bernardi possa olhá-la diretamente nos olhos, cujos lutam para continuarem secos. – Talvez eu deteste sua aparição.

– Minha aparição?

Sarah suspira profundamente de dor, como se estivesse remexendo uma ferida aberta. Agora, uma expressão tristonha está moldurada em seu rosto. – Você me lembra ele. O mio melhor amigo que se... que faleceu. Até o nome...

– Lamento muito, mas eu não tenho culpa quanto a isso... – argumenta ele com extremo cuidado para não soar grosso.

– Eu sei, eu sei... o pior que eu sei, droga. A culpa é minha... – ela choraminga, deixando escapar as primeiras lágrimas. Lágrimas pesadas que não aguentava mais conter. – Eu o vi nas suas últimas horas de vida. Brigamos feio, e naquela noite ele jurou que não queria mais ver a mim, Hugo, o colégio e os outros alunos. No momento eu não dei a devida importância; achei que era apenas mais um capricho mimado dele. Mas na manhã seguinte... eu, eu... – ela necessita resfolegar algumas vezes para prosseguir –, descobri que ele estava morto, e o pior: sob suspeitas de suicídio. Eu não consigo aceitar a hipótese dele ter tirado a própria vida. Eu o conhecia muito bem. O Bernardi era sensato, decidido e gentil... Esse Bernardi nunca cometeria suicídio. Contudo, era muito egoísta e orgulhoso; eu não sabia o quanto, mas talvez até o ponto de não aceitar que as coisas realmente não acontecessem da forma que ele queria. Que nós dois não acabássemos do jeito que ele tinha planejado... E talvez por frustração ou ódio, ele tenha tirado a própria... – ela cai em crise profunda de choro e esconde o rosto em seus braços como se ali conseguisse fugir do mundo. – Estou confusa e enlouquecendo por sentir tanta raiva. Raiva de ele estar morto. Raiva da polícia por ter acatado a hipótese de suicídio, ao invés a de assassinato que também foi levantada. Raiva de mim por às vezes cogitar se ele foi mesmo capaz de se matar. Raiva do maldito egoísmo dele que não o deixou ver que mio coração era dele, até ser tarde demais. Raiva das lembranças, boas e ruins... Raiva da saudade... Raiva de tudo.

Assistir Sarah afogar-se nas próprias lágrimas escorrendo desenfreadas por seu rosto, é quase uma tortura emocional. Ainda mais sabendo que boa parte da dor que ela jogara em suas próprias costas, é, na verdade, culpa de Bernardi. Pobre bambina. Arduamente controlando as emoções, o ragazzo compartilha o peso do pranto dela, e o dever de aliviá-lo.

– Perdão – escapa dos lábios abertos dele, porém as palavras parecem ter se perdido entre eles. Então Bernardi se atreve a arrastar-se para mais próximo dela e poder encontrar o rosto caído.

– Não deixe o luto corroer-te dessa forma – pede ele preocupado. –Vocês eram melhores amigos. O conhecia tão bem quanto ele mesmo. Sei que no fundo você não acredita que ele tenha mesmo cometido suicídio. Afinal, acha que ele ficaria feliz em ver que deixou apenas dor nas pessoas que ele amava?... Na ragazza que ele gostava?... Se ele realmente tinha sentimentos honestos por você, independentemente aos defeitos, garanto que o que o Bernardi desejava era te ver feliz. E ainda há tempo para fazer a vontade dele. Não transforme isso em um fardo para ele carregar: o fato de ter partido deixando mágoa no seu coração.

Lentamente Sarah ergue o rosto encharcado e vermelho como um tomate.Está longe de estar convencida, porém,está aliviada pelas palavras convincentes e confortantes do ragazzo.

– Até nisso vocês se parecem: na habilidade de me confortar com palavras – suspira ela entreolhando-o.

– Bom... É para isso que servem os amigos– arrisca, curvando um sorrisinho tímido. – Isso se você aceitar minha amizade.

Ela olha para o chão, onde encontra conforto para refletir. Bem lentamente, permite-se estender graciosamente a mão para ele. – Sarah Monalisa – apresenta o nome, já que seus olhos se conheceram.

– Bernardi Gallic – diz, segurando delicadamente a mão da ragazza.

Ainda nessa semana, num fim de tarde avermelhado, carente do sol que está se pondo ao horizonte, Bernardi retorna de mudança à casa dos Balleny. Acerta as regras imposta por seus novos senhorios, que não são muito diferentes das de quando eles eram seus pais. Por fim é avisado o dia do pagamento mensal e recebe duas chaves presas numa argola– uma da garage e a outra de seu novo quartinho. Ele não entrega a fervorosa euforia que as mornas boas-vindas acarretaram; todavia, os risos escapam quando abre a portado quartinho da garagem. Logo sua animação é um pouco ofuscada pelas nuvens de poeira, que esvoaçaram no seu rosto, causando-te uma breve crise de tosse.

Demora pouco mais de uma hora para limpar quase todo o pó do quarto – isso porque Mariana sentiu pena da trabalhadeira em que estava envolvido, e lhe emprestara o aspirador. A contra vontade de Simon que, nada contra o novo inquilino, mas pegar o aspirador emprestado no primeiro dia de moradia não foi visto como uma boa impressão.

Finalmente está pronto! Ele se instala no quartinho empoeirado de paredes azuladas; um banheiro mal acabado, mas usável; uma velha cama de madeira sob dois colchões magricelos; uma mesa redonda sustentando uma pequena televisão;a lâmpada trêmula que dança no teto; e, por fim, o computador portátil que Felix o emprestou para auxílio pessoal. Entre o encontro das paredes, há pregado um fino pedaço de pau que servirá de cabide. Logo ali, velhas gavetas que, limpando as teias de aranha, tornaram-se um bom armário e guarda-volumes. Mesmo sendo gritante a simplicidade desse quarto comparado ao que fora presenteado na sede da Irmandade, Bernardi não se arrepende nem um pouco da troca. Sente-se tampando um buraco em seu peito. Uma sensação calorosa em seu coração – uma sensação que ele trocaria novamente todo o conforto para consegui-la outra vez. A sensação de poder viver sob o mesmo teto que sua família, mesmo que como um estranho, contudo não hesita em sussurrar.

Lar doce lar.


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