"Eu só espero que não tentem me matar novamente." Disse o loiro.

Os dois, então, entraram na sala. O espaço era incrivelmente grande, como um escritório de uma pessoa somente. Não havia muitos móveis, surpreendentemente. O lugar era frio, e o som se ecoava facilmente. Havia um pequeno sofá de dois lugares à direita deles, com uma mesa e uma estante, logo ao lado. Ao centro, uma grande mesa com um notebook fechado, atrás dela, uma grande cadeira, vazia. Tudo estava silencioso, até que, na janela ao fundo, uma sombra de um homem se concentrava em pé, de costas para os dois.

"Que bom que você veio." A voz familiar disse, virando-se para o casal logo depois.

Ele começou a se aproximar de Daphne, e a mulher, firme em seus passos, também caminhou em direção à ele.

Lentos passos foram dados, até que os dois ficaram cara a cara. Dessa vez, Michael não vestia o capuz que outrora vestira. Ele vestia um terno preto, sem gravata, sapatos sociais e uma camisa branca. Também usava um broche com o símbolo do cassino.

"Fred..." Daphne disse, olhando para Michael.

"Sim?"

"Poderia nos deixar a sós?"

Fred encarou o irmão dela. Ele não era muito diferente do Banqueiro, mantendo a mesma expressão, mas desta vez com um ar mais jovem. Michael mantinha um meio sorriso, mal parecia o homem por trás de toda a história.

"Mas, Daph?"

Fred estava preocupado e receoso de deixar sua namorada junto daquele homem, mesmo sendo seu irmão. Ele quase matou-a uma vez, e o loiro não duvidava muito que ele faria isso novamente.

"Eu vou ficar bem, Fred. Confie em mim." Daphne não se virou para ele totalmente, mas lançou um olhar decisivo, para confiar totalmente nela.

"Está bem. Mas não hesite em me chamar, se precisar." Fred olhou para ela e seu irmão uma última vez, e assim, saiu da sala.

"Enfim, a sós." Michael, ainda sorrindo, pôs as duas mãos em seus bolsos. Ele realmente não aparentava ser aquele que quase destruiu a vida de sua própria irmã. Os cabelos ruivos, já nos ombros, realçavam aquele rosto jovem e aqueles olhos negros. Mas não esconderam algo incomum, uma cicatriz, que partia de sua sobrancelha direita até a base de sua cabeça.

Daphne reparou naquilo, e um por breve momento, esqueceu-se daquele lado obscuro de seu irmão.

"O que... houve?"

"O que houve? Hah, parece que minha irmãzinha se importa comigo, afinal."

A ruiva agora estava mais séria.

"Quando se tem de lidar com um trabalho arriscado como aquele, às vezes temos de lidar com as consequências." Michael retirou sua mão direita do bolso para apontar para aquela ferida cicatrizada.

"Por isso que você usava aquele capuz..."

"Eu não queria assustar você, irmãzinha."

"Como pode falar desse jeito?! Você fala como se não fosse nada de mais, Michael!" Ela disse já numa voz alterada.

"Foi a minha escolha!" Michael retrucou batendo em seu peito.

"E você tentou me levar a isso!"

Ele então se afastou dela, e ficou dando voltas em torno da mulher.

"E pelo visto, foi um erro. Foi um erro meu pensar que você ficaria do lado de seu irmão."

"Consegue ouvir o que está dizendo? Michael, você está matando pessoas!"

"Quem você acha que tem mais culpa? O que dá a arma, ou o que atira com ela?"

Daphne já ouviu aquelas palavras antes. Palavras que vieram do Banqueiro.

"Você é um assassino! Essa é a verdade!" Ela se aproximou o irmão, que agora estava parado próximo à janela.

"E o que você vai fazer, me matar?" Michael seguiu até sua cadeira e lá sentou. "Se você chegou até aqui, foi porque conseguiu passar pelo meu jogo." Ele tirou um celular do bolso de seu terno, olhou rapidamente, e depois o pôs na mesa. "Certamente não esperava por Fred ter sobrevivido, mas, enfim."

Daphne olhou para aquele celular, suspeitando de ser alguma coisa incomum, mas depois olhou para ele novamente.

"Você teve o direito de escolher dois prêmios. É claro que você, minha irmã, não escolheria ganhar um milhão de dólares, não..." Ele abriu um largo sorriso. "Você já é milionária, então para quê ganhar um ínfimo valor? Eu sei porque está aqui."

"Você destruiu a vida de muita gente, Michael."

"São eles que consomem. Eu apenas vendo. São aqueles drogados que se destroem. Las Vegas é um paraíso para os que sabem o que procuram e um inferno para os perdidos... um paraíso infernal, para falar a verdade."

"Você precisa ser detido antes que destrua mais vidas."

"Então veio aqui para me matar. Você não é muito diferente de mim, irmãzinha."

"Eu não sou igual a você!"

"Claro que é! Ou pensa que eu não descobri que você tem uma arma presa em uma de suas pernas?!"

Daphne já esperava que ele pudesse desconfiar de sua arma. Mas ela nunca adivinharia que ele soubesse onde a arma estava escondida. A mulher, com receio de parecer nervosa, tentou manter-se firme.