Sins of Our Fathers escrita por Catherine


Capítulo 2
Jon


Notas iniciais do capítulo

Bem, não resisti a deixar-vos aqui o próximo, espero que gostem.
É especialmente dedicado à Denyse Salvatore que comentou o anterior e me fez querer postar tão depressa ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/592635/chapter/2




Basta um olhar para Jon entender que nada mudou entre eles, que o pai não estava no Norte para levá-lo. Uma parte de si espera por um abraço, que o rei demonstre afeto, talvez até saudade depois de tantos anos longe. Essa parte de si é tola por continuar à espera do que nunca chegará.

Rhaegar seguiu-o em silêncio na direção da cripta. Os degraus de pedra em espiral eram estreitos, por isso Jon foi à frente com a lanterna. O silêncio entre eles era quase constrangedor e a tensão começava a fazê-lo suar.

– Vossa Graça – disse parando. Rhaegar não o corrigiu como o tio sempre fazia quando o tratava com formalidade. Ao contrário de Eddard, o rei parecia gostar da distância que os titulos criavam entre eles. A lanterna moveu-se em semicírculo. A luz tocou as pedras do chão e roçou uma longa procissão de pilares de granito que marchavam em frente a eles, dois a dois, na direção das trevas. Entre os pilares sentavam-se os mortos nos seus tronos de pedra, apoiados nas paredes, de costas voltadas para os sepulcros que continham os seus restos mortais – Ela está ao fundo, com o meu avô e o tio Brandon.

Indicou o caminho por entre os pilares e Rhaegar seguiu-o sem uma palavra, estremecendo levemente com o frio subterrâneo. Jon sempre gostara das criptas. Ali fazia sempre frio e ele sentia que o gelo fazia parte dos seus ossos. Mais lobo que dragão, diziam e ele sorria, esperando que fosse verdade. Os seus passos soavam nas paredes e ecoavam na abóbada que se erguia sobre as suas cabeças enquanto caminhavam entre os mortos. Os Senhores de Winterfell viam-nos passar. As suas imagens tinham sido lapidadas nas pedras que selavam as tumbas. Sentavam-se em longas filas, olhos cegos virados para a escuridão eterna, enquanto grandes lobos gigantes de pedra se aninhavam aos seus pés. As sombras móveis faziam com que as figuras de pedra parecessem mover-se quando os vivos passavam por elas.

Seguindo um costume antigo, uma espada de ferro tinha sido colocada sobre o colo de todos os que tinham sido Senhores de Winterfell, a fim de manter os espíritos vingativos em suas criptas. A mais antiga já há muito enferrujara até a inexistência, deixando apenas algumas manchas vermelhas onde o metal tocara na pedra.

Os primeiros Senhores de Winterfell tinham sido homens tão duros como a terra que governavam. Nos séculos anteriores à vinda dos Targaryen do outro lado do mar, não tinham jurado fidelidade a ninguém, tratando-se por Reis do Norte.

Parou, finalmente, e ergueu a lanterna de óleo. A cripta continuava pra frente, mergulhando na escuridão, mas para lá daquele ponto as tumbas estavam vazias e por selar; buracos negros à espera dos seus mortos. Jon evitava pensar que um dia Eddard Stark e os seus filhos as ocupariam.

– Aqui – disse, antes de se ajoelhar em silêncio. Rhaegar permaneceu em pé, os olhos postos nas três tumbas, dispostas lado a lado. Lord Rickard Stark, seu avô, tinha um rosto longo e austero. Estava sentado com uma calma dignidade, com os dedos de pedra agarrados com força à espada que tinha no colo. Em dois sepulcros menores, de ambos os lados, estavam os filhos. Brandon Stark morrera jovem, estrangulado por ordem do seu avô Aerys, a que todos chamavam o Rei-Louco, poucos dias apenas antes de se casar com Catelyn Tully. Por vezes Jon achava que o tio Eddard se culpava por ter ficado com tudo o que seria dele, inclusive a esposa, mas Eddard nunca se culparia tanto quando Jon, a prova do erro de seus pais.

Lyanna Stark tinha apenas dezesseis anos quando morrera ao dar à luz, pouco mais que uma menina e menos que uma mulher. A mulher encantadora que causara uma guerra – Ela era mais bela que isto – disse o rei, após um longo silêncio – Eddard devia ter permitido que ela fosse sepultada no local que escolhi.

– Ela era uma Stark de Winterfell – responde calmamente – Este é o seu lugar.

Rhaegar balança a cabeça, os olhos lilases brilhando sob a luz da lanterna – O lugar dela era comigo – a voz dele saíra baixa demais, talvez não fosse suposto Jon ouvir. Estreitou os olhos na direção do pai, esperando que ele falasse mais de Lyanna, como nunca fazia. Jon raramente tocava no nome da mãe em Winterfell, ela causara muita dor, muitas mortes, e conversar sobre ela magoava Eddard Stark mais que uma espada o poderia fazer.

– Trago-lhe flores todos os dias – diz – Rosas de inverno, nunca venho cá sem as trazer.

E tudo o que trouxe agora foi ele. Pensa amargamente. O rei acena a cabeça aprovando. Estica os dedos e toca o rosto da estátua, roçando-os demoradamente na pedra áspera, a única face que Jon podia imaginar quando pensava na mãe, a única que conhecia.

– Estou grato que lembre que eram as suas favoritas, Lya ficaria orgulhosa – o rei dá-lhe um dos poucos sorrisos a que Jon estava habituado a receber por parte dele quando estava na corte. Muito depois de aprender a não suplicar para que ele falasse da sua mãe.

– Claro que lembro – diz, franzindo a testa com irritação - Falava tão pouco dela que há pouco a esquecer.

O sorriso do pai desaparece rapidamente depois disso. O ar parece ainda mais gelado em torno deles. Deixam a cripta para trás, assim como qualquer esperança de reconciliação. Jon era quase um homem feito, não graças a Rhaegar Targaryen, mas a Eddard Stark, que cuidara dele como se fosse seu.

No banquete senta-se ao lado da tia Catelyn e Robb. Cersei Lannister ignora-o quando se aproxima, ocupando o seu lugar na mesa ao lado de Lady Stark. Consegue sentir os olhos verdes do meio-irmão Joffrey postos em si, na certa o amaldiçoando por estar sentado na mesa do pai, enquanto ele ficara com as crianças. Quase que esboça um sorriso com o pensamento.

– Daenerys não veio – murmura Robb ao seu lado, visivelmente aborrecido por não ver a beleza de que todos falam. Jon sorri, Dany era a sua tia favorita, a única pessoa que lhe escrevia e parecia importar-se com o seu bem-estar depois de ser enviado para o Norte. Quando pensava nela, lembrava uma menina pequena de cabelos prata e olhos violeta com um brilho de malicia sempre procurando aventura e falando de canções. Tanto Arya quanto Sansa tinham algo em comum com ela, dar-se-iam bem.

– Ela detesta a rainha – sussurra, esperando que Cersei não o ouça. Robb sorri, mas Lady Catelyn pisa o seu pé e quando a olha, surpreso, vê pelas sobrancelhas franzidas que pelo menos ela ouviu. Cora e a conversa do pai com Eddard atrai a sua atenção. A menção da Muralha quase faz Jon gemer em protesto, não só irritava os nortenhos ao pisar o seu solo, como iria irritar um dos homens que mais o detestava. Stannis Baratheon tornara-se membro da Patrulha da Noite e mais tarde seu Comandante, após a fuga do irmão para Braavos. Tanto quanto Jon sabia, Robert vivia bem e contente, rodeado de vinho e mulheres, enquanto o irmão congelava na Muralha. Renly era Lord em Ponta Tempestade e tornara um dos bastardos de Robert seu herdeiro, ambos eram inofensivos. Stannis odiava-os a todos.

Mais tarde, Robb chamara-o com um sorriso nos lábios e levara-o ao bosque. A loba morta à sua frente era maior que um cavalo e tanto ele quanto Jon fitaram-na com admiração. As crias depressa de fizeram notar e Robb pegou uma, alegando que estava destinado que elas lhes pertencessem. Mal pode conter a alegria quando o tio aceitou.

O pequeno lobo albino seguia-o naquela manhã, silencioso e com passos ainda incertos. Jon carregava a irmã contra o seu peito, tentando controlar a pequena loba tempestuosa que queria fugir-lhe e perguntando-se se ainda a poderia trocar por uma das outras, a ideia fugindo rapidamente da sua mente. Arya apegara-se a Nymeria imediatamente, e Sansa desmanchar-se-ia em lagrimas se lhe tirassem Lady.

Ser Arthur estava sentado na biblioteca quando o encontrou, folheando um livro cujo conteúdo Jon não conseguiu identificar. Fechou-o rapidamente, levantando-se e dando-lhe toda a atenção. Os seus olhos estreitaram-se na direção dos lobos – Príncipe Jon.

Cumprimentou-o com um aceno de cabeça – Ser Arthur gostaria de oferecê-la à sua sobrinha – diz, embora a ideia não tenha sido sua. O dornês parece confuso, por momentos Jon julga que o tio o enviou num engano – Lord Stark fez notar o seu interesse em manter um animal do Norte – trinca o lábio, incerto – Encontrámos a ninhada ontem à noite, a mãe morreu e cada um de nós ficará com uma... Esta não tem ninguém, não lhe demos nenhum nome. Cuidarei para que seja entregue em Tombastela – a pequena loba salta do seu colo, aterrando no chão com alguma dificuldade e foge na direção das estantes. Jon cora – Ela é um pouco...

– Impaciente? Imperativa? – o cavaleiro sorri quando o animal se aproxima, rodeando as suas pernas aos saltos – A Alysanne vai adorar. Irei agradecer pessoalmente a Lord Stark mais tarde, e não se preocupe, Alys viaja neste momento para Porto Real. Enviarei alguém de confiança para entregar o seu presente.

O pai chama-o durante a tarde, interrompendo o seu treino com Robb. Ser Gerold acompanha-o até ao Jardim de Vidro, assumindo um lugar à porta. Jon franze as sobrancelhas assim que entra, Fantasma segue-o em silêncio. Rhaegar está sentado, fitando as várias rosas azuis que os cercam com um ar de nostalgia e calma invejáveis. O tio de Jon está a alguns metros, parecendo tão aborrecido quanto irritado. Ser Arthur tem a pequena loba em seus braços, que salta para o chão assim que vê o irmão. Os dois fogem rapidamente para fora.

– Jon – disse o rei, quando ele se aproximou. Gesticulou para a cadeira ao seu lado, mas Jon permaneceu em pé. Rhaegar solta um suspiro – Irei partir em breve com Lord Stark, Robb irá conosco, a desejo de Eddard. Lady Catelyn ficará com as crianças e cuidará de Winterfell na sua ausência. Caso algo aconteça ou demore mais que o previsto, espero que honrem o desejo que tenho de unir as nossas casas novamente – o tio resmungou alguma coisa, que não conseguiu decifrar. O sangue bombeava alto na sua cabeça, os pensamentos cruzando a sua mente rapidamente – Irá casar com Sansa ou Arya dentro de um ou dois anos, deixo que escolha uma delas. Summerhall será reconstruída, poderá viver lá após o matrimônio.

– Eles são primos – resmunga o tio, visivelmente incomodado. Jon não sabia o que pensar, considerava ambas suas irmãs, acreditava que nunca as veria como um homem via uma mulher. Nunca olharia para elas daquela maneira.

Rhaegar revira os olhos, Jon sabe que o pai começa a perder a paciência – Assim como o seu avô e a sua avó, Lord Stark. E Targaryens casaram irmãos durante séculos.

– E veja onde isso nos trouxe Vossa Graça – o sorriso no rosto de Eddard é desdenhoso – Grandes reis ou grandes loucos. Homens que conspiram contra a própria família – faz uma pausa, o pai de Jon mantem-se em silencio – O meu pai foi queimado pelo seu, Vossa Graça, quando suplicou pela filha lhe que roubou! Lyanna morreu por sua culpa, assim como Elia Martell! Não deixarei que Sansa entre nessa família de loucos, por muito que ame Jon como amo a um filho.

– Cuidado com o que diz Lord Stark, fala com o seu rei – avisa Ser Arthur, os olhos estreitando na direção do tio. Mas Jon concordava com tudo o que ele dizia. Lyanna morrera ao dar-lhe à luz, bela e jovem demais, morta num mar de sangue e rosas, longe da família e de casa. Elia Martell ardera pela ordem de Aerys dois anos depois do rapto de Lyanna e da morte de Rickard Stark. O rei louco culpava-a pela guerra eminente, pela sua incapacidade de dar a Rhaegar mais herdeiros. Os Martell odiavam Jon com todas as suas forças, e se o rei sabia que os diversos atentados à sua vida quando jovem era obra deles, nada fez. Enviara-o para o Norte, talvez na esperança que o frio o matasse, e prometera Aegon a Arianne na esperança de sossegá-los.

Ser Jaime Lannister traíra os seus votos quando Aerys ordenou que a cidade ardesse e matara o rei que jurara proteger. Alguns chamavam-lhe herói, outros traidor, Jon não tinha bem certeza do que lhe chamar, mas achava o homem mais suportável que Cersei Lannister, com que Rhaegar casara no fim da guerra. A madrasta nunca escondera o desprezo que sentia por ele.

– Jon fará o seu dever – disse o pai, ao fim de um tempo – Assim como fará o seu, Lord Stark, ao concordar com a minha proposta. É uma honra, uma das suas filhas será princesa. Agora saiam, desejo ficar sozinho.

O tio deixa-os rapidamente depois disso, o seu rosto contorcido em fúria, mas ele permanece no mesmo sítio incapaz de se mexer. O pai olha para ele irritado – Sozinho, Jon – diz, gesticulando para a porta de vidro. Ser Arthur coloca a mão sobre o seu ombro e encaminha-o para a rua. Naquele momento, Jon tem a sensação de estar fora do próprio corpo, só desperta quando o vento frio lhe atinge o rosto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!