My Songs, My Life escrita por Flame


Capítulo 9
Guilty Pleasure


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novo cambada! Um pouco atrasado, mas aí!
Espero que gostem.



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Meu corpo não dá sinais de nada. Não reajo, não faço movimento nenhum. Paralisada. Assustada o bastante para mexer um dedo sequer. Não sei ao certo o que está acontecendo. Só sei que meus lábios estão sendo tocados por Shion Kaito.

Eu nunca correspondi às investidas de Kaito, sempre achei que fosse brincadeira, mas nunca baixei minha guarda. Ele se aproveitou da minha fragilidade e acabou me agarrando. Mas será mesmo que isso faz parte de uma investida sua?

Uns tempos atrás eu acharia esse ato repugnante. Eu o empurraria para longe, mesmo sendo numa escada. Mas por que não reajo? Ele termina seu trabalho e afasta seu rosto uns centímetros, mas não tira suas mãos de minha cintura.

–Você entende agora? –ele pergunta.

–O que era para eu entender? –pergunto com a voz abafada.

–Eu gostava de você na época do ginásio. Tentei apagar esse sentimento não correspondido ficando com várias garotas. Aparentemente foi fácil, o problema é que eu nunca conseguia o que queria.

–Aonde quer chegar? –pergunto nervosa.

–Pessoas são insubstituíveis. Nunca consegui uma substituta para você e nunca vou conseguir. Porque você é única. Eu posso não ser o substituto para o Len, mas posso ajudar você a esquecê-lo.

–Kaito... Isso é ridículo.

–Imaginei que diria isso. Que nunca me aceitaria.

–Não é isso, idiota!- grito- Quero dizer que isso de dizer que eu sou única é contraditório! Você diz que eu sou única, mas é incapaz de me fazer única.

–Eu amei você. Não sei ao certo se esse sentimento morreu ou não, mas sei que, mesmo não podendo fazê-la única, eu não vou feri-la.

–Kaito, minhas pernas não estão firmes, você está com suas mãos na minha cintura. Eu fui rejeitada e você me consolou de todas as maneiras possíveis, mas eu não sei se posso aceitar isso. Eu agradeço pelo seu esforço e sentimentos, mas eu não sei... Você sempre soou para mim como um irmão mais velho que implica...

–Shh, vamos parar com esse papo- ele coloca seu indicador direito em meus lábios. –Eu sei tudo o que vai dizer daqui para frente. Quero que esqueça tudo o que faz sentido. Se quiser fingir que esse beijo nunca aconteceu, tudo bem vá em frente e finja, porque eu sei que no fundo você sempre saberá que foi real. Se você não gostou disso, por favor, me perdoe. Mas se você estiver magoada e precisar de apoio, eu estou aqui para te consolar, de todas as maneiras. –ele solta minha cintura.

Eu ainda não entendo o que foi isso. Quer dizer que para ele não faz diferença? Ele gostou de mim no passado e não sente mais a mesma coisa? Beijou-me só para bagunçar minha cabeça ou realmente foi para me consolar? Eu gostei ou odiei?

Ao soltar-me, ele volta a subir as escadas e eu permaneço no mesmo degrau. Minhas pernas não mechem. Ainda estou assustada. Ainda sinto o gosto dele na minha boca. Minha cabeça dói e meu corpo está todo mole. Apenas digo:

–Kaito... Por favor, me ajuda. Minhas pernas não se movem.

–Desculpa. Coloquei muita pressão, não foi? –ele volta a se aproximar de mim.

–Eu não beijo ninguém há dois anos.

–Você se importa se eu lhe carregar?

–Não, mas me leva para a enfermaria, minha cabeça está doendo muito, não quero tocar.

–Desculpe. Eu não queria lhe fazer sentir mal, pelo contrário. –ele parece realmente arrependido.

–Eu sei. Eu só não sei como agir, isso foi muito repentino.

Imagino se não foi assim que Len se sentiu quando me confessei para ele. Forçar seus sentimentos em alguém... É... Sufocante.

–Ei Kaito... Por que exatamente me beijou? –pergunto enquanto ele me carrega em suas costas. – Você disse que gostava de mim. Frisou bastante que era passado. Mas ao mesmo tempo disse que iria me amar, no futuro. Eu estou confusa.

–Me deixa responder sua pergunta com outra pergunta. Você ainda pensa no seu ex?

–Desde que me apaixonei pelo Len não.

–Isso significa que, se eu não me apaixonei por ninguém, eu ainda gosto de você. Se eu me apaixonei por alguém, então eu só gosto de você como amiga. –ele diz com uma voz rígida.

–Ainda não respondeu minha pergunta. Você fica com tantas garotas que chega a ser até ridículo imaginar se você quer algo sério com alguma delas. Parece que um beijo para você não é algo tão importante. –digo encostando de vez minha cabeça em um dos seus ombros. –É por isso que eu não gosto nem de abraçar você. Você quer fazer isso com todo mundo...

–Você quer dizer que não gostou do beijo?

Eu gostei ou não daquilo? Afinal, quem é Shion Kaito para mim? Um amigo? Um colega? Uma antiga paixão? Uma suposta paixão em potencial? Um veterano abusado com abordagens ridículas?

Encostar em Kaito sempre foi um sinal vermelho para mim. Levando em conta o quão pervertido e metido a pegador ele é. Mas, de alguma forma, é como se ele não me tratasse como ele trata as meninas com quem fica apenas uma vez. Talvez ele seja só mais um safado que mente para todas as garotas com quem quer algo. Mas se ele realmente gostou de mim no passado, teria ele desenterrado esses sentimentos por mim?

Rodeada de perguntas sem resposta, tento responder uma, primeiramente a mim mesma. Eu gostei desse beijo? Para falar a verdade, no momento em que sua boca tocou a minha, juro que minha mente ficou em branco. Não vi um borrão sequer. Minhas pernas apenas amoleceram como sempre fazem quando meus batimentos cardíacos aceleram. Senti pura e simplesmente, a crueza de seus lábios tocando os meus, e sua língua roçando a minha, só que sem resposta.

Confesso ter sentido um gostinho doce lá no fundo.

Mas será que ele gostou?

Quero dizer, as vezes que beijei foram tão poucas e já faz tanto tempo que o faz. Será que ele gostou? Considerando que ele já beijou tantas garotas... Se bem que não é para que eu me preocupe com isso.

–Eu não disse isso. - digo com vergonha.

–Então gostou?

–Também não disse isso, idiota.

Evito, mas é impossível não fazer uma avaliação geral deste que me carrega em suas costas. O garoto com maiores médias da escola. Terceiro ano do colegial e toca bateria em nosso clube de música. Faz sucesso com as meninas e usa um cachecol azul mesmo nos dias de verão. É mais alto que Len, tem os ombros um pouco mais largos e o pescoço um pouco maior. Seu cheiro também é diferente do loiro. Ele sempre faz piadas sem graça e suas cantadas são horríveis. Mas é gentil de certa forma, e está sempre disposto a ajudar alguém.

Ao chegarmos à porta da enfermaria, ele agacha e desço de suas costas. Ainda um pouco tonta e com a cabeça dolorida, mas minhas pernas já estão um pouco mais firmes.

–Rin-chan, desculpa se lhe transtornei. –ele fala baixinho- Se quer saber, é verdade que gostava romanticamente de você no passado. Mas agora estou um pouco de olho em outra pessoa. Só que eu vi você tão triste por ter sido rejeitada, aquele seu sorriso falso na escada... Lembrou-me de quando ele foi embora. Não resisti, lembrei-me de quando gostava de você... De certa forma, meu coração acelerou.

–E aí você me beijou.

–Foi. Se você não gostou, desculpe. De verdade.

–Não precisa se desculpar. Eu até que gostei. Mesmo me deixando confusa, foi até um jeito legal para eu me animar. Eu não imaginava que ainda tivesse alguém que pudesse fazer isso comigo...

–Eu posso, sempre que quiser. –ele levanta um sorriso malicioso.

–Idiota. Enfim, acho que eu que deveria pedir desculpas, afinal eu quase não... Agi... –meu rosto volta a queimar.

–Sem problemas. –ele diz rindo- Eu entendo e até te peguei de surpresa, mas não se preocupa se depender de mim, logo você vai agir muito, e numa boa.

–Cala a boca, seu tarado.

Tomo um remédio e vou para casa cheia de perguntas sobre o que aconteceu anteriormente. E se eu realmente continuar ficando desse jeito com Kaito? Isso seria certo ou errado? Eu seria capaz de matar meus sentimentos por Len? E Kaito voltaria a gostar de mim? Será que seria possível nós dois num relacionamento?

Que ideia desagradável.

Para falar a verdade, a história que contei até agora sobre eu e Kaito, foi muito mal contada e resumida. Quando o conheci, foi quando entrei no fundamental. Ele estava no segundo ano e eu tinha acabado de entrar no primeiro. Na primeira semana de aula, quando o conheci, o achei interessante, inteligente e tudo aquilo que fazia meu tipo, ele só era muito aberto.

Essa paixonite durou apenas uma semana e logo Kaito e eu, passamos a ser amigos. O que começou a me irritar de verdade foi seu egocentrismo. Pelo esforço e inteligente, ele sempre foi extremamente bom em tudo que faz notas, esportes, música. Em tudo o que ele faz, ele acaba sendo o melhor de todos e não economiza esforços para mostrar isso para o mundo. Isso me irrita... Sua falta de humildade... Sempre me irritou.

Comecei algo como uma secreta competição com Kaito. Uma competição na qual ele é meu principal oponente, só que não sabe. Desde que o conheci tento o superar em tudo o que posso. Nem sempre consigo e acabo frustrando-me. Acaba que, render-me de forma romântica a ele é algo que me deixaria ainda mais frustrada.

A maneira sínica dele, de chegar perto das garotas e fazê-las suas é sempre igual. Ele nunca parece estar sério sobre isso. Sempre chega com uma brincadeira sem graça, solta seu charme e acaba levando a moça consigo. Só que isso nunca tinha funcionou comigo. Agora entendo porque ele nunca desiste. Ele gostava de mim e nunca me conseguiu, então acaba descontado em outras garotas. Só que agora parece que ele gosta realmente de alguém. E esse alguém é Lily-senpai.

Ao chegar em casa e terminar tudo o que tenho para fazer, finalmente vou para minha cama. Apago as luzes e tento dormir, mas uma coisa me perturba e não me deixa pregar os olhos.

Meu Deus, eu beijei Kaito! Que idiotice! Que vergonha! Quero me jogar de uma ponte!

E o pior é que eu ainda gostei...

Tento deixar isso de lado e dormir, mas passo simplesmente à noite em claro compenso isso no dia seguinte, já que é sábado e não temos aula, resolvo dormir em boa parte do tempo.

Mais tarde, ao acordar, decido fazer uma ligação para Miku. Nessa semana conturbada, mal tivemos tempo de conversar. E eu quero muito saber o que anda acontecendo com ela e Gakupo.

–Rin-chan! Você está bem? –a jovem fala no outro lado da linha.

–Estou bem. Só tive uma pequena dor de cabeça.

–Ah, sério? Que bom que não foi nada de mais. Então, me diz, porque você nem me contou. Como andam as coisas com o Len? –Miku me pergunta.

–Não nos falamos faz uma semana.

–Ah... Sinto muito. Já desistiu dele?

–E eu tenho outra escolha? Eu tento criar coragem para falar com ele para voltarmos a sermos apenas amigos, mas não consigo. Parece que vamos continuar sendo estranhos um para o outro.

–Mas isso é horrível. Você devia tentar fazer algo.

–E você acha que já não estou tentando fazer isso?

–Eu sei que você sempre faz o seu melhor em tudo, mas talvez seja a hora de você esquecer essa vergonha e esse orgulho e falar o com o garoto! Você não deveria perder uma amizade por causa disso. –sua voz toma um tom sério.

–Estou tentando, eu juro...

–Tudo bem. Se você estiver se sentindo para baixo por causa disso, não se preocupa. Tem várias maneiras de curar um coração partido. E para começar, você devia ir atrás de uns caras, beijar umas bocas, ir a festas...

–Miku, já me recomendaram isso. Mas esse tipo de coisa não faz o meu tipo. Eu não vou encontrar nada em pessoas que só querem uma noite de diversão, enquanto eu procuro por uma estabilidade.

–Já parou para pensar que talvez esse seja o seu problema, Rin?

–Como assim?

–Você leva suas paixões muito a sério. –Miku me diz- Você nunca tentou ficar com ninguém sem compromisso, não dá para saber se você gosta disso ou não.

–Mas é que eu me apaixono muito facilmente.

–É só não se apegar. Vai ser um pouquinho feliz, beija um, agarra outro, logo você esquece o Len.

–Hm, não sei...

–Rin, você não está me escondendo nada? –Miku sempre sabe quando escondo algo.

–Ele lhe contou? –pergunto.

–Sim- ela responde.

–Droga! Era para ele ter mantido em segredo! –grito ficando envergonhada.

–Relaxa, o Kaito contou só para mim. Ninguém mais sabe que vocês se beijaram. Se você quiser começar com o plano que lhe disse, o Kaito é um bom começo. Ele beija bem.

–Ei, espera, como você sabe disso? -pergunto um pouco assustada.

–Formatura do fundamental. A gente se escondeu no fundo do ginásio. –ela começa a rir. –Hoje, nada em Kaito e eu está diferente. Continuamos amigos, ele é meu melhor amigo, eu tenho meu namorado e ele tem suas “ficantes”. Nós trocamos beijos uma só vez, nunca me apaixonei por ele, foi algo só por diversão.

–Por que você nunca me contou isso?

–Porque Kaito ainda tinha esperanças de ter algo com você, se eu contasse isso a você, talvez você terminasse com ciúmes e não desse uma chance a ele.

–Que idiota!

–Enfim Rin, eu te dei meus conselhos. Somos amigas e é para isso que servem as amigas. Se você vai seguir isso ou não, depende apenas de você. Entendo que as pessoas são diferentes e que cada um segue seu próprio fluxo, e eu não posso força-la a seguir o meu. Nem o Kaito pode forçar-te a seguir o dele e nem você pode forçar ninguém a forçar o seu. Mas caso queira esquecer alguém, a melhor maneira é outro alguém, mesmo que seja por apenas uma noite.

–Esse é o problema Miku. Eu não sei se quero realmente esquecê-lo.

–Você é quem sabe. Seja qual for a sua escolha, eu vou lhe apoiar, mas caso faça alguma besteira muito grande, eu vou lhe dar um cascudo.

–Relaxa, eu não vou aparecer grávida nem nada. –digo fazendo piadas bobas.

A ligação de Miku fica na minha cabeça durante todo o resto de fim de semana. Ao chegar à segunda, eu simplesmente não quero levantar da cama. Não sei quantas vezes o despertador já tocou, mas não quero levantar-me e ter medo de olhar para o rosto de Len, nem quero ficar com receio de ficar perto de Kaito.

Tomo vergonha e levanto da cama, me arrumo de maneira ridícula, sequer ponho meu laço. Saio comendo uma maçã e em silêncio. Não uso meus fones nem coloco música alguma, pois essa é uma manhã vazia, de um dia vazio, um dia em que eu não deveria ter me levantado da cama.

As aulas seguem básicas e presto atenção fielmente a todas. Len não diz uma palavra e assim o imito. No almoço, fico com minhas colegas de sala e em silêncio, mal converso com elas, sinto como se estivesse dormindo acordada. Decido então ir ao pátio tomar um ar. Andando pela área externa da escola, vejo algo que meio parte meu coração. Len e Gumi estão conversando em baixo de uma árvore. Ele está rindo, ela também. Pode não ser nada, mas também pode ser algo. Nós dois costumávamos ser daquele jeito, e agora eu vejo outra garota ao seu lado.

Não quero que ela tome meu lugar.

Mas que lugar? Len sempre deixou bem claro que éramos apenas amigos, e que Gumi e ele sempre foram só amigos também. Mas e se ela tomasse o lugar de amiga que tenho? Isso também é algo que não quero perder. Mesmo que ela o conheça há mais tempo que eu.

Droga... Estou com ciúmes. Que sentimento mais baixo...

E eu gosto tanto dessa garota, achei que ela seria uma boa amiga. Não posso odiá-la.

Não posso negar que, na verdade, estou me vendo no lugar dela. Isso é tão ridículo e frustrante que penso em afogar tudo isso em algo. Descontar todas as minhas frustrações. E já sei onde.

Espero todas as aulas terminarem, o ensaio do clube terminar e respiro fundo. Luka começa a guardar seu baixo, vira para mim e pergunta:

–Rin-chan, não vai para casa agora?

–Não, eu não tenho amplificador em casa e quero treinar mais um pouco. –respondo.

–Ah, eu também não vou para casa agora, presidente. –Kaito diz logo depois de mim- Acho que tem algo errado com a bateria. Quero apertar seus parafusos e depois treinar mais um pouco.

–Tudo bem, mas não fiquem aqui sozinhos até tarde. E não façam muito barulho, nós já vamos embora. Kaito, depois tranque a sala e leve a Rin-chan em casa.- Luka termina seu discurso.

Logo depois de Miku e Luka irem embora, fico com um pouco de medo de ficar sozinha com Kaito na sala do clube. Nós dois sabemos que as desculpas que demos são apenas desculpas e que nada disso que dissemos é real.

Nós dois sabemos o porquê de estarmos aqui sozinhos.

Guardo minha guitarra em seu compartimento e ouço uma piadinha de Kaito:

–Ué, não disse que ia treinar mais?

–E você não disse que ia apertar os parafusos de sua bateria?

–O que foi que houve Rin-chan? –ele pergunta abraçando-me.

–Len e Gumi estavam juntos no pátio hoje. Eu sei que estavam só conversando, mas fiquei com ciúmes. –digo emburrada.

–Ah se o Len tem a Gumi, então você tem a mim.

–Estou frustrada Kaito... Mas e se eles forem só amigos?

–Nós também somos.

Ele segura meu queixo e aproxima seu rosto. Meu coração bate rápido. De começo, viro o rosto. Tenho medo, estou trêmula, é isso que ele faz comigo, ele me dá medo. Mas ao mesmo tempo, sinto-me confortável. Seus lábios tocam os meus singelamente e depois ele vai aprofundando suas ações.

Começo a sentir o que não senti na sexta-feira. Agora sinto cada parte de seu toque. Não apenas sua boca, mas suas mãos em meu rosto, as minhas em seus ombros... Eu tinha me esquecido como é fazer algo assim.

Vira, mexe, separa, volta, para, respira. E os minutos passam. Os beijos são contínuos. Sinto-me culpada por fazer isso, a parte de mim que se vê como uma rival intelectual de Kaito está se matando, mas a minha parte solitária está amando. Meu corpo não se nega aos seus toques.

Finalmente Kaito conseguiu a menina que ele sempre quis em seus braços enquanto eu consegui aliviar minhas frustrações. Quando nos vemos cansados e sem fôlego nos separamos. Não quero olhar para seu rosto. Minha vergonha é a máxima que se pode ter.

–Obrigado por hoje, Rin-chan. –ele diz sorrindo. –Não sabia que você ia querer fazer isso.

–A gente só trocou uns beijinhos, não vá se achando. –digo irritada.

–Como você quiser. –ele não tira o sorriso idiota da cara- Acho que a gente se vê amanhã.

Tiro a noite para pensar em tudo o que aconteceu hoje. Beijar Kaito... Daquele jeito... Mas no fim das contas, eu não estava sorrindo como ele estava. Eu realmente só fiz descontar minhas frustrações nele. Isso foi ridículo, mas ao mesmo tempo, libertador. Foi prazeroso, não posso negar, mas é aí que mora o perigo. Não posso deixar que isso se torne um hábito ou um vício.

Acordo novamente, só que um pouco mais disposta. Amarro meu laço branco e sigo para a escola. Logo na primeira aula, sei que é aula de artes. Uma disciplina que, para mim é completamente inútil. Não sei desenhar e não tenho o mínimo de interesse de aprender. Claro que aprendemos coisas além da arte plástica, mas essas aulas que eu gosto são tão raras...

E o pior é que a voz da professora é insuportável.

A primeira coisa que a professora de artes diz, é que teremos que fazer um desenho, valendo quarenta por cento da nota. Terá de ser em duplas e na sala de artes, já que teremos que usar papel grande, suporte para papel e observar algo para fazer o trabalho. Logo ela diz que a dupla é o colega sentado atrás da pessoa, já que nossa sala tem um número par exato de alunos e ninguém faltou hoje, cada qual fica com seu parceiro de costas, ou seja, Len é meu parceiro hoje.

Não trocamos uma palavra até chegarmos à sala de artes. Lá, existe uma cesta de frutos disposta entre duplas de suportes de quadros. Nesses suportes não têm telas, e sim, cadernos grandes de desenho. Ficaremos um de frente para o outro e faremos o desenho dessa cesta de frutas.

Nossa! Que original!

Pegamos nossos lugares ainda em total silêncio, até a professora nota que não estamos confortáveis com isso. E claro que essa situação é incômoda para mim. Não seria caso eu não tivesse estragado tudo semana passada.

Um dos meus maiores problemas com desenho é que eu não faço a mínima ideia de como se faz isso. E o pior é que Len faz isso parecer tão fácil. Apago várias vezes os meus rabiscos e chego até a rasgar a folha do caderno. O loiro a minha frente põe o rosto para me ver e pergunta:

–Não sabe como fazer?

–Não...

–Espera- ele diz se levantando e vindo até mim-Você está fazendo tudo errado.

–Como assim? –pergunto assustada ao vê-lo falando comigo, mesmo notando a frieza em sua voz.

–Está tudo errado, desde sua postura, até o jeito que segura o lápis, até mesmo o lápis que você está usando. –ele troca o lápis da minha mão. –Você é destra, não é?

–Sim...

–Droga, sou canhoto, fica mais difícil para lhe ensinar assim. Primeiro, fique com suas costas eretas, e não encolha os ombros desse jeito. Do que está com medo?

–Não estou com medo de nada! Só dói ficar muito tempo com essa postura!

–Enfim, fique com a coluna ereta, apenas siga o que estou dizendo e tudo vai sair certo. –ele pega minha mão direita com a sua esquerda e apoia no papel.

Fico assustada e deixo a mão ficar bem trêmula sem querer. Ele está sendo gentil ao mesmo tempo em que está sendo frio. Mesmo estando sem falar comigo, mesmo nessa situação complicada, ele ainda está me ajudando.

–Deixa a mão livre. –ele me dá uma bronca- Nem mole e solta e nem dura e rígida. Relaxa a sua mão na minha. Eu sei que é difícil lhe ensinar com a mão esquerda, mas não tenho coordenação nenhuma na direita.

–Está tudo bem, eu tento lhe acompanhar.

Fazemos uns traçados leves no papel juntos, até que surge um esboço de uma banana. Ele solta a minha mão e volta para sua cadeira.

–Siga tudo o que lhe mostrei e seu desenho sairá sensacional. –Len diz voltando para o seu lugar.

Suas ações me deixam confusa. Ele me ajudou por que eu sou sua parceira num trabalho de artes? Ou ele ainda é meu amigo? Já fazia um tempo que não ouvia sua voz, nem sentia seu cheiro, sequer sua temperatura tão perto de mim. Isso fez meu coração disparar mais rápido que os beijos de Kaito. Talvez Len esteja passando pelo mesmo problema com vergonha que eu.

Isso só pode ser um sinal. E eu já sei o que fazer.

Quando todas as minhas obrigações do dia acabam, acabo ficando sozinha com Kaito novamente. Dessa vez, ele me abraça por trás e pergunta:

–Rin-chan, você ainda está frustrada?

–Não Kaito. Pelo contrário, estou confiante que quero acertar minha situação com Len. Não posso deixar tudo ao léu sem esclarecer nada. –digo desentrelaçando seus braços de mim.

–Ah, sério? Que bom! Se precisar de ajuda para matar seus sentimentos por ele...

–Kaito, por favor, me diga que não se apaixonou por mim de novo...

–Não, claro que não. Na verdade, eu estava querendo ver se isso acontecia.

–Desculpa Kaito, mas eu queria lhe pedir que isso não acontecesse de novo. Não me leve a mal, eu gostei e tudo, mas eu não quero mudar minha relação com mais um amigo. Você entende, não entende?

–Sim... Eu entendo, na verdade eu já sabia que acabaria assim. Pode-se dizer que isso foi meio que um plano meu para lhe ajudar.

–Como assim? –pergunto confusa.

–Você sempre teve medo de se aproximar de mim, já criamos uma conexão tão grande quanto essa, da qual você sempre teve tanto medo, então você já é capaz de fazer qualquer coisa, inclusive falar tudo com o Len.

–Uau, eu não imaginava isso. Mas já que é o que você diz... Então obrigada. Obrigada mesmo, de coração, eu nunca vou lhe esquecer!

–Ei, eu não vou morrer. Bem, vá lá Rin-chan e recupere seu verdadeiro amor! Estarei torcendo por você!

–Espera, mas você está bem com isso? Sem ressentimentos?

–Sim, afinal, como você disse, foram apenas beijos.

–Ah, então quer dizer que eu fui apenas mais uma?

–Claro que não, você foi a melhor. E lembre-se, caso as coisas não derem certo, eu estarei sempre aqui. –ele estende a mão para um comprimento de “toca aqui” e assim o faço.

Posso dizer que Kaito está falando a verdade, mas não sei ao certo. Aqueles beijos de ontem foram intensos de mais para que ficasse apenas nisso. Mas ele quer tudo, e eu quero apenas o meu loiro.

Pode ser que a gente não mude nada na relação de amigos, mas eu ainda quero Len de volta.

À noite, arrumo minha cama e deito-me nela sem dormir de imediato. Apago as luzes e fico olhando para o teto, à procura de uma resposta sobre tudo o que aconteceu nesses últimos dias. E antes que eu me dê conta, já são onze e meia da noite.

Viro-me para um lado, para o outro e não consigo dormir. Creio que não só pelos acontecidos da semana, mas também pela chegada “daqueles dias” estar bem próxima. Volto para a minha briga nos lençóis, quando sinto meu telefone vibrar em algum lugar entra as cobertas.

Assusto-me com o horário em que meu aparelho toca e começo a procurá-lo incessantemente. Quando finalmente o encontro, vejo que quem me liga é ninguém mais, ninguém menos que Len. Meus dedos travam ao tentar deslizar na tela para atender a ligação devido ao nervosismo, mas consigo. Ao atender, minha voz sai trêmula:

–A-alô...

–Rin...

–Len?

–Desculpa você estava dormindo?

–Não. O que houve?

–Desculpa te ligar a essa hora, te assustei, não foi?

–Isso não importa. Não me assustei pelo horário. Enfim, o que foi?

–É que... Eu só queria falar com você.

Suas palavras me assustam mais ainda, mas ao mesmo tempo me deixam feliz.

–Eu também queria falar com você... –digo deitando-me de volta em minha cama- Obrigada por me ajudar hoje com o desenho.

–De nada. Mas é que... Eu quero falar, mas não sai. Posso falar com você amanhã?

–O quê? Não vai me falar? Não vou conseguir dormir de curiosidade.

–Rin, amanhã eu posso falar com você depois da aula?

–Claro, eu estava para pedir isso.

–Beleza, boa noite então.

–Boa noite.

Explodo de felicidade por dentro, mas tudo o que faço ao desligar o telefone é suspirar e virar-me novamente na cama.

Aquele idiota nem percebeu que o “amanhã” que falou acabou de chegar.

Eu mal posso esperar...

...

Continua...


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