O mundo secreto de Alice Slaski escrita por lettshine


Capítulo 3
Capítulo 2 - Antes


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura para todos! /lett



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O dia definitivamente não tinha começado bem para Alice. Primeiro, ela acordou às cinco da manhã, então seu estado de espírito era tudo menos feliz. Quem tinha sido o idiota que tinha dito que Deus ajudava os madrugadores? Ela se perguntava enquanto sentava em um banco vazio no vagão menos lotado que encontrou, desejando do fundo do coração ressuscitá-lo para então matá-lo de novo. Depois de uma pequena seção de tortura, é claro.

Segundo, ela não tomava café há três dias. O cérebro dela funcionava a cafeína, e a abstinência era tão forte que ela mal conseguia pensar. O inútil do Chris não tinha nada além de erva, e ela preferia morrer um milhão de vezes a beber a água suja que era vendida na estação e alguém tivera a ousadia de chamar de café.

Terceiro, ela estava pobre. Pior, paupérrima. Chris podia ser um idiota, mas era um idiota que cobrava caro. E a sua recusa em pegar caronas fazia com que suas economias se esvaíssem mais rápido que o desejado, principalmente com o preço das passagens de trem. “Droga. Eu não tenho dinheiro para comprar um carro, muito menos tempo para roubar um. De que me adiantam as carteiras de motorista que ele fez para mim? Bem, pelo menos ele faz um trabalho bem feito”, pensou examinando suas novas personalidades. “E ele deixou um livro de física quântica para mim.” Admirou sua nova obra, quase esboçando um sorriso.

Mas aquilo que realmente a preocupava, a verdadeira raiz daquela raiva era aquele velho idiota. Ela já tinha ligado umas cinco vezes, o que era um verdadeiro milagre, e ele não tinha respondido a nenhuma das ligações. E era por isso que ela estava naquele trem, acordada, faminta, pobre e sofrendo com a abstinência de café, rumando para uma cidadezinha perto do fim do mundo. “Aquele maldito. Com certeza eu vou fazê-lo pagar por tudo isso.” Acalentada por esse pensamento, Alice caiu em um sono sem sonhos.

* * *

A Igreja Católica Anglicana de Santa Bárbara, situada em Jacksonville, na Carolina do Norte, tinha, sem dúvidas, um porte altivo. Apesar disso, suas paredes amarelas, seus bancos de madeira de lei escura e sua cruz gigante demais para o altar traziam um ar reconfortante e acolhedor, fazendo parecer que Deus realmente poderia ouvir as preces de quem o buscava por meio de uma simples oração. Mas o padre Solomon não se sentia exatamente acolhido naquele momento. Não que seu problema fosse com o púlpito ou com as paredes amarelas que constantemente o espiavam. O que estava perturbando sua paz estava situado exatamente nos dois primeiros bancos da igreja, e no olhar enviesado que aquelas beatas pedantes lhe lançavam.

No momento em que a missa acabou, ele saiu silenciosamente, ignorando as senhoras que o seguiam, e entrou em sua saleta privada. Ao fechar a porta, ainda ouviu-as mencionar o nome da Sra. Owtermann. Um escândalo tão grande para uma comunidade tão pequena, por Deus! Aqueles abutres travestidos de mulheres se deliciavam com o caso, fingindo esperar que ele tomasse uma posição qualquer acerca do assunto. Ele mantinha- se calado. Afinal, o que um simples padre poderia fazer sobre aquilo?

Sentado em sua poltrona, ele passou a mão pelos cabelos brancos e retirou os óculos, coçando os olhos azuis. “Não se preocupem, minhas caras harpias”, pensou, “ Eu resolverei isso, de um jeito ou de outro.” Ao abrir os olhos, encarou a figura a sua frente e sorriu.

– Olá, velho.

– Bem vinda, Alice. Então é verdade que o bom filho a casa torna.

– Não é como se eu fosse sua filha de verdade. – ela se dirigiu à cafeteira e encheu duas xícaras com o líquido escuro. Entregou uma delas para o idoso que ainda a observava sorrindo. –Cuidado para não se queimar.

– Você cresceu, filha. – ela deu de ombros, concentrada em beber um gole. Finalmente, cafeína de verdade. Nada daquela porcaria vendida nas latas de coca. Ela se sentiu quase feliz. – Como você está?

A garota lançou-lhe um olhar de esguelha.

– Normal.

– Não gosto disso.- ele franziu o cenho- o seu normal não é bem.

– Se eu precisasse de sermão, teria vindo à missa.

– É este o erro dos velhos- suspirou- Pensar que vocês crianças sempre precisam de conselhos, e acreditar que algum dia irão ouvi-los. Mas me parece que você é um caso à parte.

– E eu devo discordar. Você vai ficar com esse discurso saudosista o dia todo? Prefiro ir embora então. Tenho mais coisas pra fazer.

– Acalme-se. Sente, tenho assuntos a tratar com você.

Alice suspirou, sentando-se. Finalmente aquela conversa iria a algum lugar.

–Então porque não ligou?

– Você vem quando eu ligo?

Eles se encararam. Bufando, ela respondeu.

– Não.

– Exatamente. Mas isso não vem ao caso, vem? Vamos direto ao ponto: recentemente, uma das senhoras do rebanho que foi confiado a mim veio a falecer.

– E daí? Até um padre sabe que todos devem morrer um dia. Principalmente se este padre é ex- caçador.

– Não me interrompa. É claro que eu sei que todo homem deve morrer um dia. Mas a pobre Sra. Ruby Owtermann não teve uma morte, digamos, tranquila para seu corpo, muito menos seu espírito.

–Então ela virou um fantasma.

– E raivoso.

– Qual é a causa mortis? – ela assumiu um ar profissional.

– Suicídio.

– Causa da causa mortis?

– O marido batia nela e a traía constantemente. Como não tinha coragem de tentar enfrentá-lo, essa foi a melhor forma de rebelião que ela encontrou. Mas agora ela quer vingança, tanto dele quanto de qualquer mulher que encontrar pela frente.

Alice bufou. Aquilo era tão típico e tão simples que sequer valia o preço da passagem. Além disso, ela odiava aquele tipo de mulher burra e submissa que vivia para e pelo marido. E odiava ainda mais aquelas que cometiam a burrice de morrer por eles.

– Simples. Faça um exorcismo.

– Ela está violenta demais para que eu faça isso sozinho à noite. Além disso, imagine um padre exorcizar uma casa inabitada em plena luz do dia.

– Isso prova que você está ficando velho, velho. Mas eu serei boazinha. Eu faço isso no seu lugar.

– Não. Não permitirei que você faça como da última vez. Ela era uma católica fervorosa, mas não pude enterrá-la para não ser expulso da cidade. Não pude dá-la um simples funeral, mas vou dá-la pelo menos isso. E que eu saiba, você não pode fazer um exorcismo católico, pode?

– Não – ela admitiu- O que então você quer que eu faça? Quer dizer, você não me chamou só para matar a saudade.

– Prenda ela por tempo suficiente dentro do Selo de Salomão, só isso. É o mínimo que você pode fazer depois de eu ter te criado.

– Você não me criou, velho.

– Eu te achei no meio de escombros debaixo de um vampiro morto em um mar de sangue e te trouxe para casa.

– Eu fugi uma semana depois.

– Isso só mostra como você é uma garotinha ingrata. E você ainda vem aqui, não vem?

Ela suspirou.

– Trato feito. Mas eu trabalho sozinha, o que significa que eu trabalho para você, não com você. E, como é um trabalho, eu exijo pagamento. Mas não quero dinheiro dessa vez. Eu quero algumas coisinhas do seu estoque: livros, armas, tudo. Conhecimento. E muita água benta.

Dê a um homem um peixe, e ele comerá um dia. Mas ensine-o a pescar e ele comerá a vida inteira. – ele murmurou. Levantando a voz, continuou- Você não tem piedade de mim, sua menina cruel?

Ela sorriu.

– Você não se lembra de outro provérbio, velho? Não existe almoço grátis.


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Notas finais do capítulo

Então,por enquanto é isso. Espero que tenham gostado!Lembrem-se,um comentário não mata ninguém, e eu preciso deles para saber onde melhorar, porque afinal,essa história não é mais só minha,é de vocês.Leiam também a fic que originou essa história:
http://fanfiction.com.br/historia/591698/Organizacao_Cacadores_de_Monstros_interativa/



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