Eu fiquei uma semana tentando pensar no que eu poderia fazer. Qual seria o meu próximo passo. As informações em minha cabeça embolavam-se e eu não conseguia pensar em mais nada. Eu tinha informações e pensamentos que eu não conseguia organizar.

Eu tentava mergulhar na liderança da Vila, mas eu nunca estava totalmente focado no trabalho. Era horrível. Eu me sentia o pior líder em anos.

E em casa eu andava de um lado para o outro sem conseguir me acalmar.

Eu estava inquieto. Totalmente desesperado e sem saber por que eu estava daquele modo. Na verdade eu me sentia dentro de uma máquina do tempo que só avançava os dias.

Os meus filhos e Astrid queriam me ajudar, mas eu não sabia como. Banguela estava extremamente preocupado e me acompanhava onde quer que eu fosse.

E nem eu estava mais acreditando em mim mesmo quando dizia para eles que estava tudo bem.

Eu estava sentado em meu quarto, olhando para os meus desenhos após um dia de trabalho na Vila. Banguela me acompanhou até lá e me olhava carinhosamente.

Meus pensamentos sempre voltavam para o Furioso naqueles dias. Uma criatura que um dia fora tão amável. Uma criatura que foi um dia fora tão magnífico pelo amor que tinha pelo o seu mestre.

Será que não havia alguém que poderia me ajudar? Que pudesse me contar a sua verdadeira história?

E foi aí que eu me lembrei de um diário que eu havia ganhado em meu aniversário. Foi aí que eu me lembrei de Soluço Spansitocus Strondus II.

–O diário Banguela! – eu exclamei em um grito. – O diário do Soluço II. Ele pode nos ajudar.

–Claro que pode Mestre. Onde ele está?– ele também se animou com a ideia.

Quem sabe ele não poderia me ajudar? O meu antepassado não seria a minha verdadeira ajuda? Quem sabe ele poderia me ajudar com o Furioso e me dizer alguma maneira de pará-lo? Ajudar-me com tudo?

Banguela aproximou-se de mim e eu procurei em meio aos meus livros o diário. E eu o achei. Um livro antigo e com uma lustrosa capa verde.

–O diário de Soluço Spansitocus Strondus II, por S.S.S.II. Esse é o título Banguela – eu disse para ele.

Sentei-me no chão com as minhas costas apoiadas na cama. Banguela deitou sua cabeça em meu colo e eu passei a folhear o livro.

Após um tempo, eu voltei a olhar nos olhos do Banguela.

–Mas isso aqui parece uma versão primitiva do nosso Livro dos Dragões Banguela ­– eu falei indignado. Eu já estava quase arremessando o livro com força na parede, julgando-o inútil.

–Ás vezes há algo no fim Mestre. Na maioria das vezes há alguns recados no final – o Banguela era realmente muito esperto.

Folheei até o final. E nas páginas finais, algo chamou a minha atenção... Estava escrito em letras diferentes. Como se fosse um novo título. De outro livro.

Escrito em caracteres estranhados, e ao mesmo tempo tão familiares. Era Dragonês.

–Dragonês Banguela! É algo em dragonês. Talvez como na Caverna Oculta isso seja para mim, uma espécie de recado.

–Leia Mestre!

–“A verdadeira história de Soluço Spansitocus Strondus II. A minha história.” É a história dele Banguela. Ele com certeza deve falar sobre o Furioso.

Eu virei a página e o verdadeiro diário do meu ancestral apareceu. Mal sabia eu, e muito menos o Banguela, que tudo aquilo nos chocaria... E muito.

–“Eu creio que se entende o que está escrito aqui é alguém muito especial. Eu certifiquei- me para que isso não caísse em mãos erradas. Nas mãos de alguém que não entende a verdadeira essencial dos dragões.

Além disso, na minha época eu não posso correr risco desse meu diário cair em mãos erradas. São palavras de uma história proibida. Que só devem ser mencionadas em um quarto escuro trancado a sete chaves.

Uma história que tentei e me esforcei com todas as minhas forças para que fosse a mais verdadeira possível.

Encantador do futuro. Caso eu morra... Caso ocorra algo comigo inesperadamente, uma pessoa de minha total confiança continuará escrevendo aqui. Escreverá sobre o que ocorreu para que eu fosse incapacitado de continuar escrevendo.

Está nas mãos do meu melhor amigo. Ou melhor, nas mãos da minha melhor amiga. De minha prima Henriqueta Jorgenson continuar a contar a verdade.

Tenha coragem.

Você saberá agora da maior de todas as verdades. Que creio eu que será escondida pelo tempo.

Não culpe a história Encantador. Ela deve acontecer. Deve seguir seu curso e destino.

Tenha coragem...”