Dias de Liberdade escrita por Eagle Wings


Capítulo 8
Capítulo 7: Tédios e Acasos de Fim-de-semana


Notas iniciais do capítulo

Heey!
Vou nem comentar o meu sumiço. Período crítico no colégio varreu minhas forças. Cá estou eu de volta pra provar que não abandonei a fic, porém. Tava um pouco sem ideia pra o capítulo, mas já que precisava de um pouco de aprofundamento nos personagens, cá está. Espero que curtam.



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“Sério mesmo, qual o problema de vocês dois? Tão passando dos limites faz tempo...” Falei em um tom entendiado e desinteressado, enquanto terminava de comer um pedaço de pizza recém requentado.

Pai e mãe estavam sentados na bancada da cozinha com expressões também bastante entediadas, na verdade. Já era de tarde. Duas, talvez três horas depois do almoço. Dormi a maior parte da manhã e me enrolei na minha cama até que não pude mais, tentando evitar aquela conversa. Minhas preocupações haviam sido um pouco exageradas, no entanto. Após explicá-los novamente sobre o meu sumiço na madrugada, desta vez com a história mais bem montada e incrementada devido ao tempo que tive para bolar seus detalhes, eles pareceram acreditar e relaxaram um pouco mais as feições. Não sem antes informar que passariam a impor algumas regras específicas, porém. Eu sabia que no fundo, mesmo estando da sua maneira mais controladora possível, eles estavam sendo pouco controladores. Mesmo assim, me pareciam ridículas certas necessidades, como informar os nomes de quem eu estava saindo com e jamais os deixando sem noticias por duas horas seguidas se saísse a noite. Me amaldiçoei novamente por ter permitido que se instalasse tanta desconfiança em mim, embora sabendo que provavelmente estava sendo muito dramática e mal agradecida pela situação não ser pior.

“Olha Natalia, de verdade, eu não quero saber de mais drama. Nós temos mais compromissos e coisas pra fazer além de ter de ficar se preocupando com você o tempo todo. Parece que voltou a ter 12 anos, pelo amor de Deus. Se não tivesse começado com essas besteiras de sair se machucando por ai, ninguém estaria perdendo tempo agora. Honestamente, ou você começa a seguir essas regras e a nos deixar em paz ou pode esquecer de sair de casa. Não tenho mais idade pra lidar com esse mimimi adolescente, menina. ” Pai largou de forma impaciente. Parecia com pressa, como se estivesse de estar em outro lugar e só lidava com aborrecimentos.

Demorei um tempo até entender o que ele queria dizer com aquilo, que pude interpretar simplesmente como um “para de me encher o saco”, e simplesmente suspirei. Se ele soubesse o quanto aquela situação também me entendiava. A atenção que ele tinha comigo também, aliás. Resolvi simplesmente deixar quieto e assenti com a cabeça. Mãe soltou algo como um “estamos entendidos então” e os dois foram em direção á sala de estar pegar seus casacos, informando que estavam saindo pra um coffee break de uma empresa a qual o nome parecia importante e era melhor eu estar em casa quando eles voltassem.

–--//---

Terminei de lavar minha louça, que se resumia simplesmente a um prato e um copo, e sentei na mesa da cozinha sentindo uma nostálgica sensação de tédio. Em pleno sábado, que droga. Tentando esquecer um pouco qualquer tipo de drama e problema que teria de enfrentar, fui até a sala de estar e liguei a televisão sem muito interesse real. Mesmo com toda aquela infinidade de canais e um Netflix á disposição na SmartTV, nada pareciamuito atrativo. Acabei parando em um documentário sobre a Escandinávia e não pude deixar de me lembrar da Milena. Garota sortuda, por ter feito intercâmbio. Realmente me parecia um lugar incrível.

Continuei alternando minha atenção á TV e meu puro tédio por cerca de uma hora, até que decidi por desligá-la e subi as escadas da casa em direção ao meu quarto. Embora já estivesse morando lá a um tempo considerável, aquela residência ainda não me soava como um lar. Era um prédio muito grande, gélido. Não lá muito aconchegante, mas contemporânea como uma daquelas casas que se vê em encartes de revista de decoração. A iluminação também era um pouco falha. Típica cara rica e depressiva, embora eu não tivesse reparado naquilo até o momento. Meu quarto, afinal, também seguia a mesma linha. Justamente por essa percepção, peguei meu notebook da escrivaninha e retornei ao primeiro andar, saindo até o pátio traseiro da casa. Aquela zona, felizmente, era extremamente agradável. Embora ainda fizesse calor veraneiro, a piscina já se encontrava esvaziada, assim como o seu elegante deck de pedras. Sentei-me então no gramado, com o notebook no colo, e acessei a internet pela wifi. Sem muito o que fazer, coloquei uma playlist de músicas alternativas para tocar no auto falante e dividi meu tempo entre jogar alguns jogos de low performance e, surpreendentemente, concretizar algumas tarefas que foram programadas pelos professores no portal de aula online do colégio. Não custava nada adquirir alguns pontinhos.

Meu celular vibrou a tarde toda com mensagens, e foi necessária certa força de vontade para não checá-las. Tinha lá no fundo uma hesitação muito grande para não parar pra pensar no que havia acontecido e não queria conversar com ninguém que pudesse me lembrar de alguma coisa. Estava definitivamente começando a não gostar tanto assim de Porto Alegre. Nada começou muito bem pra mim.

–--//---

Nem tanto tempo assim depois, porém, escureceu e me senti obrigada a retornar á casa, simplesmente me assentando no meu quarto. Depois de um banho demorado e uma meia hora perdida na fracassada tentativa de cochilar, finalmente abri meu whatsapp em busca de alguma distração. Além de uma pequena discussão entre a Alexia e a Brenda sobre marcas de roupa (que eu achei meio desnecessária, aliás, mas ok), umas duas ou três mensagens perguntando se eu estava bem, proveniente de um número desconhecido que pela foto percebi ser da Isadora, a garota que estava com o grupinho na noite anterior (que eu achei meio esquisito, mas ok) e uma conversa animada sobre times de futebol gaúchos entre o Lucas, a Luana e a tal de Bruna (que eu não entendi nada, mas ok), nada apareceu. Não sabia se me sentia aliviada ou frustrada. Por puro tédio, resolvi dar uma passada no grupo da Lobada Marota, o qual estava me permitindo conhecer os colegas e realmente me divertir um pouco.

Fernanda: Gente, praia aqui em Tramanda tá um espetáculo hoje, sério mesmo.

Alezada: Claro, nossa. Até pq é uma maravilha naturalmente. Credo.

Fernanda: Não é tão ruim assim, para de reclamar.

Murilo T: Dá bola pra essa mal humorada não, Nanda. Deve ter brigado com aquele boy esquisito de novo.

Alezada: Calaboca guri, aff. Viado mal comido.

Murilo T: Antes viado mal comido que comido por aquele esquisitão lá. Por Deus.

Você: Calem a boca vcs dois, credo. E boa noite, gente.

E assim se voaram mais duas, talvez três horas do meu tempo. Assim como o resto do dia.

–--//---

No Domingo de manhã, Alexia me mandou, assim como para as outras garotas, uma mensagem convidando para passar a tarde na casa dela. Como a Fernanda ainda parecia estar na praia e a Milena tinha algum compromisso o qual não nos passou detalhes, somente eu e a Brenda confirmamos presença.

Alexia vivia não muito perto da minha casa, então acabei aceitando uma carona dos pais da Brenda. Conversamos durante o caminho, e eles me parecem bem legais e simpáticos. Talvez isso explicasse toda a simpatia que imanava da sua filha hiperativa. Assim que terminei de explicá-los sobre os motivos de vir para o sul, já um pouco cansada sempre da mesma curiosidade, chegamos em frente a um edifício elegante, no qual se encontravam duas garotas de rosto familiar na entrada. A visão me surpreendeu um pouco.

–--//---

Um filme de suspense lançado a pouco tempo passava na TV. Uma bandeja de pipoca remanescia quase vazia sob o meu colo, assim como uma latinha de cerveja. Quase todo mundo parecia estar prestando atenção ao filme, com as respirações entrecortadas pela cena importante que se seguia. Um ênfase para esse “quase todo mundo.” O “todo mundo” queria dizer quem estava ali: eu, a Brenda, a Alexia, e dois elementos que eu não esperava: A ruiva Bruna, quem por ironias do destino eu só encontrava por acaso enquanto saia com algum colega e a própria tal de Pryzinski fantasma-que-também-só-se-encontra-por-acaso. De novo. E o “quase”, que queria dizer que dois elementos não prestavam atenção no filme: Eu e ela, obviamente. Mantendo uma silenciosa troca de olhares que basicamente queria dizer algo como “Que droga você tá fazendo aqui?” e “É melhor não comentar que tu me viu aquele dia.” Não sabia nem porquê a gente estava com toda aquela apreensão, mas estava. E nenhuma de nós parecia que iria parar.

O fato era que eu tinha passado o Sábado inteiro tentando não pensar em tudo que não havia entendido relacionado aquela garota e que para o meu próprio bem pretendia não entender tão cedo. Tudo soava á história complicada e eu não queria saber de nenhuma história complicada, mesmo que ela tivesse um puto sorriso sexy.

Apesar de tudo, a curiosidade gritou mais alto e eu anunciei em voz alta que iria para a cozinha do apartamento guardar as latinhas que estavam espalhadas pelo chão, deixando que ela me seguisse sem nem perguntar o porquê verbalmente.

–--//---

“Isso tá esquisito.” Parou na porta me olhando, num tom de voz baixo o suficiente para que não fosse ouvido da sala de estar.

“Isso oque?” Perguntei sincera. Também sabia que tinha alguma coisa esquisita, mas não fazia ideia do que.

“Sei lá... Isso. ” Fez um gesto com as mãos que eu não entendi. “- Fica me olhando com uma cara irritada ou de desdém ou sei lá e daqui um pouco alguém vai perguntar se tem alguma coisa de errado e tecnicamente a gente nem se conhece.”

“Que? Olha, bem de boa, eu não fico olhando pra você com nenhuma cara diferente da que você está olhando pra mim e ninguém vai perguntar nada porque não tem nada pra perceber e eu nem sei o motivo da gente estar conversando.”

Nem sabia o porquê de estar agindo daquela maneira, mas meu tom soou até um pouco irritado.

“Legal então. Desculpa. Então ninguém fala nada e estamos entendidas, Natalia. ” Respondeu um pouco indignada.

“Como você sabe o meu nome?” Apesar de não ter motivos pra continuar conversando, por algum motivo eu queria.

“Sabendo. ” A resposta foi calma, embora vaga e curta.

“Ah, legal. Enquanto isso eu nem sei o seu.”

“Han, na verdade... Sabe.” Começou.

“ - Nem vem com “sabe.”, tudo que eu ouvi até agora foram pessoas diferentes te chamarem por nomes, sobrenomes ou sei lá oque diferentes. ” Interrompi. A lógica da minha cabeça era falar de maneira até um pouco ignorante porque não via motivo nenhum pra ser simpática naquele momento, mas por algum motivo soei como alguém de bom humor. Tomar consciência de que ela sabia onde eu estava dois dias antes e parecia se importar fez com que eu ficasse na necessidade de tentar fazer com que não ficasse de mal comigo. De uma forma ou de outra, a devia um grande favor o qual ainda nem havia agradecido.

E os pensamentos não faziam o menor sentido na minha cabeça naquele momento.

“Tipo isso... Mas Pryzinski tá ótimo. Pode acreditar.” Riu pra mim de um jeito meio “não sei mais oque fazer/dizer”.

Suspirei.

“Tudo bem então. E obrigada, sabe, por me tirar de lá. Não tinha a menor obrigação de fazer isso.” Tentei falar alguma coisa que fizesse algum sentido descente pela primeira vez. Também não podia ficar parecendo uma idiota ingrata.

“Na verdade... Eu tinha sim. Mas tudo bem, de nada. Embora tu possa me agradecer não me aparecendo sozinha por lá de novo, sabe. É que...” Ia continuar a falar, mas o som de passos se aproximando logo atrás a surpreendeu.

“Lá onde?” Brenda perguntou, passando pela porta e entrando no meu campo de visão.

Nós nos entreolhamos por um milésimo de segundo.

“No Guedes, sabe, ela tava lá esses dias depois da... aula.” Pryzinski respondeu pra ela.

Se tinha uma coisa que estava me cansando, era não entender direito os papos das pessoas sempre que elas citavam alguém ou alguma coisa.

“Ah, caramba, tu apareceu por lá, Nati? Faz isso mais não, só tem maconheiro e...-” Brenda fez uma pausa pra olhar de jeito um pouco desconfiado pra Pryzinski “- gente que não vale a pena conhecer.”

O silêncio se instaurou no ambiente por uns eternos segundos, enquanto eu assentia levemente com a cabeça.

“Então, vamos voltar pra ver o filme? Tu perdeu a parte que ele quase morre... ” Brenda perguntou.

A segui sem responder enquanto Pryzinski alegou que iria ao banheiro.

–--//---

Assim que o filme acabou, pedimos tele-entrega e conversamos sobre alguns assuntos aleatórios, comigo sempre boiando em alguns pontos da conversa sempr que alguém ou alguma situação antiga era citada.

“Sério mesmo, vocês não tem noção do quanto aquela loja estava lotada no dia que foi inaugurada.. Não haviam condições nem de se entrar dentro.” Bruna continuou a história, embora somente Brenda estivesse interessada. Eu prestava atenção, mas somente porque não tinha outra opção. Me encontrava em uma briga séria com o meu sushi.

Mais pra um canto da mesa, reparei que Pryzinski e Alexia conversavam em tom baixo e de caras sérias. O assunto não parecia nada bom pra nenhuma das duas. Embora estivesse tentada a saber o que era, não me atrevi a me aproximar.

“E tu, Natalia?” Alguma voz me chamou.

“Han? Eu o que?”

“Já comprou roupas lá? Tu me parece ter um estilo bem...-” Percebi Bruna hesitar antes de completar a sentença. Ela iria dizer o que? Largado? Urbano? “Alternativo.” Finalizou a sentença. Achei a sua classificação bem justa, e tentei me lembrar do que havia ouvido da conversa pra localizar o que deveria responder.

“Han... Aham, já. Mas só nas filiais em São Paulo, nunca aqui. ” Respondi, tentando emanar simpatia embora sem muito interesse no assunto.

“Entendi... Legal então. ”

Senti meu celular vibrar no bolso. Era uma mensagem da minha mãe, perguntando que horas estaria de volta em casa já que já havia escurecido. Respondi que logo estaria voltando, perguntando a Brenda se ela ficaria. Me respondeu que também pretendia ir embora logo, portanto poderia me dar uma carona.

–--//---

Enquanto e e a Brenda esperávamos por seus pais na frente do edifício onde Alexia morava, me decidi que por algum motivo saber mais sobre a Pryzinski me interessava e resolvi começar a investir no assunto.

“Eu não sabia que a Alexia se dava bem com aquelas garotas ali...” Comentei.

“Na verdade, nem eu. E não gosto muito disso. Quer dizer, a Bruna é bem legal na verdade, até estudei com a ruiva no ano passado, mas a Pryzinski... Eu não gosto nem um pouco daquela guria. Fazia parte daquela gente que causava tudo quanto é confusão no colégio e mesmo depois que quase todo mundo já se formou, parece que aquelas histórias não acabam nunca...”

“Que histórias?”

“Ah, sabe, todo esse drama. É ela pra um lado, aquela estúpida da Vitória pro outro, e aquele povo todo do Cenecista dividido. Quero distância dessa gente. E olha, pode acreditar que tu também quer. Nem queira saber dessas fofocas todas porque é perda de tempo.”

De novo aquele nome. Vitória. E algumas informações obtidas, apesar de tudo. Resolvi não perguntar mais nada, já que a Brenda não parecia gostar nada do assunto.

–--//---

Após o jantar, me retirei novamente ao meu quarto. Teria uma longa semana pela frente começando pela segunda-feira seguinte. Com toda a agitação e o susto do incidente de sexta-feira para sábado resolvidos, finalmente respondi a mensagem de Isadora no Whatsapp, motivada a puxar assunto. Aquele pessoal ainda poderia me render algumas boas diversões.

A mensagem que ela me mandou assim que respondi, porém, me garantiu que eles me renderiam boas diversões. E também me instigou toda a curiosidade possível.


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Notas finais do capítulo

E ai? Curtiu? Não curtiu? Precisa melhorar?

Possivelmente dei uma leve enferrujada, então qualquer crítica construtiva e/ou comentário aleatório me deixaria muito honrada da sua atenção.

E garanto tentar postar com mais frequência. O grande problema é que o meu não assim tão leve deficit de atenção faz com que um capítulo leve várias e várias horas pra ser escrito, mesmo que não seja assim tão longo ou incrementado. Sinto muito por isso.

Bjinhos pra vocês e até.



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