47: A última dimensão - HIATUS escrita por Sweet Aurora


Capítulo 2
Capítulo I




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/592345/chapter/2

Isobel

Foi a guerra que fez essa merda toda. Não sei dizer ao certo como tudo aconteceu, afinal eu tinha apenas dez anos e estava na escola quando a Srta. Parker nos conduziu ao bunker. A princípio pensei que fosse mais uma simulação semanal, mas tudo ficou diferente quando saí do abrigo e me deparei com a cidade destruída. Eu lembro dos gritos, do sangue e da poeira. Depois, não lembro de merda alguma. Apenas desta merda.

Os ataques continuaram até que os países que conhecíamos desaparecessem, os governantes foram destituídos e restaram somente os militares para gerenciar o que havia sobrado da 'humanidade'. Certo, era apenas humanidade da América do Norte e isso era só o que importava na época, afinal todos os meios de comunicação e tecnologias que ajudariam a consertá-los foram inutilizados pelas bombas de PEM.

O que havia sobrado foi dividido em Zonas que se estendiam paralelas ao Oceano Atlântico até alcançarem a Flórida, nosso único porto e a última Zona Verde. Era difícil saber o que havia além disso e ainda que nos primeiros anos comitivas tivessem sido enviadas às Américas Central e do Sul, sequer uma alma havia retornado e então as buscas foram encerradas.

Oito anos se passaram desde o primeiro ataque e todo o passado mais parece uma memória de outra vida, de outra pessoa. Na verdade, não tenho motivos para reclamar da minha situação, afinal eu tenho um bom emprego, bons amigos e até mesmo um pouco de diversão.

Meu nome é Isobel Jenkins, sou a filha mais velha de um famoso casal de políticos que morreu durante os primeiros atentados. Sobrevivi à guerra que durou cinco meses e matou seis bilhões e meio de pessoas. Deveria me considerar sortuda.

Mas não.

Eu quero mais do que isso.

Eu preciso ir além disso.

47

Eu dificilmente arranjo confusão, mas aquele merda estava conseguindo me tirar do sério. Eu conheço minha arma, cada detalhe e cada arranhão. Sei até mesmo quantas balas já saíram por ela e todas haviam sido muito precisas. Então quando eu digo que aquela arma que o sargento estava tentanto me passar não era a minha, é porque não era. — Mas que diabos, cara? Essa não é minha arma. — Ele empurrou o cabo da arma contra a minha barriga, mas minha recusa era veemente. Deixei-a de lado, cruzei os braços em frente ao peito e esperei um sinal de rendição que não aconteceu.

Recruta 2430AG47, essa é a arma G3208 que consta no seu inventário. Faça o favor de pegar essa merda e ir para o jipe. — O sargento estava se enganando ao pensar que eu sairia dali sem Dakota. Ele franziu o cenho e se ergueu alguns centímetros acima de mim, assim pude observar as veias que se evidenciaram da clavícula à mandíbula. — Antes que eu te mande para a solitária de novo. — Seria a primeira vez em quinze dias, mas eu sabia que ele não arriscaria me fazer ficar longe do combate de novo. Eu era boa e ele sabia.

Okay, sargento. Não precisa disso tudo, ok? — Lembrei da respiração que a 23 havia ensinado dias antes na aula de Yoga. De acordo com ela, eu tinha uma personalidade de "difícil trato" e isso inclusive havia ocasionado um apelido que circulava pela base, mas que nunca ninguém ousara dizer para mim. A Megera de Doom ou algo do tipo. Doom era o nome da área para a qual eu havia sido enviada e pode ter a certeza de que o lugar faz jus ao nome. Foda-se, talvez eu fosse mesmo uma vaca, mas isso tudo porque as pessoas teimam em não fazer aquilo que eu mando. — É-só-me-dar-a-porra-da-arma.

Recruta, eu vou te avisar pela última vez. — O sargento estava ficando vermelho igual a um tomate e isso era engraçado demais porque ele tem bochechas gordas. A verdade é que ele não estava feliz, mas eu também não. Dakota não era uma arma qualquer, era um rifle preciso, digno e que havia salvado minha vida tantas vezes quanto eu sou capaz de lembrar: Eu precisava dela.

Foi quando estava prestes a meter o dedo na cara do sargento e atirar todos os seus malditos papéis para os ares que senti uma mão envolver o meu braço, puxando-me alguns centímetros para trás. O susto do momento me impediu de meter um belo chute nas canelas do infeliz e isso foi uma coisa boa, porque logo em seguida percebi que aquele infeliz era o Oito. Ou parte dele. Estava desarrumado, os cabelos despenteados e as botas trocadas. Até parecia que tinha dormido na tenda errada.

A culpa é minha. Levei o rifle para colocar pinos novos. — Olha, eu não costumo deixar que coisas assim passem despercebidas, mas abri uma exceção para Oito. Afinal, ele havia sido minha primeira dupla de treino e durante muito tempo fomos um só. Era bom ter alguém em quem confiar naquele maldito lugar e ele era o único pelo qual eu era capaz de ter aquele sentimento.

Mexi a cabeça de um lado para o outro antes de segurar Dakota nas mãos. Toquei-a cuidadosamente em uma análise minuciosa antes de olhar para o sargento uma última vez. Ele ainda tinha o semblante de quem explodiria em vapor a qualquer momento. Credo, como alguém poderia se estressar daquela maneira em um dia tão bonito quanto aquele? Sargento, o senhor anda muito estressado. Deveria praticar um pouco de Yoga! Concluí pouco antes de sair do galpão, procurando o jipe que deveria me levar à Doom.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "47: A última dimensão - HIATUS" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.