Experiment escrita por Pris


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Há 5 anos, esta terra virou o inferno, inferno que me consumiu e a tirou de meus braços. Eu odeio viver.



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4

O sol entra no meu apartamento pelas vidraças da sala, deixando tudo amarelo ouro, como seus cabelos, já se passaram 5 anos e meio, hoje é o “Dia da Escolha”, nosso feriado mais importante, o que me deixa insuportavelmente deprimido, hoje fazem 3 anos que soltei suas cinzas pela cidade, da forma mais corajosa que pude imaginar, pra honrar a mulher que me transformou.

Por que eu não consigo esquece-la?

Por que sinto como se ela ainda respirasse e seu coração batesse?

Hoje é o pior dia do ano para ser feriado, meu trabalho exaustivo me toma o dia todo e meus treinos físicos e lutas me cansam pela noite, chego em casa e desmaio na cama, se não me ocupar, enlouqueço... como agora.

Trabalho todos os dias das 7 da manhã às 6 da tarde, sou assistente de Johana, no governo da nossa cidade, tudo está calmo, tudo está tranquilo, mas nem sempre foi assim, há 5 anos, esta terra virou o inferno, inferno que me consumiu e a tirou de meus braços. Eu odeio viver.

Demoro pra sair da cama, mas finalmente tomo coragem ao perceber um papel branco próximo a porta de entrada.

Recolho o papel, sei quem o deixou aqui.. faz dois meses que ele me manda um envelope como este todos os dias, li o primeiro, ele queria me encontrar, os outros eu queimei, mas esse, bem, está diferente, com uma caligrafia grosseira, que não é de costume, o envelope traz a palavra URGENTE.

Não sei se consigo abrir, eu nunca consegui esquecer que foi pra salvá-lo que ela morreu, pra salvar aquele que a abandonou, que quase assistiu sua morte por pura arrogância e sede de poder, não consigo perdoá-lo como ela o perdoou, não consigo ser altruísta como ela

Vou para o chuveiro, talvez uma ducha fria consiga acalmar meus nervos... mas não.. saio do banho pingando, enrolo uma toalha na cintura, volto pra sala e abro o envelope:

“4

Preciso que você venha ao meu encontro.

É sobre ela.

Caleb”

O primeiro bilhete nunca mencionou nada sobre ela, ele está tão desesperado assim para usá-la dessa forma. Pra macular sua memória?

Bem, ele conseguiu o que queria. Eu vou.. vou quebrar aquele nariz se ele não estiver morrendo.

Desço vagarosamente as escadas do prédio onde eu moro, quem sabe assim, o tempo passe mais devagar e me consuma.

O sol cega meus olhos e o ar primaveril é frio, ando a passos largos, mas continuo em marcha lenta. Não consigo não lembrar dela todos os dias, mas hoje é pior, hoje o nó aperta forte na garganta

Os dias pra mim são todos iguais, minha vontade é dormir e não acordar mais, todos os dias quando abro os olhos, sinto-me como um lixo humano. Eu deveria tê-la protegido, eu jamais devia tê-la deixado e ido numa missão diferente da sua, ela era meu chão e meu céu, meu ar.. hoje eu não vivo, eu sobrevivo, e não há nada que eu possa fazer, vou amá-la todos os dias, enquanto eu sobreviver.

Eu só queria estar sozinho com ela, com a minha Tris, minha Beatrice, minha Prior

O nó continua, vou encontrar aquele paspalho e soca-lo.

Já que hoje é um dia para revirar minhas entranhas, decido ir de trem, vejo um no horizonte, ele não para e eu corro... me agarro a porta e jogo meu corpo pra dentro, depois de tantos anos, ainda sei exatamente como entrar e onde vou parar, mas ao sentar no vagão, percebo uma figura familiar, que a muito tempo não converso, depois que joguei suas cinzas, eu fui piorando visivelmente e deixei que a depressão tomasse conta do meu ser..

Zeke se aproxima

– Olha quem está vivo! – diz ele em tom amigável.

Bem que eu queria não estar, respondo mentalmente. Como ele conseguiu me perdoar? A morte de Uriah ainda é um peso em minhas costas

– Olá, Zeke, como está? Pergunto, mas não quero que ele pergunte de volta, como pessoas educadas fazem.

– Eu estou bem, estou indo encontrar com Shauna, ela pediu que eu fosse para o Departamento de medicina e Tecnologia, a última cirurgia não surtiu efeito e Cara quer tentar uma técnica nova

– Não sabia que continuam tentando.. – digo isso e me arrependo, eu também faria qualquer coisa para ajudar a mulher da minha vida – Desculpe, não quis ser grosseiro – tento me desculpar – eu estou indo para o Departamento de Pesquisas, fica no mesmo complexo, não?

– Fica sim, mas o que você está indo fazer no Departamento de Pesquisas no feriado, 4?

Esqueci o quanto Zeke gosta de falar, não vou conseguir sair dessa sem dar explicações

– Caleb, tem me mandado incansáveis bilhetes há dois meses, hoje resolvi descobrir o que é que ele quer.

– Ahh, então estamos indo pro mesmo lugar, Caleb e Cara dividem o mesmo laboratório no Departamento de Pesquisas Médicas.

– Médicas? Achei que ele ainda trabalhasse com pesquisas sobre agricultura.

– Não, levo Shauna todos os meses pra lá, sempre vejo Caleb, ele é meio quieto, sabe, não sei se ele sempre foi assim ou se a culpa o transformou, você sabe, pelo que houve com a Tris

Meu peito dói ao ouvir o nome dela, meus olhos baixam, mas sei que Zeke não teve a intenção

– Desculpa, cara, mandei mal

– Tudo bem, o nome dela ainda exerce esse poder em mim

Ela ainda exerce esse poder em mim, ela é meu ímã, porque não posso dormir e acordar em seus braços para sempre?

Os prédios do departamento se aproximam, nos olhamos e ele sorri pra mim:

– Juntos, como nos velhos tempos, ou então eu te desafio.

Sorrio forçadamente e assinto com a cabeça, aprendi a me camuflar em meus sentimentos, formar um casulo dentro de mim.

Não a nada pior do que pessoas tentando fazer com que eu supere.

Foi por isso que deixei de conversar com Christina, ela era a lembrança viva de que Tris estava morta e não parava de tentar me fazer sair dessa.

O local está chegando, Zeke toma espaço da porta e eu faço o mesmo, ele me olha, mas eu fito a porta, não quero ter que encará-lo

Pulamos e corremos um pouco até recuperar o equilíbrio, então caminhamos lado a lado, agora que ele sabe que estamos indo para o mesmo lugar, não vai me deixar sozinho.

Entramos num saguão iluminado, o piso branco de mármore me dá calafrios, me lembram a sede da Erudição, o lugar onde ela foi torturada e quase perdeu a vida.

Subimos de elevador, o laboratório fica no último andar, recebemos a informação na portaria que Shauna já subiu e estará esperando por ele lá em cima.

O elevador para e saímos pelo corredor, Shauna esta em pé, ela tem armaduras de metal em volta de suas pernas, consigo ver pela gola da sua camiseta uma parte do metal que fica acoplado em sua coluna. Ela conversa com Hector, se ainda tivéssemos que escolher as facções, hoje seria a vez dele e sei que ele escolheria a Audácia,

– 4! Shauna exclama, não se importando com seu, como posso descrever, Marido ao meu lado.

– Oi pra você também – diz Zeke tentando parecer ciumento

– Ela sorri pra ele, mas me da um abraço, quero chorar em seus ombros amigos, mas sei que não devo deixar meu casulo, além disso, se eu deixar que as lágrimas caiam, não conseguirei parar.

– Cara abre a porta no exato momento e se assusta com a minha presença

–Tobias, você veio? Até que enfim, Achei que eu teria que ir até sua casa, te arrancar de lá e te trazer arrastado até aqui.

Sinto uma angústia ao ouvir meu nome, tenho preferido vestir a máscara da Audácia e ser chamado de 4.

– Você sabe o que Caleb quer comigo? Digo surpreso

– Sim, eu sei, temos trabalhado juntos, desde o começo, mas só a dois meses chegamos a conclusão que já era hora de chama-los. Entrem

Ela abre espaço na porta e pede para que todos entrem de uma vez, apontando para o laboratório.

Shauna caminha a passos humanos com aquela máquina na direção de uma cama.

–Shauna, hoje não faremos exames – Diz Cara, com um olhar tenso – Me acompanhem, diz ela seguindo por corredor atrás dos computadores.

Ela abre a abre uma porta e eu perco o ar, vejo Caleb, de costas, mexendo num monitor ao lado de um enorme cilindro.

Um cilindro contendo um líquido amarelo e um corpo suspenso dentro dele, cheio de fios ligados a suas pernas, pescoço, uma espécie de capacete e alguns outro equipamentos aos quais desconheço, mas é ela, é o corpo dela, quem deu autoridade para que ele faça experiências com o corpo dela. Ele continua sendo o mesmo panaca da Erudição.

Ele me vê e sorri. Sádico, eu penso, hoje ele morre


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