Nico fechou os olhos e bateu na porta do quarto de sua amada. Ele estava nervoso, não a via desde aquele dia. O dia em que ele estragara a vida dela para sempre. Muitos iam até sua casa depois disso, eles diziam que ela queria vê-lo, mas ele não queria.

Sim, Nico morria de saudades de Thalia, mas pensar no que fizera para ela, isso doía muito.

Dois meses depois do que tudo acontecera ele resolveu que aquilo o mataria. Ficar longe dela e saber que ela queria vê-lo, isso estava matando-o. Suspirou fundo quando ouviu um baixo "pode entrar" de dentro do quarto e girou a maçaneta, abrindo a porta.

Thalia estava sentada em sua cama. Seus cabelos negros estavam maiores, agora iam até a metade da cintura, seus olhos azuis elétricos ficaram felizes ao vê-lo e sua boca se abriu em um grande sorriso gentil, que o fez sentir-se ótimo e péssimo ao mesmo tempo.

- Nico! - Disse alegre, com lágrimas nos olhos. - Que bom que está aqui!

Nico sorriu, andando até a cama da garota calmamente, tentando controlar suas próprias lágrimas.

- Oi Lia. - Ele disse. - Como você está?

- O melhor que eu poderia. - Ela disse. - Pensei que você tinha se esquecido de mim, conseguido outra garota.

- O que te fez pensar isso? - Perguntou bravo. Como ela podia duvidar do amor dele? Um amor que o fez quase se matar.

- Você não apareceu por aqui, Nico! - Ela disse. - Nem ligou para saber como eu estava, pensei que me queria morta.

Nico arregalou os olhos.

- Exatamente porque eu te amo que eu não vim te ver! - Ele praticamente gritou, deixando algumas lágrimas caírem. - Eu quase te matei, Thalia!

- Você não teve culpa! - Ela disse balançando negativamente a cabeça.

- Eu que fiz isso com você, Lia! - Ele disse abaixando o tom de voz e pouco se importando com as lágrimas que caiam. - Eu sou um monstro.

- Eu sou a única culpada por isso, e você sabe. - Ela disse. - E eu não estou nem um pouco arrependida!

- Estou aqui para me despedir de você. - Ele disse passando a mão nos olhos para secá-los. - Estou indo embora do pais.

- O quê? - Perguntou confusa. - Você não pode me deixar Nico!

- Se eu ficar só vou fazer mal á você. - Ele disse se levantando. Ela segurou a mão dele.

- Você não percebe que se você for vai ser pior? - Ela perguntou. - Não importa o que aconteça enquanto você estiver comigo Nico; Eu sei que se você não estivesse do meu lado seria pior. Eu não me arrependo de ter subido naquela moto junto com você, não me arrependo de estar naquela batida junto com você; não me arrependo de me jogar na sua frente para você não se machucar.

- Como você pode dizer isso? - Nico disse deixando mais lágrimas caírem. Ele chorava como um garotinho. - Se nada disso tivesse acontecido, se eu não tivesse insistido para você ir junto comigo, você ainda estaria andando, Lia!

- Se eu morresse naquela batida, eu teria morrido feliz. - Ela disse. - Porque eu estava do seu lado, Nico.

- Não fale isso nunca mais! - Ele praticamente gritou mais uma vez. - Era para eu estar usando uma cadeira de rodas! Era para eu ter minhas pernas esmagadas por aquele caminhão, não você Lia!

- Mas fui eu, por escolha minha! - Ela rebateu. - Não se sinta culpado por uma coisa que eu quis! Eu escolhi quase morrer no seu lugar, porque eu te amo!

- E se fosse ao contrário? - Ele perguntou.

- Exatamente, Nico! - Ela gritou. - E se fosse ao contrário? E se eu quem estivesse dirigindo, o que você faria com a brecha que eu tive?

Nico virou o rosto bruscamente. Nesse quesito, Thalia estava certa. Ele teria feito exatamente a mesma coisa se fosse ao contrário. Teria se jogado na frente dela.

- Não se sinta culpado por uma coisa que você não fez. - Ela disse segurando o rosto dele em suas mãos. - Não se sinta culpado por uma coisa que você faria, Nico!

Nico abriu os olhos e encarou o rosto dela. Como ele a amava, deuses! Tudo nela era motivo para que ele a amasse mais e mais a cada momento. Ele sabia que não adiantaria discutir, que ela iria convencê-lo de que estava certa, ela sabia exatamente como fazer isso.

- E mesmo se você estiver certo e for o culpado disso tudo, isso é passado não é? - Ela perguntou quase sussurrando. - Nós estamos aqui e agora, Nico. Eu sei que eu não poder andar dificulta tudo, mas eu não estou morta. E você também não! Sei que você merece uma namorada que possa andar, que possa apostar corrida na praia como nós fazíamos, sei que tudo é mais complicado assim. Mas eu te amo Nico!

- Eu também te amo, Lia. - Ele disse num sussurro quase inaudível. Thalia sorriu para ele e o beijou. Um beijo molhado pelas lágrimas. Um beijo que demonstrava saudade, amor, carinho, respeito. Se separaram e Thalia o olhou mais uma vez.

- Não complique tudo mais ainda, Nico. - Ela disse. O garoto riu em meio as lágrimas.

~^~

- Onde estamos indo, Nico? - Thalia perguntou. O garoto tinha vendado seus olhos quando saíram de casa e, mesmo agora já fora do carro e no destino deles, ele ainda não desvendara seus olhos. Nico empurrava sua cadeira de rodas calmamente e tudo o que Thalia podia fazer ela sorrir e segurar a mão do garoto.

De repente ele parou e tirou a venda de seus olhos.

- Chegamos. - Ele disse baixo.

Estavam na praia que costumavam ir antes do acidente. Não iam lá há quase um ano, mais ou menos um mês antes de Thalia ter suas pernas esmagadas. Ela olhou curiosa para Nico, que apenas sorriu e pegou-a no colo.

- Quando eu fui te ver depois do acidente, você disse que eu merecia uma garota que eu pudesse apostar corrida na praia. - Ele disse, então deu de ombros. - Bem, eu não posso apostar corrida com você, mas eu posso correr com você.

Thalia só entendeu o que ele quis dizer quando Nico começou a correr na areia. E ela riu. Só mesmo o Nico para fazer isso por ela.

Ele parou perto de uma árvore e sentou Thalia encostada nela, se sentando ao seu lado.

- Se lembra disso? - Perguntou ofegante apontando um lugar no tronco da árvore. Estava escrito "Nico é um idiota" e embaixo disso "E Thalia consegue ser mais idiota ainda". Tinham escrito aquilo quado tinham onze anos, na época eles se odiavam e faziam tudo para provocar um ao outro. Um vez, quando foram aquela praia com seus amigos, Annabeth, melhor amiga de Thalia, propôs que eles deixassem uma mensagem naquela árvore, para seu "eu" do futuro. E foram aquelas frases que eles resolveram deixar para si mesmos.

- Você ainda acha isso? - Nico perguntou, virando seu rosto para olhar para Thalia.

- Que você é um idiota? - Ela perguntou. Nico assentiu. - É, acho sim.

- EI! - Nico disse fingindo-se ofendido. Thalia riu.

Ele se levantou e levantou-a logo em seguida, colocando os pés dela em cima dos seus. Ele remexeu alguma coisa em seu bolso e tirou lá de dentro um anel dourado com pequenas pedrinhas brancas.

- Você se casaria com um idiota? - Ele perguntou, mostrando o anel para ela.

- Não. - Ela disse. Nico olhou-a surpreso, o que a fez rir. - Eu não me casaria com um idiota qualquer, eu me casaria com o idiota que eu amo!

Dito isso, ela o beijou. Pôde sentir Nico sorrindo. Quando se separaram ele encostou suas testas.

- Você me assustou. - Disse. Thalia riu.

Nico tirou delicadamente a mão de Thalia se seu ombro e a segurou pela cintura para poder colocar o anel no dedo dela, que sorriu.

- Parece que foi feito para você. - Ele disse sorrindo. - Espera! Ele foi feito para você!

Thalia riu de novo, antes de beijá-lo mais uma vez.