Anjo De Cristal escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 12
Nos Limites




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Camila: Solo Por Amor

POV Regina (Amara)

Bebi o chá com calma, só assim eu teria o prestigio de apreciar algo. Minha garganta começava a doer e minha cabeça a latejar. Isso era sinal de que eu iria gripar. Mas fora isso minhas pernas ainda tremiam e eu me sentia angustiada.

Meu Deus, nunca me senti assim. Nunca fui de ter tanto medo em toda a minha vida. Não sei o que esta acontecendo comigo, às vezes penso que vou morrer. Uma ansiedade enorme toma conta de mim.

—Deveria reforçar suas refeições. —Minha mãe fala ainda preocupada. —Quer que eu te leve ao médico.

—Não é necessário. —Falo me sentindo péssima. —E a nossa mudança para o México?— Pergunto.

—Será em menos de algumas semanas. —Minha mãe fala e sorri. —Mas até lá você tem que se sentir melhor.

—É claro. —Falo. —Quero muito conhecer o México. —Falo e o sorriso da minha mãe desaparece aos poucos. —Acha que irá se arrepender?

—Eu não me arrependo de nada. —Fala rapidamente e eu fico um pouco assustada. —Não existe arrependimento em mim.

—Acho que herdei isso da senhora. —Falo. —Não faço algo para depois me arrepender... —Falo e sinto meu medo ir embora. —Por isso minha ida ao México não me assusta. Não irei me arrepender de colocar meus pés naquele país.

Maite Perroni feat Alex Ubago: Todo Lo Que Soy

POV Maria

Eu não entendia até hoje porque havia perdido Amara. Era tudo muito surreal, inacreditável. Às vezes eu juntava realidade e fantasia. Pensava que Amara chegaria a qualquer momento na porta da minha casa, e mesmo sem saber que sou sua mãe, me abraçaria.

Não sei se irei suportar até o fim da minha vida sem saber o que houve com Amara. Talvez Amara tenha morrido ainda recém nascida, ou um pouco maior. Talvez na festa de debutante dela a família adotiva tenha a feito muito feliz, ou talvez nem tenha uma família. Muitas coisas devem ter acontecido com minha filha, tantas que tenho medo.

—Não sonho mais com ela. Não tenho mais esperança. —Falo passando minha mão sobre o berço de Amara.

Eu cuidava do quarto de Amara para que nada se quebrasse. Eu não suportava a idéia de mudar os móveis de lugar. Quero que tudo permaneça em seus devidos lugares...

—Só assim eu penso em amenizar a minha dor. —Falo chorando. —O que eu faço meu Deus? Onde o senhor esta que não escuta os meus pedidos? Porque me deixa sofrer?—Pergunto com raiva e tristeza.

—Maria, daqui a algumas semanas a família Gutiérrez chega ao nosso pais para fechar um grande negócio... —Estevão anda e fala. Quando ele entra no quarto percebe o meu estado. Ele fica serio, mas eu rapidamente me recomponho.

—Que bom. —Falo sobre a chegada da família Gutiérrez. Dou as costas para ele, meus olhos estavam vermelhos de tanto chorar. E eu não queria que ele me visse assim.

—Eles tem uma filha com a mesma idade de Amara. —Estevão fala e eu me viro para olhá-lo. —Se chama Regina. —Fala. Minhas pernas ficaram bambas no mesmo momento. Meu coração pareceu
acelerar, queria sair pela boca.

Como seria Regina Gutiérrez? Como é fisicamente? Como se comporta? Seria uma pessoa de boa índole?

Cristian Castro, Jesús Navarro e Melissa: La Malquerida

POV Letícia

Passei o resto do dia trabalhando na defensoria publica. Vários casos arquivados há muito tempo foram resolvidos, menos um. Os atentados contra Maite Santisteban. A minha mãe... Primeiro o atropelamento que a fez perder o bebê que esperava. Depois
o sequestro de Leandro, que curiosamente também envolveu Amara. A
pessoa que esta envolvido em tudo isso deve odiar muito a minha mãe.
Mas ela não tem inimigos...

—A não ser que o inimigo esteja muito bem camuflado.—Falo pensativa.Tento esquecer o assunto e começo a ler o jornal. Na manchete principal falava sobre Francisco e Leandro Gutiérrez, pai e filho mergulhando de cabeça em um grande negocio com as empresas San Román. —Leandro... —Sussurro. Quem sabe um dia eu conhecesse Leandro Gutiérrez.

O telefone tocou e me assustei. Suspirei antes de atender o telefone para tentar não transmitir minha raiva pelo susto.

—Alô?—Falo e a pessoa permanece calada. —Alô?

—Alô, Letícia? Aqui quem fala é Rafael. —Fala de uma vez e eu me assusto ainda mais. Desligo na cara de Rafael, eu não tenho nada para falar com ele.

POV Fabiana

O transito estava horrível. Eu não aguentava mais ficar esperando. Então avancei quando o sinal mandava todos pararem. Corri em alta velocidade sem me importar com o que poderia ou não acontecer.

—Dane-se as leis. Elas são frouxas mesmo... —Falo fazendo a curva bruscamente.

No mesmo momento me lembrei de Amara. Como Ana Rita deveria estar cuidando dela? E Leandro? Como o meu sobrinho deveria estar sendo cuidado por aqueles dois?

Mesmo com todas essas perguntas eu não me arrependia de nada sobre o que aconteceu. Maite mereceu tudo o que houve naquele dia, e merecia morrer também para que meu irmão sofresse ainda mais. Lorenzo não tem o filho, e merece não ter a esposa também. Mas disto eu não poderia cuidar, deixaria o tempo se encarregar muito bem disso tudo.

—É desse jeito que eu gosto seus inúteis. —Falo trincando meus dentes e aumentando a velocidade do carro. —Irei desarmar ainda mais o meu irmão até ele ficar na lama. E ele nem vai se dar conta...

Maite Perroni feat Alex Ubago : Todo Lo Que Soy

POV Estevão

Maria voltava a chorar toda vez que entrava no quarto de Amara. Eu não tinha como evitar a profunda tristeza que sentia ao ver Maria daquela forma. Minha esposa não merecia sofrer tanto. Eu via seu rosto sofrido, com os olhos repletos de lágrimas. Mas seu rosto logo foi substituído pelo o de outra mulher.

Uma mulher que eu só conhecia por foto. Não sabia como ela era de verdade, mas sentia um carinho muito grande por ela. Estava ansioso para conhecê-la, faltava muito pouco para eu poder escutar a sua voz.

—Regina Gutiérrez. —Falo o seu nome. Ela carregava nome de rainha, com certeza era uma. Eu estava curioso em saber mais sobre sua família, mas principalmente sobre ela.

Ela me era familiar. O brilho no olhar desta mulher me era familiar, era como se ela e eu estivéssemos ligados por algo. Regina era algo para mim, mas eu não sei o que é.

—Ela é tão linda. —Falo.

—Falando sozinho?—Maria pergunta me assustando.

—Apenas pensando alto. —Falo e ela me olha curiosa. —Pensando na família Gutiérrez que irá chegar.

—Não irei recebê-los. Não estou com ânimo. —Fala e abaixa a cabeça. —Acho que Estrella irá recepcionar melhor do que eu.

—Não. Você é a senhora San Román, Maria. Preciso estar com você em todos os lugares. —Falo tocando seu rosto. —Faça isso por mim.

—Estevão, não terei estrutura alguma. E ficar de cara fechada para visitas não é uma coisa boa. —Maria fala e eu percebo o quanto ela estava indisposta. —Quem esta em coma é Maite, mas às vezes parece que ela não é a única. —Fala me dando as costas.

—Não se compare. —Falo e ela suspira.

—Eu irei visitar Lorenzo. Ver como ele esta. Faz muito tempo que não o vejo. —Fala. Como se isso fosse ajudar Maite a acordar...

—Não acredita que ela ira acordar?—Pergunto vendo a falta de confiança em minha esposa.

—Não. Da mesma forma que também não acredito que nossos filhos irão voltar. Maria fala e me olha. —Não acredito em nada disso.

—Esta se tornando uma mulher sem esperança. —Falo indignado.

—Uma mulher sem esperança, sem fé e sem sua filha. —Fala brava. —Eu realmente não nasci para ser mãe. —Fala me deixando surpreso.

POV Regina (Amara)

Por um lado eu me sentia bem pela minha ida ao México, mas por outro eu me sentia absurdamente nervosa. Era como se lá tudo estivesse sem esperança, sem fé e sem mim... Como se aquele pais fosse meu pais de origem. Eu tinha receio sobre como eu me daria com as pessoas, como elas me veriam. Eu queria saber como elas são. Principalmente a família do sócio do meu pai. Falaram-me muito pouco sobre eles...

—Regina?—Daniela me chama com a câmera fotográfica em mãos. —Eu estava pensando em tirar uma ultima foto da família nesta casa. Para guardar como uma lembrança.

—Você tem cada idéia... —Falo e ela sorri envergonhada.

—Todos estão na sala esperando você para tirar a foto. —Daniela fala animada e eu sorrimos. Minha irmã mais nova tinha cada idéia.

—Tudo bem. Vamos. —Falo e ela segura a minha mão.

Quando chegamos à sala vamos uma cena entre nossos pais. Leandro estava de braços cruzados e um pouco envergonhado por ver nossos pais se beijando. Adriana, a governanta da casa estava junto com Leandro, também estava envergonhada pelo o que viu.

—Desse jeito ganharemos mais um irmão. —Daniela fala pigarreando e meus pais ficam envergonhados. —Adriana, você pode tirar uma foto nossa?—Minha irmã pede.

—Você esta pálida. —Leandro fala um pouco preocupado. —Irei te levar no medico amanha bem cedo.

—Não precisa. Estou ótima. —Falo e observo os lábios de Leandro. Oh como eles eram perfeitos.

—Mesmo assim, você irá. —Fala. —Talvez seja culpa dos cigarros.

—Pare de implicar comigo só por que fumo, Leandro. Sabe que me irrita com essa conversa. —Falo brava. —Aliás, a mamãe também fuma.

—Mas você ainda nem tem 18 anos para começar a fumar. —Leandro fala e eu me aborreço. Ele às vezes parecia ser meu pai, e não meu irmão.

—Você é meu irmão, não meu pai. —Falo o fuzilando com os olhos. Ele me olha com raiva e assim ficamos. Um encarando o outro.

—Vocês dois vem ou não vem?—Daniela pergunta sentada entre nossos pais no sofá.

—Claro. —Falo e vamos tirar a foto. Eu e Leandro ficamos em pé, atrás de nossos pais e nossa irmã mais nova.

POV Maria

Assim que cheguei à casa de Lorenzo percebi que ele estava no jardim, estava pensando em Maite com toda certeza. Ele a amava muito, muito mesmo. Tanto que nunca fez a eutanásia com Maite, sempre confiante de que ela fosse aparecer na janela do quarto, ou até mesmo acordar enquanto ele falava com ela.

Lorenzo sempre falava que Maite era a mulher da sua vida. Que ela era o ar que ele respirava a luz dos olhos dele, a mulher que mostrou o que era o amor.

—Lorenzo. —O chamo e ele me olha surpreso. —Eu vim te visitar.

—Fico feliz. —Lorenzo fala e sorri.

—Poderia me levar até Maite?—Pergunto.

—Vá até ela, Maria. —Lorenzo fala e eu entendo a dor dele. Logo entro na casa e me dirijo até o quarto de Maite.

—É este. —Falo e entro no quarto. Vejo rapidamente Maite deitada na sua cama e me aproximo dela. —Temos muito o que conversar,Maite.—Falo me aproximando mais dela. Sento na beira da cama e seguro a mão da minha amiga.

Anos de passaram, e por anos eu precisava de alguém que apenas me escutasse. Alguém que sentisse a mesma dor que eu. Uma pessoa compreensiva e paciente. Maite era tudo isso, e mesmo ela estando em coma eu sei que ela poderá me ouvir.


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