Fight For Freedom escrita por Lizzie Montgomery


Capítulo 2
Capítulo II.




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As árvores que preenchiam o Public Garden, parque central de Boston, balançavam num ritmo constante, derrubando folhas sobre a estreita rua que o cortava. Ao fim da rua, um campo largo, com a grama baixa cercado por um imenso jardim, cultivado com os mais diversos tipos de flores. Entre as árvores mais distantes, vi surgir alguém, um rapaz com baixa estatura, de cabelos pretos, que carregava consigo uma luva de baseball. Era ele. Tommy veio em minha direção, e de repente perdi o chão. Imobilizado, pude ver o rosto do meu jovem irmão desaparecendo entre as flores do jardim. Tentei chama-lo, mas algo impediu que minha voz saísse, novamente o perdi.

Tommy! – Despertei de repente, com a respiração falha, olhei ao redor e dei de cara com as paredes brancas do meu apartamento. Como de costume, era só mais um sonho ruim. Ruim porque acabou.

Respirei fundo, olhei para o relógio e ainda era cedo demais para sair de casa. Tornei a fechar os olhos, sacudindo a cabeça algumas vezes e quando os abri, notei as várias caixas ainda lacradas espalhadas por meu apartamento, lembrei-me então de que teria uma ocupação para esta manhã.

– Droga! – Murmurei para mim mesmo enquanto esbarrava nas caixas no caminho para o banheiro.

Depois de um rápido banho, me vesti com as primeiras peças de roupa que encontrei, sem ao menos ver o que vestia, improvisei um breve café da manhã em minha cozinha também improvisada e finalmente comecei a revirar as caixas com meus pertences. Decidi por dividir meu quarto em duas partes, em uma delas, organizei todos os meus livros em uma pequena estante que ali havia acompanhada por uma velha escrivaninha, aonde instalei um computador de segunda mão. CDs e DVDs ocuparam as duas únicas prateleiras instaladas logo acima da escrivaninha. Ainda me restava as caixas com roupas, sapatos e demais acessórios do dia-a-dia, a pior parte de toda aquela arrumação. Abri uma das caixas e ouvi a minha campainha soar alto. Ótimo, os vizinhos já me descobriram, pensei comigo enquanto me dirigia até a porta do meu pequeno apartamento.

– Bom dia, Senhor Hawks. – Era ela. Aria Montgomey estava parada em minha porta, incontestavelmente linda.

– Ei. – Soltei sem pensar, travando as palavras que nem mesmo sabia quais eram. – Bom dia. – Continuei ainda sem saber o que dizer.

– Não fazia ideia de quão assustadora posso ser pela manhã, mas olhando para seu rosto, posso ter uma breve noção. – Ela riu baixando o olhar, completamente sem jeito.

– Perdão, Aria, eu realmente não contava com uma visita a essa hora da manhã. – Eu disse tropeçando nas palavras. – Como foi que me achou?

– Claro, quem esperaria? – Ela balançou a cabeça negativamente. – Bem, não é tão difícil encontrar alguém em Rosewood. – Ela riu. – Mike ficou com as chaves da academia, me propus a devolver, já que estaria por aqui logo pela manhã. – Ela disse sem me olhar diretamente.

– Ah, as chaves! – Coloquei as mãos sobre o rosto, lembrando-me do quão desnorteado saí daquela casa ontem à noite. – Por favor, entre! – Eu abri passagem para que a garota entrasse, esquecendo-me completamente da tremenda bagunça que ainda se mantinha ali. – Por favor, releve, ainda não estou totalmente instalado. – Eu disse ao fechar a porta de meu apartamento.

– Não se preocupe, me lembro de ter ouvido os comentários da minha mãe sobre sua possível dificuldade com a mudança. – Ela dizia enquanto analisava cada ponto dos meus três cômodos mal arrumados. – Não pretende guardar camisas dobradas, certo? – Ela me olhou com a testa franzida, depois de analisar meu guarda-roupa aberto.

– Confesso que meus critérios de organização não são dos melhores. – Cocei a nuca enquanto a observava pendurar uma de minhas camisas em um cabide largo. – Você não precisa fazer isso. – Eu disse sem jeito.

– Acredite, eu preciso. Não conseguiria sair daqui com essa imagem. – Rimos ao mesmo tempo e logo encontramos nossos olhares, fazendo com que parássemos tudo naquele momento, mesmo que durasse apenas alguns segundos.

– Hum... O que temos aqui? – Ela quebrou por fim o silêncio e olhou para as demais caixas.

– Roupas. Sapatos. E alguns objetos pessoais... – Eu prolonguei a ultima frase enquanto ela pegava um porta-retratos com a foto de Tommy. Desviei o olhar por um momento, torcendo para que ela não se interessasse pela foto, o que foi inútil.

– Se parece muito com você. – Ela disse me olhando, fazendo algumas comparações. – Exceto os olhos. Os dele são mais claros. – Ela sorriu sem tirar os olhos da fotografia.

– É o meu irmão mais novo, Tommy. – Eu disse sem olhá-la.

– Onde ele está? Com seus pais? – Ela perguntou e eu pude sentir seus olhos sobre mim.

Minha boca de repente ficou seca, meus músculos enrijeceram e novamente paralisei. Segundos depois, abri uma das caixas marcadas com tinta de caneta vermelha, onde eu sabia que encontraria o que precisava para aquele momento. Peguei tudo que havia ali, um jornal da cidade de Boston com a data de 15 de Agosto de 2010.Sem dizer uma só palavra, entreguei a ela esperando que encontrasse ali a explicação para tudo.

– Motorista bêbado causa morte de jovem.- Ela leu, fazendo uma pausa ao fim da frase. – Eu... Eu sinto muito, Tyler. – Ela disse com a expressão repleta de angustia.

– Não se preocupe. – Continuei verificando algumas caixas, colocando as roupas sobre a cama.

– Tarde demais. – Ela colocou sua mão sobre a minha, fazendo uma leve pressão. Seu toque me fez estremecer, mas ao mesmo tempo, me transmitiu a mesma sensação de tranquilidade de quando entrei em sua casa. - Não vou pedir para que me conte, mas há algo que eu quero que saiba. Estarei aqui se quiser falar sobre. – Ela pressionou minha mão mais uma vez e eu suspirei baixo, conseguindo olhá-la novamente.

– Obrigado. – Eu agora coloquei minha mão sobre a dela, repetindo o gesto feito pela mesma.

Aria continuou a dividir minhas roupas em setores, peça por peça. As camisas eram separadas por golas, depois mangas, por ultimo estampas ou listras. Eu apenas me divertia ao ver sua animação e indignação por lidar com minhas roupas completamente amarrotadas. Providenciei uma taboa de passar e encontrei o meu velho ferro que ela fez questão de usar para passar todas as minhas roupas, que não eram muitas.

– Uau. – Fiquei boquiaberto ao ver meu guarda-roupa completamente arrumado. – Você sabe mesmo o que está fazendo. – Disse olhando para ela, com um enorme sorriso nos lábios.

– Pode apostar que sim. – Ela disse orgulhosa de si mesma.

– Não sei como agradecer. – Eu disse sem jeito. – Talvez eu possa te pagar um café. – Sugeri animado.

– Você certamente pode. – Ela retrucou. – Em outro momento. Preciso ir para a faculdade agora, nem me dei conta de que perdi o primeiro período. – Aria pegou sua bolsa, deixando as chaves que me pertenciam em cima da estante de livros.

– Nos vemos, então? – Admirei minha coragem de fazer uma pergunta assim.

– As chances são grandes. – Ela disse ironicamente, levando em conta o tamanho da pequena cidade.

– Pode apostar que sim. – Acompanhei Aria até a porta e ficamos nos encarando por alguns segundos. Eu poderia olhar aqueles olhos durante horas.

– Até breve então. – Ela me despertou e eu sorri sem jeito, assentindo.

Aria inclinou-se e num gesto involuntário fiz o mesmo, deduzindo uma despedida pouco mais intima. Sem conseguir deixar de olhá-la, mantive meu rosto rente ao seu e num gesto rápido, ela me pegou de surpresa, tocando meus lábios rapidamente com os dela. Senti meu corpo entrar em transe com o seu toque, naqueles breves segundos pude sentir um misto de coisas, que com toda certeza do mundo me agradaram. Ela se esquivou de repente, colocando as mãos sobre a boca. Sem reação, permaneci calado.

– Me desculpe! Eu... Eu tenho que ir. – Ela se virou sem me deixar dizer uma só palavra, caminhou rápido para a saída até perder-se completamente de vista.

Encarei o vazio do corredor na mesma direção por alguns minutos, e ali, encostado em minha porta, tive certeza absoluta de que, depois de anos preso em angustia e solidão, eu finalmente havia encontrado um motivo para sair do cárcere.


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