P.O.V's Newt

Tudo corre bem. Ok, à medida do possível. Com o fato de que desde que chegamos aqui, nenhum dos Corredores conseguiu achar alguma saída. Hoje é o dia em que um novo Fedelho vai chegar pela caixa. Sempre vem um por mês, junto com os alimentos e ferramentas. Espero apenas que esse Fedelho novo seja útil.

Minho e os outros Corredores estão no Labirinto procurando algo que em dois anos ninguém encontrou, já mapeamos tudo o que existe aqui. Não acho que exista uma saída muito concreta, apenas não consigo acreditar que os trolhos que nos colocaram aqui querem que passemos o resto de nossas vidas aprisionados como ratos de laboratório em observação. Já acho idiota o fato de nos terem tirado a memória. Não é como se não soubéssemos o que somos, ou o que são ratos, ou até neve, mas não sabemos quem somos, o que fizemos antes de vir para cá.

Acordei de meus devaneios ao ouvir o barulho da caixa subindo. Caminhei até lá para ajudar a tirar o Novato da caixa. Ela ainda estava subindo, então repassei o plano de sempre na cabeça: Ajudar o Novato a sair, Alby mostra o lugar para ele, ajeitamos um lugar para ele dormir e jantamos. Mas o plano foi por agua abaixo quando o moreno veio até mim com cara de quem viu fantasma.

– O que aconteceu?- Ele não respondia, apenas olhava fixamente para o chão. Então o chacoalhei e perguntei novamente- Alby! O. Que. Aconteceu?

– Veja você mesmo.- E saiu andando para longe.

Ao me aproximar, vi que não era um garoto, e sim uma garota. Cabelo ruivos, olhos avelã e mel, pele clara. Ela estava chorando silenciosamente, sentada encolhida num canto da caixa. Olhava para todos os lados assustada. Tinha um corte profundo no pé e um de seus ombros descoberto por causa das roupas largas demais para o corpo relativamente pequeno estava roxo. Senti um resquício de memória minha voltar à tona, mas logo foi bloqueada. Essa garota, ela faz parte do meu passado, e isso me afeta de certa forma. Mas não deixarei transparecer.

Como todos os Trolhos estavam hipnotizados com a garota, apenas eu desci para ajuda-la. Até porque Alby teve um surto ao ver a garota e saiu por aí, o mais responsável seria ajuda-la. Pulei para dentro da Caixa e me aproximei. O brilho em seus olhos indicava a mesma familiaridade que senti ao vê-la, isso quer dizer que o que senti era verdade. Quem sabe nos conhecíamos antes de pararmos aqui.

Katharina

Me assustei à princípio, mas logo entendi que era minha memória se expandindo a seu respeito. Então Katharina era o nome dela. Engoli em seco meu nervosismo e me aproximei para pega-la no colo. Mas ela tratou de se apertar mais contra a grade de ferro.

– Não chegue perto de mim!- Ela sussurrava aos soluços- Onde estou? Que raio é isso? Como eu vim parar aqui?

– Calma, Fedelha. Todos nós já subimos até aqui por esta caixa. Agora, eu vou te tirar daqui.

Ela cruzou os braços e me lançou um olhar ameaçador, como se dissesse: "Tente!". Apenas revirei os olhos e a tirei do chão. Ela se debatia loucamente, mas devia ser tão leve quanto uma pena. Tirei a garota da caixa rapidamente e à levei para os cuidados dos Socorristas.

Encontrei Alby na floresta, ele estava andando de um lado para o outro. Ele é assim, se preocupa com qualquer anomalia. Cheguei mais perto para conversar com ele.

– Cara, você vai ter que mostrar a Clareira pra garota.- Ele disse nervoso.

– Por que?

– Sei lá, eu são gosto muito dela- Ele fez uma careta.

– Tudo bem, então.

– Bom isso.

Concordei com a cabeça e voltei para ver a garota, que agora soluçava de dor, e não de espanto. Mas parte de mim dizia que ela era corajosa demais para chorar de espanto, me dizia que aquela era Katharina, mesmo eu não fazendo ideia de quem realmente ela era. Estavam costurando o corte em seu pé. Ela olhava para mim como se pedisse ajuda, mas o que eu poderia fazer? Mandar eles pararem de costurar o pé da garota e deixa-la daquele jeito? Seria crueldade. Logo terminaram de costurar seu pé e o enfaixaram.

– Você vai ter que a ajudar a chegar em algum lugar onde ela possa descansar.- Disse Clint, um dos Socorristas.

–Tudo bem.

Ela passou um braço em volta do meu pescoço e o outro, com o ombro roxo pendendo ao lado do corpo. Passei um braço ao redor de sua cintura e segurei o braço que estava em meu pescoço. Saí em direção à uma arvore alta com uma boa quantidade de sombra.

– Então, você se lembra do seu nome?- Perguntei. Eu não queria assustá-la mais ainda, então não disse que já sabia.

– Katharina.- Ela disse- Eu me lembro de você. Eu me lembro de lembrar. Por que eu me esqueci de tudo?

Seus olhos cravados nos meus imploravam por respostas, respostas que eu provavelmente não teria.

– Todos nós viemos parar aqui da mesma maneira que você. Nenhum de nós se lembra de muita coisa aqui. A maioria se lembra apenas do nome.- Expliquei enquanto a colocava sentada em baixo da árvore.- Meu nome é Newt.

– Eu já sabia.

Fiquei um pouco atordoado enquanto aquela garota de aparência tão frágil olhava para mim. Desviei o olhar.

– Bem, fique aí que buscarei algo para você comer.- Ela assentiu- Depois você pode dormir. Amanhã eu te explico melhor qual é a deste lugar.

Foi exatamente o que fiz. Depois que ela comeu, arrumei um lugar mais afastado dos garotos para ela dormir e a ajudei a caminhar até lá. Deixei uma muda de roupas para ela e fui deitar na minha rede junto com as dos garotos.

Essa garota. Eu me lembro dela, me lembro de conhece-la, mas não me lembro de onde nos conhecemos, se eramos amigos ou não. O CRUEL irá pagar, por tudo. Esses Criadores devem ter ovos mechidos ao invés de cérebro na cabeça. Sinto uma onda de raiva percorrer meu corpo todo. Mas acabo adormecendo um tempo depois.