Cidade Arcana escrita por Vinny


Capítulo 2
Peregrinação


Notas iniciais do capítulo

Gente, Schneider não bate bem... -.-'



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Outubro de 1533. As coisas nada iam bem pelo mundo. O conflito da humanidade contra os seres sobrenaturais tomava proporções cada vez maiores. Nenhum lugar era seguro para ambas as partes. Castelos e construções antigas viravam meras ruínas. As noites eram as mais conturbadas. Gritos por toda parte. Sons potentes de catapultas e canhões faziam alvoroços nas pequenas aldeias. Detritos voavam para todas as direções. O mundo vivia um caos.

O conflito no castelo dos Möllier mexera com o clã. A família se mantinha neutra no evento até então. Mas o cúmulo chegara. Era hora de parar toda a balbúrdia. Eles sabiam que deviam intervir. Afinal, seus poderes iam além de qualquer outros já vistos. Sozinhos, eles são perigosos. Juntos, eles são invencíveis.

─ Adolph, chegou a hora! ─ alertava Ravenna, segunda irmã do mago, com sua voz precisa.

─ Pois bem. Avise aos demais. ─ dizia o primogênito de costas, enquanto analisava o caos a fora na noite pela pequena janela de seu cômodo. Seu olhar, como sempre, frio e indiferente.

A bruxa assentiu, e se retirou do recinto. Seus passos pela grande escada espiral ecoava pelo corredor. O silêncio era quase sempre presente na residência da família.

O clã se reuniu no saguão do castelo, à espera do mais velho. As grandes portas com quatro metros de altura, trancadas. Adolph, com seu cajado em mão, descia vagarosamente pela escadaria. Chegava ao local e logo recebia a atenção dos irmãos.

─ O que estamos prestes a fazer, é algo que, sem dúvidas, nos trará consequências. ─ iniciava seu discurso ─ Consequências as quais teremos de encarar com vigor. ─ fitava fundos os olhos de um por um ─ Depois disso, ficaremos fracos por um tempo que eu não sei dizer o quão longo há de ser. O que garantirá nossa segurança, será a lealdade para com os nossos próximos. Eu não... ─

─ Ei! ─ a voz doce de Aimee o interrompia. A feiticeira caminhava até o irmão e colocava uma mão em seu ombro, junto de sua gêmea, Namine ─ Vai dar tudo certo. Não se preocupe, meu irmão. ─ seus olhos azuis fitavam os do mais velho.

─ Verdade, irmão. Não há o que se preocupar. ─ completava Namine, acalmando o irmão.

─ Vamos torcer para que estejam certas, irmãs. ─ assentia o feiticeiro para as duas, já mais tranquilo ─ Eu só não quero que nada dê errado. Um passo em falso e isso pode custar a vida de um de nós. Se não a de todos...

─ Você se preocupa demais... ─ resmungava Petrus, irmão mais novo do clã, o qual logo recebera uma leve cotovelada na costela de Wagner, que estava ao seu lado.

─ E eu não deveria? ─ a voz de Adolph soava desafiadora para com o mais novo.

─ Claro que não! ─ o mestiço ousava ─ Já aprontamos coisas piores. Lembra de quando vocês seis taparam a Lua Cheia para evitar minha transformação quando eu era criança? ─ descontraía com memórias passadas ─ Foi genial! Cobrir a Lua não é para muitos... ─ dizia animado. Algumas baixas risadas puderam ser ouvidas.

─ Ele tem razão, Adolph. ─ Schneider, o segundo irmão, concordava com os demais. ─ Já aprontamos coisas piores. ─ sua cartola de lado sempre o deixava charmoso.

─ Nós realmente ficaremos aqui recordando do passado enquanto uma guerra destrói o mundo? ─ Ravenna se posicionava, alfinetando com desdém os demais.

─ Pois bem... ─ suspirava o mais velho, acalmado pelos irmãos. Esticava os braços e as grandes portas se abriam em sincronia. Caminhava para fora do castelo e encarava o céu estrelado da noite. Uma respiração profunda pudera ser ouvida. ─ Vamos! ─ o mago dera uma batida em seu cajado, e uma pequena explosão, seguida de um feixe intenso de luz surgia. No lugar de Adolph, aparecera uma Fênix. Era ele, transfigurado na criatura que mais lhe fascinava. Uma chama fraca cobria todo seu corpo de forma esplêndida. Sua grandiosa envergadura causava inveja nos demais. Num pequeno impulso e bater de asas, o Mago transfigurado levantava voo.

Os outros de imediato seguiram-no. Ravenna erguia sua mão, e logo uma vassoura vinha a seu encontro. A bruxa sorriu e montou no objeto que a serviria de transporte. Firmava os pés no chão e pegava impulso para subir, logo planando o ar. Aimee e Namine partiam em seguida. As duas assobiavam ao mesmo tempo, e dois majestosos Pégasos adentravam no território do castelo voando. As irmãs subiram nas criaturas e foram conduzidas pelas mesmas. Petrus bufava. Seus olhos ficavam vermelhos e sua temperatura corpórea subia incrivelmente. Corria com vontade e, assim que passou pela porta do saguão, dera um enorme pulo. No ar, o mestiço tomou sua forma de lobo, e sobre quatro patas continuava a correr numa velocidade inacreditável. Schneider retirava sua cartola da cabeça e enfiava sua mão a fundo. Puxava com força o vácuo e de lá duas orelhas emergiram. O mago continuou, e um coelho saltou de seu chapéu, aumentando gradativamente de tamanho, até ficar gigante.

─ Vai uma carona? Meu coelhinho aguenta nós dois. ─ Schneider provocava o seu irmão restante, que aparentemente não tinha nenhum meio de transporte.

Wagner revirou brevemente seus olhos com o comentário cômico e sacou sua varinha. Fizera um movimento em espiral com sua arma mágica sobre seu próprio corpo e, logo, o mago flutuava.

─ Dispenso. ─ soltava uma piscadela, agindo com escárnio. Voava sobre seu irmão e ia em direção aos demais.

─ Quando ele aprendeu a fazer isso? ─ perguntava Schneider em voz alta para si mesmo, boquiaberto e indignado com o irmão. Dera um pequeno urro, que seria a ordem para seu animal começar seu trajeto. O coelho logo o obedecia e dava largos e altos pulos. O animal era grande demais para passar pelo portão, mas ainda assim prosseguia. O desespero batia em Schneider. O conjurador ficava alvoraçado sobre o seu animal. Num ato rápido, colocava as mãos alternadamente nas mangas de seu terno marrom, e retirava dali duas cartas, que foram imediatamente em direção ao muro, fixaram-se ali e explodiram, abrindo passagem. O mago suspirou aliviado, e dera um chute fraco em seu coelho. ─ Bicho burro! ─ resmungava com a montaria.

...

O clã precisava migrar para outro país. O plano era fazer um ritual, mas para realizá-lo seria necessário um lugar onde houvesse grande conexão com o cosmos. E a maravilha escolhida era o Stonehenge, localizado ao sul da Inglaterra. A geografia estava a favor dos magos; a residência dos Möllier ficava em Köln (Colônia), a oeste da Alemanha, portanto não seria uma viagem tão longa. Durante o percurso, pequenos conflitos foram travados. O primeiro foi logo na entrada da Bélgica:

─ Cuidado! ─ Namine alertava, com um grito, a Adolph. O mais velho, transfigurado em Fênix, liderava os demais. Uma enorme rocha em chamas vinha a seu encontro. E num ágil looping, o mago escapara da ameaça. A rocha prosseguiu, até que raspasse na ponta da vassoura de Ravenna. A bruxa tentara esquivar, mas sem sucesso. Seu corpo girava no ar, caindo gradativamente até o chão. Wagner tomava impulso e por alguns centímetros antes que sua irmã tombasse com tudo, ele a segurava em seus braços. O mago, com o impacto, cedeu. Assim que envolvia sua irmã em seus braços seguros, caía no chão. Seu ombro e costela raspavam no solo rígido, e levantava poeira. Incapaz e dolorido, ele se manteve estático, com sua irmã, também inerte, nos braços.

O restante do grupo agiu. O uivo de Petrus era ouvido de longe. O mestiço corria em direção a um pequeno exército, de onde veio o lance. Aimee sobrevoava em seu Pégaso, oferecendo suporte ao irmão. Um pequeno amontoado de rochas fazia uma barricada para proteger os atacantes. ─ Flare Undique! ─ Consultando seu grimório mágico, Aimee conjurava um feitiço. O livro brilhou, e então as pilhas de rocha explodiram na área. Detritos voavam para todo lado. A maga carregava em si um semblante sério e de ira - afinal, dois de seus irmãos estavam feridos -. Com o caminho aberto, o lobo partia ao ataque nos humanos. Fincava com firmeza os dentes na garganta de um por um. Adolph, em forma de Fênix, ajudava-o, rasgando os rostos com suas garras afiadas.

No meio tempo, Schneider e Namine resguardavam os corpos dos irmãos inconscientes. Poucos soldados foram tentar exterminá-los. Namine, assim que os vira chegando, agiu. ─ Dissoluti Viatorum! ─ seu grimório brilhava. Uma barreira invisível protegia a área em que os quatro estavam. A tropa logo chegara. Assim que cruzaram o limite do feitiço, tiveram seus corpos totalmente incinerados. O livro de Namine continuava a brilhar, mas ofuscava cada vez mais à medida que os soldados cruzavam a barreira. Ela não manteria o feitiço por muito tempo.

─ Deixa comigo! ─ Schneider se pronunciou. O mago retirava sua cartola. Novamente puxava o vácuo, e desta vez não foi um coelho que dali saiu. Cada puxão que o mago dava, uma anaconda tomava comprimento, até sair do chapéu. O réptil, de 4 metros, amedrontava os inimigos. O pequeno exército recuou. A cobra picava um por um que tentava escapar. Seu veneno matava qualquer um de imediato. A criatura se rastejava para longe, atrás dos fugitivos, e os exterminava por completo.

─ Pode me agradecer. Eu sei que eu sou um gênio. ─ Schneider enaltecia a si mesmo. Sua irmã, apenas o encarava. ─ Ah! Qual é? Eu botei todo mundo pra correr. Você viu! Eles ficaram cheios de "medinho". ─ sua risada era cômica. ─ Vamos! Não vai doer você confessar que fui eu quem salvei a vida de todo mundo aqui... ─ Namine mudava sua feição. Ficava inerte, espantada. Um sibilo e barulho de chocalho pôde ser ouvido. ─ Por favor... Me diga que não tem um réptil venenoso de quatro metros atrás de mim. ─ Namine assentia com a cabeça lentamente. O mago arfava, e se virava lentamente para trás. A cobra estava de pé, sua língua ágil causava arrepios em qualquer um. ─ Cobrinha boazinha. Cobria boazinha... ─ Schneider falava baixo, enquanto pegava sua cartola. A fera dera uma investida em direção aos irmãos desmaiados. O mago sacava uma carta da manga de seu terno, que assim que entrou em contato com o corpo da cobra, explodiu, desnorteando-a. ─ Cobrinha má! ─ seu tom mudara, e sua voz era confrontadora. O réptil mudava seu alvo, e numa investida rápida, ia em direção ao seu conjurador. Schneider sacava sua cartola e posicionava-a contra a criatura. Assim que a cobra entrou em contato com a boca do instrumento mágico, foi sugada completamente, e seu corpo voltou para o vácuo dali.

─ Uma anaconda?! ─ indagava Namine, dando um empurrão no irmão mais velho. A moça revirava os olhos, e segurava em mãos seu livro. Ajoelhava-se e colocava uma mão sobre Ravenna ─ Evigilans! ─ seu livro brilhava, e a bruxa despertava com um susto. Namine repetia o feitiço, desta vez para despertar o outro.

─ Ah! Vocês estão bem... ─ suspirava aliviada, inclinando-se para abraçar os irmãos.

─ Estamos. ─ Ravenna se pronunciava. ─ Obrigada por me segurar na queda. ─ dirigia-se a Wagner.

─ Pra isso que servem os irmãos, não? ─ o feiticeiro dizia em resposta, assentindo.

─ Claro... E ninguém agradece àquele quem colocou vários soldados pra correr e os salvou aqui... Puff! ─ Schneider resmungava, limpando sua cartola com leves batidas.

─ Salvar?! Você quase se matou. Você quase nos matou! ─ Namine retrucava, com ira, e Schneider abaixava a cabeça.

─ Não quero nem saber o que ele aprontou. ─ Ravenna respondia com desprezo. ─ Cadê os outros? Estão todos bem? ─ indagava, enquanto limpava a poeira de sua veste.

─ Eles foram lutar com aqueles que fizeram o ataque. Devem estar bem. ─ o olhar de Namine passava certeza para a irmã.

Um fulgor foi avistado emergindo. Era Adolph. Os três haviam terminado o trabalho, e sinalizavam aos demais para prosseguir com o caminho.

─ Vamos. Não temos muito tempo. O plenilúnio está próximo. ─ Ravenna alertava, preocupada.

─ Sua vassoura quebrou. Como pretende viajar? ─ Namine se mostrava preocupada para com a mais velha. ─ Se quiser, eu divido meu Pégaso contigo. ─ oferecia suporte, caminhando até seu animal e montando no mesmo.

─ Não será necessário. ─ Ravenna recusava. Com sua mão, fazia gestos e movimentos circulares apontando para o Pégaso de sua irmã. Da sombra da criatura, outro cavalo alado surgia. ─ Meu antipégaso pode dar conta do serviço. ─ a bruxa sorria astuta com seu feito. Tinha conjurado um Pégaso Negro, a sombra do original.

─ Ravenna, desfaça isso! ─ Namine proferia, insatisfeita. ─ Você sabe que se essa sombra for atingida, meu Pégaso quem ficará ferido.

─ E isso não será um problema meu. ─ Ravenna retrucava, rude. ─ Cuide do seu e eu cuido do meu. ─ a bruxa urrava, e levantava voo com sua projeção das sombras, que se locomovia numa penumbra.

─ Eu deveria ter te deixado inconsciente... ─ Namine hesitava, falando baixo para si mesma. Seguia a irmã, e levantava voo.

Wagner manteve seu método e novamente conjurava um feitiço antigravitacional, que o possibilitava voar por si só. Schneider escolhia outra tática. Uma quiçá um pouco mais discreta que um coelho gigante. O mago puxava simultaneamente cinco cartas pelas suas mangas e jogava-as no ar. As cinco se fundiram, formando uma só: uma carta gigante de oito de copas. Assim que ela teve contato com o chão, o mago subiu na mesma, e a carta flutuou. O mago sorriu, e traçou seu caminho atrás dos demais, rumo ao destino final.


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Notas finais do capítulo

Dúvidas? Tópicos em aberto? Algo que deixou a desejar? Sugestões? Críticas? Por favor, comentem tudo. Espero que tenham gostado do capítulo. Prometo que vou me esforçar pra caprichar no próximo. Vou tentar não matar o Schneider até lá. u_ú